domingo, março 08, 2009

DA ECONOMIA SE PASSA PARA A POLÍTICA?
Por Enéas de Souza

Porque agora a política vai entrar em campo?

Estamos vendo um momento extraordinário, o incêndio dos papéis podres das finanças. E o interessante é o surgimento da política como a forma de resolver a questão. O Lula afirmou: “A hora é da política”. E de fato, em todos os níveis o tempo é de regrar os conflitos, que explodem, porque evidentemente, o poder anterior, o poder do financeiro, corrompeu e corrompeu-se até o limite do infortúnio. Infortúnio dos outros e dele mesmo. O financeiro é o Nero dos tempos contemporâneos. Este poder econômico fez todas as barbaridades possíveis, pervertendo e subornando tudo, desde a cultura, a economia e a própria política. E no mundo, a crise das finanças, do neoliberalismo, permite que as questões possam ser deslocadas para o único domínio onde elas talvez - se forem possíveis, se os interesses não forem irreversívelmente antagônicos – encontrem os devidos lugares de negociações, de acordos e de conciliação, que são os lugares da política.


Onde estão as soluções?

Mas, a política é substancialmente divergência, disputa, conflito, desacordo. No entanto ela tem no seu bojo algo que permite a saída, o poder. E a habilidade de usar o poder, sobretudo para o objetivo da construção e da invenção não é um dever e uma obrigação do governante, vem do seu talento, dos seus valores, dos seus proveitos, das suas vantagens. Portanto, o poder contém os dois lados, conciliação/imposição; criação/destruição. Por isso, ao passar dos atuais conflitos econômicos - sem, no momento superá-los - para os conflitos políticos, temos em verdade uma chance, mas não quer dizer as soluções estejam no bolso, nos planos, nos laptops e nas pastas dos negociadores, dos chefes de Estado. Apenas quer dizer, que os mecanismos automáticos de uma economia instalada, que não funcionam mais, passam para o reino das decisões livres da política. Mas, essas decisões livres não estão tecidas apenas pela razão, as paixões – os ódios e as vinganças presentes – invadem a cena.

Tróia já não está mais em Tróia?

A introdução da política permite que se possa ter a oportunidade da negociação, onde a força pode encontrar um poder que na firmeza possa ter valores nítidos e valores na direção da paz. Mas, nada disso é certo, basta olhar para os diversos conflitos do mundo. Ignácio Rangel, economista brasileiro, dizia que quando o ciclo econômico termina – é o caso atual – a matemática dá lugar à política. E só quando a política encerra a sua atuação, um novo ciclo se inicia e uma nova economia pode se instalar. E assim um novo ciclo entra em andamento e , então, nem a política mais pode alterá-lo. Entramos, agora, na fase da política, na fase dos argumentos os mais diversos, argumentos para o bem ou para o mal. E pensando como um grego dos tempos de Homero (leiam a Ilíada e a Odisséia, é melhor que os melhores filmes de aventuras dos americanos!) esperemos que os deuses não se divirtam tanto conosco, que suas divergências (porque lá também o conflito é a lei do seu mundo), encontrem rápidas soluções. Mas, é duro ter que pensar que a guerra de Tróia levou 10 anos. Esta é a realidade do real.

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