Segunda-feira, 30 de março de 2009
G-20 OU G-1?
Por Enéas de Souza
Qual é o cardápio?
Olhamos os temas a serem discutidos em Londres, quinta-feira, dia 2 abril, um dia depois do dia dos mentirosos. E vemos alguns pontos incandescentes, pontos de incêndio: crise financeira e a regulação do sistema financeiro americano e mundial; coordenação de um conjunto de lançamentos da economia produtiva a partir de estímulos fiscais; nova atitude contra o protecionismo, num mundo já protecionista; discussão sobre o papel do dólar e de uma nova moeda de reserva internacional; proibição ou taxas sobre o fluxo de capitais para os paraísos fiscais, etc.
O encontro dos baleados
Este conjunto de problemas indica o desabamento do mundo neo-liberal, financeiro e predador pela guerra, montado pela administração Bush/Dick Cheney. E ele chega à mesa de Obama pedindo soluções e encontra um Estados Unidos devastado pela demolição de seus bancos e de seu sistema financeiro, com uma economia industrial em queda forte, com um desemprego estrondoso, e uma presidência que mal está se fardando para entrar em campo. Ela já está jogando alguns minutos, mas ainda não sentiu totalmente o jogo. Talvez agora seja o primeiro momento, no qual, os americanos vão ouvir, de fato, a desordem do mundo. Vão olhar na cara dela os seus traços de fúria. Porque ao contrário do que alguns pensavam, o mundo estava todo colado, e a crise americana pegou fogo, foi um rastilho e atravessou todo o planeta, cuidando de deixar um pouco de fratura por toda parte. É só ver as estatísticas do PIB do último trimestre em todo o mundo. As feridas estão em cada país deste universo. E assim, estarão frente a frente, países desesperados, países inquietos, e até países mais calmos, mas todos com um horizonte prospectivo um tanto sombrio.
Vastas emoções...
O calor dos desafios está sublinhando uma fragmentação enorme entre Estados, entre nações, entre capitais, entre capital e trabalho, entre grupos sociais de origens diferenciados. Quando a crise sobe à cabeça de todos, a calma pode ir para o espaço. Esta atmosfera de tensão cobre como um manto este summit. Pois, fora dos participantes, os 19 países que compõe o G-20, anunciam preocupações múltiplas. Obama se reuniu com os banqueiros, Brown discutiu com várias representações de empresários; etc. etc. Mas, duas notícias põe vastas emoções no estádio. Houve uma reunião de hedge funds em Londres e o grupo tomou decisões fortes, inclusive ameaçando que se houver um regulamento excessivo sobre o seu setor, eles poderiam optar por retirar os seus recursos para os paraísos fiscais. Estão indignados com os ataques contra a sua atividade financeira. Na ponta oposta, vários sindicatos do mundo pedem que não se tomem “meias medidas”, que ataquem a recessão e “estabeleçam um novo modelo para o desenvolvimento econômico que seja economicamente eficiente, socialmente justo e ambientalmente sustentável.” Ou seja, tanto dentro do campo - com as afirmações da França e Alemanha contra os paraísos fiscais; com a China pedindo uma nova moeda de reserva de valor, o DES; com o Lula afirmando que os “brancos” “de olhos azuis” que fizeram a crise devem encontrar soluções; com os europeus querendo uma regulação financeira consistente – como igualmente fora de campo - com as declarações dos hedge funds; com as pressões dos empresários; com as posturas dos sindicatos; com os movimentos dos núcleos anti-capitalistas - o cenário se mostra em crescente ebulição. Vai recomeçar o teatro dos governos neste G-20 e há uma platéia que começa a se enfurecer, se a peça não se encaminhar para um bom andamento.
