terça-feira, março 31, 2009
PIMCO: economia sob dominância financeira acabou
Em sua carta mensal de abril, Bill Gross, presidente da maior corretora de títulos de renda fixa do mundo, avisa (com algum atraso apra quem segue esse blog): "existe a quase certeza de que a economia financeira global que tivemos no último meio século não retornará". Não surpreendentemente para quem transaciona títulos de renda fixa, ele pensa que o futuro do investimento se dará com transações menos especulativas, de maior prazo e com rendimento garantido (exatamente a especialidade da PIMCO, que coincidência, rs...). Pelo gráfico, nota-se que mesmo nos últimos 50 anos, dado o atual declínio no preço das ações, a renda fixa mostrou performance superio ao retorno das ações.
Mas ele tem uma boa dose de razão quando diz que o futuro da finança será dominado a curto prazo pelo desendividamento, pela desglobalização e pela re-regulação. A carta mensal da PIMCO é sempre uma leitura interessante.
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Números da economia americana são péssimos
Quando se pensa que não é mais possível piorar, acontece. O preço dos imóveis calculado pelo índice Case-Schiller para janeiro caiu uma vez mais, embora o ritmo da queda tenha se reduzido. E o índice de atividade industrial, Philly Fed, mostra que o declínio na produção se espalhou por todos os 50 estados norte-americanos, embora, obviamente, em alguns a queda seja mais profunda do que em outros.
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França ameaça deixar G20
A ministra da economia francesa Christine Lagarde ameaçou deixar o G20 sem assinar nenhum acordo caso a demanda de seu país por uma estrita regulação financeira não seja atendida. O país se coloca assim em oposição à Inglaterra e EUA sobre o crucial sujeito das regras que poderão constituir o novo mundo financeiro.
Confusão à vista!
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Loas à realidade... ainda que tardia! Irlanda perde seu AAA...
Por que o "Fórum da "Liberdade" (sic) para e pelo Capital" não traz agora os irlandeses aqui para nos darem aula de capitalismo? Seria uma boa hora, já que eles não são mais AAA (embora isso valha o mesmo que a fórmula de Black and Scholes)!
Pobre Irlanda, teve seus dias de glória... Que Deus à tenha! Ah, e não se esqueçam, não se deve quebrar contratos!!!! Eh,eh,eh, eh (risada diabólica)...
Pensar o impensável: Cerberus vai perder com resgate à Chrysler
Pensar o impensável! John Snow foi secretário do tesouro de Bush, presidente republicano. Ele era representante do fundo de private equity Cerberus. O Cerberus tem uma fatia da Chrysler. Obama, presidente democrata, vai socorrer a Chrysler. Com a condição de que o Cerberus perca o que colocou na Chrysler.
Entenderam?
Terça-feira, 31 de março de 2009
OS TRABALHADORES, OBAMA
OS TRABALHADORES, OBAMA
E O G-20
Por Enéas de Souza.
Cabeça a prêmio
Postamos ontem, numa análise do G-20, que os trabalhadores estavam entrando no cenário da realidade econômica e política buscando o estabelecimento “de um novo modelo para o desenvolvimento econômico que seja economicamente eficiente, socialmente justo e ambientalmente sustentável”. E este é um objetivo que fecha com qualquer Estado mais ou menos honesto no atual momento histórico. Mas, o mundo não é feito somente de intenções, elas têm que se tornarem viáveis e postas em ação. Os trabalhadores percebem com clareza que numa sociedade de leões os cordeiros não entram e que, quando se reúnem as cobras, os pássaros ficam de fora. Então, cabe uma crítica completa a todo o modelo político, econômico e ideológico que estava vigorando como uma definitiva tabela de opções. A agenda dos sindicatos toca a alma deste modelo citado, sobretudo porque os trabalhadores ao redor do mundo são “os que estão perdendo seus trabalhos e suas casas”; eles que são “as vítimas inocentes desta crise”, é o que diz uma citação da “London Declaration” feita por vários sindicatos de mundo todo.
A pedra agreste do desemprego
Hoje, dia 31, uma delegação internacional destes trabalhadores estará com Gordon Brown para entregar-lhe esta “London Declaration”. Há vários aspectos nela. A prioridade é, sem dúvida, a de deter a queda livre do crescimento no mundo e reverter o declínio do emprego. Apóiam, portanto, um compromisso significativo do Estado. Compromisso que passa tanto pelos seus gastos públicos como também pela ampliação do emprego, inclusive de empregos estatais. O compromisso deve, com toda a clareza, se vincular à necessidade fundamental de um controle público sobre os bancos insolventes e de um novo quadro para a regulação financeira. Nesse compasso, os trabalhadores acham que as entidades para-estatais internacionais, como o Banco Mundial e o FMI, numa nova visão, devem participar de um novo dinamismo econômico-social, onde se garantisse igualmente direitos dos trabalhadores, padrões salariais adequados e providências para se construir uma rede de proteção para o vasto desemprego que se anuncia para 2009, que poderia chegar a mais 50 milhões de pessoas no mundo todo.
Green New Deal
Há, por parte dos trabalhadores abarcados por esta London Declaration, uma busca de um novo New Deal, que seria centrado em substanciais investimentos na estrutura verde tais como a eficiência energética e as energias renováveis. Esta proposição passa pela criação de empregos de alta qualidade, sempre liderados pelo Estado, pois o objetivo é “uma economia baseada numa justa distribuição da riqueza, trabalhos decentes e uma baixa futura do carbono” na atmosfera. Se estas são preocupações que ligam o curto com o longo prazo, há, no entanto, como uma flor espinho, uma resposta imediata ao plano de Geithner: contra qualquer aporte de recursos públicos do contribuinte para salvar os ativos podres. Isto quer dizer que a declaração se põe frontalmente contra o Public Private Investment Program (PPIP) daquele plano. Os sindicatos acham que a única maneira de restaurar a confiança é a nacionalização dos bancos insolventes e proporcionar aos contribuintes os resultados positivos quando a economia for restaurada. Mas, na política imediata, a maior crítica vai para a incapacidade dos líderes do G-20 não incorporar nas suas discussões os sindicatos, a sociedade civil e os acionistas, frisando que, no entanto, aqueles que criaram o vendaval são os que são chamados para resolver os estragos passados. São, dizem eles, soluções burocráticas, soluções tomadas pelos financistas. O que é preciso, vai além. Começa por abrir este processo para que haja um grande esforço para desmantelar a política dos regimes liberais e trazer o fim da financeirização, que devastou a economia real, inclusive provocando a estagnação dos salários.
Os anticapitalistas são pró
Quando se lê estas idéias e estas propostas, mesmo quando se ouve as idéias de movimentos anticapitalistas, o decisivo sempre é o mesmo, começar pela nacionalização dos bancos. Mas o Novo Partido Anticapitalista (NPA), da França, diz que “o mundo não tem necessidade de regulações colocadas sob a vigilância de instituições internacionais em parte responsáveis pela crise atual (FMI e OMC notadamente); há necessidade de um novo sistema democrático fundado sobre o respeito de todos os direitos do homem, da satisfação das necessidades sociais, do trabalho decente, da soberania alimentar, do respeito ambiental e da restauração dos ecossistemas, da diversidade cultural, da economia social e solitária e de uma nova concepção de riqueza, baseada na sua real repartição e de uma concepção ecológica e social do desenvolvimento”.
Os atores já estão na entrada do palco
Como se pode interpretar estes fatos à beira do regato em flor do G-20? No fundo, a crise restabelece a voz de determinados conjuntos sufocados seja pela descrença, seja pela mídia, seja pela desistência, seja por estarem desconectados com os desejos da população, seja porque, a partir dos anos 90, o socialismo caiu em descrédito. Porém com a crise, o importante é que na agenda da sociedade – mesmo que não esteja na agenda dos governantes – começam a emergir inúmeras demandas de vários grupos sociais, até mesmo de setores bem colocados, de democracia, de outra posição do Estado, de diferente repartição da renda, de direitos sociais, etc., etc. De qualquer forma, o que se percebe também é que, além das retóricas de todos os setores, há uma multidão de incertezas e os mais robustos medos que passam por todos os grupos sociais: de depressão, de destruição de capital, de desemprego e de uma crise planetária da energia e do ambiente. Não se pode deixar de registrar que na geologia deste terreno há uma crise cultural muito forte, uma crise de valores, uma crise de civilização que perpassa os dramáticos momentos atuais. Nesse sentido, o mundo liberal acabou sendo uma armadilha para a própria sociedade, para o próprio capital. Castelos de sonhos foram criados, através de uma alavancagem espetacular de dinheiro e de ideologia e agora, o sol se pôs e as sombras se postaram no horizonte. O G-20 é um dos primeiros passos do novo mundo, aonde as farpas e contra-farpas vão se instalar. Obama, querendo vestir uma aura presidencial maculada por Bush, está saindo dos bastidores e entrando em cena, na tentativa da restauração do poder americano. Na rua, os trabalhadores se manifestam e querem um novo lugar no teatro da política e da sociedade. Olhem, leitores, os jornais on-line e os blogs, leiam as notícias e discutam os comentários, participem a seu modo dos movimentos da sociedade. Esta é a verdadeira sessão interativa – e ela mal começou.
Por Enéas de Souza.
Cabeça a prêmio
Postamos ontem, numa análise do G-20, que os trabalhadores estavam entrando no cenário da realidade econômica e política buscando o estabelecimento “de um novo modelo para o desenvolvimento econômico que seja economicamente eficiente, socialmente justo e ambientalmente sustentável”. E este é um objetivo que fecha com qualquer Estado mais ou menos honesto no atual momento histórico. Mas, o mundo não é feito somente de intenções, elas têm que se tornarem viáveis e postas em ação. Os trabalhadores percebem com clareza que numa sociedade de leões os cordeiros não entram e que, quando se reúnem as cobras, os pássaros ficam de fora. Então, cabe uma crítica completa a todo o modelo político, econômico e ideológico que estava vigorando como uma definitiva tabela de opções. A agenda dos sindicatos toca a alma deste modelo citado, sobretudo porque os trabalhadores ao redor do mundo são “os que estão perdendo seus trabalhos e suas casas”; eles que são “as vítimas inocentes desta crise”, é o que diz uma citação da “London Declaration” feita por vários sindicatos de mundo todo.
A pedra agreste do desemprego
Hoje, dia 31, uma delegação internacional destes trabalhadores estará com Gordon Brown para entregar-lhe esta “London Declaration”. Há vários aspectos nela. A prioridade é, sem dúvida, a de deter a queda livre do crescimento no mundo e reverter o declínio do emprego. Apóiam, portanto, um compromisso significativo do Estado. Compromisso que passa tanto pelos seus gastos públicos como também pela ampliação do emprego, inclusive de empregos estatais. O compromisso deve, com toda a clareza, se vincular à necessidade fundamental de um controle público sobre os bancos insolventes e de um novo quadro para a regulação financeira. Nesse compasso, os trabalhadores acham que as entidades para-estatais internacionais, como o Banco Mundial e o FMI, numa nova visão, devem participar de um novo dinamismo econômico-social, onde se garantisse igualmente direitos dos trabalhadores, padrões salariais adequados e providências para se construir uma rede de proteção para o vasto desemprego que se anuncia para 2009, que poderia chegar a mais 50 milhões de pessoas no mundo todo.
