O Enéas e, em certo sentido, eu, temos ressaltado tanto a importância do projeto Obama como a própria necessidade capitalista de alteração no paradigma tecnológico vigente a partir da desfinanceirização da economia que essa crise impõe. Acreditamos que o que foi válido nos últimos 30 anos agora, ou deixará de ser, ou será rearranjado em um novo sistema.
O problema é que ainda estamos muito longe de começar a movimentação nesse sentido. Tenho salientado - e o Enéas tem concordado em suas intervenções - que, sem novas regras para a questão financeira, nada feito. É necessário notar que todas as atividades sob o capitalismo dependem do crédito para serem promovidas e que a forma de concessão de crédito que vigorou após os anos 1980 - colocação de títulos no mercado a partir de bancos de investimento comprados por fundos institucionais; fundos de venture capital para empresas inovadoras, aportes especulativos de fundos hedge nos mercado ligados as artes (cinema, artes visuais, etc.) - morreu sob o signo do necessário pagamento de dívidas e ressarcimento de prejuízos que estão sofrendo essas instituições. Ou seja, se antes bastava um projeto supostamente lucrativo, agora até mesmo esses têm dificuldades para encontrarem financiadores.
De outro lado, a incerteza quanto aos rumos da atividade econômica é total nesse momento. O dado de uma queda de 6,2% no PIB norte-americano divulgado hoje e a perspectiva de aprofundamento dessa queda que venho alientando em diversas postagens nesse blog, em conjunto com os estarrecedores dados das quedas em economias asiáticas e aprofunda recessão européia, mostram que ainda não há sinais mínimos de estabilização nesse movimento. Muitos têm falado sobre a desproporção da comparação da situação atual com a Grande Depressão. É óbvio que hoje temos ainda menos desempregados e a atividade não despencou como nos anos 1930. Só que aquela situação é passado e a atual encontra-se ainda em curso e agravamento.
Resumindo: mesmo os projetos e intervenções fiscais do Estado nesse contexto são insuficientes, pois, de um lado, os financiamentos estão escassos e caros, sua forma futura ainda não está definida e, de outro lado, as perspectiva de ganhos para o capital estão reduzidas pela depressão atual. Em linguagem keynesiana, a eficiência marginal do capital é bastante pequena. Nessa perspectiva, é evidente que os investimentos privados estarão postergados até que haja um mínimo de clareza quanto ao seu financiamento esua lucratividade e isso vai levar a economia mundial há uma crise que se prolongará ao menos até 2011 (isso que não falei na luta política que se desenvolverá entre ganhadores e perdedores no mundo da "economia real" pela apropriação dos incentivos públicos). Se tudo der certo, o projeto Obama começará a surtir efeitos a partir daí, mas esse é o cenário hiper-otimista.
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