E pensamentos imperfeitos
A nossa expectativa para o encontro é que não haverá, além das palavras amplas e afirmativas genéricas, senão pensamentos imperfeitos. E na verdade, o mundo vai ver que os americanos vão se propor a continuar na liderança, prometendo buscar uma ordem econômica renovada. Talvez a única proposta que possam fazer é a do relançamento da demanda e a promessa de já estão cuidando do sistema financeiro com o Plano Geithner. A pressão de volta do resto do mundo, quem sabe, possa levar o aumento da dúvida de Obama quanto as possibilidades do êxito deste Plano. E certamente, os Estados Unidos elidirão qualquer ataque ao dólar, mesmo depois da atitude desastrada de Geithner afirmando que poderia discutir o tema.
O que de concreto veremos, como desdobramento da reunião, é, não há dúvida nenhuma, a luta entre as nações, a luta entre os grupos de poder dos países, a luta entre as finanças e a produção, a luta entre o capital e trabalho, a luta entre nacionais e emigrantes, a luta dos desesperados pela mudança de suas condições, etc. Elas, todas essas disputas, começarão a desenhar, na profundidade e na superfície, um novo quadro, um novo cinema de emoções mundiais. O novo rosto da América, o novo rosto dos conflitos mundiais, o novo rosto do capitalismo estarão em jogo. As forças da desordem, mal se desataram e são imensamente superiores às forças da estabilização. Os deuses dos combates darão novos incentivos para a destruição do mundo que estava vigorando. Vamos ter um tempo - talvez um longo tempo - até que as forças da ordem estabeleçam uma outra era. Temos que ter a clareza diante do vulcão aberto pela crise do neoliberalismo financeiro e guerreiro. O G-20 dará apenas um pequeno, mas significativo passo, através do poder americano, o G-1, que mantém o seu desejo de continuar a liderar o mundo. Será a proposta do gasto fiscal em cima de obras e serviços públicos e da busca de diminuir os solavancos e os impactos indesejáveis das finanças. E quem sabe, no campo das decisões, Obama possa re-introduzir o multilateralismo consentido, de tal modo que a potência primeira do mundo termine por aceitar boas sugestões dos demais que vão no sentido de suas opções. O que certamente poderá amenizar as vastas emoções explodindo no meio de tantos pensamentos imperfeitos.
G-20 OU G-1?
Por Enéas de Souza
Qual é o cardápio?
Olhamos os temas a serem discutidos em Londres, quinta-feira, dia 2 abril, um dia depois do dia dos mentirosos. E vemos alguns pontos incandescentes, pontos de incêndio: crise financeira e a regulação do sistema financeiro americano e mundial; coordenação de um conjunto de lançamentos da economia produtiva a partir de estímulos fiscais; nova atitude contra o protecionismo, num mundo já protecionista; discussão sobre o papel do dólar e de uma nova moeda de reserva internacional; proibição ou taxas sobre o fluxo de capitais para os paraísos fiscais, etc.
O encontro dos baleados
Este conjunto de problemas indica o desabamento do mundo neo-liberal, financeiro e predador pela guerra, montado pela administração Bush/Dick Cheney. E ele chega à mesa de Obama pedindo soluções e encontra um Estados Unidos devastado pela demolição de seus bancos e de seu sistema financeiro, com uma economia industrial em queda forte, com um desemprego estrondoso, e uma presidência que mal está se fardando para entrar em campo. Ela já está jogando alguns minutos, mas ainda não sentiu totalmente o jogo. Talvez agora seja o primeiro momento, no qual, os americanos vão ouvir, de fato, a desordem do mundo. Vão olhar na cara dela os seus traços de fúria. Porque ao contrário do que alguns pensavam, o mundo estava todo colado, e a crise americana pegou fogo, foi um rastilho e atravessou todo o planeta, cuidando de deixar um pouco de fratura por toda parte. É só ver as estatísticas do PIB do último trimestre em todo o mundo. As feridas estão em cada país deste universo. E assim, estarão frente a frente, países desesperados, países inquietos, e até países mais calmos, mas todos com um horizonte prospectivo um tanto sombrio.
Vastas emoções...
