Terça-feira, 31 de março de 2009
OS TRABALHADORES, OBAMA
OS TRABALHADORES, OBAMA
E O G-20
Por Enéas de Souza.
Cabeça a prêmio
Postamos ontem, numa análise do G-20, que os trabalhadores estavam entrando no cenário da realidade econômica e política buscando o estabelecimento “de um novo modelo para o desenvolvimento econômico que seja economicamente eficiente, socialmente justo e ambientalmente sustentável”. E este é um objetivo que fecha com qualquer Estado mais ou menos honesto no atual momento histórico. Mas, o mundo não é feito somente de intenções, elas têm que se tornarem viáveis e postas em ação. Os trabalhadores percebem com clareza que numa sociedade de leões os cordeiros não entram e que, quando se reúnem as cobras, os pássaros ficam de fora. Então, cabe uma crítica completa a todo o modelo político, econômico e ideológico que estava vigorando como uma definitiva tabela de opções. A agenda dos sindicatos toca a alma deste modelo citado, sobretudo porque os trabalhadores ao redor do mundo são “os que estão perdendo seus trabalhos e suas casas”; eles que são “as vítimas inocentes desta crise”, é o que diz uma citação da “London Declaration” feita por vários sindicatos de mundo todo.
A pedra agreste do desemprego
Hoje, dia 31, uma delegação internacional destes trabalhadores estará com Gordon Brown para entregar-lhe esta “London Declaration”. Há vários aspectos nela. A prioridade é, sem dúvida, a de deter a queda livre do crescimento no mundo e reverter o declínio do emprego. Apóiam, portanto, um compromisso significativo do Estado. Compromisso que passa tanto pelos seus gastos públicos como também pela ampliação do emprego, inclusive de empregos estatais. O compromisso deve, com toda a clareza, se vincular à necessidade fundamental de um controle público sobre os bancos insolventes e de um novo quadro para a regulação financeira. Nesse compasso, os trabalhadores acham que as entidades para-estatais internacionais, como o Banco Mundial e o FMI, numa nova visão, devem participar de um novo dinamismo econômico-social, onde se garantisse igualmente direitos dos trabalhadores, padrões salariais adequados e providências para se construir uma rede de proteção para o vasto desemprego que se anuncia para 2009, que poderia chegar a mais 50 milhões de pessoas no mundo todo.
Green New Deal
Há, por parte dos trabalhadores abarcados por esta London Declaration, uma busca de um novo New Deal, que seria centrado em substanciais investimentos na estrutura verde tais como a eficiência energética e as energias renováveis. Esta proposição passa pela criação de empregos de alta qualidade, sempre liderados pelo Estado, pois o objetivo é “uma economia baseada numa justa distribuição da riqueza, trabalhos decentes e uma baixa futura do carbono” na atmosfera. Se estas são preocupações que ligam o curto com o longo prazo, há, no entanto, como uma flor espinho, uma resposta imediata ao plano de Geithner: contra qualquer aporte de recursos públicos do contribuinte para salvar os ativos podres. Isto quer dizer que a declaração se põe frontalmente contra o Public Private Investment Program (PPIP) daquele plano. Os sindicatos acham que a única maneira de restaurar a confiança é a nacionalização dos bancos insolventes e proporcionar aos contribuintes os resultados positivos quando a economia for restaurada. Mas, na política imediata, a maior crítica vai para a incapacidade dos líderes do G-20 não incorporar nas suas discussões os sindicatos, a sociedade civil e os acionistas, frisando que, no entanto, aqueles que criaram o vendaval são os que são chamados para resolver os estragos passados. São, dizem eles, soluções burocráticas, soluções tomadas pelos financistas. O que é preciso, vai além. Começa por abrir este processo para que haja um grande esforço para desmantelar a política dos regimes liberais e trazer o fim da financeirização, que devastou a economia real, inclusive provocando a estagnação dos salários.
Os anticapitalistas são pró
Quando se lê estas idéias e estas propostas, mesmo quando se ouve as idéias de movimentos anticapitalistas, o decisivo sempre é o mesmo, começar pela nacionalização dos bancos. Mas o Novo Partido Anticapitalista (NPA), da França, diz que “o mundo não tem necessidade de regulações colocadas sob a vigilância de instituições internacionais em parte responsáveis pela crise atual (FMI e OMC notadamente); há necessidade de um novo sistema democrático fundado sobre o respeito de todos os direitos do homem, da satisfação das necessidades sociais, do trabalho decente, da soberania alimentar, do respeito ambiental e da restauração dos ecossistemas, da diversidade cultural, da economia social e solitária e de uma nova concepção de riqueza, baseada na sua real repartição e de uma concepção ecológica e social do desenvolvimento”.
