quinta-feira, julho 30, 2009

A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
Coluna das quintas
30 de julho de 2009

A ESTRATÉGIA DE LULA
Por Enéas de Souza

Das estratégias do presidente

Quando falamos da estratégia de Lula temos que dividir a questão em duas partes: a primeira, se refere à estratégia do governo Lula diante da crise internacional e nacional; a segunda, trata-se da estratégia de Lula e do seu grupo político na busca da manutenção do poder no Brasil. Estas duas estratégias, por si só complexas, têm uma exigência de sofisticação muito alta e muito nítida. E estão encaminhadas para um espectro de atos, autônomos e simultâneos, que atravessam tanto o campo político como o campo econômico. Por essa razão, a energia a ser gasta nos conflitos de uma e de outra seara criam um circuito de influências mútuas que geram combinações dinâmicas amplificadas e crescentes na realização das duas estratégias citadas. O tempo vai exigindo correções incessantes e necessárias.

É bem verdade que já sabemos, por antecipação, que vamos ter que misturar os múltiplos ângulos de análise, como um cineasta que filma uma cena de muitos pontos de vista. De qualquer modo, este é um assunto que vale a pena, mesmo não tendo dúvidas de que é também um tema escorregadio, errático, propício a erros e equívocos tremendos. Nele estão à espreita inúmeras surpresas e inesperadas ciladas. Logo, trata-se de um objeto analítico delicado e temente a miopias de todos os cunhos. Mas, um analista de conjuntura é como um piloto de fórmula 1, pode receber, em qualquer trecho da corrida, o impacto de uma mola perdida no rosto. E perder, na dureza de uma reversão de expectativas, a sua aposta interpretativa. Assim, o âmbito de nossa análise cativa as curvas barrocas e as derrapadas perigosas. Todavia, temos que avançar na nossa compreensão, já que é substancial a percepção desse momento, que envolve o ambicioso e imprevisível embate no qual está metido Lula.

Lula pensa na nova divisão internacional do trabalho

Para a compreensão das estratégias de Lula, não se pode deixar de partir da presente conjuntura mundial com a finalidade de discutir a realidade da economia e da sociedade brasileira. Estamos metidos numa crise de altas proporções, pois temos uma crise global centrada na ruptura da liderança – ou, ao menos, num estilo de liderança – dos Estados Unidos. Ela se baseia no desmanchar-se de um sistema financeiro, construído (sic!) para ser propositadamente desregulado. Então se trata de uma crise de superacumulação de uma esfera do capital, mas que não está sozinha, vem acompanhada de uma outra crise, a crise da esfera produtiva. Estas duas fraturas requerem uma reformulação completa de ambas as esferas. Diante de uma aparente crise de curto prazo, o mundo descobriu e está descobrindo uma frontal crise de longo prazo. Uma vez que o que vai ser resolvido é um novo modelo de acumulação capitalista, uma nova fase da economia do capital. Está em jogo uma distinta divisão internacional do trabalho, de cores ainda indefinidas, onde as perspectivas estão sendo acolhidas, preparadas, e cuja temporalidade se mede em anos. A solução da crise não se mede por melhoras passageiras, ela se mede pela construção de um novo patamar de acumulação.

O panorama visto do longo prazo

Então, a primeira clareza que tem que se ter é que qualquer solução definitiva do Brasil passa por esta transformação da economia internacional. E o que temos no momento é um grande embaraço no curto prazo, mas os Estados Unidos – na verdade, o governo Obama – já tem um esboço de uma estratégia de longo curso. Baseia-se numa metamorfose profunda da economia mundial, tanto pelo lado da infra-estrutura da base energética, quanto pelo lado da mudança da concorrência intercapitalista no conjunto dos mercados. É preciso apontar a economia para este ponto futuro, organizando a sociedade para estas alterações, o que envolve um agrandado pacto e um viável contrato das forças sociais na direção destes objetivos. Objetivos que passam por uma reformulação das condições sociais de educação, saúde, previdência, segurança, e inclusive pelo tratamento das questões climáticas e ecológicas, incompatíveis com esse modelo de acumulação financeira que dominou nos últimos anos. Nesse sentido, o conflito desta política – que angaria forças produtivas, forças assalariadas, forças mercantis, forças do setor de serviços, forças da burocracia pública, forças de marginalizados, etc., – se dá claramente contra o desejo de restauração e conservação do capital financeiro. O grande combate se decide aqui. Não a derrota e submissão total das finanças, porque isso parece sem horizonte no momento. Mas uma subordinação política delas. No mínimo, uma negociação adequada para que participem na nova fase do capitalismo, onde o objetivo prioritário seja de rendas vindas da concessão de créditos, e nunca das atrevidas e fortes especulações que terminam por levar de arrastão a economia produtiva e a sociedade como um todo.

Qual será a dança brasileira do futuro?

Admitindo, porém, que haja uma reformulação da economia mundial, o que se evidencia aqui é um ponto de tremenda incerteza para o destino do Brasil. Contudo, o governo Lula já tem um projeto de inserção brasileira nesta economia. Parte da necessidade de afrontar os impactos da crise atual com o direcionamento do país para esta nova trajetória. Neste particular, o projeto do país é nítido. Começa pela reafirmação da presença do Brasil na questão energética. Olhando para o petróleo, o pré-sal e biocombustível, vê-se, sente-se, desassombradamente, que ele tem projeto. A flor ainda está em botão, mas as pétalas estão prontas para celebrar a sua emergência. E só isto, esta montanha de recursos energéticos, vai re-posicionar o Brasil no contexto mundial. Na transição da matriz energética, não há dúvida que estaremos na primeira linha. Talvez aqui, com esta vocação neste campo o país tenha que ser mais ambicioso e ver mais longe. Os grandes resultados econômicos, que podem advir desta política, serão suficientes para garantir e constituir um fundo com o objetivo de alcançar um avanço também nas novas tecnologias de energia eólica, solar, etc. Ou seja, podemos criar uma perspectiva de trajetória segura, longa – e secular. De outro lado, o Brasil também pode continuar a atuar no mercado de alimentos, de matérias primas, pois este senda se mostra igualmente viável. Mas, o que nos parece fundamental é que o Brasil não deixe de perseguir a participação de empresas brasileiras ou multinacionais aqui instaladas na área industrial, mesmo que seja uma participação na região que está adstrito. Coisa que poderia acontecer também no setor da infra-estrutura, onde já tem presença assegurada no continente sul-americano. Ou seja, o Brasil não pode aspirar a ser um país líder, um cristal de primeira grandeza, mas certamente pode integrar-se no conjunto de países que vão formar as estruturas principais do novo processo de acumulação, onde até uma internacionalização de bancos nacionais, numa escala modesta, tem condições de acontecer. O mundo não dançará o samba, mas o novo rock poderá ter um trecho sonoro de uma nota só.

A devolução do que o gato comeu

Porém, o que nos parece complexo é um projeto de sociedade, onde a solução para as questões sociais não parece equacionada. No momento atual, o Brasil conseguiu, num pacto peculiar – envolvendo capital bancário, capital industrial, capital do setor de serviços, capital midiático, capital comercial, assalariados dos mais diversos setores – dar um grau mínimo de satisfação à população operária, aos trabalhadores dos mais diversos setores, aos pobres, etc. Todavia, este pacto, organizado pela estratégia Lula, pode permanecer e até se ampliar na busca do objetivo de uma nova inserção da economia brasileira na economia mundial. Porém, o que não nos parece ser contemplado pelo pacto são algumas peças importantes de um projeto social: educação, saúde, previdência, cultura, etc. Aspectos que são pontos determinantes para constituir um poder mais amplo no concerto das nações. Poder que o Brasil aspira e que, seguramente, não é apenas de uma integração econômica. Para uma presença mais encorpada há que ter presença política, o que já vem acontecendo. Tem que ter uma política externa audaciosa, onde o Itamarati continue a ser uma peça de vital importância como foi desde primeiro instante no governo de Lula. Mas, há outras figuras do jogo. Há que ter presença cultural, coisa que acontece muito pouco; há que ter presença na formação de uma sociedade mais justa e mais equilibrada, coisa que estamos no nível quase das migalhas; e há que ter uma nação inventiva com uma coesão renovada e incisiva e mais organizada em torno de um projeto nacional. Para isso, o Brasil tem que atuar fortemente no nível internacional como ainda não o fez, apesar da grande revolução de 2003 para cá.

As duas linhas da inclinação brasileira

Pois bem, este projeto brasileiro, depende na sua inclinação – um pouco mais para um lado, um pouco mais para outro – do destino que o Brasil escolha, a partir da decisão política que der aos contornos eleitorais da próxima contenda. Parece que se advinham duas linhas, materializadas nas figuras de Dilma e de Serra. O que significa isso? Significa que descemos agora da estratégia nacional para os combates políticos entre agrupamentos partidários nacionais. Não vamos discutir aqui o caminho de Serra, mas o itinerário da estratégia Lula, do grupo político que se constitui no “lulismo”. Pois, para que a estratégia brasileira de Lula seja a realidade sonhada pelo seu governo, é preciso que consiga fazer a próxima presidência. E aqui está em jogo uma astúcia exemplar, conseguir que Dilma se apresente como candidata, e como uma candidata vencedora. Já que Lula identificou na ministra da Casa Civil as condições intelectuais, administrativas, políticas e estratégicas, e de fidelidade pessoal, para ser a sua sucessora, sem fraudar esta estratégia nacional concebida por ele. Todavia, a eleição da ministra se depara com diversos problemas. Além dos problemas médicos, avultam problemas econômicos e problemas políticos.