Green New Deal
Há, por parte dos trabalhadores abarcados por esta London Declaration, uma busca de um novo New Deal, que seria centrado em substanciais investimentos na estrutura verde tais como a eficiência energética e as energias renováveis. Esta proposição passa pela criação de empregos de alta qualidade, sempre liderados pelo Estado, pois o objetivo é “uma economia baseada numa justa distribuição da riqueza, trabalhos decentes e uma baixa futura do carbono” na atmosfera. Se estas são preocupações que ligam o curto com o longo prazo, há, no entanto, como uma flor espinho, uma resposta imediata ao plano de Geithner: contra qualquer aporte de recursos públicos do contribuinte para salvar os ativos podres. Isto quer dizer que a declaração se põe frontalmente contra o Public Private Investment Program (PPIP) daquele plano. Os sindicatos acham que a única maneira de restaurar a confiança é a nacionalização dos bancos insolventes e proporcionar aos contribuintes os resultados positivos quando a economia for restaurada. Mas, na política imediata, a maior crítica vai para a incapacidade dos líderes do G-20 não incorporar nas suas discussões os sindicatos, a sociedade civil e os acionistas, frisando que, no entanto, aqueles que criaram o vendaval são os que são chamados para resolver os estragos passados. São, dizem eles, soluções burocráticas, soluções tomadas pelos financistas. O que é preciso, vai além. Começa por abrir este processo para que haja um grande esforço para desmantelar a política dos regimes liberais e trazer o fim da financeirização, que devastou a economia real, inclusive provocando a estagnação dos salários.
Os anticapitalistas são pró
Quando se lê estas idéias e estas propostas, mesmo quando se ouve as idéias de movimentos anticapitalistas, o decisivo sempre é o mesmo, começar pela nacionalização dos bancos. Mas o Novo Partido Anticapitalista (NPA), da França, diz que “o mundo não tem necessidade de regulações colocadas sob a vigilância de instituições internacionais em parte responsáveis pela crise atual (FMI e OMC notadamente); há necessidade de um novo sistema democrático fundado sobre o respeito de todos os direitos do homem, da satisfação das necessidades sociais, do trabalho decente, da soberania alimentar, do respeito ambiental e da restauração dos ecossistemas, da diversidade cultural, da economia social e solitária e de uma nova concepção de riqueza, baseada na sua real repartição e de uma concepção ecológica e social do desenvolvimento”.
Os atores já estão na entrada do palco
Como se pode interpretar estes fatos à beira do regato em flor do G-20? No fundo, a crise restabelece a voz de determinados conjuntos sufocados seja pela descrença, seja pela mídia, seja pela desistência, seja por estarem desconectados com os desejos da população, seja porque, a partir dos anos 90, o socialismo caiu em descrédito. Porém com a crise, o importante é que na agenda da sociedade – mesmo que não esteja na agenda dos governantes – começam a emergir inúmeras demandas de vários grupos sociais, até mesmo de setores bem colocados, de democracia, de outra posição do Estado, de diferente repartição da renda, de direitos sociais, etc., etc. De qualquer forma, o que se percebe também é que, além das retóricas de todos os setores, há uma multidão de incertezas e os mais robustos medos que passam por todos os grupos sociais: de depressão, de destruição de capital, de desemprego e de uma crise planetária da energia e do ambiente. Não se pode deixar de registrar que na geologia deste terreno há uma crise cultural muito forte, uma crise de valores, uma crise de civilização que perpassa os dramáticos momentos atuais. Nesse sentido, o mundo liberal acabou sendo uma armadilha para a própria sociedade, para o próprio capital. Castelos de sonhos foram criados, através de uma alavancagem espetacular de dinheiro e de ideologia e agora, o sol se pôs e as sombras se postaram no horizonte. O G-20 é um dos primeiros passos do novo mundo, aonde as farpas e contra-farpas vão se instalar. Obama, querendo vestir uma aura presidencial maculada por Bush, está saindo dos bastidores e entrando em cena, na tentativa da restauração do poder americano. Na rua, os trabalhadores se manifestam e querem um novo lugar no teatro da política e da sociedade. Olhem, leitores, os jornais on-line e os blogs, leiam as notícias e discutam os comentários, participem a seu modo dos movimentos da sociedade. Esta é a verdadeira sessão interativa – e ela mal começou.
segunda-feira, março 30, 2009
Argentina vai aceitar renminbi
A Argentina vai ser o primeiro país latino-americano a aceitar renminbis como pagamento de suas exportações à China. Como será que os EUA irão reagir?
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Garantidora dos fundos de pensão teria perdido na bolsa (EUA)
A notícia é uma bomba. Diz respeito ao fato de que, no ano passado, ao ver o valor de seu portfolio em imóeis deteriorar, a garantidora dos fundos de pensão dos EUA (PBGC) teria passado a investir mais pesadamente em ações... Estima-se que, caso a e conomia não se recupere, grande parte dos fundos de pensão dos EUA irão apresentar fortes prejuízos, o que já deve começar a pesar sobre o balanço das empresas ainda em 2009. Em dois ou três anos, se o governo não garantir, talvez cada dólar aplicado tenha virado centavos... e com uma garantidora que tem esse tipo de estratégia, quem duvida?
Todo o esquemão Ponzi neoliberal pode estar ruindo, com consequências sociais terríveis para os incautos...
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Segunda-feira, 30 de março de 2009
G-20 OU G-1?
Por Enéas de Souza
Qual é o cardápio?
Olhamos os temas a serem discutidos em Londres, quinta-feira, dia 2 abril, um dia depois do dia dos mentirosos. E vemos alguns pontos incandescentes, pontos de incêndio: crise financeira e a regulação do sistema financeiro americano e mundial; coordenação de um conjunto de lançamentos da economia produtiva a partir de estímulos fiscais; nova atitude contra o protecionismo, num mundo já protecionista; discussão sobre o papel do dólar e de uma nova moeda de reserva internacional; proibição ou taxas sobre o fluxo de capitais para os paraísos fiscais, etc.
O encontro dos baleados
Este conjunto de problemas indica o desabamento do mundo neo-liberal, financeiro e predador pela guerra, montado pela administração Bush/Dick Cheney. E ele chega à mesa de Obama pedindo soluções e encontra um Estados Unidos devastado pela demolição de seus bancos e de seu sistema financeiro, com uma economia industrial em queda forte, com um desemprego estrondoso, e uma presidência que mal está se fardando para entrar em campo. Ela já está jogando alguns minutos, mas ainda não sentiu totalmente o jogo. Talvez agora seja o primeiro momento, no qual, os americanos vão ouvir, de fato, a desordem do mundo. Vão olhar na cara dela os seus traços de fúria. Porque ao contrário do que alguns pensavam, o mundo estava todo colado, e a crise americana pegou fogo, foi um rastilho e atravessou todo o planeta, cuidando de deixar um pouco de fratura por toda parte. É só ver as estatísticas do PIB do último trimestre em todo o mundo. As feridas estão em cada país deste universo. E assim, estarão frente a frente, países desesperados, países inquietos, e até países mais calmos, mas todos com um horizonte prospectivo um tanto sombrio.
Vastas emoções...
O calor dos desafios está sublinhando uma fragmentação enorme entre Estados, entre nações, entre capitais, entre capital e trabalho, entre grupos sociais de origens diferenciados. Quando a crise sobe à cabeça de todos, a calma pode ir para o espaço. Esta atmosfera de tensão cobre como um manto este summit. Pois, fora dos participantes, os 19 países que compõe o G-20, anunciam preocupações múltiplas. Obama se reuniu com os banqueiros, Brown discutiu com várias representações de empresários; etc. etc. Mas, duas notícias põe vastas emoções no estádio. Houve uma reunião de hedge funds em Londres e o grupo tomou decisões fortes, inclusive ameaçando que se houver um regulamento excessivo sobre o seu setor, eles poderiam optar por retirar os seus recursos para os paraísos fiscais. Estão indignados com os ataques contra a sua atividade financeira. Na ponta oposta, vários sindicatos do mundo pedem que não se tomem “meias medidas”, que ataquem a recessão e “estabeleçam um novo modelo para o desenvolvimento econômico que seja economicamente eficiente, socialmente justo e ambientalmente sustentável.” Ou seja, tanto dentro do campo - com as afirmações da França e Alemanha contra os paraísos fiscais; com a China pedindo uma nova moeda de reserva de valor, o DES; com o Lula afirmando que os “brancos” “de olhos azuis” que fizeram a crise devem encontrar soluções; com os europeus querendo uma regulação financeira consistente – como igualmente fora de campo - com as declarações dos hedge funds; com as pressões dos empresários; com as posturas dos sindicatos; com os movimentos dos núcleos anti-capitalistas - o cenário se mostra em crescente ebulição. Vai recomeçar o teatro dos governos neste G-20 e há uma platéia que começa a se enfurecer, se a peça não se encaminhar para um bom andamento.
E pensamentos imperfeitos
A nossa expectativa para o encontro é que não haverá, além das palavras amplas e afirmativas genéricas, senão pensamentos imperfeitos. E na verdade, o mundo vai ver que os americanos vão se propor a continuar na liderança, prometendo buscar uma ordem econômica renovada. Talvez a única proposta que possam fazer é a do relançamento da demanda e a promessa de já estão cuidando do sistema financeiro com o Plano Geithner. A pressão de volta do resto do mundo, quem sabe, possa levar o aumento da dúvida de Obama quanto as possibilidades do êxito deste Plano. E certamente, os Estados Unidos elidirão qualquer ataque ao dólar, mesmo depois da atitude desastrada de Geithner afirmando que poderia discutir o tema.
O que de concreto veremos, como desdobramento da reunião, é, não há dúvida nenhuma, a luta entre as nações, a luta entre os grupos de poder dos países, a luta entre as finanças e a produção, a luta entre o capital e trabalho, a luta entre nacionais e emigrantes, a luta dos desesperados pela mudança de suas condições, etc. Elas, todas essas disputas, começarão a desenhar, na profundidade e na superfície, um novo quadro, um novo cinema de emoções mundiais. O novo rosto da América, o novo rosto dos conflitos mundiais, o novo rosto do capitalismo estarão em jogo. As forças da desordem, mal se desataram e são imensamente superiores às forças da estabilização. Os deuses dos combates darão novos incentivos para a destruição do mundo que estava vigorando. Vamos ter um tempo - talvez um longo tempo - até que as forças da ordem estabeleçam uma outra era. Temos que ter a clareza diante do vulcão aberto pela crise do neoliberalismo financeiro e guerreiro. O G-20 dará apenas um pequeno, mas significativo passo, através do poder americano, o G-1, que mantém o seu desejo de continuar a liderar o mundo. Será a proposta do gasto fiscal em cima de obras e serviços públicos e da busca de diminuir os solavancos e os impactos indesejáveis das finanças. E quem sabe, no campo das decisões, Obama possa re-introduzir o multilateralismo consentido, de tal modo que a potência primeira do mundo termine por aceitar boas sugestões dos demais que vão no sentido de suas opções. O que certamente poderá amenizar as vastas emoções explodindo no meio de tantos pensamentos imperfeitos.
