quinta-feira, agosto 16, 2007

Desalavancagem global passa pelo yen

O que ninguém está se dando conta no Brasil (e mesmo na Europa pelo que tenho lido): a desalavancagem global passa pelo câmbio yen/dólar! Hoje, a valorização do yen frente aodólar atinge quase 2%... Isso afeta quase definitivmente o chamado "carry trade do yen", ou seja, a operação pela qual os fundos hedge e bancos de investimento tomavam dinehiro emprestado em yens à taxas baixíssimas de juros e aplicavam esse recurso em operações mais lucrativas ao redor do mundo... O Brasil com suas taxas de juros elevadíssimas, foi um dos receptores desse capital. A valorização do yen retia a lucratividade dessa operação e força ao pagamento da dívida, para isso esses fundos devem encerrar outras operações ao redor do mundo (onde o dinheiro foi aplicado), forçando baixas nas ações e títulos onde estão aplicados... Ninguém sabe quanto dinheiro está envolvido no carry trade do yen, mas dadas as correlações observadas entre o câmbio yen/dólar e a cotação das bolsas de valores dos EUA (em particular a S&P 500) em 2007, pouco não é... Uma estimativa: cerca de 1 trilhão de dólares. e hoje o Bank of Japan agiu nbo sentido de limitar a liquidez no mercado, "desalavacando-se" também... A BofJ é conhecida por suas trapalhadas e ações desastradas, com participação nas crises japonesas de 1990 (criada pela instituição mesma), na crise asiática de 1997 e agora, na crise de crédito global (estimuloada por suas baixíssimas taxas de juros).

Japonês é bom na indústria, mas na finança eles são um fracasso total!!!! Vão ficar mais 20 anos pagando essa conta...

sábado, agosto 11, 2007

Atualização

Eu cometi um erro no post anterior. São 116 e não 126 as mortgage lenders norte-americanas fechadas até o momento. Em compensação, já são 11 os fundos hedge falidos...

Os prinicpais Bancos Centrais do mundo coordenaram ações de injeção de liquidez na quinta e, principalmente, na sexta-feira. O FED aceitou como garantia pela primeira vez APENAS mortgage backed securities, os papéis que hoje se encontram sem cotação no mercado devido à desconfiança sobre seu valor e a onda de inadimplência no setor imobiliário. Ou seja, nesse momento seu valor de mercado é ZERO! Na terça-feira veremos se existe a necessidade de operações ainda mais vultuosas envolvendo os mesmos papéis. Nesse caso, tratar-se-á de INSOLVÊNCIA e não de ILIQUIDEZ o cerne do problema de crédito. Provavelemente ao menos um grande banco deixará de existir nesse processo...

Interessante que esse pessoal dos fundos ganhou, no ano passado, a título pessoal, vários bilhões de dólares e agora pedem ajuda às "otoridades" públicas... Aliás, será que o FED não se interessa em injetar alguma liquidez nos pobres devedores do terceiro mundo? Sou candidato à ajuda e como garantia estarei depositando um coador de café de papel, usado é claro... Vale tanto quanto ás MBS's que eles caeitaram dos bancos...

quinta-feira, agosto 09, 2007

O medo da "cascata de desalavancagem sistêmica"