Os atores já estão na entrada do palco
Como se pode interpretar estes fatos à beira do regato em flor do G-20? No fundo, a crise restabelece a voz de determinados conjuntos sufocados seja pela descrença, seja pela mídia, seja pela desistência, seja por estarem desconectados com os desejos da população, seja porque, a partir dos anos 90, o socialismo caiu em descrédito. Porém com a crise, o importante é que na agenda da sociedade – mesmo que não esteja na agenda dos governantes – começam a emergir inúmeras demandas de vários grupos sociais, até mesmo de setores bem colocados, de democracia, de outra posição do Estado, de diferente repartição da renda, de direitos sociais, etc., etc. De qualquer forma, o que se percebe também é que, além das retóricas de todos os setores, há uma multidão de incertezas e os mais robustos medos que passam por todos os grupos sociais: de depressão, de destruição de capital, de desemprego e de uma crise planetária da energia e do ambiente. Não se pode deixar de registrar que na geologia deste terreno há uma crise cultural muito forte, uma crise de valores, uma crise de civilização que perpassa os dramáticos momentos atuais. Nesse sentido, o mundo liberal acabou sendo uma armadilha para a própria sociedade, para o próprio capital. Castelos de sonhos foram criados, através de uma alavancagem espetacular de dinheiro e de ideologia e agora, o sol se pôs e as sombras se postaram no horizonte. O G-20 é um dos primeiros passos do novo mundo, aonde as farpas e contra-farpas vão se instalar. Obama, querendo vestir uma aura presidencial maculada por Bush, está saindo dos bastidores e entrando em cena, na tentativa da restauração do poder americano. Na rua, os trabalhadores se manifestam e querem um novo lugar no teatro da política e da sociedade. Olhem, leitores, os jornais on-line e os blogs, leiam as notícias e discutam os comentários, participem a seu modo dos movimentos da sociedade. Esta é a verdadeira sessão interativa – e ela mal começou.
Por Enéas de Souza.
Cabeça a prêmio
Postamos ontem, numa análise do G-20, que os trabalhadores estavam entrando no cenário da realidade econômica e política buscando o estabelecimento “de um novo modelo para o desenvolvimento econômico que seja economicamente eficiente, socialmente justo e ambientalmente sustentável”. E este é um objetivo que fecha com qualquer Estado mais ou menos honesto no atual momento histórico. Mas, o mundo não é feito somente de intenções, elas têm que se tornarem viáveis e postas em ação. Os trabalhadores percebem com clareza que numa sociedade de leões os cordeiros não entram e que, quando se reúnem as cobras, os pássaros ficam de fora. Então, cabe uma crítica completa a todo o modelo político, econômico e ideológico que estava vigorando como uma definitiva tabela de opções. A agenda dos sindicatos toca a alma deste modelo citado, sobretudo porque os trabalhadores ao redor do mundo são “os que estão perdendo seus trabalhos e suas casas”; eles que são “as vítimas inocentes desta crise”, é o que diz uma citação da “London Declaration” feita por vários sindicatos de mundo todo.
A pedra agreste do desemprego
Hoje, dia 31, uma delegação internacional destes trabalhadores estará com Gordon Brown para entregar-lhe esta “London Declaration”. Há vários aspectos nela. A prioridade é, sem dúvida, a de deter a queda livre do crescimento no mundo e reverter o declínio do emprego. Apóiam, portanto, um compromisso significativo do Estado. Compromisso que passa tanto pelos seus gastos públicos como também pela ampliação do emprego, inclusive de empregos estatais. O compromisso deve, com toda a clareza, se vincular à necessidade fundamental de um controle público sobre os bancos insolventes e de um novo quadro para a regulação financeira. Nesse compasso, os trabalhadores acham que as entidades para-estatais internacionais, como o Banco Mundial e o FMI, numa nova visão, devem participar de um novo dinamismo econômico-social, onde se garantisse igualmente direitos dos trabalhadores, padrões salariais adequados e providências para se construir uma rede de proteção para o vasto desemprego que se anuncia para 2009, que poderia chegar a mais 50 milhões de pessoas no mundo todo.