G-20 OU G-1?
Por Enéas de Souza
Qual é o cardápio?
Olhamos os temas a serem discutidos em Londres, quinta-feira, dia 2 abril, um dia depois do dia dos mentirosos. E vemos alguns pontos incandescentes, pontos de incêndio: crise financeira e a regulação do sistema financeiro americano e mundial; coordenação de um conjunto de lançamentos da economia produtiva a partir de estímulos fiscais; nova atitude contra o protecionismo, num mundo já protecionista; discussão sobre o papel do dólar e de uma nova moeda de reserva internacional; proibição ou taxas sobre o fluxo de capitais para os paraísos fiscais, etc.
O encontro dos baleados
Este conjunto de problemas indica o desabamento do mundo neo-liberal, financeiro e predador pela guerra, montado pela administração Bush/Dick Cheney. E ele chega à mesa de Obama pedindo soluções e encontra um Estados Unidos devastado pela demolição de seus bancos e de seu sistema financeiro, com uma economia industrial em queda forte, com um desemprego estrondoso, e uma presidência que mal está se fardando para entrar em campo. Ela já está jogando alguns minutos, mas ainda não sentiu totalmente o jogo. Talvez agora seja o primeiro momento, no qual, os americanos vão ouvir, de fato, a desordem do mundo. Vão olhar na cara dela os seus traços de fúria. Porque ao contrário do que alguns pensavam, o mundo estava todo colado, e a crise americana pegou fogo, foi um rastilho e atravessou todo o planeta, cuidando de deixar um pouco de fratura por toda parte. É só ver as estatísticas do PIB do último trimestre em todo o mundo. As feridas estão em cada país deste universo. E assim, estarão frente a frente, países desesperados, países inquietos, e até países mais calmos, mas todos com um horizonte prospectivo um tanto sombrio.
Vastas emoções...
O calor dos desafios está sublinhando uma fragmentação enorme entre Estados, entre nações, entre capitais, entre capital e trabalho, entre grupos sociais de origens diferenciados. Quando a crise sobe à cabeça de todos, a calma pode ir para o espaço. Esta atmosfera de tensão cobre como um manto este summit. Pois, fora dos participantes, os 19 países que compõe o G-20, anunciam preocupações múltiplas. Obama se reuniu com os banqueiros, Brown discutiu com várias representações de empresários; etc. etc. Mas, duas notícias põe vastas emoções no estádio. Houve uma reunião de hedge funds em Londres e o grupo tomou decisões fortes, inclusive ameaçando que se houver um regulamento excessivo sobre o seu setor, eles poderiam optar por retirar os seus recursos para os paraísos fiscais. Estão indignados com os ataques contra a sua atividade financeira. Na ponta oposta, vários sindicatos do mundo pedem que não se tomem “meias medidas”, que ataquem a recessão e “estabeleçam um novo modelo para o desenvolvimento econômico que seja economicamente eficiente, socialmente justo e ambientalmente sustentável.” Ou seja, tanto dentro do campo - com as afirmações da França e Alemanha contra os paraísos fiscais; com a China pedindo uma nova moeda de reserva de valor, o DES; com o Lula afirmando que os “brancos” “de olhos azuis” que fizeram a crise devem encontrar soluções; com os europeus querendo uma regulação financeira consistente – como igualmente fora de campo - com as declarações dos hedge funds; com as pressões dos empresários; com as posturas dos sindicatos; com os movimentos dos núcleos anti-capitalistas - o cenário se mostra em crescente ebulição. Vai recomeçar o teatro dos governos neste G-20 e há uma platéia que começa a se enfurecer, se a peça não se encaminhar para um bom andamento.
E pensamentos imperfeitos
A nossa expectativa para o encontro é que não haverá, além das palavras amplas e afirmativas genéricas, senão pensamentos imperfeitos. E na verdade, o mundo vai ver que os americanos vão se propor a continuar na liderança, prometendo buscar uma ordem econômica renovada. Talvez a única proposta que possam fazer é a do relançamento da demanda e a promessa de já estão cuidando do sistema financeiro com o Plano Geithner. A pressão de volta do resto do mundo, quem sabe, possa levar o aumento da dúvida de Obama quanto as possibilidades do êxito deste Plano. E certamente, os Estados Unidos elidirão qualquer ataque ao dólar, mesmo depois da atitude desastrada de Geithner afirmando que poderia discutir o tema.
O que de concreto veremos, como desdobramento da reunião, é, não há dúvida nenhuma, a luta entre as nações, a luta entre os grupos de poder dos países, a luta entre as finanças e a produção, a luta entre o capital e trabalho, a luta entre nacionais e emigrantes, a luta dos desesperados pela mudança de suas condições, etc. Elas, todas essas disputas, começarão a desenhar, na profundidade e na superfície, um novo quadro, um novo cinema de emoções mundiais. O novo rosto da América, o novo rosto dos conflitos mundiais, o novo rosto do capitalismo estarão em jogo. As forças da desordem, mal se desataram e são imensamente superiores às forças da estabilização. Os deuses dos combates darão novos incentivos para a destruição do mundo que estava vigorando. Vamos ter um tempo - talvez um longo tempo - até que as forças da ordem estabeleçam uma outra era. Temos que ter a clareza diante do vulcão aberto pela crise do neoliberalismo financeiro e guerreiro. O G-20 dará apenas um pequeno, mas significativo passo, através do poder americano, o G-1, que mantém o seu desejo de continuar a liderar o mundo. Será a proposta do gasto fiscal em cima de obras e serviços públicos e da busca de diminuir os solavancos e os impactos indesejáveis das finanças. E quem sabe, no campo das decisões, Obama possa re-introduzir o multilateralismo consentido, de tal modo que a potência primeira do mundo termine por aceitar boas sugestões dos demais que vão no sentido de suas opções. O que certamente poderá amenizar as vastas emoções explodindo no meio de tantos pensamentos imperfeitos.
domingo, março 29, 2009
AIG repassou dinheiro aos bancos
Por que a AG não quebrou? Porque colocava risco sistêmico. Verdadeiro. Por que os risco sistêmico? Por conta da sua interação em contratos de CDS com bancos norte-americanos e estrangeiros e também com outras seguradoras.
Através dos contratos de CDS, o dinheiro público colocado no mega-resgate à AIG foi parar nos bancos norte-americanos e estaria dando suporte ao anunciado "lucro" dos bancos no primeiro trimestre. A grita vai ser gigantesca nos EUA quando essa história ganhar a grande imprensa. Vale a pena ler a postagem de um trader sobre o assunto, publicada no blog 'Zero Hedge".
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Intervenção "branca" na GM
A GM, a pedido do governos dos EUA, decidiu trocar seu principal executivo, Richard Wagoner, à frente da empresa desde 2000. O anúncio ocorreu às vésperas do anúcio do Plano de Resgate automotivo nos EUA, marcado para amanhã. Em 30 dias empresa poderá entrar em concordata.
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Livro coloca Reagan como um dos culpados pela crise
A busca pelos culpados pela crise começa a se aproximar um pouco mais da realidade. Aos poucos os norte-americanos "comuns" começam se dar conta da fraude a que foram submetidos após os anos 1980.
Um exemplo disso é o livro-ataque às políticas do ex-presidente Reagan, impensável faz dois anos. Reagan é tido como um ícone, um herói americano, o fundador de uma nova América poderosa. O livro culpa Reagan pelas políticas de desregulamentação neoliberais que estão no centro da débâcle financeira atual. Não há dúvida de que a situação atual resulta das políticas promovidas nos anos 1980 e que esse filme tem mais vilões do que mocinhos...
Taleb: Myron Scholes é um charlatão
Em uma conferência promovida pelo Wall Street Journal contando com a presença de Geithner, Scholes e os principais CEOs de Wall Street, atacou outra vez. Disse que Myron Scholes, o homem que criou juntamente com Stanley Black a fórmula de cálculo de opções, é um "charlatão do risco, que quebrou duas vezes seus fundos de investimento".
E disse que o rpincipal problema para resolver a crise "é que o ninguém enteneu ainda qual é o problema". Para ele, o Plano Geithner é "mais alavancagem em uma crise causada pelo excesso de alavancagem". É uma visão limitada sobre o que é a crise global, mas essa é uma das facetas do problema.
Enquanto desce a estrela do nobelizado Scholes, outro prêmio Nobel ganha destaque. Krugman é hoje temido pela elite norte-americana por suas posições quanto ao estado atual da economia, seu ataque frontal ao Plano Geithner e o que pode ocorrer no futuro (Krugman vê possiilidade de uma longa eetagnação econômica). O clima é de "ele deve estar errado, ms e se ele tiver razão"?
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Domingo, 29 de março de 2009
CHEQUE NOS DONOS DO CAPITAL
Por Enéas de Souza
O chão de ferro
A economia mundial vai fazendo a roda da descida, basta ver sobretudo as quedas dos produtos industriais. Há uma dupla demanda no mundo: a de regular o sistema financeiro mundial e a do relançamento da economia produtiva. Naturalmente, o setor financeiro luta desesperadamente para que o pêndulo da política caia para a questão produtiva. Porque o Governo pode atuar imediatamente: investimentos públicos, retomada da produção pelo lado das obras públicas e também algum gasto social em saúde, educação, etc. Enquanto isso, temos um tempo para a resolução de problemas financeiros. Vejam nos Estados Unidos. O stress test talvez já tenha até definido o tamanho do buraco de capital no setor financeiro. E o provável é que este valor seja imenso. De um lado, para manter o setor privatizado terá que haver mercado para os títulos ilíquidos – o que parece impossível – ou novos aportes de capital – o que parece quase insanidade. No entanto, os talentosos homens das finanças e defensores do livre mercado, acham que se pode produzir um mercado que ressuscitará aos poucos com esses títulos podres. O que parece delírio de neoliberal.
O tamanduá da nacionalização
Enquanto isso, o tamanduá da nacionalização está chegando e está tomando a cena e os cérebros dos executivos cheios de medo e de angústia, que tentam desesperadamente fugir da questão. O tempo é problema. Ou seja, o sistema bancário pode ficar paralisado por muito tempo, pode ter chegado para os Estados Unidos o tempo das finanças zumbis, mas, estrategicamente, os Estados Unidos não podem ficar numa posição à la Japão, anos e anos adormecido. Já a solução Suécia - nacionalizar, por um período - muitos economistas, financistas, congressistas e o próprio governo acham que esta experiência foi a de um país muito pequeno e não poderia servir de exemplo aos americanos. Vendo amplamente, o que se afigura é a de uma questão complexa: se a nacionalização vier, teremos que ver o custo para o Tesouro, a liquidação dos acionistas, a exclusão dos experimentados (sic!) dirigentes atuais, etc. E não ficamos só nestes pontos, esta questão culmina no seguinte passo: a nacionalização terá que fatalmente substituir a antiga administração por uma nova. Os executivos e os acionistas dos bancos dizem que não existe gente com o conhecimento e a experiência do setor como eles; alguns defensores da nacionalização dizem que sim, que Wall Streeet está cheio de administradores aposentados e competentes e que estariam disponíveis para tal empreendimento. Tudo isso dá um grau de incerteza que, como o vento, balança o que fazer.