O curto prazo passa pela sustentação da demanda

Para entender bem toda essa configuração, temos que partir da situação econômica do Brasil. O que vale ter a compreensão de como é que está sendo a nossa resposta à crise. Temos, é bom dizer, uma dupla estratégia: a de longo prazo, aquela que escrevemos lá em cima, e a imediata, a de tempo breve, que é a que falaremos agora. Sabemos que hoje, diante do vendaval, o Brasil procurou recuperar, sem hesitar, a posição do Estado. Como já falamos em outros lugares, o Estado no Brasil, desde FHC, vinha sendo dominado pelas Finanças, cuja trama e cuja tática visava desfazer qualquer intervenção dele no contexto econômico. Tínhamos constituído um Estado Financeiro. Pois, até o BNDES estava se financeirizando, deixando de ser um banco de desenvolvimento para ser um “banco de investimento”, um banco de aplicações financeiras. A crise permitiu algo que já tinha começado em 2007 com o PAC, uma retomada da visão produtiva com o incentivo do investimento real.

Com a crise, a necessidade de intervenção do Estado foi consumada, mas de uma forma diferente do desenvolvimentismo. A intervenção veio sob a forma de isenção de impostos, para o setor automobilístico e para a linha branca dos eletrodomésticos, o que garantiu parte do emprego. Todo o esforço foi de deter a queda de toda a demanda, amparando o consumo, diminuindo o ambiente negativo das finanças e do comércio internacional, cujos efeitos vararam principalmente na indústria. A idéia era permitir que esta, ou parte desta, garantisse o “desovar” dos seus estoques e que, terminada a operação, em seguida, passasse a aplicar na produção de forma a recuperar a taxa de investimento do setor privado. No entanto, até agora ainda não houve o ressurgimento desta taxa. Com este fato e com a brutal queda do setor externo, o país ficou na mão do consumo. E o governo acertou, deu a ele o estímulo indispensável. A diminuição dos impostos, já vimos, consolidou um apoio fundamental, ainda mais que o crédito se ampliou no país regado pela presença dos bancos estatais Veio, assim, um passo importante: eles forçaram a queda dos juros, destacando o posicionamento da Caixa em favor da construção civil, agora que o governo tem um programa especial para habitação popular. Ou seja, procura-se deter a queda da demanda generalizada, enfatizando a propensão a consumir, alimentando um ânimo na população. Com esta manobra, o Estado principia um processo de recuperação da liderança da economia, cujo êxito se dará quando o investimento for novamente a estrela da recuperação do desenvolvimento.

O que e quem vai ligar o curto ao longo prazo?

A questão toda é como articular o curto e o longo prazo. Cabe, numa economia como a brasileira, onde o ator essencial seja o Governo, numa ação intensa de re-configuração do papel do Estado. Toda a sua ação visaria bloquear e parar a prevalência das finanças. E isso só poderia acontecer concretizando uma política de impulsão ao investir. Uma política que continuaria o PAC, que passaria pelo Sistema de Habitação Popular e que se desdobraria na clara presença da Petrobrás e do futuro Petrosal. Esse conjunto dá e daria o Estado um papel adequado na liderança, na difusão e na cultura do investimento. E com isso, contrabalançaria, um pouco mais, o feroz atiçamento, demasiado em outros tempos, do setor bancário, com o seu crescimento financeiro, principalmente cultivando títulos públicos. Por isso, o “lulismo” tem um projeto político para o Estado, almejando construir um projeto econômico de atamento do curto prazo com o longo prazo. Mas, não só a ligação dos dois prazos. Tem que se considerar quem vai fazê-la. E Lula instaurou o projeto Dilma. Ela viria com duas pautas fundamentais: de um lado, estratégia de inserção do Brasil na nova divisão internacional do trabalho, tentando manter uma presença econômica e política do país no novo processo de acumulação de capital. Aliado a isso, com uma base popular forte – desde os sem renda, os sem teto, os sem terra, passando pelos assalariados, entre eles os operários – a estratégia se prolongaria com o apoio prioritário do capital produtivo, integrando tanto quanto possível os bancos, numa aliança populista-capital produtivo-capital bancário para projetar o Brasil no mundo. E obviamente, para preparar o retorno de Lula em 2014.
Esta estratégia do “lulismo” estaria em forte e decisivo contraste com o projeto de Serra. Não que Serra iria contra a estratégia de integração do Brasil no mundo. No entanto, a aliança que estaria subjacendo a este projeto seria uma aliança capital produtivo-capital bancário, antes do que um pacto que envolvesse uma integração popular. Não que Serra não queira cativar a população de operários, trabalhadores do setor de serviços, dos deserdados. Só que a base de apoio para a sua eleição seria outra, e, portanto, o projeto de integração estaria numa direção em torno do capital. Mais Estado para desenvolver o capital, e mais capital para aumentar o emprego. O projeto de Dilma seria outro: mais Estado para direcionar o capital, e mais capital para que o Estado possa também desenvolver uma economia social. A estratégia de Lula para o longo prazo do Brasil passa por uma estratégia de poder. E ela vai de Lula à Dilma e retorna de Dilma à Lula. Uma longa viagem dentro da política. Certamente cheia de ciladas, labirintos e areia movediça. A pergunta durante todo o tempo será: a realidade seguirá a concepção prévia?

quinta-feira, julho 23, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
Coluna das quintas
23 de julho de 2009

CONTRA OBAMA
Por Enéas de Souza

O que está por trás da estratégia de Geithner?

Thimoty Geithner, o secretário do Tesouro americano, é uma espécie de trapezista, anda na corda bamba por causa da crise, mas seu equilíbrio depende do equilíbrio de uma economia definida como instável. Pois este é o grande desafio de Geithner: equilibrar o que, por natureza, é desequilibrado. Tem ele a esperteza americana, que se baseia na sua absoluta confiança da capacidade dos Estados Unidos em solucionar o vendaval. E ao mesmo tempo, tem o sonho do gabinete econômico: usar o tempo para recomeçar o andamento da economia. Sua estratégia é simples. Há poucos dias em Paris declarou que ela se definia por tentar sustentar a demanda, por buscar reparar o sistema financeiro e por procurar restabelecer o crescimento. Olhe-se bem, verifique-se a sua estratégia, e ela parece efetivamente sensata. Mas, o que importa é ver o que está por traz destas palavras, quais são as intenções concretas do secretário do Tesouro americano. Ou seja, a pergunta vem fácil e natural: qual o seu jogo? E dentro do jogo: em que direção ele está jogando? A favor de quem?

Antes, de mais nada, para Geithner, a crise foi causada por uma perversão da inovação financeira. No seu conceito, foi na articulação entre o sistema financeiro e o sistema produtivo que ocorreu o ponto de resvalo, onde se construiu a rampa do desabamento do sistema financeiro e da economia americana. Ora, Geithner está apenas considerando um dos aspectos da crise. Ele nos diz também que é preciso estabilizar o sistema monetário e financeiro americano e internacional. Sim, mas a crise é muito mais ampla e muito mais profunda do que essa análise parcial. O sistema financeiro é, por natureza, instável, a precificação dos ativos se dá todo o dia no mercado; portanto, este sistema financeiro é instantâneo, altamente oscilante, volátil, errático. E o que é pior: ele tem essa face volúvel tanto para o setor financeiro quanto para o produtivo. E inclui nesse panorama, a repercussão dramática sobre as nações desde os Estados Unidos até o Brasil, passando pelo resto do mundo. Todavia, Geithner nos diz que é preciso estabilizar o sistema monetário e financeiro americano e internacional. O que traz outra idéia explícita: manter o dólar como a moeda reserva de valor. Ora, Geithner chega assim ao fundo da questão. Evitando as inovações perversas, estabilizando o sistema financeiro, agimos contra a explosão do dólar. E tudo está resolvido. Mas, a pergunta é: como é que ele vai estabilizar este sistema?

A questão que Geithner não coloca

A reforma é o ponto central de tudo. E a pergunta mais difícil do momento é: pode-se reformar este sistema financeiro? Porque as questões continuam as mesmas: é preciso uma regulação; é indispensável uma unidade nas regras e na supervisão; é decisivo definir o nível de alavancagem; é importante centrar esforços no controle da multiplicação dos produtos bancários; é substancial erradicar ou, no mínimo, reformular as agências de ratings; é radical desembaraçar o crédito, como definir a sua amplitude, seja para o sistema financeiro, seja para o sistema produtivo e seja para o consumidor, etc. Mas, a questão que Geithner não coloca é a seguinte: este sistema financeiro do jeito que está é funcional ao desenvolvimento do sistema capitalista?