Está ficando divertido! Bastante interessante até... para um observador apenas com interesse acadêmico, a crise de crédito global que se inicia é um prato cheio, embora possa causar mais dor do que qualquer outro evento ocorrido no mundo nesses quase 30 anos de globalização financeira...
Algumas características que apontam para o fato de que a coisa não é tão simples como pode parecer aos mais ingênuos:
- a crise parte dos EUA, centro do sistema financeiro mundial;
- a crise atinge o mercado de crédito, na realidade o único mercado existente na época em que todos os ativos são de natureza financeira;
- a crise de crédito tem origem na utilização dos imóveis como instrumento de especulação financeira, fato ligado historicamente à bolhas de preços de dificílima correção sem gerarem uma depressão econômica profunda;
- a crise ocorre em um momento de profundo desequilíbrio nas relações financeiras entre os EUA e o resto do mundo, onde o déficit em transações correntes norte-americano já atinge à 6% do PIB daquele país, o que como contrapartida uma elevação na detenção de reservas em dólar de parte do resto do mundo.
Em realidade, bastariam os dois primeiros fatores para termos consciência da gravidade da situação. A economia capitalista É CRÉDITO. Na globalização financeira, toda a lógica de atuação dos "agentes econômicos" se pauta pela busca da rentabilidade e da liquidez máximas, concomitantemente, fazendo com que a gerência dos ativos "não-financeiros" também adquira essa lógica. Ou seja, todos os ativos (empresas e imóveis, para citarmos o mais comum), passam a serem gerenciados e transacionados a partir de uma lógica que obedece às características da finança.
Sendo assim, qual a medida nos permite reconhecer o sucesso dessa estratégia de genreciamento e de valorização? O acesso privilegiado das empresas ao mercado de crédito! Ou seja, e correndo o risco de dar passos largos demais para permitirem a compreensão dos não iniciados ao que estou dizendo, o único negócio atual para as empresas não financeiras é seu acesso ao crédito!!!!! Elas interessam enquanto ativos quando têm acesso ao mercado de capitais. É isso que determina sua vida ou morte, sua força ou fraqueza... vejam então que a importância do acesso ao crédito é crucial no capitalismo contemporâneo, embora o acesso ao crédito SEMPRE tenha sido fundamental em qualquer época da história da economia capitalista.
A formação da bolha de crédito global
Aqui, mais uma vez, resumo e passo rápido. Em 2001, abalado pelo 11/09 e pela explosão da bolha especulativa da NASDAQ, bolsa de ações das empresas de alta tecnologia nos EUA, o FED baixa fortemente sua taxa de juros. Esse movimento, em sua seqüência, vai dar origem a uma nova bolha especulativa capaz de manter o consumidor norte-americano em atividade. A excessiva liquidez vai possibilitar uma explosão de investimentos e de preços no setor imobiliário daquele país, com os imóveis sendo utilizados como ativo especulativo.
As características do mercado de crédito daquele país possibilitarão, assim, um refinanciamento das famílias a partir da assunção de hipotecas cada vez maiores (uma vez que o preço dos imóveis aumenta) e com baixas taxas de juros, permitindo que esses recursos transbordem ao consumo, mas também à novos investimentos especulativos, principalmente no mercado de ações.
Essas aplicações realimentarão o mercado acionário, ao mesmo tempo em que o mercado de crédito viverá dias de farta possibilidade de colocação de títulos ao redor do mundo. Esse processo é alimentado em sua escalada global pelos desequilíbrios gerados pelo excesso de consumo norte-americano e sua contrapartida em poupança (reservas) pelos outros países do mundo, em especial os países da Ásia, como China e Japão. Além disso, a possibilidade ofertada de tomar empréstimos muito baratos em países como o Japão, também deslocar enormes massas de capital em busca de valorização para outros países, trazendo, por exemplo, efeitos sobre a valorização da moeda brasileira.
Não podemos esqucer que os agentes principais na tomada desses empréstimos são so fundos hedge, de atuação eminentemente especulativa ao redor do globo, interconectando geograficamente os mercados de distintas regiões. Também surgem como importantes na primeira metade da década os fundos de private equity, responsáveis pela compra de grandes empresas para sua posterior "reestruturação" e revenda.
Esses agentes operam de forma fortemente alavancada. A alvancagem é um termo financeiro que indica que oa gente toma crédito para realizar uma determinada operação com montante maior do que o capital inicialmente disponível, ou seja, toma crédito para empregá-lo em operações que devem ter como resultado um maior lucro. Esses fundos possuem um grau de alvancagem que varia muito conforme a estratégia de investimento, mas é bastante normal que para cada dólar próprio eles girm um montante 20 vezes maior com base em créditos obtidos. Esse número pode chegar até a mais de 100 vezes o valor do capital próprio, mostrando que muitas vezes os aplicadores realmente não conhecem o riscos que correm...
Esse crédito tem sua expansão viabilizada e amplificda pela utilização massiva dos instrumentos derivativos. Esses permitem uma enorme criação de crédito, uma vez que apenas uma parcela do capital envolvido é efetivamente colocada "em jogo", ao menos em épocas de operação normal dos mercados.
Esses agentes e esses instrumentos é que vão estar no epicentro da crise que ameaça paralisar o mercado mundial de crédito.