O futuro é irmão da confiança?
Enquanto esta luta fica nesta indecisão entre escolher A ou B, estrategicamente os Estados Unidos, como nação, terão um certo tempo, mas não muito, para decidir sobre a questão, porque o que está em jogo é a sua liderança na realidade mundial, tanto econômica quanto politicamente. Veremos uma faceta desse embate no dia 2 de abril, em Londres, quando a discussão vai se instalar sobre as mesas de reunião. E de um modo ou de outro, e em todos os níveis, os americanos vão ser questionados sobre o seu futuro papel. E um dos aspectos fundamentais será a necessidade de regular as finanças. Naturalmente que eles vão ouvir e fazer só o que quiserem; têm poder para isso. Mas está em causa a confiança do mundo na sua liderança. E talvez seja por isso que a idéia do relançamento da demanda funcione como uma proposta e como uma pausa dinâmica para ganhar tempo na resolução do que será o sistema financeiro. (Em parêntese é bom dizer que a idéia do relançamento agradará ao Brasil).
O galo das trevas
Apenas que relançar a demanda é como cortar uma fruta – uma maçã, por exemplo – e comer apenas uma metade. É preciso, então, responder, ao próprio Estados Unidos e ao mundo, com um projeto financeiro para atenuar a crise. E este projeto não existe, salvo esse frágil Plano Geithner. Por isso, há que, em algum momento, enfrentar a besta fera: os bancos estão quebrados. E sobre esse ponto, não nos enganemos, vai haver uma boa pressão. Claro, Obama saberá medir o peso das insinuações, das sugestões, das ameaças veladas, etc. Ele já tem uma idéia do que o Tesouro pode fazer, mas também do que pensam os dirigentes dos grandes bancos. Novos elementos estarão à disposição dele, agora, em Londres, de parceiros e adversários estratégicos. Mas ele, os políticos, os funcionários nacionais e internacionais e os banqueiros sabem: há uma coisa que encurta: o tempo das decisões liberais, o tempo do mercado livre. E surge avultadamente a presença do Estado e, quase entrando em cena, um rosto aparentemente clandestino, que já está se apresentando como resposta ao problema: a nacionalização. E aí o lance se complica; porque vai ter que haver a substituição de acionistas que perderam e dos executivos incompetentes por novos donos e outros dirigentes. Isso seria um passo à frente, todavia, que muitos temem que seja um passo na semi-escuridão. A pergunta é mais forte: Obama, no meio destas pressões e contrapressões, dará este passo? O perigo é que a pausa dinâmica se torne confissão de imobilidade. E a imobilidade nada mais é do que a expressão de uma luta social ainda indefinida.
CHEQUE NOS DONOS DO CAPITAL
Por Enéas de Souza
O chão de ferro
A economia mundial vai fazendo a roda da descida, basta ver sobretudo as quedas dos produtos industriais. Há uma dupla demanda no mundo: a de regular o sistema financeiro mundial e a do relançamento da economia produtiva. Naturalmente, o setor financeiro luta desesperadamente para que o pêndulo da política caia para a questão produtiva. Porque o Governo pode atuar imediatamente: investimentos públicos, retomada da produção pelo lado das obras públicas e também algum gasto social em saúde, educação, etc. Enquanto isso, temos um tempo para a resolução de problemas financeiros. Vejam nos Estados Unidos. O stress test talvez já tenha até definido o tamanho do buraco de capital no setor financeiro. E o provável é que este valor seja imenso. De um lado, para manter o setor privatizado terá que haver mercado para os títulos ilíquidos – o que parece impossível – ou novos aportes de capital – o que parece quase insanidade. No entanto, os talentosos homens das finanças e defensores do livre mercado, acham que se pode produzir um mercado que ressuscitará aos poucos com esses títulos podres. O que parece delírio de neoliberal.
O tamanduá da nacionalização
Enquanto isso, o tamanduá da nacionalização está chegando e está tomando a cena e os cérebros dos executivos cheios de medo e de angústia, que tentam desesperadamente fugir da questão. O tempo é problema. Ou seja, o sistema bancário pode ficar paralisado por muito tempo, pode ter chegado para os Estados Unidos o tempo das finanças zumbis, mas, estrategicamente, os Estados Unidos não podem ficar numa posição à la Japão, anos e anos adormecido. Já a solução Suécia - nacionalizar, por um período - muitos economistas, financistas, congressistas e o próprio governo acham que esta experiência foi a de um país muito pequeno e não poderia servir de exemplo aos americanos. Vendo amplamente, o que se afigura é a de uma questão complexa: se a nacionalização vier, teremos que ver o custo para o Tesouro, a liquidação dos acionistas, a exclusão dos experimentados (sic!) dirigentes atuais, etc. E não ficamos só nestes pontos, esta questão culmina no seguinte passo: a nacionalização terá que fatalmente substituir a antiga administração por uma nova. Os executivos e os acionistas dos bancos dizem que não existe gente com o conhecimento e a experiência do setor como eles; alguns defensores da nacionalização dizem que sim, que Wall Streeet está cheio de administradores aposentados e competentes e que estariam disponíveis para tal empreendimento. Tudo isso dá um grau de incerteza que, como o vento, balança o que fazer.
O futuro é irmão da confiança?
Enquanto esta luta fica nesta indecisão entre escolher A ou B, estrategicamente os Estados Unidos, como nação, terão um certo tempo, mas não muito, para decidir sobre a questão, porque o que está em jogo é a sua liderança na realidade mundial, tanto econômica quanto politicamente. Veremos uma faceta desse embate no dia 2 de abril, em Londres, quando a discussão vai se instalar sobre as mesas de reunião. E de um modo ou de outro, e em todos os níveis, os americanos vão ser questionados sobre o seu futuro papel. E um dos aspectos fundamentais será a necessidade de regular as finanças. Naturalmente que eles vão ouvir e fazer só o que quiserem; têm poder para isso. Mas está em causa a confiança do mundo na sua liderança. E talvez seja por isso que a idéia do relançamento da demanda funcione como uma proposta e como uma pausa dinâmica para ganhar tempo na resolução do que será o sistema financeiro. (Em parêntese é bom dizer que a idéia do relançamento agradará ao Brasil).
O galo das trevas
Apenas que relançar a demanda é como cortar uma fruta – uma maçã, por exemplo – e comer apenas uma metade. É preciso, então, responder, ao próprio Estados Unidos e ao mundo, com um projeto financeiro para atenuar a crise. E este projeto não existe, salvo esse frágil Plano Geithner. Por isso, há que, em algum momento, enfrentar a besta fera: os bancos estão quebrados. E sobre esse ponto, não nos enganemos, vai haver uma boa pressão. Claro, Obama saberá medir o peso das insinuações, das sugestões, das ameaças veladas, etc. Ele já tem uma idéia do que o Tesouro pode fazer, mas também do que pensam os dirigentes dos grandes bancos. Novos elementos estarão à disposição dele, agora, em Londres, de parceiros e adversários estratégicos. Mas ele, os políticos, os funcionários nacionais e internacionais e os banqueiros sabem: há uma coisa que encurta: o tempo das decisões liberais, o tempo do mercado livre. E surge avultadamente a presença do Estado e, quase entrando em cena, um rosto aparentemente clandestino, que já está se apresentando como resposta ao problema: a nacionalização. E aí o lance se complica; porque vai ter que haver a substituição de acionistas que perderam e dos executivos incompetentes por novos donos e outros dirigentes. Isso seria um passo à frente, todavia, que muitos temem que seja um passo na semi-escuridão. A pergunta é mais forte: Obama, no meio destas pressões e contrapressões, dará este passo? O perigo é que a pausa dinâmica se torne confissão de imobilidade. E a imobilidade nada mais é do que a expressão de uma luta social ainda indefinida.
sábado, março 28, 2009
Fortis: maior prejuízo da história da Holanda
O grupo belgo-holandês Fortis, com atuações na área financeira e de seguros, controlador do Banco ABN- Amro, apresentou maior prejuízo de uma corporação na história da Holanda até o momento. A instituição já foi dividida em duas pelo governo holandês, com uma parte sendo controlada pelo Estado. A outra, que ainda detém elevada participação no banco ABN, conjuntamente com o Banco Santander, apresentou prejuízo de 18,5 bilhões de euros em 2008. Esse prejuízo foi catalizado pelos writedowns de ativos do ABN, no valor de mais de 17 bilhões de euros... O banco se encontra "recapitalizado" pelo estado holandês.
E pensar que Santander, Fortis e Royal Bank of Scotland pagaram 70 bilhões de euros pelo controle do ABN em 2007!
Link relacionado:
Soros: previsões sombrias
George Soros é um crápula inteligente. Ele entendeu como muito poucos o comportamento das finanças, como nos mostra sua "teoria da reflexividade" exposta em seu último livro. Anti-comunista visceral, nunca caiu na esparrela de "mercados eficientes e auto-reguláveis" que contaram para os incautos em geral após a queda do muro de Berlim. E ganhou muito dinheiro com isso. naquele mesmo ano, atacou a libra em sua operação mais bem-sucedida, usando a mídia para esse fim. Mostrou que os governos estavam de joelhos frente aos especuladores.
E, depois, ao ver a extensão do dano causado, pediu maior controle e regulação ao final da década de 1990. Esta não veio, o desastre há muito anunciado se consumou a partir de 2007. Soros prevê agora ao The Times que a Inglaterra terá de passar o chapéu junto ao FMI. e que a reunião da próxima semana do G-20 será a última oportunidade para que se evite uma depressão mundial. Homem com grande capacidade de reunir e processar informações, de há muito no jogo financeiro, é bem provável que Soros esteja certo.
