Vou confessar: eu fiz! Depois de muitos anos fugindo dessa "tentação", passei ao ato... eu comprei a Revista Veja dessa semana. Paguei por ela (isso sim, é pensar o impensável). Não pude resistir à capa que trazia uma estética que lembrava os tempos da Guerra Fria, com uma bandeira norte-americana estampada pela foice e pelo martelo e, em letras garrafais, o que parecia ser uma sentença: Camarada Obama. O alívio, porém, estava ali mesmo, na capa, que esclarecia "Por que a itervenção dos EUA e a quase estatização da economia não vão criar um Camarada Obama". Ufa, que medo...
Eu não resisti, queria saber mais sobre essa história palpitante. Quanta sutileza, quanta classe, quanta inteligência, quanta surpresa estavam reunidas nessa capa: quer dizer que a quase estatização da economia não é "coisa de comunista"? O próprio Obama não é comunista, então? Bah, pensava que era... Mas, pensei, se aprendi tanto com a capa, imagina só as surpresas que me esperam lendo o conteúdo...
É mais do que surpreendente, é surrreal! Nas famosas "páginas amarelas" você tem uma entrevista sobre a doutrina da Igreja Católica com Dom José Cardoso Sobrinho, o homem da excomunhão... Você aprende que Deus está acima de qualquer lei humana. Ele explica que a menina estuprada não foi excomungada por que a pena só se aplica à maiores de idade... E que seria bom termos "criancinhas de antigamente", seja lá o que isso for... Tive vontade de aproveitar meu domingo na missa, tão sábias eram as palavras do Bispo, mas a hora já tinha passado. Rivaliza com o Bispo o eterno Cláudio de Moura e Castro, economista platônico, que nos explica que "as civilizações não são contagiosas"... Ah, pensei que tinha pego uma doença ancestral desconhecida, uma doença civilizacional... Mais medo, mais alívio.
Páginas e páginas de propaganda depois (c0mo se tudo ali não fosse mera propaganda), chegamos à matéria sobre Obama. Nela, a revista explica que "a direita mais empedernida dos EUA acusa Obama de colocar o país no rumo do socialismo (quelle horreur!). Mas que isso não vai ocorrer. Explica ainda que o "socialismo não taxa os ricos", em referência ao novo orçamento proposto por Obama, "mas sim, elimina-os fisicamente"... Que bom, Obama não é socialista, ele apenas quer que os ricos paguem impostos, hummmm, já estou até desconfiando desse tal Obama, aí tem... Explica ainda que "no socialismo, o Estado intervém para eliminar o mercado", enquanto no capitalismo "a intevenção corre para corrigir defeitos quando o mercado não consegue fazê-lo". Agora não. Me caíram "os butiá". Não me diz isso: existem situações nas quais o mercado não funciona? Mas como, o livre mercado não resolve todos os conflitos, não é a justiça suprema e única, como Veja ensinou na última década? E a mão invisível, pelo que estou entendendo querem colocá-la no meu bolso... mas ao menos não querem me matar, já é alguma coisa, hummmmmmmmm... Quanto aprendizado. Mas, mais estava por vir: ao lado, um quadro que explicava em detalhes que Roosevelt, esse sim, esse foi comunista! E que o "comunismo de Roosevelt não salvou a economia com o New Deal e sim a Segunda Guerra Mundial", o que se completa com o aviso ameaçador de que "graças à Roosevelt os pobres conquistaram um lugar à mesa". Eu não sabia que Roosevelt tinha sido comunista, mas aVeja me ensinou. E me ensinou como isso é perigoso, dá lugar para os pobres, hummmmmmmmm.... E à mesa ainda por cima. Quelle horreur!
Depois eu aprendi outras várias coisas que não sabia. Que o Brasil está enfrentando com medidas adequadas a crise, mas que comete o pecado capital de não"promover reformas estruturais"... quanta verdade nessa afirmação, como vamos "chegar ao Primeiro Mundo" sem as reformas estruturais? O economista Armando Castelar fala que "depois de conhecer o PIB do quarto trimestre é fácil criticar o Bacen". Realmente, quem sabia que existia uma crise financeira global, que existia a globalização e que o ´Brasil se insere no Planeta Terra? Ninguém sabia, foi uma surpresa, um "black swan", quanta injustiça desse pessoal, criticar o COPOM, onde já se viu...
E ainda tem uma matéria espetacular sobre o avanço da pedofilia na classe média. Vem ilustrada por gráficos que mostram que 22% dos casos reportados em 2008 se deram em famílias da 'Classe B", sendo os outros 78% reportados em famílias das "Clases C e D". Alívio definitivo: não existem pedófilos na "Classe A".
Estamos salvos! Até apróxima semana ao menos.
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