Green New Deal
Há, por parte dos trabalhadores abarcados por esta London Declaration, uma busca de um novo New Deal, que seria centrado em substanciais investimentos na estrutura verde tais como a eficiência energética e as energias renováveis. Esta proposição passa pela criação de empregos de alta qualidade, sempre liderados pelo Estado, pois o objetivo é “uma economia baseada numa justa distribuição da riqueza, trabalhos decentes e uma baixa futura do carbono” na atmosfera. Se estas são preocupações que ligam o curto com o longo prazo, há, no entanto, como uma flor espinho, uma resposta imediata ao plano de Geithner: contra qualquer aporte de recursos públicos do contribuinte para salvar os ativos podres. Isto quer dizer que a declaração se põe frontalmente contra o Public Private Investment Program (PPIP) daquele plano. Os sindicatos acham que a única maneira de restaurar a confiança é a nacionalização dos bancos insolventes e proporcionar aos contribuintes os resultados positivos quando a economia for restaurada. Mas, na política imediata, a maior crítica vai para a incapacidade dos líderes do G-20 não incorporar nas suas discussões os sindicatos, a sociedade civil e os acionistas, frisando que, no entanto, aqueles que criaram o vendaval são os que são chamados para resolver os estragos passados. São, dizem eles, soluções burocráticas, soluções tomadas pelos financistas. O que é preciso, vai além. Começa por abrir este processo para que haja um grande esforço para desmantelar a política dos regimes liberais e trazer o fim da financeirização, que devastou a economia real, inclusive provocando a estagnação dos salários.
Os anticapitalistas são pró
Quando se lê estas idéias e estas propostas, mesmo quando se ouve as idéias de movimentos anticapitalistas, o decisivo sempre é o mesmo, começar pela nacionalização dos bancos. Mas o Novo Partido Anticapitalista (NPA), da França, diz que “o mundo não tem necessidade de regulações colocadas sob a vigilância de instituições internacionais em parte responsáveis pela crise atual (FMI e OMC notadamente); há necessidade de um novo sistema democrático fundado sobre o respeito de todos os direitos do homem, da satisfação das necessidades sociais, do trabalho decente, da soberania alimentar, do respeito ambiental e da restauração dos ecossistemas, da diversidade cultural, da economia social e solitária e de uma nova concepção de riqueza, baseada na sua real repartição e de uma concepção ecológica e social do desenvolvimento”.
Os atores já estão na entrada do palco
Como se pode interpretar estes fatos à beira do regato em flor do G-20? No fundo, a crise restabelece a voz de determinados conjuntos sufocados seja pela descrença, seja pela mídia, seja pela desistência, seja por estarem desconectados com os desejos da população, seja porque, a partir dos anos 90, o socialismo caiu em descrédito. Porém com a crise, o importante é que na agenda da sociedade – mesmo que não esteja na agenda dos governantes – começam a emergir inúmeras demandas de vários grupos sociais, até mesmo de setores bem colocados, de democracia, de outra posição do Estado, de diferente repartição da renda, de direitos sociais, etc., etc. De qualquer forma, o que se percebe também é que, além das retóricas de todos os setores, há uma multidão de incertezas e os mais robustos medos que passam por todos os grupos sociais: de depressão, de destruição de capital, de desemprego e de uma crise planetária da energia e do ambiente. Não se pode deixar de registrar que na geologia deste terreno há uma crise cultural muito forte, uma crise de valores, uma crise de civilização que perpassa os dramáticos momentos atuais. Nesse sentido, o mundo liberal acabou sendo uma armadilha para a própria sociedade, para o próprio capital. Castelos de sonhos foram criados, através de uma alavancagem espetacular de dinheiro e de ideologia e agora, o sol se pôs e as sombras se postaram no horizonte. O G-20 é um dos primeiros passos do novo mundo, aonde as farpas e contra-farpas vão se instalar. Obama, querendo vestir uma aura presidencial maculada por Bush, está saindo dos bastidores e entrando em cena, na tentativa da restauração do poder americano. Na rua, os trabalhadores se manifestam e querem um novo lugar no teatro da política e da sociedade. Olhem, leitores, os jornais on-line e os blogs, leiam as notícias e discutam os comentários, participem a seu modo dos movimentos da sociedade. Esta é a verdadeira sessão interativa – e ela mal começou.
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