domingo, fevereiro 08, 2009

PREFERÊNCIA PELA LIQUIDEZ VERSUS INVESTIMENTO por Enéas de Souza


Um dos nós que embaraça a economia americana e as demais economias é sem dúvida a preferência pela liquidez. O que significa isso? Quem tem dinheiro, não larga, guarda, poupa como dizem alguns. Na verdade, o que ocorre é que é uma atitude de expectativa, de bancos, empresas, consumidores, diante da necessidade de primeiro, não entrar em aventuras com o dinheiro, e em segundo lugar, confundindo-se um pouco com o motivo de precaução, guardá-lo para alguma eventualidade. Assim, se uma empresa pretende ampliar o seu mercado, alterar a sua tecnologia, contratar pessoal, etc. diante de um panorama sombrio, as expectativas arrefecem, não aparece o horizonte de lucratividade nitidamente. A solução é parar para pensar, parar para esperar, parar para ver. A mesma coisa, acontece com os bancos. Emprestar para perder dinheiro, descapitalizar-se, isso não faz sentido. Só se faz se um negócio se ele se apresentar inevitável. Pois antes do crédito ou da aplicação, o dinheiro em caixa. Ou aplicado em títulos seguros como os títulos do Tesouro Americano.
O quadro se mostra interessantemente paralisante. A taxa de juros, em todos os lugares tende a cair. Até no Brasil com a sua morosidade insana. Pois, o fundamental para a economia como um todo é que a produção retorne as suas melhores atividades: produzir. A perspectiva de lucro tem que subir, tornar-se uma promessa fulgurante e a taxa de juros baixar, cair na lona.. Mas, se a preferência pela liquidez se mantem, não se consegue fazer nenhum investimento. E para todo o planeta capitalista existe uma desafiadora realidade: como substituir um modelo de acumulação financeira por um modelo de crescimento produtivo. Se essa realidade já é um atiçado e intrincado problema, a situação atual se complica por outras razões: há uma necessidade de solucionar a infra-estrutura energética, passando de uma matriz energética dominada pelo petróleo para uma matriz energética mista. E há um segundo problema: como enfrentar a questão da renovação tecnológica de muitos setores industriais, num momento de intensa desaceleração por causa da superprodução de capital, de um lado, e a queda do consumo, por causa do alto desemprego dos trabalhadores. É por essa razão que Keynes volta. É preciso que o Estado retorne, pois não está submetido aos imperativos da lucratividade, podendo aumentar sua dívida pública, podendo controlar instrumentos de política econômica como taxa de câmbio, taxa de juros, etc., por conseqüência, pode assumir a chave da questão: o aumento do investimento. Só que é preciso tratar as coisas com doses adequadas. Claro, que isso não faz sem problemas, porque como na vida, na economia também, se segue um caminho e aparecem diversos obstáculos; se segue outro e entram diferentes barreiras. É sobre isso que estamos e iremos conversando. O André e eu.

Um comentário:

André Scherer e Enéas de Souza disse...

Acho que o diálogo está tomando forma. Nossos posts mostram que a abordagem do problema é múltipla por que a questão é bastante complexa. É depressão, não recessão o que estamos presenciando. Também, e, talvez, principalmente, o motivo especulação esteja envolvido na exacerbação da demanda pela moeda. Especulação de que os preços vão cair, sejam eles quais forem (bens de consumo, serviços, insumos, bens de capital, imóveis, ativos financeiros). Não é uma recessão, não é o "ciclo dos negócios", como os bobos costumam pensar. E não se trata de um problema apenas financeiro. A economia nos últimos 30 anos foi moldada para uma estrutura de consumo e de distribuição de renda (ao invés de salários, crédito e valorização de ativos financeiros)que não mais se sustenta. A decisão das empresas e seus póprios objetivos (criação de valor para o acionista) não faz mais sentido. Não se vai sair disso sem uma mudança estrutural que destrua o capital excedente. Dois modos: a destruição física (guerra) ou a destruição tecnológica (obsolescência). O que era não é mais e o capital tem um objetivo: sua auto-reprodução em escala ampliada. Para esse fim, todos os meios estarão justificados. Isso me leva a necessidade de aboradarmos essa situação mais conjuntural da guerra comercial que se inicia. Era evidente que o rpotecionismo seria e será utilizado na tentativa de presrvar a valorização do capital local. Não existe outra alternativa, não há G20 ou G500 que possa impedir esse desfecho. A retórica dos benefícios da globalização é impotente frente à realidade da destruição do capital. Nãoé uma lógica, é um imperativo da atual configuração dos Estados Nacionais. Vai ser engraçado observar as justificativas para desdizer o que disseram antes. Claro, a culpa será do outro.
O mundo "deles" está se desmanchando. Como prevíamos.