AS FINANÇAS ESTÃO CERCANDO OBAMA?
por Enéas de Souza
Acabamos de ouvir o presidente Obama. E percebemos, e ele também está percebendo, que a crise, na qual estamos metidos, nós e ele, é de uma dimensão volumosa, senão gigantesca. Independente dos múltiplos aspectos de sua fala, todas merecendo comentários, nós ficamos, para análise, apenas na discussão da questão econômica. Furtando-se comentar extensivamente o pacote e remetendo os temas para o secretário do Tesouro, Obama deixou claro três pontos fundamentais da sua estratégia, da sua orientação ao seu governo. O primeiro passo seria a recuperação do emprego; o segundo, o retorno do crédito, e o terceiro, a questão da habitação.
Com esses três passos, Obama deu o norte, mas para que o governo chegue até lá, muito esforço, muita discussão, muitos interesses, muito desespero terá que ser vencido e ultrapassado. Veja-se o primeiro ponto, o emprego. Obama deu inclusive um número de sua meta: 4 milhões de novos postos de trabalho. Ora, este é um projeto difícil, porque a dinâmica recessiva acumulada já trouxe na contabilidade geral mais de 10 milhões de pessoas para fora do mercado. E isto sem contar mais uns 5 milhões trabalhando em tempo parcial. Pode-se, então, verificar que a economia está caminhando para a depressão, e um pacote de 300 bilhões não terá a capacidade de recuperar tão expressivamente o nível o emprego. Talvez chegue a 1,5 a 2 milhões. Mas, para ser otimista, o importante é que o pacote aciona a única força que pode investir no momento, que é o Estado. Dá-se um passo na direção correta, eliminar a idéia de que a acumulação financeira pode fornecer os recursos indispensáveis para o crescimento econômico. Felizmente, começa-se a pensar que o investimento produtivo é o centro da economia, e não a festa das aplicações financeiras.
O segundo ponto é a recuperação do crédito. Não há como negar, sob qualquer ângulo, que a economia capitalista é creditícia. E aí, o problema se acopla com o primeiro. Ou seja, cabe centrar a economia no investimento, mas para que este prossiga tem-se que dispensar um sistema financeiro voltado praticamente para a especulação. Todavia, a crise é dramática nesse particular. Como estamos constantemente falando neste blog, o poder que cerca Obama, o poder que tem força na mídia, o poder que tem um lobby forte no Congresso é naturalmente o poder financeiro. Embora, em bancarrota, ele não pensa em ficar no segundo plano, a renda dos bons tempos ainda é um estimulo a pensar contra o investimento produtivo como a chave da economia contemporânea. De qualquer forma, a partir da estratégia simples do presidente norte-americano há que fazer um longo caminho para construir um novo modelo de desenvolvimento e crescimento da economia americana e da economia mundial. E para tal tem que fugir ao cerco das finanças.
O último item, a questão da habitação, é uma preocupação de limpar o mercado especulativo de imóveis e seus efeitos danosos para mais de 10 milhões de compradores de residências. Mercado que foi atravessado por falcatruas imobiliárias e financeiras e das agências de ratings. Convém que se pense que os objetivos aqui de Obama são possibilitar que os consumidores possam solucionar as suas dívidas, que possam, de uma maneira ou de outra, a atenuar a perda de riqueza que tiveram ao entrar nesses negócios. Mas, se relacionarmos este item com os outros dois, o que se pode constatar é que a entrevista de Obama revelou que ele tem, de fato, uma estratégia. Mas que ele nada falou sobre os múltiplos e vastos obstáculos que estão no caminho para a solução da atual crise econômica. Deixou sim, a questão para o secretário do Tesouro, um homem vindo do sistema financeiro, do FED de Nova York. Então, a pergunta que vem surgindo nos últimos dias: as finanças continuam comandando o processo de decisões sobre a economia americana?
por Enéas de Souza
Acabamos de ouvir o presidente Obama. E percebemos, e ele também está percebendo, que a crise, na qual estamos metidos, nós e ele, é de uma dimensão volumosa, senão gigantesca. Independente dos múltiplos aspectos de sua fala, todas merecendo comentários, nós ficamos, para análise, apenas na discussão da questão econômica. Furtando-se comentar extensivamente o pacote e remetendo os temas para o secretário do Tesouro, Obama deixou claro três pontos fundamentais da sua estratégia, da sua orientação ao seu governo. O primeiro passo seria a recuperação do emprego; o segundo, o retorno do crédito, e o terceiro, a questão da habitação.
Com esses três passos, Obama deu o norte, mas para que o governo chegue até lá, muito esforço, muita discussão, muitos interesses, muito desespero terá que ser vencido e ultrapassado. Veja-se o primeiro ponto, o emprego. Obama deu inclusive um número de sua meta: 4 milhões de novos postos de trabalho. Ora, este é um projeto difícil, porque a dinâmica recessiva acumulada já trouxe na contabilidade geral mais de 10 milhões de pessoas para fora do mercado. E isto sem contar mais uns 5 milhões trabalhando em tempo parcial. Pode-se, então, verificar que a economia está caminhando para a depressão, e um pacote de 300 bilhões não terá a capacidade de recuperar tão expressivamente o nível o emprego. Talvez chegue a 1,5 a 2 milhões. Mas, para ser otimista, o importante é que o pacote aciona a única força que pode investir no momento, que é o Estado. Dá-se um passo na direção correta, eliminar a idéia de que a acumulação financeira pode fornecer os recursos indispensáveis para o crescimento econômico. Felizmente, começa-se a pensar que o investimento produtivo é o centro da economia, e não a festa das aplicações financeiras.
O segundo ponto é a recuperação do crédito. Não há como negar, sob qualquer ângulo, que a economia capitalista é creditícia. E aí, o problema se acopla com o primeiro. Ou seja, cabe centrar a economia no investimento, mas para que este prossiga tem-se que dispensar um sistema financeiro voltado praticamente para a especulação. Todavia, a crise é dramática nesse particular. Como estamos constantemente falando neste blog, o poder que cerca Obama, o poder que tem força na mídia, o poder que tem um lobby forte no Congresso é naturalmente o poder financeiro. Embora, em bancarrota, ele não pensa em ficar no segundo plano, a renda dos bons tempos ainda é um estimulo a pensar contra o investimento produtivo como a chave da economia contemporânea. De qualquer forma, a partir da estratégia simples do presidente norte-americano há que fazer um longo caminho para construir um novo modelo de desenvolvimento e crescimento da economia americana e da economia mundial. E para tal tem que fugir ao cerco das finanças.
O último item, a questão da habitação, é uma preocupação de limpar o mercado especulativo de imóveis e seus efeitos danosos para mais de 10 milhões de compradores de residências. Mercado que foi atravessado por falcatruas imobiliárias e financeiras e das agências de ratings. Convém que se pense que os objetivos aqui de Obama são possibilitar que os consumidores possam solucionar as suas dívidas, que possam, de uma maneira ou de outra, a atenuar a perda de riqueza que tiveram ao entrar nesses negócios. Mas, se relacionarmos este item com os outros dois, o que se pode constatar é que a entrevista de Obama revelou que ele tem, de fato, uma estratégia. Mas que ele nada falou sobre os múltiplos e vastos obstáculos que estão no caminho para a solução da atual crise econômica. Deixou sim, a questão para o secretário do Tesouro, um homem vindo do sistema financeiro, do FED de Nova York. Então, a pergunta que vem surgindo nos últimos dias: as finanças continuam comandando o processo de decisões sobre a economia americana?
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