Os fundos de pensão foram um componente central no processo de dominação financeira. Favorecidos fiscalmente pelo Estado, eles passaram a captar o grosso das poupanças trabalhadoras e, com o avanço dos índices bursáteis e modificações laxistas em sua regulamentação, passaram a se direcionar cada vez mais a investimentos mais arriscados e voláteis, como as ações. Era um modelo absolutamente tautológico, em realidade, e, ainda mais, um esquema ponzi: como as bolsas têm apresentado maior retorno, os gestores dos fundos direcionavam maiores recursos às bolsas, as quais assim alimentadas, apresentavam altas continuadas, etc... Picaretagem da grossa. Tudo isso sob estímulo dos governos.
Uma outra função ainda mais importante era cumprida pelo esquema. Ele soldava socialmente os interesses dos trabalhadores aos interesses dos proprietários-acionistas, fazendo com que aqueles aceitassem com docilidade a brutalidade destes! O resultado era o avanço na disparidade da distribuição dos ganhos, com os salários penalizados no processo em nome da promessa de uma aposentadoria dourada (é interessante notar que o neoliberalismo sempre se baseou na troca "cristã" do sacrifício presente pela promessa do paraíso futuro). Hegemonia é fazer o outro adotar o teu interesse como se dele fosse ...
Avisos não faltaram quanto à óbvia fragilidade do modelo adotado e aceito pelos trabalhadores. Em um livro emblemático e demolidor, já ao final dos anos 1990, o economista francês Frédèric Lordon chamou o processo de "armadilha para imbecis" (Fonds de Pension: piège à cons). Qualquer analista da situação com um mínimo de senso sabia que essa enorme pirâmide era frágil e que seu desabamento levaria junto esses recursos. E que o Estado seria chamado a garantir ao menos parcialmente a aposentadoria dos enganados pelo sistema. Nesse sentido, vale a pena ler a excelente reportagem sobre o que está ocorrendo no sistema de pensões públicas canadense, como um exemplo daquilo que já está correndo nos EUA. Segundo o artigo, "o modelo quebrou".
Mas, não serão as perdas dessa imensa fraude mundial de 30 anos muito grandes até mesmo para os mais poderosos Estados mundiais? O avanço no preço do ouro dá mostras de que alguns começam a se preocupar seriamente de que a resposta seja sim.
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