terça-feira, março 03, 2009

A POLÍTICA FINANCEIRA DA MARIPOSA

Por Enéas de Souza


Ontem escrevemos sobre Obama, as finanças e a moeda. Bem, hoje, vamos insistir na questão financeira. Porque? Não tem saída: esta questão é fundamental para os Estados Unidos e para o mundo. Só que desta vez, como um canal de TV que muda de programa, mas não muda de assunto, vamos falar sobre a gravidade do momento. O problema fundamental é que a equipe econômica do Obama não tem plano. Na verdade, a coisa é mais complicada, o Estado americano não aprendeu a fazer política econômica macro. E assim, a política monetária e a política financeira, que sempre foram feitas pelos financistas para os financistas - política setorial particular - teriam que dar uma reviravolta e estar envolta numa visão unitária e universal.

O que é preciso neste momento é ter uma visão global da economia. Ao menos uma visão da reconstrução das finanças americanas. Até aqui esta equipe está tentando salvar o Citi, o Bank of América, dando um bom dinheirinho para a AIG, pondo grana na Fanny Mae, etc. Ou seja, a política da mariposa diante dos postes de luz. Salta aqui, bate lá, volta de novo e dá outra volta para se esborrachar na lâmpada. Política econômica se faz com duas coisas: estratégia e plano. No caso, tem que ter uma visão da economia como um todo: as finanças servem para que? O que falhou no sistema financeiro do passado?

E ao mesmo tempo, fazer perguntas específicas para o setor: Como regular o novo sistema? Qual o papel do Banco Central? Como construir a articulação entre as peças da nova arquitetura financeira? Qual o papel das instituições financeiras bancárias e não bancárias? Mas, estas perguntas não devem ser isoladas, elas devem ter ambições, devem ser feitas na relação com o todo: como reconstruir o sistema financeiro americano em consonância com a reconstrução de um novo sistema financeiro internacional? Daí desdobra-se outras perguntas. Como refazer, ou mesmo, criar instituições para-nacionais, do tipo FMI? Quais os perfis dos dirigentes e das múltiplas administrações, públicas e privadas, que o novo sistema financeiro, nacional e internacional, vai precisar montar?

Por isso, Obama deve começar a se perguntar: esses caras que eu escolhi para o setor têm uma política global ou estão empurrando o jogo com a barriga? Basta ver esta história do “stress test”, vão descobrir o que já sabem: o sistema está falido. Mas, Obama deve continuar, todas as horas e todos os dias, a se perguntar: eles sabem o que estão fazendo? Eles sabem o que devem fazer? Eles tem uma idéia da reconstrução do sistema financeiro? Que Michele o ajude nesse transe, porque muita gente já começa a pensar que Geithner, Summers e Bernanke escolheram a política da mariposa. Esta política é a política das finanças zumbis - do tipo Japão, anos 90.

Nenhum comentário: