sábado, fevereiro 28, 2009
Protesto contra efeitos da crise reúne 120.000 pessoas na Irlanda
Pressão sobre os bancos (EUA)
Fundo de pensão? Quebrou!
Por Enéas de Souza
Tenho tentado aqui desenhar o possível caminho da economia americana; e com algumas pinturas, também o da economia mundial. Um exercício de imaginação baseado nas tendências das forças econômicas e suas potencialidades para responder a crise. Tenho colocado, com cores quentes, que estamos saindo de um modelo de acumulação financeira para um modelo de acumulação produtiva. Então, temos no mapa o ponto de partida e vislumbramos o ponto de chegada. O problema é a da passagem de um ponto a outro, como aquela do ovo à omelete. E o grande passo foi dado por Obama e sua equipe: definir o plano de vôo e a estratégia a seguir. Ou seja, o governo disse: basta de desenvolver a esfera financeira do capital. Mas, é claro, que não basta dizer que o bom, que o doce, que o dinheiro do almoço e do jantar das pessoas virá da esfera produtiva. Não basta somente pensar em investir nela, para que tudo saia bem, para que o mundo econômico das finanças e dos serviços se construa, para que o emprego resplandeça. Porque a produção também está vindo a baixo. E o pior: temos uma espiral descendente e a pendente negativa continua sucumbindo. A reversão ainda não se deu, ainda tem muito espaço para chegar ao chão do ciclo.
O leitor duvida? Olhe companheiro, já estamos falando à náusea do movimento entrópico das duas esferas citadas. Aonde dominam as finanças, além dos dinamitados ativos financeiros que continuam a ocupar a moita, ou seja, o balanço dos bancos, a gente se acautela diante dos hedge funds e dos fundos de pensões, ameaçados que estão por títulos sem valor, pela queda progressiva dos preços das ações e pela volubilidade das commodities. O vento do temporal ainda está presente. A verdade é que o Banco Central (FED) está atento a tudo isso e existem recursos para ir girando o barco. Dinheiro público naturalmente. Mas a religião econômica é como a religião católica: não basta comprar as indulgências ou receber recursos do FED para chegar ao caminho do céu. Depois desta asa da economia temos a esfera produtiva e seus dois núcleos de acumulação, os imóveis e os automóveis, que desabaram, sem piedade, como lutadores nocauteados. E a queda destes mercados produziu um efeito catastrófico sobre a cadeia que sustentava produtivamente estes dois centros. Portanto, examinando o corpo fraturado da economia, vemos que estamos no meio de um processo de desvalorização do capital. As finanças desprecificando os ativos financeiros e a produção torrando as mercadorias ou não podendo vendê-las. Basta ver a queda dos preços dos imóveis e o tempo necessário para que o estoque de novas habitações seja absorvido pelo mercado. (Dê uma olhada no gráfico de quinta-feira do André).
Então, temos o ponto de partida: a decomposição do modelo de acumulação financeira, que funcionava com as finanças puxando o consumo de forma empinada, pois os salários ajudados pelas rendas financeiras o punham lá no alto. E como o consumo tinha vigor, as empresas se destacavam em desenhar novos projetos de investimento. Pois este modelo tombou, vencido, pelo excesso de especulação, que é a essência da atividade financeira. E o que o Obama e sua equipe fizeram foi montar uma estratégia para inverter este modelo. Antes de tudo, dar prioridade ao investimento produtivo e não à aplicação em papéis. Como as empresas estão receosas e a lucratividade esperada está no calcanhar, o jogo é tocar na frente o investimento público para impulsionar a dinâmica econômica. Do investimento público virá o investimento privado e como uma onda do mar que chega à praia, o efeito atingirá o emprego. E o consumo, como um balão de São João, poderá voltar a crescer e a subir. E sem deixar de ter mercados próprios, as finanças estarão articuladas ao setor produtivo, via a expansão do crédito.
Até mesmo desenhei, dado o esfalfamento cíclico da atual estrutura tecnológica, um novo paradigma industrial, que começasse pela renovação da infra-estrutura energética com efeitos tecnológicos sobre todo o sistema. Mas o que gostaria de frisar, de salientar e de trazer à discussão é o problema do tempo. Do tempo-rei como diria o Gilberto Gil. Ou seja, a passagem de um modelo a outro exige uma transformação que tem que percorrer uma viagem, um caminho, um itinerário. A passagem da semente a fruto requer metamorfoses mais ou menos demoradas. Pois é o nosso caso: quanto tempo levará para que os capitais se desvalorizem, tanto o financeiro quanto o produtivo? Quanto tempo levará para que se reformulem as tecnologias do novo padrão industrial? Quanto tempo levará para que se consiga armar um novo sistema financeiro? Quanto tempo levará, mesmo com apoio público, para que as forças que fazem o ciclo progredir alcancem a magia do círculo vicioso? Quanto tempo levará para que se invertam as estruturas do modelo financeiro de acumulação? E, igualmente, é preciso saber que este modelo financeiro trabalhava internacionalmente com dois déficits gêmeos e o modelo produtivo vai ter que trabalhar com a exportação tanto produtiva quanto financeira. Logo, quanto tempo levará para que a torção de um modelo a outro dê origem a uma nova economia internacional? Então, os apressados das soluções têm que compreender que entre o ponto de partida e o ponto de chegada existe a dimensão da trajetória. E ao contrário da semente que chega a fruto, na economia, a passagem de um modelo a outro se dá por meio de duros combates sociais, de acertos e erros, de avanços e de recuos. Sim, já avançamos alguma coisa, talvez o básico: temos estratégia. Temos quase tudo, falta apenas a versão material desta estratégia. O que é a mesma coisa que dizer que falta tudo: falta livrar-se do declínio cíclico e falta construir uma longa e imprevisível trajetória.
sexta-feira, fevereiro 27, 2009
Problemas para o "novo mundo"
Por Enéas de Souza
As declarações de Obama de que vai negociar um novo desenho do mundo econômico, em abril, no G-20, nos dá uma perspectiva de novas emoções no teatro das relações internacionais. E indica que o próximo período, pleno de peças dramáticas, vai ser um misto de atos de imposição e de negociação. Porque? Num sentido, os Estados Unidos, a partir do discurso de Obama, vão mudar completamente o jogo; como num campo de futebol, eles vão passar a bola do lado direito para outro lado, o lado esquerdo. Pretendem, fruto principal do presente desafio, transformar uma economia de acumulação financeira numa economia de acumulação produtiva. Percebem os críticos, os analistas e os leitores, que estamos na véspera histórica da tentativa de uma mutação estrutural profunda. O mundo vai mudar e a construção passará por um longo período de avanços e recuos.
Veja então o leitor: se seguirmos na direção do longo prazo, tudo vai estar sustentado, a meu ver, na substituição da infra-estrutura energética; de tal modo que vamos caminhar, nos próximos anos, para uma matriz composta de diversas energias. Uma matriz chamada de mista. Já que ela resultará da combinação das energias eólica, solar, nuclear, petrolífera, ou do hidrogênio, até atingirmos uma nova matriz com outra dominância. E essa marcha terá como efeito fatal, impulsionar e revolucionar a tecnologia de várias indústrias. Mesmo porque essas próprias indústrias terão que perseguir novos métodos, novas formas produtivas, novos produtos; não há como esconder, os seus lucros indispensáveis estão caindo. E os mercados precisam de produtos mais competitivos para que surjam os preciosos resultados que os empresários almejam tanto.
Na nossa civilização, um dos centros básicos da acumulação de capital é o abrangente mercado do automóvel. Qualquer mudança neste setor provoca a alteração em muitas coisas, inclusive no perfil de nossas cidades. Claro que no atual estado das tecnologias, a questão do aquecimento global vai exigir medidas e atitudes e instituições e empresas para suprirem as questões da área. Como se vê o que está em causa é a busca de um novo paradigma industrial - e até mesmo uma nova sociedade - cuja formatação os americanos esperam liderar.
A metamorfose do modelo atual de acumulação transfigura igualmente o conjunto dos mercados internacionais. E com isso as relações entre as nações. Relações que darão origem a novas posições dentro da hierarquia de uma possível e futura ordem, que não será alcançada sem perturbações, sem atritos, sem fragores. O que significa a reformulação e a criação de instituições para-estatais no campo internacional, como o FMI por exemplo, que terão que regular, fiscalizar, conduzir, direcionar esses novos processos econômicos. Só esse festival colorido de aspectos revela que deverá haver inúmeras e intensas discussões, se não combates, até mesmo conflitos demorados e belicosos para que um novo arranjo se estabeleça tanto na economia quanto na política. Este teatro shakespeariano começa, sob intensa expectativa, na reunião do G-20, como já dissemos logo ali em abril. Os mais cínicos e os mais céticos já dizem que esta peça tem nome – e nome irônico: April Love.
quinta-feira, fevereiro 26, 2009
Péssimos indicadores - EUA
Mais "pessimismo"
A luta econômica atual é a divisão que está ocorrendo entre as finanças, a produção e os serviços, marcando uma divisão no setor empresarial. Esta divisão se dá em razão da crise do mercado financeiro e da incapacidade das instituições bancárias e das instituições financeiras não-bancárias de reorganizarem o setor, entrando numa crise sem precedentes. Naturalmente, que as finanças tinham uma forte hegemonia no governo de Bush. Mas hoje dada a sua imensa necessidade de recapitalização; dada a existência de balanços contaminados cuja dimensão ninguém sabe qual é; dada a liberdade de ação diminuída cassando as vantajosas possibilidades de alavancagem; dada a interrupção da infinita possibilidade de criar ativos para serem negociados sem garantias efetivas; o sistema financeiro perdeu, como uma árvore depauperada, o comando da economia. A sua desestruturação levou não só a queda substancial dos seus rendimentos nas suas aplicações, mas também a sua quase total retirada do fornecimento de crédito aos setores necessitados. Contudo, esta área da economia ainda tem balas para ferir, talvez já não tenha nenhuma munição pesada, talvez seu estoque esteja terminando, mas não perdeu definitivamente o seu poder político, ainda tem capacidade de negociação.
Todos esses aspectos se notam fortemente no quase silencio do discurso de terça-feira de Obama, quanto ao destino do setor; nas oscilações de comportamento de Tim Geithner, o secretário do Tesouro; e nas atitudes do presidente do Banco Central, Ben Bernanke, principalmente com a decisão de ontem, de conceder um prazo de seis meses para que bancos em dificuldade arranjem capital. E prometendo, como uma jóia rara, uma outra tolerância: se depois deste prazo, o capital não aparecer, abre-se mais uma oportunidade: estes bancos podem pedir auxílio ao governo. Ou seja, há um lance à brasileira, uma postergação atrevidamente evidente. E nesse jogo político e econômico, os bancos encontram, feras feridas, forças para lamberem as suas feridas e para protelarem decisões que são urgentes.
De uma maneira inarredável e progressiva, as finanças vêem a balança do poder e do governo tomar a direção da área produtiva. Obama deu um vigoroso recado: a economia deve reestruturar-se visando o longo prazo. Indústria, energia, saúde e educação devem trabalhar em conjunto para construir um novo padrão capitalista, um novo paradigma industrial, uma nova sociedade. Se isto é profundamente visível, como se fosse um míssil estratégico, o que não está claro para o público se refere à reformulação financeira, que é uma sombra a ser iluminada. E há duas razões: a primeira é a necessidade de salvar o que se puder e construir um outro sistema financeiro, pois o problema do crédito é a chave do sistema capitalista. E a segunda razão, se pode creditar a brutal resistência das finanças à mudança, seja porque a atual configuração – ou o que resta dela - está lutando em desespero para não ser destruída, seja porque a desocupação social da hegemonia ainda não se fez decisivamente. Observe-se que a área produtiva está ainda muito fraca, num processo cumulativo de convalescença. E por isso, Obama se escuda no povo, ou dito mais claramente, na classe trabalhadora - empregados e desempregados - para aproveitando-se da divisão na ordem social instalada pelas finanças, tentar, com essa nova força, unir a produção e frações do setor serviços. E com essa manobra forçar e fustigar no tempo o setor financeiro, objetivando, no momento possível, a recomposição das finanças na reconstrução da sociedade para um novo padrão de desenvolvimento da economia.
Com esse projeto estratégico, a relação dos Estados Unidos com o mundo também vai mudar. Sendo a indústria o centro do futuro sistema, a posição em relação ao comércio externo passa a ser outra, a ênfase vai ser novamente na exportação. E para que tal aconteça o governo vai dar incentivos fiscais, vai fazer protecionismo e tentar reorganizar, com o G-20, o mundo a esta nova feição. Mas, para tal, as finanças terão que se transformadas. E por enquanto, o processo é de dissimulação, de enrolação, para dar tempo a que o setor financeiro se enquadre ou que as forças triunfantes da nova política possam impor os seus requerimentos. Estamos num luta entre as finanças enfraquecidas e uma produção ainda sem forças. E nesta tensão a se resolver, por causa dos excessos de duas superacumulações, inflação de ativos financeiros e inflação de mercadorias, a metamorfose vai se desembocar na necessidade de reformulação de um outro padrão de acumulação de capital. Há, no entanto, um vulcão caótico a ser organizado, a massa de pessoas que trabalha e que tem medo de perder o emprego ou que já o perderam. Obama se concentra nela e promete recuperar o sonho americano, que é o seu lance de evitar que o fogo caia nesta Roma em processo de desfinanceirização.
quarta-feira, fevereiro 25, 2009
Mais Taleb
Por Enéas de Souza
Acabei de assistir o pronunciamento do presidente Obama. Impressionante o apoio dos congressistas e a capacidade dele de dar esperanças, tentando por essas últimas nos trilhos do sonho americano. Expôs, de forma coerente, uma estratégia. Talvez a parte problemática – e certamente será um das pedras mais difíceis de ultrapassar – seja a quase indomável questão financeira.
Vamos tentar fazer um primeiro balanço de sua proposta global. Em primeiro lugar, o que parece importante, tem a ver com o seu fundamento político. De um lado, reorganizar a liderança e o Estado americano, e de outro, ter como apoio básico dessa reorganização o povo dos Estados Unidos. “Não somos pessoas que desistam”. Isto significa dizer que o Estado vai ter um presidente efetivo e que ele vai liderar e comandar, o oposto do que fazia George Bush. O novo presidente não vai deixar o Estado ficar dividido entre as finanças e os ministérios subordinados a sua influência (Tesouro e FED) e a indústria bélica e a energia tratando das guerras do Iraque e do Afeganistão, onde as empresas privadas militares tinham um papel considerável.
Dada a resolução estratégica de retorno da presença do Estado (defendida com exemplos históricos) e se posicionando, estrategicamente, em favor da produção e do emprego, o segundo passo é retomar a funcionalidade dos bancos, assinalando como tema prioritário, o crédito, pois não existe economia capitalista sem crédito.Obama fala na regulação, fala num fundo de empréstimo para carros, pequenos negócios, energia, etc., mas, o problema chave (e o André e eu já escrevemos sobre isso) é o seguinte: sem uma reformulação do sistema financeiro, do Banco Central, dos atores bancários e não bancários, do controle e da supervisão das atividades bancárias, de como vai solucionar o buraco volumoso, assustador e ainda desconhecido dos ativos podres enfiados nos bancos, o sistema não vai funcionar e a questão do crédito não chegará a se resolver. (Bem continuo a achar que o Obama nesse ponto está perdido. A pressão das finanças deve continuar muito forte. E não serão as finanças que vão resolver contra elas, mesmo que elas tenham se tornado disfuncionais. Ou como diria Hegel: irreais).
Porém agradou bastante uma certa definição de uma política econômica para a indústria, a busca de sustentá-la em energias renováveis e limpas, a integração da educação na reformulação de um novo desenho e uma nova trajetória tecnológica desta indústria que virá. Sua visão passa por uma nova reconfiguração da indústria automobilística, um dos centros de acumulação da economia americana. Claro, há um apoio solar para a saúde, que é uma questão econômica por vários lados, mas é também uma questão social, e um apoio aos cidadãos diante dos absurdos aumentos dos preços dos planos face aos salários.
Vem embutida nesta estratégia, uma tentativa de reformular a economia dos Estados Unidos na sua ligação com o resto do mundo, a China evidentemente. Obama trata de situar a questão em duas proposições. De um lado impedir o deslocalização das indústrias e interromper os incentivos estatais para aquelas que se instalarem no estrangeiro. De outro, inverter o que aconteceu no período anterior, promover uma nova política industrial que leve, não a importação, mas à exportação de produtos americanos para o mundo. Ora, seguindo essa manobra, está em marcha uma ruptura com a política dos déficits gêmeos: os Estados Unidos, que importavam dos demais países, geralmente de empresas americanas que se instalavam no exterior, e ao mesmo tempo, absorviam os saldos comerciais destas nações vendendo títulos do Tesouro Americano, pretendem interromper esse processo. O protecionismo vai entrar na ordem do dia por um bom tempo.
Há um passo na estratégia Obama que vai ser difícil de fazer: trata-se da transformação da dívida e do déficit americano em níveis aceitáveis para que se construa uma política mais caseira, a América para os americanos. Daí a grande ênfase no controle do déficit. Só que aí Obama entra num paradoxo: precisa gastar mais para recuperar a economia produtiva e solucionar os bancos, versus, controlar mais o déficit para poder se liberar dos países que fornecem os recursos ao Tesouro. É nesse paradoxo que se coloca a questão da moeda mundial, o dólar.
De qualquer forma, está sobre a mesa uma proposta de estratégia, o que significa que os Estados Unidos tem um norte. Como acho que a questão dos bancos, por exemplo, não vai funcionar, se isto de fato acontecer, a estratégia terá que ser reajustada, reproposta e isto faz parte do jogo político. Naturalmente, que esta concepção pode causar inúmeros problemas a outros países, detendo a famosa mundialização, seja por um protecionismo vigoroso, seja por obrigar aos demais países a reestruturar suas próprias ações, etc. Mas esta é a função de um país líder que quer continuar a ser líder. De qualquer maneira, Obama se encaminha, com sua simpatia natural, para ser um presidente que comande, mas nós não sabemos ainda a sua proposta para uma nova ordem política e econômica. Proporcionou apenas uma proposta para os Estados Unidos, onde já se advinha repercussões para o mundo, mas que ficará mais claro na discussão com o G-20. Todavia uma coisa já se sabe neste tópico: para instalar esta nova ordem ele vai ter que ter o porte de Lincoln ou de um Roosevelt. Ou talvez uma combinação dos dois.
Por Enéas de Souza
O ritmo da crise da Europa segue o caminho americano, mas com peculiaridades próprias. Temos uma ladeira a baixo e uma preocupação e um temor generalizado. Os bancos, de forma variada, estão sofrendo grandes perdas, a Suíça está sob ameaça de um ataque contra a sua política de segredos bancários. O presidente do Banco Central Europeu está preocupado com a descida do crédito. E há um determinado consenso dos líderes dos governos de que o sistema tem que encontrar regulação e supervisão adequadas. E atacam as agências de notação e querem controlar os hedge funds. Pensam, com urgência, num novo capital para o FMI (500 bilhõesde dólares) e com novas funções, não só de ajuda (?), mas também atuando num papel preventivo da crise. (A Sérvia, a Ucrânia, Hungria, por exemplo, estão em situação desesperadora)
No caso da regulação temos o mesmo fenômeno dos Estados Unidos: todo mundo concorda com a regulação e a supervisão, contudo até agora nada. Porque ? Porque a um grupo social não se destrói o seu poder assim no mais. A desregulamentação era a marca dos tempos gloriosos das finanças. Voltar atrás leva tempo. Tem que ter projeto e idéia. Mesmo porque a liderança americana ainda não decidiu nada, e a Europa segue, a sua maneira, aos Estados Unidos.
É preciso frisar que a posição de Gordon Brown, apesar da Inglaterra estar numa situação crítica, bancos em boa parte nacionalizados, uma crise muito forte no setor imobiliário, etc. etc., tem uma visão de líder mais ampla que os demais, já que pretende que a solução do capitalismo tenha que ser global, coisa que vem defendendo já a mais tempo. Sirva de exemplo a proposta de uma nova moeda internacional. Mas, quando a unidade do capital se desmancha, um pergunta assume o primeiro plano: é possível ter uma nova ação conjunta sem que os participantes dos conflitos encontrem uma nova maioria e um novo acordo e um novo poder para que haja um encaminhamento diferente?
A coisa preocupante é o que os pedidos para a indústria caíram desde novembro 5,2%, o que indica que a superacumulação produtiva mostra os seus efeitos e explica também o crescimento do desemprego e a crescente insatisfação social. Um caso absolutamente interessante é que na França a divergência que vai crescer num novo patamar: Sarkozy propugna pela refundação do capitalismo e Besancenot funda o NPA (Novo Parido Anti-Capitalista) já com 9.000 associados, o que marca um passo a frente nas posturas do PS e da esquerda francesa. Um modelo que quer virar a página da proposta soviética de 1917, um modelo aberto ao movimento operário na sua diversidade, como escreve um dos seus apoiadores. A pergunta européia é a seguinte: esta proposta partidária vai se ampliar pela França e pela Europa?
terça-feira, fevereiro 24, 2009
Gráficos da Crise: Multiplicador Monetário (EUA)
Ciclo vicioso
A presença da AIG na China
AIG companies in China —— At a glance
1919
The AIG companies were one of the very few U.S. companies to have their origins in China when their founder, C.V. Starr, formed American Asiatic Underwriters in Shanghai.
1921
C. V. Starr founded Asia Life Insurance Company, the first foreign life operation to offer products and services to the Chinese people.
1931
International Assurance Company, Ltd was established. It was renamed American International Assurance Company, Limited in 1948.
1975
AIG former Chairman & CEO, Maurice R. Greenberg, made his first visit to Beijing and has since traveled many times to China.
1980
The AIG companies opened a representative office in Beijing, the first set up in modern China by a foreign financial institution.China America Insurance Company (CAIC) was formed as a 50-50 joint venture between AIG companies and the People's Insurance Company of China (PICC). This was the first joint venture between a foreign insurance organization and PICC.
1990
The AIG companies organized, financed and chaired a major financial services conference in Shanghai to assist then Mayor Zhu Rongji in introducing the international financial community to investment opportunities in Shanghai.
1992
The AIG companies strengthened their presence in China through a branch office of AIA in Shanghai, the first foreign-owned life and non-life insurance business to receive a license from the People's Bank of China.
1994
AIA-Shanghai and Fudan University jointly established AIA-Fudan Actuarial Center. AIA Information Technology (Guangzhou) Co., Ltd. was established.
1995
The AIG companies were granted life and non-life insurance licenses for Guangzhou by the People's Bank of China.
1996
AIA signed a 30-year lease agreement on the building at 17 Zhongshan East No. 1 Road in the heart of Shanghai's famous Bund. This special building was home to C. V. Starr's original Shanghai insurance companies. AIA-Zhongda Actuarial Center was established in Guangzhou.
1997
On approval from the People's Bank of China, AIA Shanghai General Insurance Division was re-named and established as AIU Insurance Company Shanghai Branch.
1998
AIA celebrated its historic return to Shanghai's Bund.
1999
The AIG companies obtained licenses from the China Insurance Regulatory Commission (CIRC) to operate life and non-life insurance business in Foshan and Shenzhen. AIA and AIU Foshan sub-branches and Shenzhen branches were officially opened to operate life and non-life insurance. AIA-Keda Actuarial Center was established in Hefei, capital of Anhui province.
2000
AIA Information Technology (Beijing) Co. Ltd. was established.
2001
The AIG companies were granted approval from the CIRC to set up wholly-owned life insurance operations in Beijing and Suzhou, as well as two sub-branches in the cities of Dongguan and Jiangmen in Guangdong Province. A representative office was opened in Chengdu, Sichuan Province.
2002
AIA branch offices were opened in Beijing and Suzhou, and sub-branch offices in Dongguan and Jiangmen. AIG Consulting Services Co, Ltd. was established in Beijing.AIG Global Investment Corporation (Asia) established a representative office in Shanghai. AIA-Beida Actuarial Center was established in Beijing.
2003
The AIG companies acquired a 9.9% stake in PICC P&C's outstanding share capital at its Initial Public Offering in Hong Kong, and reached a co-operative agreement with PICC P&C to develop the accident and health insurance market in China.
2004
AIG Global Investment Corporation, Huatai Securities Company Limited and three other participants were granted approval from the China Securities Regulatory Commission (CSRC) to start preparatory work for the establishment of AIG-Huatai Fund Management Company Limited. The compamy was approved to open business in November.
2005
Approved by the China Securities Regulatory Commission, The Ministry of Commerce and the State Administration for Industry and Commerce, AIG Global Investment Corp. raised its stake in AIG-Huaitai Fund Management Company Limited, from 33 percent to 49 percent.AIG Private Bank Ltd. received approval from the China banking Regulatory Commission to set up its representative office in Shanghai. It is the first foreign private bank to receive approval to open a representative office in Shanghai.
Por Enéas de Souza
Vem uma notícia: jogo de gato e rato: o governo americano quer cortar o déficit que já se mostra assustador. Previsto para 1,3 trilhões, já tem gente que espera 2 trilhões. Quanto mais cresce o déficit, mais se aproxima uma crise monetária. Vem outra notícia: o governo não vai nacionalizar os bancos, mas está negociando com o Citi um aumento na participação acionária da entidade, que está fazendo água. Suas ações estão no calcanhar. Logo atrás negaceando, mas querendo socorro, vem o Bank of América. Os dois muitos grandes para quebrar, muito grandes para salvá-los. E o governo continua fazendo declarações contra a nacionalização... Já tem gente achando que a coisa vai ser como Fanny Mae e Freddy Mac: tudo está bem, não vamos intervir - e acabaram por intervir. É verdade que isto foi no tempo do Bush. Mas, olha só, outro ponto: a seguradora AIG está pedindo mais 60 bi de dólares ao Estado.
Vê-se que o governo está atrás dos barcos. Ou das bactérias. Pois estas estão avançando, vão ganhando espaço, se proliferando e o governo sem um plano firme de ataque. Um governo não se faz com boas intenções, um governo tem que ter claros e firmes propósitos, tem que tomar a iniciativa, tem que ter uma estratégia definida, cumpri-la, apenas variando as táticas. O objetivo final tem que estar lá, vivo, visível, nítido para as forças sociais. Faz assim para incorporar energia e angariar confiança. Mas, do jeito que a coisa aparece, do jeito que a bateria toca, a impressão que se tem é que não há estratégia, sobram apenas táticas. E elas, mudam com a cor e a música dos acontecimentos, sem ter um alvo a atingir, um caminho a percorrer. Olhando-se bem, o governo parece à mercê das pressões dos acontecimentos e dos atores econômicos.
Há uma hipótese de esperança, já que se gosta de ter esperança: que tudo seja uma grande manobra do governo, que tudo represente um gesto de dissimulação, que esteja em marcha um ardil para encarar os opositores no momento certo. Até pode ser, mas nada indica que esteja em campo a astúcia do mágico.
segunda-feira, fevereiro 23, 2009
Taleb, outro iconoclasta (link corrigido)
Suíça também na berlinda
Descrédito total
Por Enéas de Souza
O que se pode sempre pensar, quando se fala na nacionalização dos bancos, é que o que está em jogo são questões estruturais decisivas. Nesta própria temática da nacionalização vai-se tratar de como recompor, reorganizar, redefinir, reconstruir, reformular e reformatar o sistema financeiro, tanto no nível nacional como no nível internacional. E pode-se afirmar que está neste circo, no momento, um dos fulcros da batalha social. Os bancos continuam que nem peixes fisgados no anzol. Estão pulando, esperneando, saltando para ver se escapam do inescapável. Não há saída: vão ter que ceder. O problema é o grau do que vão ceder. Pois a gente sabe que a maioria destes governos foi eleita, democraticamente, com contribuições vastas e amplas destas entidades. O problema é que estes bancos poderão arrastar essas economias a um desastre maior do que elas já estão. Todas as sugestões nessa área tem sido improdutivas, e se mostrarão inúteis agora ou mais tarde, se objetivarem apenas salvar os bancos. Ao menos a nacionalização temporária – que não é a estatização – poderá levar, após um prolongado conhecimento das realidades destas instituições, ao lento e progressivo desovar dos títulos podres e a aplicação de recursos públicos, no primeiro momento e, depois, de recursos privados, num segundo, objetivando o aumento de capital, ou seja, a recapitalização desses agentes econômicos.
Mas, o que me parece importante, é que junto com a nacionalização dos bancos, se faça um novo desenho do sistema financeiro, definindo o papel das instituições bancárias e não bancárias; definindo o papel do banco central, sublinhando a amplitude de sua atuação e de suas intervenções. No mesmo processo, faz-se necessário construir as regras de uma regulação para evitar e controlar as alavancagens despudoradas, para dar um âmbito e um limite e uma fiscalização à multiplicação de produtos. Mas, nos parece que uma articulação finanças e produção têm que ser esboçada, proposta, negociada, tratando de considerar tanto a recuperação da área financeira, mas também da área produtiva. O que significa que a política econômica não poderá ser mais o efeito macro das decisões microeconômicas das corporações. O que significa dizer que se abre uma era para construção de uma nova figura do Estado. Mas, se este parece o caminho da luta dos capitais e dos governos, uma pergunta deve insistir: o acréscimo de poder do Estado será acompanhado por um aumento de democracia, de igualdade, de liberdade dos cidadãos? O movimento social está trabalhando para isso? Ou estamos vendo apenas uma multidão de ações fragmentadas amparadas por visões antigas? O que é que está aparecendo de novas idéias no horizonte das lutas sociais? Estas forças são capazes de alterar a face desta nova figura do Estado que está sendo elaborada? Como? Em que medida? Com que estratégias?
domingo, fevereiro 22, 2009
Mais Europa, Leste europeu... e Inglaterra!
Nova bolha x Nacionalização
Por Enéas de Souza
Dois caras que sabem das coisas que estão aí: Sóros e Volker. O primeiro, um filósofo especulador, joga sempre na contramão do mercado, sabe que o mercado não se auto-regula. Volker, o homem que instaurou o dólar-forte, em 1979, quando era presidente do FED, o verdadeiro Bretton Woods II, pois possibilitou toda a expansão do capital financeiro. Mas, o capital financeiro é uma construção social sobre a fumaça, sobre a nuvem. Quando o valor dos seus ativos cai, ninguém segura esta economia. Um, Sóros, diz, como afirmávamos já em 2007: esta crise vai ser maior que a Grande Depressão; o outro, Volker, conclui que nunca viu uma velocidade tão grande na queda das atividades econômicas como a que está acontecendo agora. Pois, o rumo dos acontecimentos tem uma lógica econômica clara e nítida: o caminho da depressão. Veja, o leitor atento, como aos Estados Unidos está o descompasso europeu: queda do euro, desvalorização das moedas, PIBs em decréscimo, etc. A Ásia, salvo a China, que mesmo assim está caindo, vai em profunda recessão. É verdade, que Obama, via Geithner tenta mudar as coisas. Mas, Geithner é homem das finanças, está preocupado em salvar os bancos, não o sistema econômico. O porta-voz da White House disse ontem que o governo não vai fazer a nacionalização. Já, Roubini, chamado o Dr. Catástrofe – injustamente, porque a catástrofe não é dele, é do sistema! – assegura que a nacionalização virá, independente, do que pensam os que estão no comando. O desastre do Citi e do Bank of América, cujas ações caíram fortemente na sexta-feira, 20% o primeiro; 12% o segundo, estão a indicar a severidade e a gravidade da situação. Olhe-se por onde olhar, a crise é como a água que vazou de uma pia, de um banheiro, está saindo pela porta, está avançando pela casa inteira. Todos estão com os rostos assombrados e vamos ter reunião sobre reunião. Este domingo, os europeus; logo em seguida o G-7; em abril o G-20. Vocês acham que o “timing” da resposta está no tempo certo? Se qualquer forma, o que está acontecendo, da guerra à crise econômica mundial, é um legado insuspeito do capital financeiro, do neo-liberalismo e da era Bush.
