quinta-feira, fevereiro 12, 2009

DAS INDECISÕES DO MOMENTO

OS BANQUEIROS NÃO QUEREM NADA por Enéas de Souza

Dá para achar graça. Todos os grandes banqueiros depondo no Congresso Americano. Rostos preocupados, todos pensativos. Um ao lado no outro na mesa de depoimento, tendo viajado de avião comercial para mostrar ridiculamente que não vão ganhar os monstruosos bônus do passado, nem vão comprar jatinhos para viagens julgadas necessárias. Eles compunham uma mesa patética e inquietante. Diziam que, no meio do atual “credit crunch”, no meio do atual aperto de crédito, eles estavam emprestando, que eles estavam fazendo o seu papel social. Mas, na verdade, uns estavam ao lado dos outros, todos solidários, todos querendo passar o mico para o Estado. Vejamos, então, as soluções possíveis da crise dos bancos: botar todos os títulos podres num “bad bank” governamental; manter esses títulos nos balanços, mas garantidos pelo Estado; fazer um fundo misto setor público-setor privado para solucionar a questão. Todas essas soluções caem solidária e inexoravelmente nas costas do Governo e do contribuinte. Ou seja, há uma proposta confortável à mão: socialização dos prejuízos. Pois, a solução mais radical, a quebra dos bancos, esta já foi descartada há mais tempo, haveria uma crise social inimaginária. Há, no entanto outra solução: manter, via FED e seus instrumentos de liquidez, tudo em banho-maria para ir aos poucos desovando os ativos tóxicos. Esta é uma decisão inviável numa economia do porte dos Estados Unidos. Foi possível no Japão, que era um país dependente e tutelado, é impossível num país líder da economia, da política, da diplomacia e da ação militar. Por isso, os economistas mais atentos, falam na nacionalização das instituições bancárias. Mas, esta é uma solução, os banqueiros não querem. Como os bancos são muito grandes para quebrar, podem forçar, pelo seu poder, uma solução que os beneficiem. Porém, como são muito grandes para serem salvos, sem um grande déficit fiscal, a decisão não pode ser explícita e sem dor. De qualquer modo, as finanças estão jogando a sua hegemonia, cercando Obama, trabalhando o Congresso e usando a ideologia da livre iniciativa (sic!), enfim, estão esperneando o que dá. Elas, obviamente, têm uma dupla finalidade: primeiro salvar a pele; depois, continuar mandando na política do Estado. Por isso, os nervos estão tensos, porque, sérios e pensativos, os banqueiros não querem nada, apenas querem continuar a dominar a economia e a sociedade. E por tabela e por cerco, o Estado. Até quando?

A ESTRATÉGIA BRASILEIRA por Enéas de Souza

A entrevista da ministra Dilma Roussef, segunda-feira, no Valor nos mostra que a estratégia brasileira passa pelo comando do Estado, que vai centrar – e já está centrando - sua política econômica no investimento. E ela tem dois pilares, o PAC e o BNDES. Com isso, se percebe que ela articula o planejamento e o financiamento público com a participação do setor privado. O que não está claro - e isso vai depender, de maneira aguda do grau de abertura ou do protecionismo da economia mundial - é qual a estratégia de inserção da economia brasileira no mundo. Falta, então, uma estratégia global. No plano externo, tudo está na dependência do andar da carruagem e do desdobramento da crise mundial. Porém, a grande definição para a estratégia global é de como se vai passar do antigo modelo de acumulação financeira para um novo modelo de desenvolvimento econômico. Isto significa uma inclinação nova na política econômica: os papéis do Estado, do Banco Central, da taxa de juros, da taxa de câmbio, das reservas, solução de reformas trabalhistas, da reforma agrária, da segurança, da saúde, etc. O estado atual dos conflitos das classes sociais permite que o Estado dê um primeiro passo, fazendo uma opção forte pelo investimento. Mas, as disputas entre as finanças nacionais e internacionais; a produção nacional e internacional; e os trabalhadores empregados e desempregados; definirão um segundo lado da estratégia, pois o novo modelo de desenvolvimento precisa encontrar uma resultante que se materialize num papel do Brasil na divisão internacional do trabalho.

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