A crise imobiliária nos EUA
Evidentemente, na medida me queo preço dos imóveis subiu, mais investimentos forma sendo alocados no setor. Ao mesmo tempo, principalmente após 2005, estando a crença estabelecida de que o preço dos imóveis apenas se moveria para cima, foram relaxados toda e qualquer norma para a concessão de hipotecas. Assim, créditos forma concedidos para compradores que não possuíam comprovação de renda, não possuíam emprego fixo ou poupança, sendo o pagamento inicial dos juros postergado por até dois anos a partir da data da compra (conhecidos como créditos NINJA - no income, no job, no asset). Ocorre então a expansão do chamado mercado subprime de hipotecas, ao mesmo tempo em que instrumentos de crédito cada vez mais sofisticados são empregados na securitização dessas dívidas.
Assim, a empresa hipotecária se financia em um banco, que por sua vez repasssa esses títulos ao mercado secundário, criando as ABS's (asset backed-securities), as MBS's (mortgage backed-securities) ou as CMBS's (comercial backed-securities), em caso do mercado de imóveis com destinação comercial. Ao colocarem esses títuos no mercado secundário, os bancos "limpam" seus balanços e podem conceder novos empréstimos, relaimentando o ciclo de ctédito.
Essas por sua vez são "empocatadas" por bancos de investimento em um outro título mais sofisticado, chamados CDO's (collateralized debt obligation) ou CLO's (collteralized loan obligation), derivativos dos títulos que se originam nas hipotecas (terceiro nível de títulos sobre uma mesma dívida inicial). Esses derivativos são vendidos aos fundos, em especial os hedge funds, mas também aos fundos mútuos e de pensão, pertencentes a bancos de investimento ou aplicadores, ao redor do mundo. Muitas vezes foram reutulizados por esses fundos como garanti para novos empréstimos, concedidos pelos bancos de investimento, dada a "qualidade" do ativo.
Esses títulos combinam diferentes tipos de empréstimos utilizando-se da idéia de que a diversificação reduz o risco de detenção do título. Dada a extraordinariamente baixa inadimplência nas hipotecas do setor (e dado o interesse das agências de rating e dos bancos de investimento nas taxas cobradas quando da venda desses títulos), normalemente esses ativos foram marcados como AAA, ou seja, ativos que apresentavam pouco ou nenhum risco, embora se originassem emparte de créditos concedidos de forma não segura.
Na medida em que o FED inicia um gradativo processo de alta nos juros e que o preço dos imóvei começa a cair, a inadimplência sobre as hipotecas aumenta, especialmentte no mercado subprime. Isso ocorre ainda em 2006, embora a situação se agrave e atija hipotecas consideradas mais seguras a partir de meados de 2007. Atualmente a expectativa é de um forte aumento na inadimplência em todos os segmentos do mercado hipotecário norte-americano, especialmente no no de 2008.
Entretanto, o pequeno estrago efetivado até o momento já foi suficiente para quebrar 126 mortgage companies (uma delas , a AHM sendo a décima maior desssas empressas no mercado norte-americano, com mais de 6000 empregados e especilaizada nos segmentos mais seguros do mercado) e oito fundos hedge, sendo dois australianos e quatro europeus, destacando-se aí o problema com dois fundos pertencentes ao banco Bear Sterns e um pertencente ao banco francês BNP Paribas. E essa lista vem crescendo diariamente...
Também o mercado de compra de empresas alimentado pelos fundos de private equity está praticamente paalisado no momento, pois o mesmo mecanismo de colacação de títulos no mercado secundário que alimentou a bolha imobiliária era utilizado nas transações de "privatização" das empresas cotadas em bolsa. Como os aplicadoes, em pânico" começaram a fugir desses títulos, os bancos não podem mais "limpar' seus balanços dos empréstimos concedidos a esses fundos, o que impede novos negócios. é interessante resslatar que estima-se que a cotação das empresas em bolsa esteja sobrevalorizada em 30% dada a agressividade da atuaçãod esees fundos nos últimos dois anos, agressividade essa alimentada pela facilidade e baixos custos na obtenção de crédito.
Voltemos então ao título desse post. Aumentam os riscos de uma crise sistêmica. Esses riscos advém de um processo que chamamos "cascata de desalavancagem". Ou seja, uma liquidação de ativos ao redor do mundo para fazer frente às "chamadas de margem" que advém das perdas que atingem todos os mercados concomitantemente. Notem que é diferente de um processo de "vôo para a segurança", ou seja, de troca de ativos arriscados por ativos sem risco. Na desalavancagem, todas as classes de ativos são atingidas, pois trata-se de buscar evitar a insolvência causada pelo excessivo endividamento, em um momento onde não é mais possível refinanciar as dívidas...
O risco sempre atinge de forma inesperada, mostrando mais uma vez que sua natureza não é de risco e sim de incerteza! Compreende-se assim a ação dos bancos centrais europeu e norte-americano ao buscarem injetar liquidez ao sistema bancário no dia de hoje. Entretanto, caso essa crise seja de insolvência, de muito pouco adiantará essa ação.
Colocam-se novos desafios aos reguladores do sistema financeiro mundial no momento em que esse apresenta explicitamente e de forma grandiosa sua enorme fragilidade decorrente, por que não dizer, da insanidade que representa moldar o mundo com base em um castelo de cartas cujo objetivo único é fazer mais dinheiro do dinheiro apenas para deixá-lo em sua forma líquida, da qual não pode escapar sem ocasionar imensas crises.