Link relacionado:
http://business.timesonline.co.uk/tol/business/industry_sectors/banking_and_finance/article5989746.ece
Sábado, 28 de março de 2009
ENCONTROS E DESENCONTROS
Por Enéas de Souza
Dá uma olhada na foto
Obama reuniu-se, na Casa Branca, com os banqueiros mais importantes dos Estados Unidos para discutir o Plano de Salvação dos Bancos. Quando essas figuras saíram da reunião e fizeram declarações, sempre vazias e sempre cheias de palavras ocas e vãs, a gente podia ver as caras mais sombrias e soturnas do planeta. Parece que Shakespeare pensava neles quando escreveu: “Words, words, words”. Há uma afirmação fantástica de Dimon do JP Morgan, em outro lugar, quando asseverou ter dito a altos funcionários do governo que parassem de demonizar Wall Street , porque eles estavam “ferindo o nosso país neste ponto”. E foi este mesmo Dimon que declarou na US Chambers of Commerce, da cidade de Washington, que “Quando ouço esta difamação das corporações da América eu realmente não entendo” Pois, o que as pessoas não entendem é como esses caras, que fizeram os negócios financeiros mais absurdos do mundo, que arrogantemente falaram que os bancos sabiam se autoregular, e que depois do imenso desastre que infelicitou a economia financeira e a economia produtiva americana e mundial, ainda acham que tem direito a não ouvir nenhuma crítica.
O demônio e o balão cativo
Pondo os episódios acima em âmbito maior, temos o seguinte: em primeiro lugar, Obama está dando ainda uma chance para os bancos saírem desta crise. Vai ser difícil porque há um buraco enorme nos balanços deles. O André mostrou aqui no Econobrasil uma tabela, na quinta-feira, onde, se ela é verdadeira, pelo menos 80%, de ativos podres, na melhor das hipóteses, ainda estão alojados nesses balanços. Em segundo lugar, embora Obama não tenha falado e Geithner seja contra a nacionalização dos bancos, este é o fantasma institucional que está ameaçando tanto os proprietários de ações como os executivos. Com a nacionalização, com a propriedade passando para o Estado, uma das primeiras medidas será, sem dúvida mudar, os dirigentes dessas entidades. As perguntas são: será que Obama está demonizando os coitados de Wall Street? Será que ele está difamando também as corporações da América?
Disque Um, se...Disque Dois, se...
Então leitor, você acredita que o Plano Geithner vai dar certo? Se os papéis bichados dentro dos bancos vão, segundo Roubini, a 3,6 trilhões, qual será o efeito deste Plano? No mínimo vai significar que é preciso fazer mais um ou dois ou três planos adicionais. Será que o governo, a população, os bancos acreditam que é possível continuar nesse jogo de chove e não molha? Jogo para ganhar tempo. Ganhar tempo para que? A questão continua a mesma: a resistência brutal dos bancos à nacionalização, o que significaria que a atual propriedade teria que mudar de mãos. Já se disse que os bancos são muito grandes para quebrar. Já se disse que os bancos são muito grandes para não quebrar. Mas, ninguém disse que os bancos são muito grandes para serem nacionalizados e depois, mudarem de donos. Qual é, astuto leitor, a sua aposta? Disque um, se você acha que Geithner vai salvar os bancos? E disque dois, se você acredita que os bancos serão nacionalizados?
ENCONTROS E DESENCONTROS
Por Enéas de Souza
Dá uma olhada na foto
Obama reuniu-se, na Casa Branca, com os banqueiros mais importantes dos Estados Unidos para discutir o Plano de Salvação dos Bancos. Quando essas figuras saíram da reunião e fizeram declarações, sempre vazias e sempre cheias de palavras ocas e vãs, a gente podia ver as caras mais sombrias e soturnas do planeta. Parece que Shakespeare pensava neles quando escreveu: “Words, words, words”. Há uma afirmação fantástica de Dimon do JP Morgan, em outro lugar, quando asseverou ter dito a altos funcionários do governo que parassem de demonizar Wall Street , porque eles estavam “ferindo o nosso país neste ponto”. E foi este mesmo Dimon que declarou na US Chambers of Commerce, da cidade de Washington, que “Quando ouço esta difamação das corporações da América eu realmente não entendo” Pois, o que as pessoas não entendem é como esses caras, que fizeram os negócios financeiros mais absurdos do mundo, que arrogantemente falaram que os bancos sabiam se autoregular, e que depois do imenso desastre que infelicitou a economia financeira e a economia produtiva americana e mundial, ainda acham que tem direito a não ouvir nenhuma crítica.
O demônio e o balão cativo
Pondo os episódios acima em âmbito maior, temos o seguinte: em primeiro lugar, Obama está dando ainda uma chance para os bancos saírem desta crise. Vai ser difícil porque há um buraco enorme nos balanços deles. O André mostrou aqui no Econobrasil uma tabela, na quinta-feira, onde, se ela é verdadeira, pelo menos 80%, de ativos podres, na melhor das hipóteses, ainda estão alojados nesses balanços. Em segundo lugar, embora Obama não tenha falado e Geithner seja contra a nacionalização dos bancos, este é o fantasma institucional que está ameaçando tanto os proprietários de ações como os executivos. Com a nacionalização, com a propriedade passando para o Estado, uma das primeiras medidas será, sem dúvida mudar, os dirigentes dessas entidades. As perguntas são: será que Obama está demonizando os coitados de Wall Street? Será que ele está difamando também as corporações da América?
Disque Um, se...Disque Dois, se...
Então leitor, você acredita que o Plano Geithner vai dar certo? Se os papéis bichados dentro dos bancos vão, segundo Roubini, a 3,6 trilhões, qual será o efeito deste Plano? No mínimo vai significar que é preciso fazer mais um ou dois ou três planos adicionais. Será que o governo, a população, os bancos acreditam que é possível continuar nesse jogo de chove e não molha? Jogo para ganhar tempo. Ganhar tempo para que? A questão continua a mesma: a resistência brutal dos bancos à nacionalização, o que significaria que a atual propriedade teria que mudar de mãos. Já se disse que os bancos são muito grandes para quebrar. Já se disse que os bancos são muito grandes para não quebrar. Mas, ninguém disse que os bancos são muito grandes para serem nacionalizados e depois, mudarem de donos. Qual é, astuto leitor, a sua aposta? Disque um, se você acha que Geithner vai salvar os bancos? E disque dois, se você acredita que os bancos serão nacionalizados?
sexta-feira, março 27, 2009
Produção industrial europeia: - 34% em janeiro
A situação da economia "real" segue deteriorando, liderada pela queda no comércio internacional e pela redução abrupa da produção industrial. A que da de 34% da produção industrial europeia em janeiro frente ao mesmomês de 2008 foi a pior registrada na série que se inicia em 1996...
Link relcionado:
Sexta-feira, 27 de março de 2009
O QUE FALTA
O QUE FALTA
AO ESTADO BRASILEIRO
Por Enéas de Souza
Da resposta do governo à questão do Estado
O Plano de Habitação Popular mostra, se olhado por um outro ângulo, além do mero plano, algo profundamente complexo da realidade brasileira. Vieram do fundo do mar alguns aspectos. O primeiro deles foi a resposta do governo à crise. Ela veio com a máxima rapidez possível, dentro de um Estado não preparado para enfrentar a crise com medidas governamentais. Mas, é exatamente, este outro aspecto, a condição deste Estado que precisamos analisar. Talvez seja, dando uma recuada, tomando uma distância, a necessidade de tratar o Estado em sua dimensão de Estado que temos que colocar em questão no lançamento deste plano.
Na crise, o Investimento do Estado é prioritário
Diante de uma crise econômica de um porte avantajado e que traz sobre o Brasil uma sombra de queda do PIB e um devorante aumento do desemprego, o que se pode dizer é que o governo tinha que fazer o que fez. O governo tinha que devolver à crise um plano (mesmo que às pressas) baseado em recursos fiscais. Pois, atuando exatamente sobre as obras públicas, ele acentuou a ênfase no investimento, e um investimento que gera demanda a outras áreas produtivas. Apesar de avanços tecnológicos nesta área da construção civil, esse Plano acelera enfaticamente um ponto social decisivo: o aumento substancial na área do emprego. E mais, esta oferta de imóveis se conecta com a procura de residências por parte de uma classe desfavorecida, o que permite assinalar um interesse desse Plano em favor da população.
O neo-liberalismo vesus uma política nacional
Mas, há aspectos graves a examinar. Em primeiro lugar, o governo do Lula se move num Estado com traços de liberalismo. Funcionou desde os anos 90 a idéia de que o Estado deveria se retirar da economia, deveria ser mínimo. O que isto provocou foi, sem dúvida, a liquidação de uma política econômica global, que envolvesse política industrial, política agrícola, política de trabalho, política de rendas, política científica tecnológica, política monetária, política financeira, política fiscal, política cambial, etc.
Esta política econômica global estaria subordinada a uma ação de coordenação e de planejamento. Os dois grandes nomes de uma estratégia nacional seriam tanto uma política macroeconômica, como um planejamento nacional, que poriam em andamento um projeto de nação e a execução deste projeto.
O entrelaçamento dos planejamentos
Naturalmente, que o planejamento é algo muito amplo e embora parta, no caso de um projeto de desenvolvimento econômico social, da área de economia, ele exige de forma eminente um entrelaçamento com outras áreas para que o planejamento econômico não desperdice recursos em função de miopias dos economistas diante de áreas específicas. Assim, uma política agrícola requer um planejamento envolvendo o planejamento econômico com diversas áreas da agronomia, da pesquisa bio-tecnológica, de formas de produção agrícola, etc. Por isso, quando se trata de uma área como a área de habitação, haveria a necessidade de aglutinar um planejamento econômico que esteja articulado com um planejamento urbano em seu sentido amplo (água, esgoto, luz, transporte, escolas, postos de saúde, materiais de construção, acessibilidade, conhecimento econômico e social dos moradores, etc.)
Com quem andou o nosso Estado
Temos que interpretar este fato do Plano de Habitação Popular dentro de uma visão mais ampla. Nela dá para sentir e compreender o que foi a devastação causada pelo neoliberalismo. Uma destruição do Estado brasileiro. Um Estado que era voltado para a liderança de um desenvolvimento econômico e social onde, além de uma política econômica e um planejamento, que – atenção! - servia à acumulação de capital, liderava a dinâmica econômica através de investimento públicos e estatais, ao mesmo tempo em que elaborava uma estratégia de solidificação de um Estado de bem-estar social subdesenvolvido, mas ainda assim Estado social. A derrota das elites dominantes brasileiras nos anos 80 levou a uma longa destruição desse Estado, via endividamento público, via privatização das empresas públicas, via liberalização do comércio externo e via liberalização dos fluxos de capitais. E, como inversamente a transmutação da água em vinho, o Estado desenvolvimentista tornou-se um Estado financeiro. O que logicamente afetou a população nativa como “um mecanismo de desastre”, na palavra de Fernando Pessoa. Este processo terminou por desenvolver um cuidado do Estado apenas com uma política econômica muito restrita. E levou em conta somente as políticas monetária, cambial, financeira e fiscal no nível macro para que a financeirização da economia fosse plenamente um sucesso. Todas as demais políticas da área econômica foram rebaixadas, e se tornaram funções de decisões de cunho microeconômico. Como resultado final, o governo do momento neoliberal deixou de lado qualquer planejamento macro, de qualquer ordem.