A montanha mágica era uma montanha russa desregulada

Portanto, ao fazermos esta pergunta, estamos introduzindo uma questão que navega na absoluta profundidade do jogo do capital. O capital tem, no momento, um entrave ao seu desenvolvimento, que foi dado pelo alto grau de exacerbação da órbita financeira, que não só fez explodir o seu próprio desenvolvimento como o da área da produção, afetando o desenvolvimento do sistema capitalista. Por quê? Porque, as finanças, além dos seus mercados, financeirizaram totalmente a economia. Em primeiro lugar, a atividade produtiva, via a governança corporativa, o que significou que a produção foi submetida ao princípio de prioridade da valorização das ações, tornando esta esfera inoculada no mais profundo de sua operacionalidade. Em segundo lugar, porque as próprias remunerações dos assalariados foram financeirizadas. De um lado, os salários foram acrescidos de resultados monetários, oriundos da poupança dos trabalhadores aplicadas no mercado de ativos financeiros, causando o famoso “efeito riqueza”. E de outro lado, as poupanças destinadas às aposentadorias, colocadas em fundos de pensões, provocavam “investimentos” destes, sobretudo no mercado acionário e nos hedge funds. Todo esse processo transformou o sistema econômico em altamente movediço. Pois a economia passou a viver a emoção da instabilidade cotidiana, sob a música vigente da desregulamentação das finanças. Dito de outro modo: tivemos a poesia da auto-regulação das instituições financeiras. Ou seja, uma montanha russa cada dia mais arriscada, destravada, desregulada institucionalmente, com os bancos de investimentos, com os hedges funds e com os private equities à solta e que permitiram e desenvolveram uma chuva de “invenções” de títulos, que securitizava tudo o que viesse pela frente. Deu no que deu: uma inflação desesperada de ativos tóxicos, expressos, popularmente pelo rei de todos eles, os célebres sub-primes, que fecharam definitivamente as portas da mágica do sistema financeiro neoliberal.

Olha só o que fez Lampedusa como conselheiro das finanças!

E o curioso é que Geithner sugere que houve uma perversão nas inovações nos produtos financeiros: as hipotecas imobiliárias. Esqueceu - esqueceu sim - a desregulamentação, tanto que o seu “Finantial Regulatory Reform”, apresentado ao Congresso, arma o seu esquema “regulatório” em cima de um Conselho (o “Finantial Services Oversight Council”) e do FED. No Conselho participam todas as instituições reguladoras setoriais, tipo SEC (“Securities Exchange Comission”), que já existiam, sob a presidência do Tesouro. E o FED tem uma função acrescida, que dá uma maior amplitude de ação: atuar em qualquer momento e sobre qualquer instituição que cause ameaça de risco sistêmico. O que significa dizer que o nervo do sistema capitalista dominada pelas finanças desregulamentadas não seria, de fato, mexido fundamentalmente. Seria apenas aperfeiçoado com um conselho das mesmas agências dominadas pelo setor financeiro, dando não unidade, mas, quem sabe, coordenação. E haveria o fortalecimento do FED para atuar com rapidez ao se anunciar uma possível crise. Esta falsa ou precária regulação seria, em verdade, uma forma das finanças de encontrar uma maior segurança nas suas atuações. Assim, a estratégia do Geithner é a estratégia Lampedusa: mudar para que tudo fique como está.

Contra o projeto do Obama

Geithner, no concreto, está trabalhando contra o projeto de Obama, um projeto de longo prazo, cuja finalidade é a transformação do sistema capitalista. No confronto das posturas, ambos contam com o tempo para ajudá-los. Para Geithner, é preciso salvar a demanda para dar tempo de “reparar o sistema financeiro”, enquanto que, para Obama, é preciso dar tempo para que o sistema financeiro não atrapalhe o projeto da economia de longo prazo. Projeto que, já falei em outras colunas, abrange a mudança energética, a transformação da infra-estrutura econômica e a introdução de novas tecnologias. Por essa necessidade do presidente, Geithner seria útil impedir que as finanças tumultuem a mudança produtiva. Obama, é mais do que óbvio, não poderia ir contra a atual força política da área financeira. Esta é a razão porque visualiza uma pausa na tensão entre as duas órbitas da economia, evitando o conflito agora e, jogando-o para mais adiante. Só que, noutros termos, qual será o novo passo do sistema capitalista? Embora Geithner e Obama joguem em defesa do sistema, um olha para a restauração e a reparação, com pequenas substituições do que existiu, o finance led growth; o outro, visa à reformulação do capital, numa visão de uma outra funcionalidade das finanças, adequadas à nova etapa do capital, um growth led finance. É nesta oposição de concepções que se arma o impasse ou o futuro da sociedade capitalista. O impasse, se ocorrer, será entre os componentes do sistema. Isto quer dizer que não se vislumbra de nenhum modo, até agora, uma superação do capitalismo. O sistema está com as contradições à flor da pele, com o nervo exposto, mas por parte dos anti-capitalistas não existe nem teoria, nem prática que ameace a sua existência. De fato, só estamos numa tempestade, o navio da humanidade tem que chegar a um porto, e este porto está à mão. É, ainda, o amado ou detratado capitalismo. A diferença das soluções de Geithner e de Obama se revela numa opção: ou a liderança financeira, ou a funcionalidade das finanças à produção.

Os dramas do príncipe das finanças

Geithner trabalha numa articulação não apenas institucional, mas também política, para que sua estratégia triunfe tanto no nível dos Estados Unidos como no nível internacional. Prova disso é a sua movimentação na Ásia e na Europa, para que se alcance no G-20 alguns pontos decisivos. Geithner sabe que, afora a Inglaterra, altamente comprometida com os planos de Wall Street, é preciso tentar uma dupla ação internacional. Fazer o mundo crescer e conseguir uma reforma do sistema financeiro. A chave está nesse segundo ponto. É preciso então que no nível internacional haja um mínimo de controle das finanças, seja na supervisão, seja na capacitação financeira. De qualquer modo, trata-se de uma área muito complexa, porque a restauração das finanças vai encontrar um problema fundamental para o resto do mundo: como organizar e equilibrar a relação “esfera financeira e esfera produtiva”. Tudo está para ser discutido, uma vez que houve duas superacumulações de capital, a das finanças e a da produção. Logo, é preciso desfazer-se dos excessos dessas superacumulações. E isto muda muita coisa, inclusive internacionalmente. Pois, mesmo que as finanças continuem com o seu finance led growth, a reparação vai envolver, apesar de todo o conservadorismo, uma nova divisão internacional do trabalho. E é por isso que a restauração tem um caminho muito indefinido. Os níveis nos quais as finanças vão ter que negociar são patamares muito amplos e os desejos de concessões muito estreitos. A reorganização não terá como palco apenas os Estados Unidos, mas também o resto do mundo, e vai envolver, sobretudo, depois do rearranjo e reconcerto das finanças, uma forte reformulação dos papéis internacionais das nações. E um dos calcanhares vulneráveis dos americanos é, sem dúvida, o seu gasto fiscal, já extremamente elevado, e que, se aumentar em demasia, vai afetar o dólar. E a China já está avisando, denunciando, jogando forte, para que os americanos não tomem soluções que prejudiquem o valor das reservas chinesas. E ela, ao mesmo tempo, não sendo o novo motor do mundo, já está avançando para uma nova posição no cenário mundial. Ou seja, quanto mais se esmiúça a reparação do sistema financeiro, mais a gente enxerga, que o horizonte está inundado de inúmeros problemas, de inúmeras nuvens cinzentas e negras: regulação, reposicionamento do Estado, articulação finanças-produção, crescimento econômico, nova ordem econômica do mundo, etc. Como é que as finanças e, em seu nome e se tiver tempo, o príncipe da liquidez e da estabilidade do sistema financeiro, vão resolver tudo isso? A formiga que Geithner tenta achar se encontra no meio do formigueiro.

As cartas de Obama

Obama é um político perspicaz e arguto, no soft talk vai tentando organizar um apoio legislativo e um apoio administrativo, um apoio popular e um apoio internacional. Trabalha primeiramente por construir a imagem de um político definido. Um político que luta pela paz, pela invenção das saídas e pelo futuro dos Estados Unidos através de uma organização bem fundada das duas esferas do capital, a financeira e produtiva. Está procurando dar ao Estado uma função na política interna e externa, desde a saúde, passando por uma reforma na organização política e militar do mundo, até se aproximar de uma proposta e uma definição de uma nova civilização. Obama é um ambicioso good guy na terra de bad boys. Mas, um pouco como Dom Quixote, levanta a bandeira de um idealismo, saindo para enfrentar os moinhos de vento. Onde estão as suas armas nesse momento? Começa com um projeto de longo prazo para a economia, no qual as finanças devem ser funcionais ao setor produtivo. Isto significa dizer que, do ponto de vista econômico, está pensando que as lutas e as encruzilhadas do curto prazo são na verdade um pantanal, um furacão, um labirinto e uma prisão. Sua única saída para romper os entulhos deste tempo breve, é deixar que as forças em jogo se combatam e se desgastem o mais que puderem. Ele só pensa entrar no jogo para definir um limite. Para ele, jogar não é jogar o jogo econômico, mas o jogo político, para criar um ambiente e uma atmosfera progressiva que vá alterando a configuração do possível. Sua ação tem como objetivo deslocar-se constantemente para a política, sobretudo para a grande política, e nela estabelecer princípios políticos e econômicos que joguem a bola para o futuro, para o longo prazo. Pois só de lá, deste ponto imaginário criado pela política e por uma nova ideologia, a sociedade pode transformar-se. Trata-se de uma idéia frágil, uma delicada gota de porvir (e por isso vai perder pontos nas sondagens), mas que, em todo caso, se aposta for correta, pode mudar o mundo. É nisso que ele se contrapõe a Geithner, uma idéia contra outra idéia; nele, Obama, uma idéia diferente de sociedade. (A começar pela questão da saúde, projeto que está no Conresso)). E ela é tudo contra a qual o seu secretário do Tesouro luta. E a vida é assim; co-habitam no mesmo governo, duas forças contraditórias. Um fala em nome do poder econômico, outro tenta organizar uma nova economia e uma nova política. Não nos esqueçamos: o que está em jogo é, de fato, uma nova etapa do capitalismo.

terça-feira, julho 21, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Bancos têm provisões insuficientes face à perdas futuras, diz Moody's

A agência Moody's, quem sabe se precavendo c ontra acusações de omissão no futuro, reportou hoje que as provisões dos bancos norte-americanos são insuficientes face ao potencial de perdas até o final de 2010. Estranho apenas o valor relatado pela agência para as prováveis perdas do setor financeiro dos EUA: US$ 470 bilhões, quando existem estimativas de que o valor dos prejuízos pode superar os US$1,5 trilhão no período.

