sexta-feira, fevereiro 13, 2009

É BOM SE PREPARAR QUE A ESCADA É LONGA

Por Enéas de Souza


Um dos maiores equívocos do momento é pensar que a crise econômica atual é uma crise financeira. Não, não é. Ela é uma crise da economia como um todo, ela é uma crise financeira e uma crise produtiva. Mas, ela é uma pluralidade de outras crises também. Uma crise energética, uma crise tecnológica e uma crise ecológica. Portanto, há crise para todos os gostos. Contudo, pode-se ampliar este conjunto de crise, porque vivemos também uma crise política, uma crise ética, uma crise do sistema capitalista, uma crise da cultura e uma crise da civilização. Porque insistimos nessa temática? Porque, a mídia do sistema tem concentrado muito na crise financeira, como se qualquer solução financeira que satisfizesse aos bancos, resolveria tudo. Nada disso. É preciso parar com essas fantasias. Estamos vivendo algo muito profundo, porém com um pensamento superficial. Construiu-se uma permanente visão otimista, um sonho de menina que vai ao baile de debutantes, tudo é um sonho, um espetáculo. Não, não é; esta crise é vasta. Mas tem uma característica muito interessante. Até agora, pelo menos, o ritmo da crise é sob a forma de escada. Nesse momento, vamos descer um degrau e sentimos uma queda. Logo em seguida, pisamos no patamar do degrau e achamos que tudo está ótimo, a crise já passou. Não há como negar, respiramos aliviados e a visão otimista retorna, até que se começa a descer um novo degrau e a dança do susto recomeça. O que estamos verdadeiramente dizendo: a crise não é só financeira. É bom se preparar que a escada é longa.


VAMOS TER OUTRA INDÚSTRIA?

Por Enéas de Souza

A crise industrial ela tem componentes complexos. Vamos escolher a crise da indústria do automóvel para dar um exemplo. Qualquer que seja a recuperação deste setor é indispensável que se veja que a solução começará por um dos problemas básicos, não somente deste setor, mas um problema que é de toda a indústria. Trata-se da metamorfose da infra-estrutura energética da produção. O que está em questão neste ponto - e que dá muita incerteza - é a atual indefinição tecnológica, industrial e comercial da área da energia. Emergem dúvidas por todos os horizontes. Quanto tempo durará o petróleo? Qual o tempo para a sua substituição? Teremos um “mix” de energia? Qual é a duração deste “mix”? Qual será a matriz alternativa? O Hidrogênio será o substituto do petróleo? E o biocombustível? E a energia nuclear? E a energia eólica? E a energia solar? Enfim, um festival de perguntas. E de outro lado, em função não só destes aspectos, mas de algo que faz parte da própria lógica da indústria automobilística, não se pode ocultar que há um problema tecnológico para que uma empresa possa disputar (e conquistar, se for o caso) o mercado do ramo que estamos discutindo. Exemplificando. Como será o novo carro? Com que materiais ela será construído? Qual o tipo de motor? Qual o seu tamanho? Quais as condições autonomia e de abastecimento? Qual a relação deste veículo com as cidades, com a circulação urbana, com os transportes coletivos, com os “shoppings”? Etc., etc. E, vocês já imaginaram que perturbação vai representar na sociedade contemporânea, na concorrência mundial das montadoras, a entrada de um carro pequeno com um preço de venda de 2.500 dólares?
Decididamente, esta crise não é somente financeira!

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