Sobras e demolição do banquete neoliberal
Felizmente sobrou alguma coisa: a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, o BNDES, alguma institucionalização das normas trabalhistas, de ações da previdência, etc. Mas outras áreas sucumbiram, geralmente áreas ligadas ao planejamento urbano. Bem, o importante é perceber o que foi a devastação provocada pela financeirização do mundo: suspensão da ação do Estado como Estado a partir da hegemonia fantástica do Ministério da Fazenda e do Banco Central sobre o Estado e sobre o país. No final do governo de FHC e mesmo no primeiro governo Lula, chegamos a ter a hegemonia absoluta do Banco Central no comando de uma economia de acumulação financeira. Ou seja, constitui-se um Estado financeiro, afastado de uma política e de uma estratégia nacional, azeitando-se para uma festa de ativos privados e públicos, que obviamente só precisava de estabilidade de preços, de controle fiscal e de câmbio flexível. O resultado foi a demolição da política econômica unitária e do planejamento nacional, desarticulando política, economia e sociedade.
A economia e a sociedade não voltam para trás
Ou seja, o que é preciso é retomar um Estado nacional que promulgue uma economia de acumulação produtiva. Mas, vejam os leitores, o que estamos propugnando aqui não é uma volta ao desenvolvimentismo. Ao contrário daqueles que achavam que a história tinha terminado, ela não acabou. E, mais importante, ela não volta para trás. O objetivo é buscar um Estado que desenvolva a economia e a sociedade integrando-se na economia mundial, numa nova economia a vir depois da atual tempestade financeira e produtiva do capitalismo. Há que buscar uma economia de acumulação produtiva, sob a liderança da dinâmica econômica feita pelos investimentos públicos e estatais, acoplados com capitais nacionais e internacionais. Porém dentro de uma política e um projeto nacional, que recupere uma política econômica global e um planejamento econômico em conexão com os mais diversos planejamentos. Ou seja, temos que reformular o Estado, deslocando o Banco Central de sua posição no mínimo autoritária, se não ditatorial; ele tem que ser um instrumento do desenvolvimento econômico e social, e não instrumento de acumulação das finanças. O Estado precisa existir para toda a sociedade.
Por Enéas de Souza
Da resposta do governo à questão do Estado
O Plano de Habitação Popular mostra, se olhado por um outro ângulo, além do mero plano, algo profundamente complexo da realidade brasileira. Vieram do fundo do mar alguns aspectos. O primeiro deles foi a resposta do governo à crise. Ela veio com a máxima rapidez possível, dentro de um Estado não preparado para enfrentar a crise com medidas governamentais. Mas, é exatamente, este outro aspecto, a condição deste Estado que precisamos analisar. Talvez seja, dando uma recuada, tomando uma distância, a necessidade de tratar o Estado em sua dimensão de Estado que temos que colocar em questão no lançamento deste plano.
Na crise, o Investimento do Estado é prioritário
Diante de uma crise econômica de um porte avantajado e que traz sobre o Brasil uma sombra de queda do PIB e um devorante aumento do desemprego, o que se pode dizer é que o governo tinha que fazer o que fez. O governo tinha que devolver à crise um plano (mesmo que às pressas) baseado em recursos fiscais. Pois, atuando exatamente sobre as obras públicas, ele acentuou a ênfase no investimento, e um investimento que gera demanda a outras áreas produtivas. Apesar de avanços tecnológicos nesta área da construção civil, esse Plano acelera enfaticamente um ponto social decisivo: o aumento substancial na área do emprego. E mais, esta oferta de imóveis se conecta com a procura de residências por parte de uma classe desfavorecida, o que permite assinalar um interesse desse Plano em favor da população.
O neo-liberalismo vesus uma política nacional
Mas, há aspectos graves a examinar. Em primeiro lugar, o governo do Lula se move num Estado com traços de liberalismo. Funcionou desde os anos 90 a idéia de que o Estado deveria se retirar da economia, deveria ser mínimo. O que isto provocou foi, sem dúvida, a liquidação de uma política econômica global, que envolvesse política industrial, política agrícola, política de trabalho, política de rendas, política científica tecnológica, política monetária, política financeira, política fiscal, política cambial, etc.
Esta política econômica global estaria subordinada a uma ação de coordenação e de planejamento. Os dois grandes nomes de uma estratégia nacional seriam tanto uma política macroeconômica, como um planejamento nacional, que poriam em andamento um projeto de nação e a execução deste projeto.
O entrelaçamento dos planejamentos
Naturalmente, que o planejamento é algo muito amplo e embora parta, no caso de um projeto de desenvolvimento econômico social, da área de economia, ele exige de forma eminente um entrelaçamento com outras áreas para que o planejamento econômico não desperdice recursos em função de miopias dos economistas diante de áreas específicas. Assim, uma política agrícola requer um planejamento envolvendo o planejamento econômico com diversas áreas da agronomia, da pesquisa bio-tecnológica, de formas de produção agrícola, etc. Por isso, quando se trata de uma área como a área de habitação, haveria a necessidade de aglutinar um planejamento econômico que esteja articulado com um planejamento urbano em seu sentido amplo (água, esgoto, luz, transporte, escolas, postos de saúde, materiais de construção, acessibilidade, conhecimento econômico e social dos moradores, etc.)
Com quem andou o nosso Estado
Temos que interpretar este fato do Plano de Habitação Popular dentro de uma visão mais ampla. Nela dá para sentir e compreender o que foi a devastação causada pelo neoliberalismo. Uma destruição do Estado brasileiro. Um Estado que era voltado para a liderança de um desenvolvimento econômico e social onde, além de uma política econômica e um planejamento, que – atenção! - servia à acumulação de capital, liderava a dinâmica econômica através de investimento públicos e estatais, ao mesmo tempo em que elaborava uma estratégia de solidificação de um Estado de bem-estar social subdesenvolvido, mas ainda assim Estado social. A derrota das elites dominantes brasileiras nos anos 80 levou a uma longa destruição desse Estado, via endividamento público, via privatização das empresas públicas, via liberalização do comércio externo e via liberalização dos fluxos de capitais. E, como inversamente a transmutação da água em vinho, o Estado desenvolvimentista tornou-se um Estado financeiro. O que logicamente afetou a população nativa como “um mecanismo de desastre”, na palavra de Fernando Pessoa. Este processo terminou por desenvolver um cuidado do Estado apenas com uma política econômica muito restrita. E levou em conta somente as políticas monetária, cambial, financeira e fiscal no nível macro para que a financeirização da economia fosse plenamente um sucesso. Todas as demais políticas da área econômica foram rebaixadas, e se tornaram funções de decisões de cunho microeconômico. Como resultado final, o governo do momento neoliberal deixou de lado qualquer planejamento macro, de qualquer ordem.
Sobras e demolição do banquete neoliberal
Felizmente sobrou alguma coisa: a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, o BNDES, alguma institucionalização das normas trabalhistas, de ações da previdência, etc. Mas outras áreas sucumbiram, geralmente áreas ligadas ao planejamento urbano. Bem, o importante é perceber o que foi a devastação provocada pela financeirização do mundo: suspensão da ação do Estado como Estado a partir da hegemonia fantástica do Ministério da Fazenda e do Banco Central sobre o Estado e sobre o país. No final do governo de FHC e mesmo no primeiro governo Lula, chegamos a ter a hegemonia absoluta do Banco Central no comando de uma economia de acumulação financeira. Ou seja, constitui-se um Estado financeiro, afastado de uma política e de uma estratégia nacional, azeitando-se para uma festa de ativos privados e públicos, que obviamente só precisava de estabilidade de preços, de controle fiscal e de câmbio flexível. O resultado foi a demolição da política econômica unitária e do planejamento nacional, desarticulando política, economia e sociedade.
A economia e a sociedade não voltam para trás
Ou seja, o que é preciso é retomar um Estado nacional que promulgue uma economia de acumulação produtiva. Mas, vejam os leitores, o que estamos propugnando aqui não é uma volta ao desenvolvimentismo. Ao contrário daqueles que achavam que a história tinha terminado, ela não acabou. E, mais importante, ela não volta para trás. O objetivo é buscar um Estado que desenvolva a economia e a sociedade integrando-se na economia mundial, numa nova economia a vir depois da atual tempestade financeira e produtiva do capitalismo. Há que buscar uma economia de acumulação produtiva, sob a liderança da dinâmica econômica feita pelos investimentos públicos e estatais, acoplados com capitais nacionais e internacionais. Porém dentro de uma política e um projeto nacional, que recupere uma política econômica global e um planejamento econômico em conexão com os mais diversos planejamentos. Ou seja, temos que reformular o Estado, deslocando o Banco Central de sua posição no mínimo autoritária, se não ditatorial; ele tem que ser um instrumento do desenvolvimento econômico e social, e não instrumento de acumulação das finanças. O Estado precisa existir para toda a sociedade.
quinta-feira, março 26, 2009
Buiter: falha extraordinária da governança corporativa
Buiter reconhece: mais do que incompetência, houve fraude. E muita. E é por isso que cada vez mais gente está revoltada com os banqueiros e outras figuras importantes da "indústria financeira". E hoje mais um esquema Ponzi caribenho envolvendo cerca de US$ 65 milhões foi desmantelado...
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Hipotecas comerciais são problema... outros títulos securitizados também
Faz algum tempo que eu venho avisando: a perda de valor dos títulos que têm por base as hipotecas comerciais vai trazer novos prejuízos aos bancos norte-americanos. Bom, G. Soros também acha. Não sei se é uma boa companhia dado todas as sacanagens que ele já fez na vida, mas ele entende bastante do funcionamento do sistema financeiro...
Segundo o Wall Street Journal, mais de 700 bancos devem falir devido ao colapso das hipotecas comerciais. Estas estão no balanço dos bancos praticamente com valor inalterado até o momento. Aliás, a maior parte dos papéis está marcada no balanço muito acima do valor de "mercado", hoje em torno dos 30% do valor de face... Isso complica sobremaneira a execução do Plano Geithner e nos promete maiores probelmas durante oa no para o balanço dos bancos.
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Desmprego nos EUA atinge aproximadamente 15% da força de trabalho
Visto em uma perspectiva mais ampla, o desemprego nos EUA está atingindo cerca de 15% da força de trabalho. Para esse número, temos de considerar um total de cerca de 8 milhões de trabalhadores para os quais está sendo disponibilizado algum tipo de seguro-desemprego, mais 4 milhões de desempregados que não estão recebendo o auxílio, mais aqueles 2 milhões que não estão encorajados a procurar emprego, mais 8,4 milhões de trabalhadores empregados em tempo parcial e em trabalho precário... e o que é pior: esse número vem aumentando em um ritmo bastante rápido.
Aqui, definitivamente, o fundo do poço ainda não chegou.
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Quinta-feira, 26 de março de 2009
GEITHNER: TEMPESTADE
SOBRE O DÓLAR
Por Enéas de Souza
Quis dar uma de que não é a dele
A política é tragédia e é comédia, mas a economia muitas vezes é comédia pastelão. Agora, quem deu uma do antigo cinema foi Tim Geithner, concorrendo com o Gordo e o Magro e com os 3 Patetas.. Diante de uma proposta chinesa de mudar a moeda de reserva do dólar para o Direito Especial de Saque (DES), o secretário do Tesouro americano quis dar uma de conciliador, de negociador, de hábil diplomata, e disse que o tema poderia ser discutido, debatido, conversado. Ora, para quem está com problemas para resolver um sistema financeiro incroado, para quem faz parte da maior nação e da maior economia do mundo, fazer uma frase desta, mostra fraqueza, faz um gesto tíbio e exibe um erro econômico e político de grandes proporções.
O que Geithner parecia não saber
A questão da moeda é uma coisa séria, Parece que o secretário do Tesouro Americano não sabia. Considere o leitor o dólar como moeda mundial. Ela, em verdade, é uma moeda financeira, começou a funcionar depois da liquidação do acordo de Bretton Woods, quando Nixon suspendeu o padrão dólar-ouro (1971). Desta suspensão surgiu um novo dólar. Em 1979, que Volker chamou de dólar forte, na verdade uma moeda financeira baseada em dois fatores: (a) a taxa de juros do FED; e (b) os títulos do Tesouro Americano valorizados a partir desta taxa. É, portanto, a combinação destes dois elementos que dão sustentação ao dólar na função decisiva da moeda, que é a função monetária de reserva de valor. Uma moeda tem duas outras funções, a de medida de valores e de circulação das mercadorias. Qualquer moeda pode cumprir estas funções. Mas, a função de reserva de valor na economia mundial, no momento, somente o dólar é capaz. Porque:? Porque esta moeda é uma moeda garantida pelo Estado, Um Estado comum? Não! O Estado da maior economia do mundo, o Estado que tem o maior poder político do planeta, o Estado que possui o maior poder militar da nossa época. É este poder estatal dos Estados Unidos que garante a terceira função da moeda, a de reserva de valor.
(E é isto que Geithner parecia ter esquecido ou não saber no encontro de ontem do Council of Foreign Relations.)
Essa foi aquela do se colar, colou
A China jogando para proteger suas reservas, pois o dólar pode cair diante das outras moedas, por qualquer razão nesta crise, lançou a idéia de que a moeda mundial de reserva deveria ser o Direito Especial de Saque. E isto porque? Porque a China está pendurada excessivamente no dólar, o que significa neste instante que sendo o maior credor dos Estados Unidos ela é candidata a sofrer mais que todas as nações com eventuais desvalorizações da moeda americana. No limite, poderá sofrer igualmente o maior calote, no caso de uma desvalorização total. Então, a China percebe que se de um lado ela tem um certo poder de ameaça sobre os Estados Unidos, por outro lado, está na mão deles, basta os americanos deixarem o dólar se erodir.
Ora, para balizar na crise americana e mundial o jogo monetário-financeiro, para ter alguma vantagem nas discussões do G-20, ela lançou essa proposta. Algo apenas para dizer: olha dêem uma olhada em nós. Era apenas uma pedra, um peão sem quase nenhuma importância no jogo de xadrez do poder internacional, apenas para dar alguma calibragem nos americanos, construir um argumento para dar alguma vantagem em alguma disputa política e econômica com os Estados Unidos. Uma observação para nenhum secretário do Tesouro americano realmente escutar e responder. Ele poderia escutar e deveria continuar falando de outra coisa. Pois, o Geithner acreditou. Ouviu e respondeu! Esta foi de amador: em seguida o dólar perdeu valor para o yen, para o euro, para a libra nos mercados de câmbio. Certamente o leitor sabe, todo mundo sabe, que poder é poder, e os americanos não vão deixar que o dólar seja desbancado, mesmo porque não tem nenhuma moeda capaz de ser substituta. Porque, hoje para ter moeda, como já dissemos, tem que ter Estado, tem que ter Tesouro (a Europa, por exemplo, não tem), tem que ter Banco Central, tem que ter poder econômico, tem que ter poder político, tem que ter poder militar. Esta hipótese do DES se desmancha só no seguinte: onde está o Estado atrás do DES? Quem vai garanti-lo? Que Tesouro? O FMI é um órgão para-estatal internacional que só será o emissor do DES com poder de ser reserva de valor mundial, só e somente só, se os Estados Unidos mandarem integralmente no FMI. Os antigos, como Volker, diriam: esta do Geithner foi de pixote.
O Obama tomou um golo contra
GEITHNER: TEMPESTADE
SOBRE O DÓLAR
Por Enéas de Souza
Quis dar uma de que não é a dele
A política é tragédia e é comédia, mas a economia muitas vezes é comédia pastelão. Agora, quem deu uma do antigo cinema foi Tim Geithner, concorrendo com o Gordo e o Magro e com os 3 Patetas.. Diante de uma proposta chinesa de mudar a moeda de reserva do dólar para o Direito Especial de Saque (DES), o secretário do Tesouro americano quis dar uma de conciliador, de negociador, de hábil diplomata, e disse que o tema poderia ser discutido, debatido, conversado. Ora, para quem está com problemas para resolver um sistema financeiro incroado, para quem faz parte da maior nação e da maior economia do mundo, fazer uma frase desta, mostra fraqueza, faz um gesto tíbio e exibe um erro econômico e político de grandes proporções.
O que Geithner parecia não saber
A questão da moeda é uma coisa séria, Parece que o secretário do Tesouro Americano não sabia. Considere o leitor o dólar como moeda mundial. Ela, em verdade, é uma moeda financeira, começou a funcionar depois da liquidação do acordo de Bretton Woods, quando Nixon suspendeu o padrão dólar-ouro (1971). Desta suspensão surgiu um novo dólar. Em 1979, que Volker chamou de dólar forte, na verdade uma moeda financeira baseada em dois fatores: (a) a taxa de juros do FED; e (b) os títulos do Tesouro Americano valorizados a partir desta taxa. É, portanto, a combinação destes dois elementos que dão sustentação ao dólar na função decisiva da moeda, que é a função monetária de reserva de valor. Uma moeda tem duas outras funções, a de medida de valores e de circulação das mercadorias. Qualquer moeda pode cumprir estas funções. Mas, a função de reserva de valor na economia mundial, no momento, somente o dólar é capaz. Porque:? Porque esta moeda é uma moeda garantida pelo Estado, Um Estado comum? Não! O Estado da maior economia do mundo, o Estado que tem o maior poder político do planeta, o Estado que possui o maior poder militar da nossa época. É este poder estatal dos Estados Unidos que garante a terceira função da moeda, a de reserva de valor.
(E é isto que Geithner parecia ter esquecido ou não saber no encontro de ontem do Council of Foreign Relations.)
Essa foi aquela do se colar, colou
A China jogando para proteger suas reservas, pois o dólar pode cair diante das outras moedas, por qualquer razão nesta crise, lançou a idéia de que a moeda mundial de reserva deveria ser o Direito Especial de Saque. E isto porque? Porque a China está pendurada excessivamente no dólar, o que significa neste instante que sendo o maior credor dos Estados Unidos ela é candidata a sofrer mais que todas as nações com eventuais desvalorizações da moeda americana. No limite, poderá sofrer igualmente o maior calote, no caso de uma desvalorização total. Então, a China percebe que se de um lado ela tem um certo poder de ameaça sobre os Estados Unidos, por outro lado, está na mão deles, basta os americanos deixarem o dólar se erodir.
Ora, para balizar na crise americana e mundial o jogo monetário-financeiro, para ter alguma vantagem nas discussões do G-20, ela lançou essa proposta. Algo apenas para dizer: olha dêem uma olhada em nós. Era apenas uma pedra, um peão sem quase nenhuma importância no jogo de xadrez do poder internacional, apenas para dar alguma calibragem nos americanos, construir um argumento para dar alguma vantagem em alguma disputa política e econômica com os Estados Unidos. Uma observação para nenhum secretário do Tesouro americano realmente escutar e responder. Ele poderia escutar e deveria continuar falando de outra coisa. Pois, o Geithner acreditou. Ouviu e respondeu! Esta foi de amador: em seguida o dólar perdeu valor para o yen, para o euro, para a libra nos mercados de câmbio. Certamente o leitor sabe, todo mundo sabe, que poder é poder, e os americanos não vão deixar que o dólar seja desbancado, mesmo porque não tem nenhuma moeda capaz de ser substituta. Porque, hoje para ter moeda, como já dissemos, tem que ter Estado, tem que ter Tesouro (a Europa, por exemplo, não tem), tem que ter Banco Central, tem que ter poder econômico, tem que ter poder político, tem que ter poder militar. Esta hipótese do DES se desmancha só no seguinte: onde está o Estado atrás do DES? Quem vai garanti-lo? Que Tesouro? O FMI é um órgão para-estatal internacional que só será o emissor do DES com poder de ser reserva de valor mundial, só e somente só, se os Estados Unidos mandarem integralmente no FMI. Os antigos, como Volker, diriam: esta do Geithner foi de pixote.
O Obama tomou um golo contra
Quando o Obama estava preparando o jogo do G-20 para relançar a liderança americana, que é estrutural, mas tentando adicionar um açúcar nas relações internacionais, para fazer um retorno do que um dia chamei do multilateralismo consentido, o ponta direita dos Estados Unidos faz como o Oséas, aquele centro-avante do Palmeiras, time do Belluzo, e joga a bola contra as suas próprias redes. Golo contra do Geithner. O Otto Preminger fez um filme maravilhoso sobre a política americana, válido até hoje, que se chamou “Tempestade sobre o Washington”. Pois, foi isso que Geithner fez. Ou seja, parece que ele não precisa do Lawrence Summers para azará-lo, se imola sozinho. Quem sabe Geithner é um homem-bomba. As probabilidades para ele voltar para o segundo tempo são poucas. Marc Thoma já previa: Geithner não agüenta até junho. Terá razão?
Será que Geithner pensa que a moeda é neutra?
Talvez Geithner seja daqueles que acreditam que a moeda é neutra, como uma infinidade de economistas do mainstream. Mas, acho que nem esses não fariam esta besteira de ontem.
quarta-feira, março 25, 2009
Gráficos da Crise: Vendas de imóveis novos - EUA
Hoje saiu o resultado da venda de imóveis novos para fevereiro nos EUA. Houve um incremento de 4,7% nas vendas sobre janeiro passado, já ajustados sazonalmente. A fábrica de boas novas entrou em ação e aquelas histórias do tipo "o pior já passou" foram contadas às centenas durante todo o dia hoje. Em realidade o resultado é muito ruim, bastante abaixo de fevereiro passado. é importante olhar com cuidado as notícias que vêm dos EUA... e as que vêm daqui também, rs...
Situação econômica japonesa segue deteriorando
Os resultados do comércio externo para o Japão em fevevereiro mostram que a economia continua em acentuada queda naquele paí. As importações caíram mais de 43% frente à fevereiro de 2008, mostrando que a demanda interna está fraquíssima... E a queda nas exportações é de 49% na mesma comparação! Vamos ver até onde a Ásia cai...
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Bank Bosses are Criminals
Tava demorando, mas tava previsto... Era evidente que nos países desenvolvidos os perdedores com as aventuras dos bancos não iam deixar a coisa passar assim.
