Algo grande está acontecendo. Como coloquei em outra postagem, não podia ser o downgrade da GE o motivo de um intenso rally em Wall Street, como foi relatado pela maior parte dos sites especializados durante o dia. Tudo apontava para a audiência no Congresso sobre as regras contábeis...
Bingo! Repentinamente todos os problemas dos grandes bancos dos EUA desapareceram. O truque é evidente: produzir um conjunto de boas notícias, que se iniciaram na segunda-feira com a nota plantada pelo Citi no WStreet Journal e que dava conta de lucros operacionais em alta no primeiro bimestre a partir de um memorando interno "sigiloso" distribuído pelo presidente do grupo aos funcionários e investidores; passando hoje pelo presidente do Bank of America ao dizer na presença de Obama que "precisamos de boas notícias" e, agora pela noite, mais notícias sobre a excelente capitalização do Citi e os "lucros" extraordinários do BofA... Esperem por mais amanhã.
Tudo isso para justificar o que precisam: a mudança nas regras contábeis de modo a permitir que contabilizem seus ativos como quiserem. Aliás, o prazo de três semanas - justo em tempo de permitir que a contabiidade do primeiro trimestre possa se beneficiar das novas regras - foi extraída a forceps dos reguladores contábeis (FASB), sob ameaça dos congressitas de que, caso não agissem rápido, o Congresso legislaria (já tramita uma nova lei sobre o tema de autoria de Deputados "simpaticos" as causas dos bancos). Obviamente as ações em alta ajudarão a causa dos bancos e legitimarão a idéia de que "a crise é um problema de confiança e boas notícias ajudam a retomar a confiança". E, sem dúvida, a plantação de boas notícias sem comprovação e a flexibilização das regras contábeis irão produzir, em um primeiro momento, uma elevação nos preços das ações das instituições financeiras.
Isso mostra a fantástica disputa entre os dois campos: aqueles que desejam o reconhecimento e a contabilização das perdas dos bancos como parte da solução para o problema e aqueles que desejam postergar essa solução. A balança, no momento, pende para a elite financeira.
No entanto, ela vai ter de lidar com dois problemas logo ali adiante: a)qual banco vai confiar no outro sabendo que não conhece as posições dos demais e que as suas próprias estão sobreavaliadas; b) posição contábil alguma sobrevive a um fluxo de caixa negativo, que deve ocorrer com o agravamento da situação da economia norte-americana (imaginem os prejuízos e a desconfiança no mundo corporativo norte-americano com o downgrade simultâneo dos bônus da GE e da Berkshire de Warren Buffet ocorridos hoje). Esses dois problemas podem paralisar a economia norte-americana por um tempo maior do que o suportável pela sociedade.
De qualquer forma, ainda a espera das regras contábeis e das contrapartidas que poderão ser exigidas (exemplo: caso seja exigido a obrigação de colocar para dentro do balanço todas as operações dos bancos e a flexibilização da marcação a mercado se dê por tempo determinado, será uma derrota dos atuais grandes bancos) o dia de hoje marca uma passagem à ofensiva dos atuais detentores do poder financeiro para que as mudanças sejam apenas aquelas que os beneficiem. A luta está ficando cada vez mais forte, vamos prestar atenção se haverá contra-ataque.
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