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sexta-feira, julho 17, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Krugman desconstrói os lucros da Goldman Sachs

Importante editorial de Krugman no NY Times de hoje. Interessante como ele usa as palavras "financialized" e "financialization" no início do artigo. Até a crise, essas eram palavras "contidas" - para relembrar Bernanke no início da crise - ao mundo dos economistas marxistas e de alguns (muito poucos) pós-keynesianos e eram consideradas uma "fantasmagoria de quem não tinha mais nada de útil para fazer e queria torcer contra o sucesso da economia de mercado (sic)". Agora, estamos no NY Times, vocalizados pelo Krugman, um economista do "realismo mainstream", ou seja, apenas um economista que enxerga que a realidade não pode ser explicada com base em premissas como "mercados eficientes" ou "informação perfeita". E, vejam o estado da profissão, isso (o óbvio) deu a ele um (justo) prêmio Nobel...

Importante também o artigo pela paulada certeira no significado dos lucros da Goldman.

Good job Mr. Krugman.

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quinta-feira, julho 16, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Roubini desmente mídia

Em mais um desenvolvimento bizarro - e temos de considerar que hoje é véspera do vencimento de opções nos EUA, ou seja, muitos interesses financeiros estão em jogo -, o economista Nouriel Roubini foi citado como prevendo o final da crise nos EUA ainda para o ano de 2009 (http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=20601087&sid=a2Ycv6qB7FvA), notícia que teria invertido a tendência baixista da bolsa norte-americana nas últimas horas do pregão.

Roubini desmente ter feito as afirmativas bombásticas e diz que nada mudou em seu prognóstico para o crescimento econômico do país e dco mundo (que, em resumo, é possível uma recuperação fraca e com avanço do desemprego em 2010). Sua nota explicativa pode ser lida aqui: http://www.rgemonitor.com/roubini-monitor/257299/roubini_statement_on_the_us_economic_outlook .

Mais uma vez, tudo muito estranho no reino da Dinamarca... ainda bem que é só por lá. Ou, como escrito em um fórum norte-americano de discussões sobre o tema: "the worst is behind us... but unforunately, he's well endowedd".
A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
Coluna das quintas
16 de julho de 2009

ESPECULANDO SOBRE O FUTURO
Por Enéas de Souza

O pássaro de fogo

A grande questão da economia mundial, vista pelo ângulo da recuperação, e uma recuperação consistente - e não eventuais pequenas notas de crescimento – baseiam-se em pelo menos três premissas: 1) uma recuperação produtiva americana; 2) uma recuperação financeira Wall Street-Londres como diria Peter Gowan, e 3) dada as recuperações regionais das demais economias, principalmente a China, uma conseqüente recuperação do comércio internacional. Como continuo a acreditar que sem a economia americana, as coisas não se arrumarão, e que ela prosseguirá no papel de economia líder, o centro de minha análise se restringirá aos dois primeiros pontos.

Para tentar apreender o movimento dessa recuperação americana, algumas perguntas precisam ser respondidas, com a maior consistência na sua lógica econômica. A primeira delas, talvez a mais efetiva, como um tronco da árvore que se abre para muitos galhos, é a seguinte: qual é o setor que vai comandar a economia? E desta interrogação há um desdobre para outras. Teremos, então, novamente uma dominância financeira? Ou teremos, para variar, uma dominância produtiva? E se tivermos a continuação da dominância financeira, a interrogação passará a ser: teremos a mesma estrutura que vigorou neste grande ciclo econômico de 1979 até 2007? Ou seja: teremos desregulação; alavancagem excessiva; criação indefinida de produtos; crédito florescente tanto para o setor financeiro, quanto para o produtivo; teremos crédito aos produtores e consumidores do setor real, despreendido de garantias efetivas; e teremos ainda as fatídicas agências de ratings sem nenhum controle? E mais: a economia internacional se ligará à economia americana para continuar fornecendo produtos que rebaixarão o custo de reprodução da mão de obra americana?

A labareda e a engenharia

A meu ver o grande tema, mesmo olhando de perto a sociedade dos Estados Unidos, vai ser o da reformulação global do sistema econômico, vislumbrada num período largo e visando claramente dar um novo rosto à economia americana e mundial. A busca é de uma nova forma da divisão internacional do trabalho. E o que se pode encontrar, de bom senso no momento atual e nesta direção, é a combinação incipiente de uma política macroeconômica, com a presença do Estado, compatível com uma visão política de mudança dos princípios que direcionaram a desastrada era Busch. Pois, embora as questões econômicas tenham um toque de labareda, façam parte de um vulcão abrasador, me parece que o destino da realidade mundial passa por uma visão e uma engenharia absolutamente diferente no campo político. Parece que a visão de Obama é a de resolver os temas de fundo, ou ao menos, pôr em equação os múltiplos conflitos políticos, antes de propor soluções mais definitivas para divergências econômicas. Antes uma ordem política, depois uma econômica. Por quê? Primeiro porque a crise econômica é vasta e de longo desenlace: um desastre financeiro, um desabamento econômico e um desamarramento da economia internacional. Segundo, porque o equacionamento da estratégia política das questões do poder das nações, das guerras entre os países, dos destemperos do clima e da sociedade, dará norte e tempo para que a solução da economia possa ser armada. É claro que essas problemáticas, aparentemente antagônicas da economia e da política, podem normalmente atuarem separadas, mas volta e meia se misturam e muitas vezes eclodem e se resolvem juntas. São frutos da mesma árvore.

O Estado vai desequilibrar

Esta época que segue a época neoliberal terá características um pouco distintas. Antes, de mais nada, o Estado vai ter que participar – como já está participando – do desenvolvimento da sociedade. Torna-se importante que a entidade estatal e a sua burocracia tenham consciência de que a reformulação da economia passa por elas. E obviamente, que o Estado, contra a rapina liberalizante, há de ser o condutor do processo econômico, controlando as finanças, alargando a dimensão de longo prazo, e encadeando operativamente uma outra economia produtiva. O Estado vai atuar, obviamente, em favor do setor privado, contudo com um trabalho de arbitragem, entre as finanças e a produção, para que a rota da sociedade não fique presa às volúpias permanentes, e crescentemente instáveis, das finanças. E, ao mesmo tempo, e prioritariamente, uma preocupação essencial deve existir: a manutenção da democracia e das atividades públicas, e, no caso americano, com um projeto tanto para a sua sociedade nativa, quanto para a liderança dos Estados Unidos na comunidade mundial. Dito isso, o Estado, ao reforçar a esfera da produção, certamente estará alterando as relações de forças da atual sociedade. É preciso, portanto, perceber que se as finanças continuam dominando no curto prazo, as manobras de Obama, de produzir um longo prazo para a sociedade americana, são manobras de Estado que vão favorecer forçosamente a economia produtiva.

Acho que o período de hegemonia absoluta das finanças terminou. Pois há que olhar para a renovação do futuro. De um futuro diferente do atual. E ver que todas essas questões ligadas à energia, ao clima, ao meio ambiente, desfocam e colocam em suspenso a urgência urgentíssima de resolver as finanças somente para as próprias finanças. Estas carecem de soluções urgentes, mas são de uma urgência de curto prazo. Porque, na verdade, há uma urgência maior. E qual é esta urgência? A da sociedade como um todo. Cabe, então, deter, no imediato, o arco da instabilidade e da vulnerabilidade dos mercados financeiros. Já que eles emergem sempre como um objeto que ameaça contundir a sociedade. Do ponto de vista da produção e dos trabalhadores, o futuro das finanças não se decide agora. O que importa é que elas parem de incomodar, de serem problemas, e que sejam encaminhadas a um repouso, a um pousio, certamente de precário equilíbrio, mas mínimo equilíbrio, para que não perturbem as tarefas de uma longa construção do setor produtivo. Uma vez que as finanças na continuidade terão que se voltar para o longo prazo, porque estrategicamente o mais fundamental de tudo é que a política se incline para trajetória da longa duração do capitalismo. E só por essa razão é que a esfera financeira se adequará ao dinamismo da esfera produtiva. (Lembramos em passagem, que o outro lado do capitalismo, no momento, não tem nenhum projeto político alternativo, com volume político efetivo capaz de enfrentar o capital. Assim, a sobrevivência deste, passa pela acomodação das finanças e pelo triunfo da produção).

