sábado, março 07, 2009

O FMI PERDEU O COMANDO
Por Enéas de Souza


O FMI quer participar de modo ativo no rearranjo da economia mundial. O leitor pode ver que é um desejo legítimo da entidade, mas que não tem muito sentido, a não ser que mude radicalmente. Antes de tudo, não adianta um aumento de capital, diante da imensidão da crise e de seus números. O que importa é que ele mude completamente de visão, de estrutura, de atuação, e que passe a ser um apoio aos países, e não um órgão a serviço do capital financeiro como foi nos últimos tempos. O problema no momento é que há uma indefinição na luta política dos grupos sociais em todo o mundo. E, portanto, o FMI está perdendo o seu verdadeiro comando. Ninguém sabe como ele vai se transformar, porque ninguém sabe qual o papel das finanças, qual o papel da produção, e qual vai ser a sua função numa nova ordem econômica. O modelo de acumulação financeira desenrola seu infortúnio, mas ainda não começou um modelo de acumulação produtiva. Por enquanto, o grande problema é que em tempos de finanças esfarrapadas, os economistas oficiais perderam a teoria, o mainstream danificou-se. Nada contra que seus quadros lutem para que o FMI ache o seu novo lugar, mas há muita coisa para discutir, ainda há muita estrada para caminhar. Talvez leve um bom tempo para que consiga encontrar o seu novo destino. Primeira parada: a reunião do G-20.




DA NOVA UNIDADE DO ESTADO BRASILEIRO

Por Enéas de Souza

O que parece interessante é estudar a ação do governo brasileiro na atual fase da crise. Temos a famosa divisão entre a área do desenvolvimento e a área que protege o setor bancário, caso do Banco Central. Mas a relação entre essas duas áreas está mudando. Primeiro, porque o modelo de acumulação financeira está dando o seu adeus na economia brasileira como no resto do mundo. Segundo, porque a área que trabalha com o gasto público passa a assumir um papel decisivo. Será em torno da política fiscal que a economia brasileira vai encontrar a sua dinâmica.

Por um lado, o consumo tende a diminuir, mesmo com a manutenção dos programas sociais do governo, sabendo-se que desemprego na classe média pode ser significativo. Até mesmo as classes altas podem gastar menos. Se passarmos para o investimento, a coisa vai ficar nítida. O setor privado tende a retrair suas ações substancialmente, pois o mar não está nem para peixe nem para as empresas, e nesta hora a preferência pela liquidez assume um papel muito atento. Então, a questão será o investimento público, que vai fazer a demanda subir, e puxar o resto da economia para cima.

O que se nota é uma tentativa de reconstruir o Estado na sua posição de líder do processo econômico. Notem essa modificação da ação governamental: maior unidade do Estado, gasto público (principalmente o PAC), ação forte da Petrobrás nas encomendas internas e um plano para o setor habitacional. Há que completar essas observações com algo que já está claro: uma reordenação do sistema bancário, desenhando uma combinação de ações do Banco do Brasil, Caixa Econômica e BNDES. Trata-se, portanto, de uma retomada da liderança do Estado para que o processo de desenvolvimento recupere a sua importância. E a ponta de ironia do processo: uma política anti-ciclica vai permitir que os próprios empresários desejem que o Estado retorne ao seu papel na sustentação da economia privada. É, terminaram os dias de festa do processo de acumulação financeira.

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