domingo, setembro 09, 2007

Antes tarde do que nunca...

Uau! Finalmente aparece uma explicação minimamente conectada com a realidade da crise de crédito global na mídia brasileira (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi0909200716.htm , acesso pago). Ela foi produzida por Vinicius Torres Freire, na FSP de hoje, 09/09... Segue uma parte da matéria, que toca em elementos essenciais da crise de crédito global (SIV's e CDO's e sua relação):
"BANCOS NAS sombras" e estratégias financeiras exóticas multiplicaram os efeitos da crise imobiliária dos EUA. "Banco nas sombras" é um apelido para entidades criadas a fim de multiplicar o volume de operações que os bancos estão legalmente autorizados a realizar. Trata-se dos "conduits" e de "structured investment vehicles" (SIVs, veículos de investimento estruturado), criados por bancos e firmas de "private equity". Os "conduits" emitem (vendem, tomam empréstimo) "commercial papers" (notas promissórias, papéis de curto prazo) a empresas e investidores. Compram papéis de longo prazo, como títulos lastreados em dívidas de hipoteca ou CDOs ("collateralized debt obligations", obrigações de dívida garantida por ativos), papéis cuja rentabilidade e valor é garantida por recebíveis, títulos de dívida imobiliária e outras.
Um objetivo de "conduits" e SIVs é ganhar com a diferença entre a rentabilidade dos "commercial papers" e a dos títulos de longo prazo. Os bancos criam e administram os "conduits", dos quais recebem taxas. Tais transações não estão no balanço dos bancos, que assim podem extrapolar o limite legal de empréstimos e exposição a risco. Os bancos, porém, cobrem os "buracos negros", as eventuais perdas dos "conduits". Esses instrumentos financeiros facilitaram o direcionamento do dinheiro abundante para negócios de risco, como hipotecas de segunda linha ("subprimes"). Mas a crise nunca foi mero problema imobiliário. "
Mas saudemos, parece que agora teremos notícias mais consistentes sobre o que está acontecendo no mundo financeiro. Oremos!

sexta-feira, setembro 07, 2007

Problemas com o carry trade do Yen... problemas para o Fed

Feriadão no Brasil... mas lá fora a coisa pegando fogo... literalmente, eheeh...
O dólar se desvalorizou fortemente frente ao Yen hoje (-2 % no momento em que escrevo)... não estranhamente, a bolsa caiu fortemente em NYork hj... E mais, algo que não vinha acontecendo, o dólar nessa semna voltou a se desvalorizar frente ao Euro.
Prosseguindo nessa queda, o dólar coloca o Fed em um dilema: cortar os juros e correr o risco de uma desvalorização mais forte da moeda norte-americana que tornariam impossível a continuidade dessa operação de alívio aos combalidos mercados monetários (embora de duvidoso êxito), ou deixar tudo como está? A notar que vários ativos em bolsa estão sendo liquidados no Japão por fundos necessitados de liquidez, em um momento em que a confiança e os empréstimos "secaram"... Mas, sem o dinheiro oriundo do Japão, pode-se esperar fortes quedas nas bolsas de valores norte-americanas, alimentadas que foram por esse afluxo de capitais... Ou seja, o risco de pânico é grande e garantia de eficácia do corte dos juros inexistente...
Por outro lado, não cortar os juros em 18/09 corresponde a desapontar imediatamente àqueles que no dia de hoje, dado o aumento do desemprego nos EUA, clamavam por uma redução de 50 pontos bases na taxa básica de curto prazo já na próxima reunião... Certamente uma decisão nesse sentido colocará o mercado acionário em grandes dificuldades, uma vez que grande parte do seu fôlego tem advindo da esperança de um corte dos juros na próxima reunião do Fed. Embora essa crise não seja oriunda do mercado de ações, sua amplitude somente se tornará palpável às grandes massas na medida em que esse seja atingido mais fortemente, o que INEVITAVELMENTE tende a ocorrer em futuro não tão distante (dou no máximo seis meses, mas pode ser na próxima semana).
Interessante que, faz apenas 45 dias, nada disso era problema ou iria acontecer. A retórica era de que, caso ocorresse, o problema ficaria restrito ao mercado imobiliário dos EUA, mais especificamente ao "pequeno" segmento subprime desse mercado. Em pouquíssimo tempo, a maioria dos analistas minimamente sérios fala de uma "crise de crédito global", e os problemas surgem de todo lado, principalmente na Europa e nos EUA. O principal diz respeito aos instrumentos que interligaram o mercado de commercial papers com o mercado de derivativos de crédito e que tem atemorizado às praça financeiras européia e norte-americana.
E se começam a discutir amplamente as enormes falhas regulatórias do sistema. Tem gente achando que com a regulação da época de Bretton Woods era feliz e não sabia! Só agora descobriram os óbvios "furos"? E as virtudes da "auto-regulação", onde ficaram? Deixar o capitalismo nas mãos dos capitalistas, uma excelente idéia para a destruição TOTAL do sistema (o subversivo Hayek como inimigo mortal do capitalismo, que tal?)! A sorte desse pessoal é que eles são pragmáticos: na hora crise eles se lembram do Keynes e do Minsky... e quando a coisa se aprofundar, vão desenterrar o "velho barbudo", fazer o quê? Querem apostar? Karl Marx, economista do ano... 2009!
Aliás, tem uma artigo emblemático no dia 05/09 na página da Bloomberg: um gestor de fundos acusa "os pobres" pela crise! Segundo ele, "pobre não tem respeito pelos nosso dinheiro"! Afinal, quem mandou os filantropos de W. Street quererem ajudar esse pessoal a comprar casa? Deveriam tomar alguma lição aqui pelo Brasil, farol do capitalismo mundial! Aqui, pobre não tem nem CPF, que dirá empréstimo! E banqueiro brasileiro só empresta "consignado", rs...
No Brasil, ainda nessa semana, teve analista anunciando no jornal Valor Econômico "que a crise já terminou". Vocês escutarão essa profissão de fé várias vezes ao longo do próximo ano... ao menos o tratamento inadequado de nosa mídia à problemas sérios não apresenta nenhuma novidade àqueles que possuem algum espírito crítico. Para quem defende até a existência e a necessidade de "agências reguladoras", as práticas e as fraudes das agências de notação devem parecer o "supra-sumo ideal da modernidade", um exemplo "a ser copiado com urgência", afinal, é por isso que "não merecemos mesmo viver em um país de primeiro mundo". A pergunta sempre volta e a resposta me é impossível: será ignorância ou má-fé? Na falta de convicção, fico com as duas alternativas acima, ehehehe...