(E não podemos esquecer do homem das sombras, o venerável Dick Cheney. Talvez Joseph Conrad tenha razão, aí está “O Coração das Trevas”!)
sábado, fevereiro 21, 2009
Soros compartilha com o GEAB
Por Enéas de Souza
André, o teu texto sobre As duas visões “pessimistas” me permite também responder uma questão. Uma amiga me perguntou: “Enéas, porque tu não dás nenhuma esperança, com as tuas análises? Olhando o que tu escreves, não tem saída.” E respondo e digo: de fato, do jeito que estão ensaiando a ópera, não tem saída. Mas, não sou eu, pobre blogueiro, que vou dar uma abertura à civilização, à cultura, à política, à economia, etc. Quem tem que dar solução são os próprios atores do processo, que são os grupos sociais, as classes envolvidas na história. O que até agora o panorama desenhado é que não se pode enxergar um movimento claro daqueles que desejam mudar e proporcionar um mundo otimista. Não há visão catastrofista. O que vejo é que há movimento e desejo, no fundo vontade de salvar a sua pele e seus interesses, sob a aparência de querer construir um mundo melhor, ajudar os menos favorecidos. A saída não é um individuo que dá, a saída é proporcionada por um coletivo, ajudado quem sabe por fortes lideranças, que empunham uma idéia, instrumentos para construí-la, capacidade organizada de luta, habilidade e invenção em muitos níveis, para conduzir o barco da história a um novo porto, a uma nova terra, que aparentemente ignota, será não a terra da felicidade, mas a terra da vida alegre e triste dos homens.
Portanto, não há visão catastrofista sem que nossos contemporâneos, não caminhem para a sua destruição. Portanto, as visões aparentemente sem saída, são compreensões momentâneas – repito momentâneas-, daquilo que o cineasta Tarkovski dizia “o pessimista é um otimista bem informado”. E pensar que estamos no caminho do desastre, não é ser catastrofista; é apenas observar que o real que aqui está é o que insiste. E ele está insistindo muito. E o que está insistindo, neste momento, tem o rumo do desabamento. Esta é a tendência lógica das relações econômicas, políticas e ideológicas. A cultura diz isso. Vejam os filmes: “Sangue Negro”, “De onde os fracos não retornam”, “O Lutador”, etc., etc. Mas, nada é fixo na história, o mundo se mexe, o mundo apresenta mil surpresas. Os homens podem encontrar um furo no caminho do abismo e construir uma alegre morada à beira do precipício ou na estrada de uma nova civilização. Esta é uma das questões que nós teremos que responder. E nunca esquecendo que somos parte de um conjunto e que dentro dele estão vigaristas do estilo Madoff. Parodiando Shakespeare poderíamos ouvir de um personagem: “Agora que eu quero ver como tu reages, carcaça velha. E se continuas a trabalhar por um mundo habitável, olha para tipos como Madoff. Eles estão infestando nossa época. Fazem parte do grupo hegemônico. E faz as contas; examina as idéias. E vê se encontras, ou se te apresentam, soluções. Aí é que eu quero ver o teu otimismo”. Enquanto não aparecem as formas do futuro criador, vamos escrevendo sobre o compasso e o ritmo, até agora implacável, da sociedade. Mas, não podemos esconder que estamos numa crise ampla: econômica, social, política, energética, tecnológica, ética, cultural, civilizacional. Mas, tudo isso tem o seu tempo. Tempo de discussão, tempo de elaboração e tempo de decisões. As questões estão colocadas, cabem aos homens, aos grupos sociais, as classes encontrar o seu rumo e fazer a sua história.
Enquanto o horizonte não se ilumina Horário já nos deu a palavra: carpe diem.
sexta-feira, fevereiro 20, 2009
Duas visões "pessimistas"
Saindo do controle
China e o uso estratégico das reservas
A batata assou...
Por Enéas de Souza.
O André Scherer trouxe à baila a discussão sobre a economia mundial. E põe em questão a sua governança.. Estou de acordo com ele. Há uma união muito clara entre os capitais e os Estados Nacionais. A possibilidade desta governança é zero, ou um sonho de idealistas liberais, no puro sentido. O problema, no entanto, é outro, trata-se da reestruturação do sistema econômico e político mundial. Começamos é claro com a derrapagem americana. Ela está envolta em muitos cenários negativos. O mais dramático é a crise econômica, que vamos examiná-la por outro ângulo.. Digo econômica e não financeira. Porque houve duas superacumulações, a das finanças e a da produção. E como a economia capitalista é movida a credito, o consumidor, endividado até o cérebro, acelerou a queda da demanda, bem como, por tabela, o despencar do investimento. Tudo porque a economia dos Estados Unidos tinha uma dinâmica muito clara: aplicações financeiras puxadas por ativos cada vez mais com preços elevados, coisa que dava rendimentos palpáveis e polpudos. Uma parte deles, para a alegria das empresas de bens de consumo duráveis, não duráveis e serviços, eram gastos num festival de mercadorias, ajudados por créditos agressivos apreciáveis.E estas empresas, que vendiam a festa ao mundo americano, dado o sucesso de venda e de demanda, saltavam para novos investimentos, via recursos próprios, bancos, recursos tomados em bolsas, novos investidores, etc.. Resumindo a dinâmica era, nesta ordem, assim: finanças- consumo – investimento.
A verdade é que o tombo das finanças requer uma outra dinâmica. O ponto de vibração, que vai aquecer a economia, será certamente o investimento, mas conduzido pelo Estado, através de um gasto fiscal específico. Só que no momento, todo mundo constata, que este plano do Obama é muito tímido. Mas, já é alguma coisa. Assim, o Estado coloca no picadeiro o investimento autônomo e joga o investimento público na frente na demanda.. Com este passo, ele deve atrair, por efeitos de suas obras, o investimento privado, e, obviamente, recompor o consumo das famílias. Isso será feito num tempo relativamente lento, seja por causa do já alto endividamento público, seja por causa dos endividamentos críticos do setor privado. E, sobretudo, pela dificuldade de recuperação do crédito, onde a nacionalização dos bancos talvez seja a forma mais rápida e mais efetiva de alcançá-la. Até o ex-liberal e o ex-presidente do Banco Central americano, o inefável Alan Greenspan já se converteu, pois apóia esta forma de re-capitalização.
