A CLASSE TRABALHADORA NÃO VAI AO PARAÍSO por Enéas de Souza
Os dados da economia do trabalho nos Estados Unidos se revelam assustadores. Desde novembro de 2008 foram mais de 1 milhão e setencentas mil pessoas despedidas, o que está elevando a taxa de desemprego em 7,6%. Ora para um país que chegou a ter um patamar de 4%, considerado como pleno emprego, trata-se de uma hecatombe social. Os Estados Unidos foram uma economia que além dos habitantes do país e emigrantes legais, empregavam uma quantidade expressiva de emigrantes ilegais. Esta era uma das formas de manter controlado o custo da mão de obra na economia norte-americana, sabendo que o outro fator era o preço conveniente das mercadorias que eram consumidas pelos trabalhadores, através da importação de bens dos países emergentes, principalmente da China.
A crise financeira se desdobrou numa crise produtiva, que além de causar a queda da produção das empresas dos diversos setores, provocou também um considerável movimento de "liberação" da mão de obra, seja da mão-de-obra não especializada seja trabalhadores especializados. Nestes dois contingente estão, por exemplo, 150 .000 trabalhadores do setor financeiro. O que vem a ser isso? Trata-se, antes de mais nada, de perceber o ritmo da crise com os fracassos da área financeira, em seu processo de inflação de ativos, e a superprodução da área produtiva, com uma estrutura creditícia tocando a economia para cima. Porém, a perda de vigor da dinâmica econômica se refletiu nesta onda de rescisões de contratos, que acabou somando 597.000 desempregados em novembro, 577.000 em dezembro, e agora, neste janeiro de 2009, 598.000 integrantes do mercado de trabalho.
Quando se olha as grandes empresas de qualquer setor as programações de dispensas são numerosas, porque é preciso se dar conta que a crise continua, que ela tinha dado uma pequena parada, mas que já tomou fôlego e que recomeçou o seu compasso candente e furioso. Ou seja, as projeções, como do RGE Monitor, atingem um número completamente inquietante. Em 2009 a taxa de desemprego está prevista para 9,1%, mesmo com o pacote do Obama, o chamado plano de estímulos fiscais. Ou seja, o Estado está entrando em campo, pronto para gastar, desenvolvendo uma atitude keynesiana, com a finalidade de uma retomada da produção e do emprego. E estará também distribuindo, sob intensa crítica, volumosos recursos para solucionar a profunda crise da área financeira. Fazendo as contas macroeconômicas, nota-se que o pacote não terá a amplitude salvadora ansiada, ele será tímido, e carente de outras medidas mais fortes. Com isso, lentamente, a sociedade, o Governo e o Congresso, serão despertados para a vasta mudança que deve ocorrer tanto na economia como na política dos Estados Unidos, o que significa dizer que o comando financeiro do social vai ser progressiva e continuadamente posto em questão. E os dados sobre o desemprego mostram, com um terrível cenário, que os trabalhadores não vão ao paraíso; em verdade, terão que ir à luta.
Um comentário:
A médio prazo irão à luta. Tudo é ainda muito recente para os desmpregados, a mobilização é maior na Europa (com contornos protecionistas, é claro. Um site interesante para acompanar o ritmo diário dos anúncios de demissões é o www.layoffdaily.com , que traz notícias sobre demissões ao redor do mundo (ênfase nos EUA, é óbvio).
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