Caminhos cruzados

Pois, agora, o caminho americano vai ser este: um projeto nacional para resolver as questões da energia, do meio ambiente, do clima, e das guerras. Ele vai impelir os Estados Unidos à construção de uma trajetória que atravesse uma nova economia. Porque a necessidade de mudar a matriz energética leva forçosamente à construção de uma nova infra-estrutura da base econômica, que por sua vez vai requerer uma transformação em profundidade na concorrência intercapitalista nacional e internacional. Esta mutação da competição tem como ponto decisivo à entrada na disputa produtiva de novas tecnologias no mercado, que só serão materializadas quando novos produtos chegarem ao mercado oriundo destas tecnologias. O que significa dizer que a atual base produtiva da sociedade vai ser alterada no seu corpo, na sua estrutura, na sua forma, no seu conteúdo. E embora a China possa recuperar a sua economia mais rapidamente que a americana, na verdade as grandes inovações tecnológicas virão do estoque de tecnologia que esta detém. É dos armazéns deste porto que vão sair os barcos da nova economia. O longo prazo está mais para os Estados Unidos do que para a China. Embora o futuro do comércio internacional vá sair de uma nova trama de relações envolvendo como puxadores deste samba os Estados Unidos, a China, a Europa, a Índia e o Brasil.

Desta maneira, o que a gente pode enxergar é que sem esta tarefa de renovação econômica, a sociedade não poderá avançar socialmente, o que demonstra que o requerimento de salvação das finanças é apenas uma medida protelatória da própria finanças ou uma medida de cautela do Estado para que elas não possam obstaculizar a transformação do porvir. Por essa razão, a protelação é algo que vem da imensa resistência das finanças às alterações da realidade econômica. Esta manobra, nave sem rumo, pode ter o seu tempo, mas não se sustenta. O atual estado da indústria americana e sua liderança no mundo exigem outras soluções, dadas igualmente a dramática situação das corporações produtivas dos Estados Unidos e a atual desastrosa situação dos trabalhadores. E é por isso, que a estratégia de Obama passa por um incentivo inevitável às pesquisas energéticas e tecnológicas. E sem sombras de questionamento, pela transformação fundamental da educação, já que os Estados Unidos não tem outra saída. Tem que reverter o comando absoluto das finanças e direcionar a estrutura produtiva para um novo norte, onde o planeta seja habitável, e, portanto, estabelecer um novo padrão energético e uma nova estrutura de produção. E para tal formar uma mão de obra, em todos os níveis, vertida para essa possibilidade. Caso contrário a “América” estará abdicando da liderança mundial. O que, simplesmente, ninguém acredita que isso aconteça..

Um novo software para as finanças

Com dissemos acima, as finanças têm duas saídas. Uma, forçar com o seu atual poder, a conservação, da melhor maneira possível, das coisas como elas acontecem. Tudo isso tem sido tentado. E o setor financeiro pensa que nem corredores de 100 metros rasos numa Olimpíada: o seu negócio é correr rapidamente e vencer. Só que as Olimpíadas são mais que estas corridas breves, têm também a maratona. E a maratona é uma prova de longo prazo e de longa duração. É aqui que jogam as atividades produtivas, é aqui que se joga, na verdade, o destino da sociedade, da humanidade e da civilização. O que tivemos até agora foram as pernas curtas, pernas que correm pelo prazo rápido. Mas, esta corrida terminou. A saída das finanças é bagunçar a Olimpíada e fazer com que a competição fique só no jogo financeiro, onde o instantâneo e a instabilidade reinem e façam da sociedade um encontro excitante de papéis e dinheiro. Mas, já se mostrou que há mais papeis que dinheiro, pois estes papéis têm a substância da ficção, são valores de promessa. E são promessas que a estrutura das finanças é incapaz de cumprir. Os títulos e os ativos do mercado financeiro contêm em si o mico, ou seja, a maioria deles tem o corpo das fumaças do sonho. Os seus valores fogem da troca por dinheiro e alimentam o devaneio de tornarem-se mais dinheiro. E no seu delírio social as finanças não conseguem passar pela hora da verdade, a troca generalizada de títulos por dinheiro. Como já falava Marx e Hilferding, e compreendiam Keynes e Minsky, este capital inscrito nos títulos é capital fictício.

A outra saída, então, é um novo desenho para as finanças. Só que desta vez elas terão que estancar a atual hemorragia, e se preparar para uma nova organização do seu sistema. Sistema com uma funcionalidade diferente: a funcionalidade das finanças à estrutura produtiva. O que não quer dizer que elas não terão um papel fundamental na sua tarefa de fornecer crédito. O crédito continuará sendo a seiva da sociedade capitalista. O que as finanças, dando uma reviravolta até agora impensável, terão que providenciar é uma manobra e um pacto social para conservar na área privada esta função e impedir que sejam substituídas por finanças estatais. Pois, estando em marcha uma mudança de sociedade, quiçá de civilização, ou elas interrompem a mudança ou se aliam à metamorfose. E neste caso, considerando a atual configuração geral da luta de classes, embora tenham ainda o domínio, elas terão que ceder ao destino e se comporem com um novo mundo. (Tudo isso não exclui, apenas para complicar o panorama, um itinerário de uma crise abismal, que está igualmente embutida na atual conjuntura, um “Round 2”. Um segundo tempo da crise financeira e da recessão, uma corrida para o deslizamento no campo depressivo. Vejam os gráficos das últimas postagem do André.).

A dialética do tempo presente e do tempo futuro

Pois, aqui aparece a nossa percepção do problema. De um lado, a necessidade de uma transformação profunda, que já se pode esboçar. Mas, como disse Roberto Reich, a solução da crise é um X. Ou seja, enquanto uma economia vem abaixo, outra se constrói. Vejo assim também, quero precisar o um sal que vamos usar que talvez tenha um tempero diferente do de Reich. Claro, temos que nos livrar da sociedade que está aí. Só que ela é como um vírus que está dentro no corpo minado. É preciso nutrir outras forças em combate no coração da economia e da política. E elas só triunfarão se tivermos uma sociedade que saiba para onde quer ir. E neste sentido, não basta apenas deixar outra sociedade crescer. Não, é preciso criar uma nova. E ela está em germe na energia, no estoque de tecnologias, na transformação da tecnologia em produtos, na formação de capacitação para tal, na melhoria das condições dos trabalhadores. Mas, para chegar até lá é preciso Estado, é preciso democracia, é preciso a construção do público, é preciso que se desenhe tanto uma nova produção como um novo setor financeiro. O desafio é este: há que ter estratégia, há que planejar essa passagem, há que pôr a política – a grande política – na frente da economia, bringando contra a pequena política (aquela da chantagem, da corrupção, dos favores, da subordinação da sociedade aos interesses privados). Há que pôr um projeto em ação. E é possível que, para os Estados Unidos assumam este rumo, Stieglitz talvez tenha razão. Pode ser que para organizar a sociedade americana, os Estados Unidos tenham que passar por uma nova organização da economia mundial. E por essa razão a política clama pôr um redobrar de forças, mas atiça um terremoto maior, já que é preciso organizar também os conflitos na ordem mundial. E como os conflitos estão por toda parte, os Estados Unidos e o capitalismo também terão que ter uma nova ideologia, um novo projeto, uma nova visão das relações sociais, uma nova proposta de instituições internacionais para negociarem com o mundo. Devem estabelecer uma resultante que assinale um novo estado de paz, totalmente diferente do tempo em que estamos vivendo - um tempo de guerra e um tempo de decadência. Será isso possível? É o desafio da Hora.

(E, neste instante, onde as incertezas avultam, também devemos nos perguntar: quais são os projetos dos anti-capitalistas? Sua dialética é a do tempo presente e do tempo futuro ou enxergam o futuro pelos olhos do passado?).

terça-feira, julho 14, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Estimativas de perdas do setor financeiro (total)



As perdas do setor financeiro ainda são aumentadas pelos prejuízos com hipotecas comerciais e com a inadimplência crescente das empresas não-financeiras e das famílias.

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: ... o mesmo acontecendo com as options ARMs que já estão pesando sobre o balanço dos bancos agora.

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: ... embora os defaults nas hipotecas alt-A já seja bastante elevado agora...

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: ... enquanto as hipotecas de tipo alt-A são uma verdadeira bomba-relógio...

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: ... o que aumenta o default nas hipotecas de tipo prime...

CRISE INANCEIRA MUNDIAL: ... e uma grande quantidade de famílias deve acima do valor dos imóveis...

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: ... mas o risco passa a ser o aumento da inadimplência em outras originações...

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: O pior do estoque subprime já passou...

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Atrasos nos pagamentos, por originação (mais de 60 dias)

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Hipotecas por tipo de originação (EUA, total)

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: A ameaça das novas perdas bancárias



Como prometido, seguem gráficos que mostram que as ameaças de novas perdas para o setor bancário dos EUA dado o recrudescimento da inadimplência não são meras especulações sem fundamento. A iminente falência da financeira CIT mostra que a ameaça pode estar mais perto do que se imagina...

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Situação complicada para a Dell

Depois de cortar gastos, buscar recursos no mercado de capitais e suspender seu programa de recompra de ações, a Dell está em busca de fontes alternativas de capitalização. O declínio nas vendas de produtos tecnológicos vem pesando fortemente sobre as contas da empresa.

Está cheirando como a próxima grande vítima da economia "real" da crise financeira mundial. Os fundos de private equity e as empresas asiáticas (em especial as chinesas) do setor devem estar salivando desde já...