O calor dos desafios está sublinhando uma fragmentação enorme entre Estados, entre nações, entre capitais, entre capital e trabalho, entre grupos sociais de origens diferenciados. Quando a crise sobe à cabeça de todos, a calma pode ir para o espaço. Esta atmosfera de tensão cobre como um manto este summit. Pois, fora dos participantes, os 19 países que compõe o G-20, anunciam preocupações múltiplas. Obama se reuniu com os banqueiros, Brown discutiu com várias representações de empresários; etc. etc. Mas, duas notícias põe vastas emoções no estádio. Houve uma reunião de hedge funds em Londres e o grupo tomou decisões fortes, inclusive ameaçando que se houver um regulamento excessivo sobre o seu setor, eles poderiam optar por retirar os seus recursos para os paraísos fiscais. Estão indignados com os ataques contra a sua atividade financeira. Na ponta oposta, vários sindicatos do mundo pedem que não se tomem “meias medidas”, que ataquem a recessão e “estabeleçam um novo modelo para o desenvolvimento econômico que seja economicamente eficiente, socialmente justo e ambientalmente sustentável.” Ou seja, tanto dentro do campo - com as afirmações da França e Alemanha contra os paraísos fiscais; com a China pedindo uma nova moeda de reserva de valor, o DES; com o Lula afirmando que os “brancos” “de olhos azuis” que fizeram a crise devem encontrar soluções; com os europeus querendo uma regulação financeira consistente – como igualmente fora de campo - com as declarações dos hedge funds; com as pressões dos empresários; com as posturas dos sindicatos; com os movimentos dos núcleos anti-capitalistas - o cenário se mostra em crescente ebulição. Vai recomeçar o teatro dos governos neste G-20 e há uma platéia que começa a se enfurecer, se a peça não se encaminhar para um bom andamento.
E pensamentos imperfeitos
A nossa expectativa para o encontro é que não haverá, além das palavras amplas e afirmativas genéricas, senão pensamentos imperfeitos. E na verdade, o mundo vai ver que os americanos vão se propor a continuar na liderança, prometendo buscar uma ordem econômica renovada. Talvez a única proposta que possam fazer é a do relançamento da demanda e a promessa de já estão cuidando do sistema financeiro com o Plano Geithner. A pressão de volta do resto do mundo, quem sabe, possa levar o aumento da dúvida de Obama quanto as possibilidades do êxito deste Plano. E certamente, os Estados Unidos elidirão qualquer ataque ao dólar, mesmo depois da atitude desastrada de Geithner afirmando que poderia discutir o tema.
O que de concreto veremos, como desdobramento da reunião, é, não há dúvida nenhuma, a luta entre as nações, a luta entre os grupos de poder dos países, a luta entre as finanças e a produção, a luta entre o capital e trabalho, a luta entre nacionais e emigrantes, a luta dos desesperados pela mudança de suas condições, etc. Elas, todas essas disputas, começarão a desenhar, na profundidade e na superfície, um novo quadro, um novo cinema de emoções mundiais. O novo rosto da América, o novo rosto dos conflitos mundiais, o novo rosto do capitalismo estarão em jogo. As forças da desordem, mal se desataram e são imensamente superiores às forças da estabilização. Os deuses dos combates darão novos incentivos para a destruição do mundo que estava vigorando. Vamos ter um tempo - talvez um longo tempo - até que as forças da ordem estabeleçam uma outra era. Temos que ter a clareza diante do vulcão aberto pela crise do neoliberalismo financeiro e guerreiro. O G-20 dará apenas um pequeno, mas significativo passo, através do poder americano, o G-1, que mantém o seu desejo de continuar a liderar o mundo. Será a proposta do gasto fiscal em cima de obras e serviços públicos e da busca de diminuir os solavancos e os impactos indesejáveis das finanças. E quem sabe, no campo das decisões, Obama possa re-introduzir o multilateralismo consentido, de tal modo que a potência primeira do mundo termine por aceitar boas sugestões dos demais que vão no sentido de suas opções. O que certamente poderá amenizar as vastas emoções explodindo no meio de tantos pensamentos imperfeitos.
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