sábado, setembro 01, 2007

Mishkin acha possível uma saída à la Greenspan

http://www.ft.com/cms/s/0/71958a68-58a7-11dc-b883-0000779fd2ac.html

Conofrme noticia publicada no Financial Times de 01/09, Frederic Mishkin, Fed Governor, pensa ser possível uma saída à la Greenspan para a crise global de crédito.

Focalizando essencialmente os EUA, o que é normal em se tratando de um economista do Fed, F. Mishkin defendeu, no encerramento do encontro em Jackson Hole - onde entre uma caminhada em montanhas pedregosas e um jantar regado aos melhores vinhos os principais economistas dos EUA encerram o verão à cada ano - uma resposta monetária agressiva aos efeitos que a queda nos preços residenciais nos EUA podem ter sobre o crescimento (leia-se consumo) da economia norte-americana. segundo o argumento, existe um tempo suficientemente grande entre a queda nos preços dos imóeis e seu reflexo sobre o consumo para que uma redução da taxa de juros possa surtir efeito.

Segundo o economista, as inovações financeiras e a "criatividade" dos gestores de fundos, conjuntamente com a desregulamentação, prmitiram a expansão do crédito, com o aprofundamento do sistema financeiro sendo "vital" para o sucesso econômico a longo prazo, embora o truncamento das informações possa representar instabilidade à curto prazo. Traduzindo: Mishkin acredita que uma resposta imediata e suficientemente grande em termos de redução das taxas de juros podem fazer com que a máquina do endividamento norte-americano continue girando, com o consumo puxado pela expansão do crédito continuando a dinamizar a economia.

Subjacente a essa saída, que minimizaria os efeitos da queda do preço dos imóveis sobre o crescimento econômico, encontra-se a formação de uma nova bolha especulativa. Trata-se da tentativa de repetição do mecanismo utilizado por Greenspan para impedir que o estouro da bolha da Nasdaq tivesse uma repercussão forte sobre a economis dos EUA. Formou-se assij a bolha imobiliária, que agora termina com a o desiflar do preço ds imóveis.

Interessante é que o mesmo Mishkin lembrou que nas experiências anteriores a bolha não se formou no setor imobiliário e que o Fed não tem experiência a esse respeito...

Pessoalmente, eu acredito que uma forma de minimizar os efeitos da queda dos preços dos imóveis é baixar os juros e que isso nãotrará grandes repercussões sobre o valor do dólar, ao contrário, poderia até mesmo, na medida em que fosse entendido com a possibilidade de um maior crescimento na economia norte-americana, acabar valorizando o dólar... Obviamente teríamos o deslocamento da riqueza financeira para uma nova bolha, provavelmente no preço das ações, com novo efeito riqueza e mais consumo... nada de novo no front, seria uma resposta á la Greenspan: não resolve nada, mas o mundo gira no mesmo sentido por mais um tempo até um novo estouro que encontrará as fundações ainda mais abaladas, mas, quem acredita que o futuro existe ou importa para o mundo financeiro especulativo?

Em compensação, uma resposta tímida da economia à redução agressiva dos juros levaria à ineficácia da política monetária e, provavelmente, a uma recessão deflacionista, o pior dos mundos para o Fed. Notar que o estado da confiança entre os agentes no mercado financeiro é muito ruim no momento, os problemas com commercial papers se mantém grandes, o mercado de crédito corporativo está ainda fechado com mais de US$ 300 bilhões de acordos em papéis invendáveis prontos para ingressar no balanço dos bancos, mais de 2000 fundos hedge com perdas elevadas em agosto (ativos totais no valor de US$ 1,5 trilhão), aproximadamente 150 mortgage lenders já fechados, várias famílias sendo despejadas...

Voltamos à discussão: trata-se de uma crise de insolvência ou liquidez? Em caso de crise de liquidez, a abordagem de Miskin, caso adotada, funcionará... Se for insolvência, tese para a qual existem sobejas evidências e defensores inclusive em órgãos do governo norte-americano - sendo matriz teórica inclusive da recente e tímida proposta de ajuda do Bush ao setor imobiliário - poderemos ter inclusive uma agravamento do processo e a rápida perda de uma das armas que o Fed teria ao seu dispor.

Vamos ver se Bernanke tem coragem de apostar tão alto quanto Mishkin propõe...