O que estes esquemas macroeconômicos estão mostrando, sob forma bem agregada, é que estamos num ponto de reconversão da economia americana. Vamos sair de uma economia gerida pela especulação das finanças para uma nova economia produtiva, que amparada pelo Estado, vai recuperar a produção e permitir que se organize a recomposição das finanças. Todo esse processo e esta recomposição levarão um bom tempo, eles se farão sob a égide de grandes combates políticos, de grandes disputas econômicas, de grandes chantagens ideológicas e de confrontos de todas as ordens. Por isso, escrevemos que a liderança dessa mudança estrutural, que cabe a Obama, terá que ser feita, sob o manto de um grande presidente. Os acontecimentos terão que fazer dele um Lincoln ou um Roosevelt. Ou uma combinação dos dois. Não basta ser Kennedy. Mas, também não basta ser Clinton. Porque se o jogo no âmbito doméstico vai ser muito duro e cheio de contornos dramáticos, na agenda externa as peças e os filmes vão ser muito complicados. Precisa-se uma recomposição da liderança americana, uma coordenação da economia mundial, uma reconstrução de instituições internacionais para-estatais, uma recuperação do comércio internacional e uma consolidação de uma moeda mundial. O que equivale a dizer que o estadista que se nomeou acima tem que estar nos dois planos, na face de dentro e na face de fora dos Estados Unidos. Mas tudo isso são assuntos para novos artigos. O que nos importa aqui neste texto é salientar que o começo de tudo se passará na economia americana, E que ela tem que fazer uma aposta fundamental: reconverter a sua economia de acumulação financeira numa economia de acumulação produtiva. Transformação que só será possível se o Estado for o protagonista político no comando da reordenação econômica. O que significa ter uma estratégia para a ordem política e econômica mundial.
quinta-feira, fevereiro 19, 2009
Maior contração em fevereiro nos EUA
O debate sobre controle de capitas
Link relacionado: http://blogs.ft.com/maverecon/2009/02/the-return-of-capital-controls/
Enfrentar riscos globais sem uma regulação global?
quarta-feira, fevereiro 18, 2009
Opções cambiais tóxicas
Pressões sobre o sistema financeiro dos EUA (versão 2) e um novo degrau na escada?
"A economia mundial está numa queda ainda mais acentuada do que se poderia esperar. O desemprego nos EUA avança mais rápido, as quedas no consumo e na produção são impressionantes, as importações vêm caindo fortemente. Os reflexos disso para o setor financeiro serão novas perdas no setor de hipotecas comerciais (quebra de bancos regionais menores em grande quantidade, pois esses estão mais expostos ao financiamento dos novos shoppings centers agora vazios), inadimplência nos cartões de crédito (perdas para os securitizadores de dívidas que em geral são os bancos de investimentos e hedge funds), perdas para os securitizadores de dívidas de empresas em geral (grandes empresas seguradoras, um exemplo é o prejuízo dessa semana da gigante Swiss Re), menor arrecadação de impostos e quebra de municipalidades (prejuízos para os bancos e seguradoras a partir do aumento na inadimplência), etc...
Os hedge funds são outro problema ainda sem solução pois a fuga dos aplicadores deve levar a uma massiva venda de ativos financeiros com efeitos depressivos sobre os preços ainda em 2009. E o preço dos imóveis não pára de cair, o que faz com que os títulos hipotecários AAA valham cada vez menos.
Enfim, o setor financeiro ainda é uma bomba relógio, não apenas nos EUA, mas também na Europa (a exposição dos bancos europeus na Europa da Leste, a situação da economia espanhola, irlandesa e inglesa e a exposição de bancos e seguradoras europeus às perdas nos EUA colocam pressão por lá também)."
Em resumo, o setor financeiro norte-americano está exposto ao risco decorrente do aumento na indimplência dos financiamentos imobiliários residencial e comercial, cartõs de crédito, créditos estudantis e outros. A desalavancagem forçada por que passam os hedge funds coloca em xeque o mercado de capitais e os fundos de pensão, os quais também atingem as finanças de Estados e de municípios nos EUA, o que por, sua vez, acaba acrretando mais prejuízos aos bancos. Estima-se em 12% a queda de arrecadação de Estados e municípios nos EUA devido à queda no consumo e à resução no preço dos imóveis.
É interessante como no início de fevereiro também já estava clara a situação deteriorada dos bancos europeus, em particular devido ao seu comprometimento com financiamentos na Europa Oriental. Um exemplo: cerca de 60% das hipotecas originadas na Polônia - o país que representa a maior exposição aos bancos europeus - são denominadas em Francos Suíços! Com a desvalorização da moeda polonesa (o zloti), alguém acredita que os compradores poderão honrar esses compromissos nos termos acordados anteriormente? E alguém acredita que a pressão sobre os bancos europeus não represnta maior pressão ainda sobre o sistema financeiro norte-americano e mundial?
É interessante constatarmos que, nessa semana (mais precisamente após ao lançamento da propota Geithner), a crise retomou o ritmo frenético de successão de acontecimentos (nova fraude multi-bilionária com Stanford, Alan Greenspan defendendo a nacionalização dos bancos nos EUA, PIB da Alemanha caindo a uma taxa anaulizada que se aproxima dos 10%; descrença nos planos de salvamento propostos por Obama; reconhecimento público quanto à situação precária dos bancos europeus, possibilidade de contágio no Leste Europeu; novo pedido de resgate das montadoras nos EUA, novo plano de salvamento do setor imobiliário nos EUA, etc...) que tem caracterizado suas fases agudas desde agosto de 2007. Parece que estamos descendo mais um degrau na escada da crise.