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domingo, julho 12, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Nova rodada da crise financeira se aproximando

Bom, o segundo semestre deve ser marcado pelo recrudescimento da crise financeira nos EUA, trazendo novas perdas aos bancos norte-americanos (e aos cofres públicos dos EUA). Notícia publicada no Wall Street Journal mostra que as hipotecas contendo as chamadas "opções ajustáveis" (ARMs- Adjustable Rate Mortgages) já trazem mais prejuízos aos bancos que o chamado subprime. As ARM são contratos que incluíam os chmados teasers, ou seja, a opção de que o comprador pagasse apenas o principal durante algum tempo do contrato (em geral dois a cinco anos), acumulando o restante para pagamento posterior. Outros contratos incluíam a troca de taxas fixas por taxas flexíveis de juros. em qualquer caso, as prestações mensais aumentam brutalmente quando do vencimentos dos teasers, tornando impagável o contrato firmado.

Desde o início da crise (2007), estamos alertando para o problema que o vencimento desses contratos trariam ao sistema financeiro norte-americano. trata-se da crônica de uma morte anunciada. Estarei relembrando aos leitores de alguns gráficos sobre o tema durante a próxima semana.

Uma nova rodada de instabilidade financeira seria desastrosa para a economia mundial.

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quinta-feira, julho 09, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: China ataca dominância do dólar no G-8 (de novo!)

Embora se trate de mais um pronunciamento "político" (ou seja, destinado a marcar posição sobre um problema de longo prazo, sem conseqüências imediatas), a China mais uma vez destacou seu desejo de que o mundo se mova em direção a uma nova moeda de reserva que reflita a posição relativa multipolar característica da nova economia mundial.

Me impressiona a forma recorrente como esse tema tem sido trazido à discussão de forma cada vez mais escancarada e explícita pelas autoridades chinesas, bem como a aparente passividade das autoridades norte-americanas a respeito. Mas, concretemante, no curto prazo não há alternativa ao dólar e uma desvalorização abrupta da moeda norte-americana seria desastrosa para a economia mundial e, particularmente, para os interesses chineses, o que explica em parte as posições no G-8.

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CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Preços do petróleo em queda livre

As notícias referentes às fraudes especulativas nos contratos futuros de petróleo (http://econobrasil.blogspot.com/2009/07/crise-financeira-mundial-fraude-afeta.html), a possibilidade de um endurecimento regulatório nas posições financeiras nas bolsas de óleo reconhecida por autoridades dos EUA e a constatação de que, até o momento, a proclamada "retomada" da economia real mundial é mais desejo do que fato levaram o preço do petróleo a retornar à casa dos US$ 60,00 hoje.

O preço das commodities é importante para a manutenção da atividade nos países "emergentes", dentre eles o Brasil. Uma queda acentuada nesses preços teria efeitos deflacionistas sérios para a economia global e adiaria mais uma vez a vigência de duas teses recorrentes e em voga nos últimos três meses: a do descolamento entre as economias de países desenvolvidos e emergentes; e a do reaquecimento da economia mundial. Além do que, arrastaria a bolsa brasileira e o dólar em movimentos opostos... Vamos ver logo se a bolha das commodities tinha alguma consistência com a situação da demanda mundial ou se o jogo era unicamente especulativo, como, mais uma vez, parece ter sido.

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CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
Coluna das quintas
9 de julho de 2009

O GALO DAS TREVAS
Por Enéas de Souza

A crise inacabada

Ressalta, assim de pronto, uma primeira questão: localizar em que ponto da crise americana e mundial nós estamos. E sem mentir, podemos dizer que, hoje, agora, temos uma presença do Banco Central (FED) extremamente ágil, com possibilidade de atuar amplamente. O que faz com que o sistema seja um pouco menos vulnerável no curtíssimo e no curto prazo do que nos primeiros dias do tombo das finanças. Podemos dizer que no momento a situação está relativamente estabilizada. Na reforma proposta pelo governo Obama o Banco Central tem a incumbência de intervir em qualquer instituição financeira, bancária ou não, desde que esteja claro que exista um perigo sistêmico. Trata-se, na verdade, de um avanço na concepção da arquitetura da área, porque por essa visão ele pode atuar em qualquer segmento do mercado financeiro, quando anteriormente só podia atuar sobre os bancos. Todavia, mesmo antes de ser enviada a proposta da reforma para o Congresso, logo na aurora dos distúrbios, o FED, por decisão política do governo, já abria linhas de liquidez, já baixava as taxas de juros, já tinha recursos para hedges, já aliviava o constrangimento aos comercials papers, etc., tudo para bloquear a crise. Importa dizer então que o FED ficou atento, colado, aos trancos e as durezas da travessia. O que ele não conseguiu, nem consegue resolver, é o ponto fundamental que atinge os bancos: a indesejada insolvência. Sim, vários economistas já diagnosticam: as instituições financeiras estão quebradas e para tal só resta uma solução: capital!

E a pergunta é a seguinte: quem é o bobo que vai meter capital num negócio que tem cara de “bichado”?
(Pausa).
Resposta: enquanto o seu lobo não vem, chapeuzinho vermelho continua recebendo liquidez do Banco Central.

Não se volta a aplicar, prefere-se a liquidez

Quando se examina a dinâmica financeira (que levou à crise), a gente percebe que não há possibilidade de reacendê-la, de colocá-la novamente em prática, que é o sonho das finanças. Em economia não se retorna ao que já passou. Um passado pode inspirar medidas no presente, mas este presente nunca será igual àquele passado, a economia é sempre outra. Então, os pontos em que se assentavam as finanças não se repetirão mais. O que não quer dizer que as finanças deixaram de dominar e que elas não conseguirão instalar alguma construção econômica onde terão uma participação importante. O problema é que os elementos que proporcionavam aquela dinâmica efetiva estão distantes deste setor. Por exemplo: o capital pode estar abundante em alguma área, financistas podem ter dinheiro, mas eles não se dispõem a colocar os seus recursos em alguma aventura mais arriscada. Até experimentam, como Buffet e o próprio Banco da China. Mas, como disse uma vez Roberto Campos, o capital é covarde, e a qualquer sinal de embaraço, ele fareja a cilada e foge. Foge para a velha máxima de Keynes: na hora da fogueira, o que interessa é a preferência pela liquidez.

A engrenagem despedaçada - Parte 1

Então, o primeiro problema é capital. O segundo – derivado deste – é o crédito. Ou seja, quem prefere a liquidez, não empresta. E a economia capitalista, já falava o velho Schumpeter, é creditícia. E se não há empréstimos, a possibilidade de alavancagem do sistema torna-se reduzida, ainda mais com o Banco Central olhando e controlando a questão do risco sistêmico, mesmo quando bota muito dinheiro e a custo zero. E, naturalmente, o crédito é tanto problemático para empresas financeiras quanto para as corporações produtivas, estas que estão assoberbadas com bancarrotas, com a reorganização da produção, com a queda das suas demandas, seja pela desconfiança do consumidor, seja pelo desemprego, seja pelo endividamento das famílias. Então, a economia está com o pé na trava e o carro das atividades não pode se acelerar. Efetivamente, não há aceleração; na melhor das possibilidades, há uma não-inspiradora desaceleração. Não há crédito, não há alavancagem, não há dinamismo.

A engrenagem despedaçada - Parte 2

O grande problema para o desenvolvimento deste sistema financeiro, no momento, é a carência de produtos. E uma das suas maiores dificuldades é que a securitização não está funcionando como antes. Para se entender bem, cabe salientar que a securitização é a capacidade que tem uma instituição financeira de emitir um título em cima de um bem ou mesmo de um outro título. No caso do bem, o exemplo mais luxuriante são as hipotecas imobiliárias. No caso de títulos sobre títulos, podemos citar as hipotecas imobiliárias que dão origem a outros títulos, por exemplo, os famosos Residential Mortgage Back Securities. Ou seja, como é que o sistema financeiro vai arrumar bens ou títulos para sustentar uma nova festa do carrossel financeiro, depois de tudo que aconteceu? E com a economia desabando! Claro, o Goldman Sachs e seus companheiros já estão falando que estão arrumando uma nova forma de securitização. Até pode dar certo, mas convenhamos que o que se espera é que ela não vá muito adiante. Não só porque o mecanismo de securitização está sob suspeita, mas porque o capital é escasso, falta crédito, prefere-se a liquidez e o apetite de risco está próximo de zero. É claro, que se houver um fogo para levantar o balão, não tenha dúvida, já tem muito financista aí para tentar levar o barco adiante. Parece que é mais um boato, mais um rumor, mas uma notícia para ver se anima a moçada que espera sempre ganhar um dinheiro fácil. A meu ver, nada indica que as coisas vão recomeçar!

A engrenagem despedaçada – Parte 3

O interessante é pensar que a securitização também funcionou com títulos oriundos de títulos sobre mercadorias ou serviços. Ora, como a economia está em baixa, como a produção está desanimada, o que importa verificar é que a economia produtiva e a economia dos serviços não estão dando motivos para uma retomada da demanda e, por conseguinte, as possibilidades de reencentar a securitização com novos produtos são mínimas. E claro, não podemos esquecer, que há ainda um problema grave no fundo de tudo isso: quando se examina a securitização com automóveis, cartões de crédito, com prédios comerciais (shoppings, hospitais, supermercados), etc., muitos destes títulos securitizados ainda não foram pagos. Ou seja, pode haver uma segunda geração de ativos podres, de ativos tóxicos. E essa possibilidade não está descartada por analistas que tem um conhecimento maior da situação. Então, desta forma, a questão se avulta; não só a crise não passou, como pode retornar com maior virulência, uma virulência depressiva. O que se pode dizer é que a economia está num estágio de descanso. Voltando à minha metáfora da crise, que já falei em outros textos, a metáfora da escada, nós só podemos dizer que chegamos neste ponto do tempo a uma parada, a um piso maior, a um degrau mais largo, a um patamar mais amplo. E que ninguém tem certeza onde se está, porque as coisas financeiras ainda se encontram no escuro. Se o próximo lance da escada da economia desce ou sobe, ninguém sabe. Só a luz quando acender vai nos dizer para onde vamos. A revelação está no próximo degrau.

A engrenagem despedaçada – Parte 4

Quando se percebe que há um emperramento da economia financeira, que os mercados não fluem, pois não tem vento de popa; e quando se percebe que a bolsa e as commodities são hoje dominadas por especulações pré-fabricadas ou descuidistas; a gente vê que o desarranjando das finanças é alto, e que o sistema não obtém confiança dos aplicadores para prosseguir e crescer. Nesse ponto, a forma de consertar a engrenagem – a sociedade e parte do governo já sabem – é a regulação. É exatamente contra isso que lutam desesperadamente os setores das finanças. Porque estes continuam envoltos no seu sonho de uma noite verão. No entanto, agora é inverno para as finanças. E a confiança dos aplicadores só voltará se houver confiança não apenas nos títulos, mas também nas entidades financeiras, nas entidades e agências reguladoras, em toda a arquitetura do sistema. E nada mudou efetivamente. Existe apenas uma atuação mais ampla do FED, no seu voluntarismo de controlar alguma possível fratura do mercado. De outra parte, as agências reguladoras, mesmo ainda em conflito, se tornaram um pouco mais rígidas. É que adentramos num compasso de espera no Congresso pela a aprovação, com emendas ou não, do “Finantial Regulatory Reform”. Olhemos bem, as finanças tentam se mexer, mas a situação não se alterou. Há um espaço vazio aguardando o debate e a solução política. E a questão é só uma: se for promulgada uma regulação que não convença, a sociedade se manterá fiel e passiva?

Qual é a bola da sorte?

De qualquer modo, o que temos em questão é o funcionamento das finanças tal como conhecemos nos últimos anos. Ela vai ter que se alterar. Primeiro, porque o retorno da confiança não está acontecendo. Segundo, porque quanto mais o tempo passa, se elas têm mais tempo para resolver seus problemas, a sociedade também tem tempo para pensar se estas são as finanças que ela quer. Então, entramos num jogo social intenso, numa luta mais ampla do que os combates dentro do Executivo e das batalhas legislativas. As disputas entram num plano social mais candente e mais questionante. A pergunta vai sair da interrogação sobre as finanças e passar para saber se é esta a sociedade que as pessoas querem? Não estou falando de mudança do regime capitalista. Estou dizendo que elas estão pensando se é este o capitalismo que elas querem. E não será de estranhar porque uma sociedade como a americana, que está se aproximando de 10% de taxa de desemprego, deve estar pensando e conversando para ver se deseja o retorno do mesmo esquema que a afundou.

O aparente festejo

As finanças continuam achando que foi só um solavanco, quem sabe um pequeno soluço. Leia os artigos dos cantores do sistema, observe as páginas dos bancos e das agências de ratings. A tentativa é de tocar aquela música do “sacode a poeira e dá a volta por cima”. Mas, nem tudo está igual. De fato, o triunfo das finanças foi algo absolutamente notável. A população, mesmo a mais desfavorecida, estava pensando que nem elas. Só que algo se rompeu, a pele rachou, o calcanhar teve uma calcificação. E o capitalismo vai ter que mudar. Fala-se já num movimento de governança internacional, na busca de uma regulação financeira mundial, na tentativa de reformas sociais leves, na ajuda aos países africanos, num cutucão no dólar através dos países emergentes. Até já tem alguém propondo uma social democracia globalizada e falando em alterar a posição da ONU. Isto é muito incipiente e muito novo. E ainda não existem ações concretas e muito menos definitivas. Mas, aquela idéia do Estado Mínimo, aquela idéia de Estado ineficiente, aquela idéia de homens vencedores, aquela idéia que as finanças faziam crescer o mundo, parece que foram postas num balde de gelo ou despejadas num cesto de roupa suja. Isto significa que o maravilhoso mundo neoliberal e sua ideologia foram colocados na lixeira deste capitalismo, que, obviamente, tem fôlego e gás para continuar. Mas não no mesmo ritmo de viagem, pois o rumo e o próprio ritmo devem ser notoriamente outros. E naturalmente os melhores pensadores deste sistema – de Krugman à Stieglitz, de Martin Wolff à Nouriel Roubini, de Aglieta à Orléan – já perceberam, faz muito tempo, que é preciso achar uma rota de saída ou uma rota de fuga. E todos sabem que a política vai ter que dar uma boa mão para a desastrada economia. Se não, a sociedade entrará no aparente festejo do galo das trevas.

segunda-feira, julho 06, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: O revival da securitização

A securitização vive! Ao menos para os bancos de investimento interessados em fazer face às possíveis mudança regulatórias que visam impor limites à sua alavancagem, ou seja, a quantidade de capital próprio que pode ser utilizada em novos negócios. O Goldman Sachs e o Barclays estão criando mecanismos para agruparem diversos tipos de títulos de modo a que os requerimentos de capital necessários para fazer frente aos possíves prejuízos seja reduzido.

Bom, parece que realmente os caras estão viciados nesses "esquemas" e não sabem fazer outras coisas... Hello, próxima crise!

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domingo, julho 05, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Suécia adota taxa de juros negativa

So, here’s what the Swedes are saying:
Economic activity abroad is very weak and this hits Sweden hard. That means the Swedes can’t export their way to prosperity because no one is buying. Everyone is in a synchronized global downturn. One subtext I should mention is that Sweden is greatly affected by the collapse in the Baltics because there was a huge trade flow and banking relationship between Sweden and the Baltics. Therefore, the economic depression there is not good for the Swedes or their banking system.
A lower repo rate and repo rate path are needed to counteract the fall in production and employment and to attain the inflation target of 2 per cent. Output and employment in Sweden is so weak now that it is creating deflation. We have to lower interest rates in an effort to stimulate borrowing, which we hope increases credit and ultimately production and employment.
The Riksbank’s assessment is that after cutting the repo rate to 0.25 per cent it will have reached its lower limit in practice, and that the situation on the financial markets is still not completely normal. Look, we are cutting rates as low as they can go, effectively zero. And financial markets are still not normal. Banks just are not lending enough to create the credit in the system necessary to increase production and employment.
The Executive Board of the Riksbank has therefore decided to offer loans totalling SEK 100 billion to the banks at a fixed interest rate and with a maturity of 12 months. Because cutting rates, the policy tool we prefer, is not getting the job done, we are going to effectively print money out of thin air. We will start making loans to banks with fictitious money that we create solely to increase the amount of money in circulation in a desperate attempt to increase consumer and business credit, consumer price inflation, and output.
The deposit rate is at the same time cut to -0.25 per cent. And as an extra measure, we will start penalizing banks for not lending by charging them 0.25% for holding deposits at the Riksbank.
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sexta-feira, julho 03, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Mais sobre o trader que impulsionou o mercado de petróleo ao record desse ano

The story of what triggered almost $10m (€7m, £6m) of losses on the Brent oil market on Tuesday is still being pieced together, but one thing is clear: Steven Noel Perkins, the broker accused by bosses at PVM Oil Associates of “unauthorised trading”, made his trade at a very unusual time.

Trading from his UK home at about 2am on Tuesday, it was the most illiquid time of day in the Brent futures market – a gap left between New York and Singapore hours, in which only a handful of Tokyo-based traders are active.

Traders say that at that time liquidity is very thin and much of the volume is automatically generated by computers, following prefixed trading orders. One trader said that Mr Perkins was, in effect, trading against the machines.

With a few keystrokes, using a home computer equipped with remote access to the InterContinental Exchange Europe, the marketplace for Brent oil, he bought oil futures equal to about 9m barrels, propelling prices to $73.50 a barrel, the highest of the year.

With computer trading chasing the rally, contracts for more than 16m barrels changed hands in one hour, far more than the traditional 0.5m for that time of the day.


Finalmente acho que entendi o que chamam de "mercados eficientes"!


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CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: A grande farsa da mudança regulatória nos fundos de pensão brasileiros

Está em armação mais uma grande farra financeira que, mais dia menos dia, vai acabar estourando nas mão do Estado. Trata-se da tão falada mudança na regulação que limita a alocação de mais de 58% (já é um absurdo completo) das carteiras de ativos dos fundos de pensão brasileiros em renda variável. As repercussões são profundas.

A rentabilidade dos fundos vem sendo cada vez mais pressionada pela queda da SELIC, uma vez que cerca de 60% dos seus ativos estão alocados em títulos públicos. Diante disso, se torna cada vez mais difícil atingir o rendimento de 6% + inflação anual ao qual os gestores se propõem. Começa então uma pressão para aumentar a parcela da renda variável nas carteiras do fundos, supostamente portadoras de uma potencial maior rentabilidade. Isso pode provocar um deslocamento de parte dos ativos alocados em títulos públicos para a renda variável, colocando maior pressão sobre as possibilidades de financiamento do governo e, portanto, limitando as quedas na taxa de juros, o que é de interesse do sistema financeiro (inclusive bancário) como um todo. ao mesmo tempo, a manobra é portadora de criação potencial de maior demanda de ações na bolsa brasileira, capaz portanto de mover o mercado para o alto. No curto prazo, todos felizes. Até que essa corrente da felicidade seja quebrada, e que, nesse dia, o Estado seja chamado a intervir para cobrir parte do furo.... quem viver, verá!

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quinta-feira, julho 02, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Fraude afeta preços do petróleo

O que já se sabia veio à luz de forma trágica nesse final de tarde: a elevação dos preços nos mercados de commodities faz parte de uma fraude orquestrada por empresas interessadas em manipular os preços. Essas empresas, inclusive chinesas, se aproveitam do dinheiro barato dos governos para lançarem novas "bolhas' nos mercados emergentes e nos mercados de commodities. Essas bolhas estourarão brevemenet, trazendo mais perdas aos overnos que não poderão deixar de socorrer as "Goldman Sachs da vida", sistemicamente importantes demais para quebrarem...

Um exemplo foi a recente alta dos preços do petróleo na terça-feira, obra de um especulador. Vale a pena ler a reportagem do Financial Times sobre essa operação específica. Interessante notar que a PVM é amaior empresa de contratos futros de balcão nomercado de petróleo. Para variar, a culpa recai sobre um "operador não-identificado" que teria atuado à revelia da companhia. A empresa perdeu mais de 7 milhões de euros na operação.

Segundo o FT:

London-based PVM said it had informed the Financial Services Authority, the UK regulator. But officials at the Commodity Futures Trading Commission, the US regulator, claimed they had been kept in the dark for several hours in spite of an agreement between the watchdogs last year to exchange such market-sensitive information spontaneously.

Oil traders in London and New York said the “unauthorised trading” explained the exceptional spike in business activity and prices in the early hours of Tuesday that some initially thought must have been caused by a geopolitical event. “Trading volumes rose overnight and prices jumped more than $2 a barrel without apparent justification,” a senior oil trader in New York said.

Prices rose in one hour from $71 to $73.5, the highest level for the year, according to Reuters data. In total, futures contracts for more than 16m barrels of oil changed hands in that hour – equivalent to double the daily production of Saudi Arabia, the world’s largest oil producer, and far more than the traditional 500,000 barrels for that time of the day.

Traders said the broker implicated had allegedly accounted for at least half of the unusual activity, with the rest the result of others chasing the rally. Oil prices on Thursday fell to $66.5 a barrel, down almost 10 per cent from Tuesday’s peak.


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http://www.ft.com/cms/s/0/e0ae2b2a-66f7-11de-925f-00144feabdc0.html


CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
Coluna das quintas
2 de julho de 2009

ECONOMIA POLÍTICA DO BRASIL
Por Enéas de Souza

As medidas lançadas pelo governo brasileiro na segunda-feira junto com o lançamento do IPO da Visanet, também no mesmo dia, podem desvelar uma nova configuração do que chamo a estrutura profunda da sociedade brasileira. Ela se organiza a partir de um confronto de forças sociais, sempre em movimento, que se materializa na constituição de uma determinada estrutura econômica. Estrutura que por sua vez se desdobra e se expressa na forma como o Estado está ordenado. Claramente se percebe, que nesta estruturação, os conflitos oriundos da economia política convergem para que o Estado pratique, de maneira resultante, uma política econômica que atue sobre os bancos, as empresas, os trabalhadores e sobre a sociedade como um todo. Está desenhado, no referido movimento, um circuito dialético, que vai das forças sociais à estrutura econômica; da estrutura econômica ao Estado; e do Estado novamente às forças sociais. Neste circuito se constatam múltiplas tensões, com durações e rupturas diversas, se originam ciclos e conjunturas diferentes, cuja dinamicidade vai se alterando com as lutas das forças em combate. Assim uma configuração de política produzida anteriormente, por causa deste circuito dialético, em determinados momentos, vai se alterando, se modificando e se definindo numa nova configuração. E é o que parece estar acontecendo no Brasil neste momento, resultado de uma ruptura, a da crise atual.

De como deter a demanda que vai caindo

A crise da economia americana, que se estendeu numa crise mundial, tanto de caráter financeiro como produtivo, acabou pondo em cheque o modelo de acumulação financeira, ou o “finance led growth”. Naturalmente que o Brasil não poderia ficar de fora desta poderosa desordem. Do ponto de vista da produção, estava atrelado ao sistema econômico produtivo internacional, a famosa divisão internacional do trabalho que garantia, sobretudo através da China, um nível adequado ao custo de reprodução da mão de obra americana. Ora, no momento em que o comércio mundial despenca e vem abaixo, caindo 11%, o Brasil é fortemente afetado pela demanda externa. E tanto mais, que o país estava - por força de uma política financeira adversa à produção - com um câmbio muito valorizado. Houve uma vasta e enorme queda das exportações, mas o país, graças à iniciativa do governo, conseguiu evitar que toda a demanda agregada perdesse substância, mantendo o consumo no melhor nível possível. Foi, com toda a evidência, o efeito das isenções de impostos, provocadas por decisão do Estado no ramo de automóveis e na linha branca dos eletrodomésticos. Uma ação pronta e efetiva. Tanto, que a Anfavea acha até que com a manutenção das isenções, o setor baterá o recorde histórico de vendas. Com isso, o governo assegurou não só o bom desempenho desta indústria, como forçou um acordo também para assegurar o indispensável emprego dos trabalhadores.

Mas, uma outra parte da demanda, a demanda por investimento, não caiu, ela desabou impiedosamente. A economia brasileira apesar da sustentação do consumo, falado no parágrafo anterior, estava ameaçada de cair numa crise aprofundada. A queda do comércio externo e a diminuição vertiginosa do investimento puxariam o produto densa e vigorosamente para baixo. Nestas condições, o consumo não teria capacidade para se contrapor; logicamente, a demanda não encontraria gás e ânimo para subir. Portanto, a solução do problema da curva de investimento da economia brasileira veio novamente pelo Estado, via BNDES, por intermédio de um apoio significativo à indústria de bens de capital.

O retorno do Estado e sua estratégia

Com isso o Estado, libertando-se do aprisionamento neoliberal, passou a intervir com os instrumentos disponíveis e com medidas que não ameaçassem a segurança de suas contas. E nesta ação, combinada com posturas já adotadas pelo Banco Central, mostrou nitidamente uma determinada estratégia. Olhando bem ela pode ser definida assim: primeiro, manter uma política financeira relativamente aberta ao setor bancário e ao capital estrangeiro: juros ainda altos, embora tenham baixado; cambio elevado, mas não excessivamente, o que permite bom trânsito e acréscimos de valorização dos capitais que aqui estão e que aqui aportam; segundo: apoiar decisivamente o capital produtivo, concentrando suas ações sobre dois núcleos tradicionalmente importantes da acumulação e que tem visíveis repercussões na cadeia de valor: a indústria automobilística e o setor de construção civil; terceiro: apoiar a indústria de bem de capital, de tal modo que prepare a economia para uma recuperação do investimento, a chave do crescimento e de um possível desenvolvimento; quarto: sustentar um salário mínimo importante, manter a bolsa família e o crédito consignado e lançar um programa de casa própria para os componentes do setor de baixa renda. Enfim, abafar ao máximo as repercussões da crise sobre as classes populares.

A nova configuração de forças

O arco político que o Estado está expressando, e, ao mesmo tempo construindo, é novo. Embora esteja dividido, entre um Estado financeiro, defendido pelo Banco Central, e um Estado mais produtivo, em torno da Fazenda, da Casa Civil, do BNDES, da Petrobrás, esta nova configuração de forças assegura que o Estado consiga articular tanto o capital bancário e as finanças internacionais, como o capital produtivo e a população em geral,. Claro, as tensões estão fortemente presentes. E em determinados momentos são temerosamente relevantes e desagregadoras, mas algo se torna evidente, o governo Lula conseguiu transformar uma configuração política de um Estado puramente financeiro para uma configuração política rumo a um Estado financeiro-produtivo-popular, cujo equilíbrio é totalmente instável e está na corda bamba, mas que no momento caminha naquela direção.

Certamente, as questões e os problemas são muitos. E eles estão gritando. Requerem um novo passo no projeto brasileiro. Logo vemos que, a partir deste novo pacto social ainda em esboço, caracterizado por uma possível nova configuração de forças, há que construir igualmente um novo projeto dentro de uma nova divisão internacional do trabalho que se avizinha. Mas para isso, é indispensável que construamos novas políticas públicas para a educação, para a saúde, para a previdência social, para a cultura, para a segurança, para a energia, para a tecnologia, para os recursos naturais, para o meio ambiente, para a cidade, para o campo etc., onde o desejo de lucratividade do capital esteja, pelo menos, relacionado com interesses sociais e coletivos da nação. Estas políticas públicas serão aliadas para o desenvolvimento de uma reformulação completa na nossa política econômica consubstanciando uma nova economia política. Contudo, no fundo do cenário grita fortemente uma questão de mediação, mas uma questão decisiva: como se pode ligar uma política de envergadura estratégica com um sistema político partidário na direção da construção e execução deste projeto nacional?