Afinal, se eles vivem melhor por lá do que em outros lugares do mundo é porque historicamente ELES EXIGIRAM ISSO, TIRARAM ISSO NA MARRA, das classes dominantes deles, coisa que nós aqui nunca conseguimos/quisemos fazer... Nos EUA, aa AIG pede aos empregados que não mais se identifiquem como funcionários da firma, por medo de represálias. E na Inglaterra, surgiu um grupo, o Bank Bosses are Criminals, que "iniciou suas atividades" atacando a casa de Sir Fred Goodwin, o ex-presidente do Royal Bank of Scotland...
Parece que estão caindo na real da fraude a que foram submetidos nos últimos 30 anos...
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Hummmm... Bond market inicia deslocamento+ o Geithner bate bem?
O terror dos Bancos Centrais engajados em esquemas de quantitative easing (emissão monetária, mais simplesmente) iniciou a se maniefstar hoje: o governo britânico não conseguiu compradores suficientes para as L$ 1,75 bns. Apenas 1,67 bns de libras encontraram compradores. É um sinal preocupante para a política de quantitative easing iniciada faz três semanas pelo Banco Central Inglês, uma vez que o objetivo de baixar as taxas de juros pode iniciar a ser comprometido.
Nos EUA, a notícia do mercado de títulos púlbicos também não é alentadora. "Investidores" não s e mostraram muito confiantes em um leilão de notas do tesouro dos EUA de 5 anos e aumentaram as taxas de juros, mesmo após a compra de títulos do tesouro de 7 anos pelo Federal Resrve, a primeira desde os anos 1960. Ou seja, os "mercados" estão agindo na contramão das intenções dos bancos centrais e, caso esse deslocamento se intensifique, estará aberta a possibilidade de uma crise monetária de imensas proporções.
No mesmo sentido, as palavras de Geithner respondendo ao artigo postado no Banco Central da China de que o mundo deveria se preparar para terr uma nova moeda de reserva que não o dólar, foram simplesmente desastrosas. Geithner afirmou ao Council of Foreign Relations que essa era uma idéia "a ser apreciada". Vejam bem, eu nem havia postado essa ideia chinesa no blog por que pensei,"tá, mais uma manobra política retórica antes do G20". Geithner levou a sério! Segundo o Telegraph, Geithner "has shocked markets". O dólar caiu. E não é para menos. Depois se retratou, claro... mas o estrago está feito.
Obama, tira esse cara, agora, please, e faz um teste de sanidade mental nele...
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Quarta-feira, 25 de março de 2009
NAUFRÁGIO DO PLANO GEITHNER?
Por Enéas de Souza
Não quero trazer as aves do mau agouro para o cais da discussão. Lendo sobre o plano Geithner e lendo Builter, Krugman, etc., etc., todos nossos admirados colunistas (onde se incluí André Scherer, com a sua excelente síntese, na segunda feira), fico com uma idéia assustadora e intranqüila. No limite, no limite, este plano não vai funcionar. E poderá agravar em muito a situação do Estado, comprometendo a mobilidade do FED ou aumentando o endividamento do Tesouro. De qualquer forma, é preciso ver o seguinte: o problema americano no nível geral, não está contido no plano Geithner, ele requer outra coisa, terá que lidar com a solução da dupla superacumulação de capital, aquela da esfera financeira e aquela da esfera produtiva.
As finanças querem retornar ao mesmo
O que seria preciso fazer? O plano de Geithner teria que, fundamentalmente, retirar os ativos podres dos balanços e re-capitalizar os bancos, Num segundo momento, impedir que retornasse a securitização e que reaparecesse a criação infernal dos diversos produtos financeiros Sem esse impedimento não há hipótese de conexão com o setor produtivo, hoje em situação desesperada. Pois, quem iria emprestar, sem garantias especiais ou públicas, para esta combalida área? E há um terceiro ponto vital, controlar – e foi o que pediram Geithner e Bernanke ao Congresso – o “bank shadow system”, principalmente os famosos “Hedge funds”, coração da elasticidade do risco financeiro. Mas, é preciso dizer que este terceiro item não faz parte do Plano Geithner, mas está conjugado com ele, pois é um dos itens mais perturbadores do sistema.
Onde está o capital?
Na minha análise, cabe dizer, em primeiro lugar, independente das avaliações dos mecanismos do plano, cujos detalhes operacionais ainda não estão totalmente disponíveis, que o que importa é salientar que não há nenhuma hipótese de retirar todos os ativos podres, nem os maus ativos dos balanços dos bancos. Não há capital suficiente para tal. Na melhor das hipóteses, teríamos que continuar a pedir ao Congresso novos recursos para serem aplicados nesta aventura da erradicação. Todavia, continuo no ataque e ampliando os golpes: mesmo se tudo desse certo até aqui, há um dos mistérios mais complicados que não apareceu, oculto por um temor incrível, o caso do personagem CDS (Credit Default Swuaps). Todos os financistas acham uma bomba de explosão inimaginável, uma bomba sem previsão e sem provisão. Mas, o que me parece ainda tremendamente complicado: todo esse esquema não seria capaz de re-capitalizar os bancos de forma a poderem atuar completamente restaurados, inteiramente recauchutados.
O que está na alma do plano
Digo recauchutado, por uma única razão: o que está na alma deste plano é de novo a retomada do esquema da securitização, a retomada da possibilidade de um outro carrossel especulativo. Aqui chegamos ao ponto: a finanças tem um sentido definido no sistema capitalista, a sua natureza é a de uma flor especulativa. E como especulativa ela não vai querer nem que seja fortemente controlada, depois de ter chegado ao nível da auto-regulação, nem que seja posta a ferros para desamarrar o crédito para a produção. Isso só poderia acontecer se politicamente fizessem um vantajoso acordo ou fossem inteiramente derrotadas. O que, embora fragmentada e ferida, ela ainda não está fazendo, no circo da economia, o número do rastejar ou a prova da subordinação.
A prudência versus os indícios
Talvez fosse mais prudente da minha parte aguardar mais um tempo pra verificar e aprofundar os efeitos do plano Geithner. Mas, não vejo condições para que se altere o comportamento da esfera financeira, dada a situação atual. O que se pode esperar é que o plano possa, num primeiro momento, encontrar alguma temporária solução na órbita das finanças, mas os problemas dos títulos podres, todo mundo sabe, não serão eliminados. O rastro de pólvora dos CDS estará sempre à espreita para derrubar a frágil barreira de uma precária capitalização dos bancos. Longe, portanto, de uma solução para esfera em pauta. E não há, a meu ver, nenhuma hipótese, nesta fase dos acontecimentos, de que o crédito volte a fluir tranquilamente para o setor privado produtivo. Este é um dos indícios de que os problemas das instituições e dos ativos podres ainda estão muito críticos, já que como vimos Geithner e Bernake querem autorização para controlar um dos setores que está incontrolável, os hedge funds.
Ter consistência ou não ter?
Penso, a esta altura da música da ópera, que a administração Obama tem que ter um plano unitário e estratégico para a economia, envolvendo tanto o setor produtivo, como o setor financeiro. E se vermos o discurso de Obama, as atitudes de Geithner, de Lawrence Summers e de Bernanke, não enxergamos nenhuma visão e muito menos algum planejamento para uma solução de curto prazo do sistema financeiro americano. E os europeus ainda querem que haja um plano para a organização do sistema financeiro internacional. O G-20 vai ser só a reafirmação do comando americano sem que se saia para uma estratégia global. Talvez algumas medidas para enrolar mais a crise na crise e colocar no carro americano o combustível da pressa e da pressão. Como escrevi: se no nível do plano, muitos economistas saltam contra o mesmo, no nível teórico – e daí porque acho que esse é um plano decepcionante – não há consistência para os objetivos de eliminar os títulos tóxicos, de re-capitalizar os bancos e de retornar, para o primeiro plano da economia, o fundamental do desenvolvimento do capitalismo, o crédito. O fato é um só, as finanças como Narciso só acha bonito o que é dinheiro e ativo financeiro cujo rendimento esteja aberto ao infinito.
NAUFRÁGIO DO PLANO GEITHNER?
Por Enéas de Souza
Não quero trazer as aves do mau agouro para o cais da discussão. Lendo sobre o plano Geithner e lendo Builter, Krugman, etc., etc., todos nossos admirados colunistas (onde se incluí André Scherer, com a sua excelente síntese, na segunda feira), fico com uma idéia assustadora e intranqüila. No limite, no limite, este plano não vai funcionar. E poderá agravar em muito a situação do Estado, comprometendo a mobilidade do FED ou aumentando o endividamento do Tesouro. De qualquer forma, é preciso ver o seguinte: o problema americano no nível geral, não está contido no plano Geithner, ele requer outra coisa, terá que lidar com a solução da dupla superacumulação de capital, aquela da esfera financeira e aquela da esfera produtiva.
As finanças querem retornar ao mesmo
O que seria preciso fazer? O plano de Geithner teria que, fundamentalmente, retirar os ativos podres dos balanços e re-capitalizar os bancos, Num segundo momento, impedir que retornasse a securitização e que reaparecesse a criação infernal dos diversos produtos financeiros Sem esse impedimento não há hipótese de conexão com o setor produtivo, hoje em situação desesperada. Pois, quem iria emprestar, sem garantias especiais ou públicas, para esta combalida área? E há um terceiro ponto vital, controlar – e foi o que pediram Geithner e Bernanke ao Congresso – o “bank shadow system”, principalmente os famosos “Hedge funds”, coração da elasticidade do risco financeiro. Mas, é preciso dizer que este terceiro item não faz parte do Plano Geithner, mas está conjugado com ele, pois é um dos itens mais perturbadores do sistema.
Onde está o capital?
Na minha análise, cabe dizer, em primeiro lugar, independente das avaliações dos mecanismos do plano, cujos detalhes operacionais ainda não estão totalmente disponíveis, que o que importa é salientar que não há nenhuma hipótese de retirar todos os ativos podres, nem os maus ativos dos balanços dos bancos. Não há capital suficiente para tal. Na melhor das hipóteses, teríamos que continuar a pedir ao Congresso novos recursos para serem aplicados nesta aventura da erradicação. Todavia, continuo no ataque e ampliando os golpes: mesmo se tudo desse certo até aqui, há um dos mistérios mais complicados que não apareceu, oculto por um temor incrível, o caso do personagem CDS (Credit Default Swuaps). Todos os financistas acham uma bomba de explosão inimaginável, uma bomba sem previsão e sem provisão. Mas, o que me parece ainda tremendamente complicado: todo esse esquema não seria capaz de re-capitalizar os bancos de forma a poderem atuar completamente restaurados, inteiramente recauchutados.
O que está na alma do plano
Digo recauchutado, por uma única razão: o que está na alma deste plano é de novo a retomada do esquema da securitização, a retomada da possibilidade de um outro carrossel especulativo. Aqui chegamos ao ponto: a finanças tem um sentido definido no sistema capitalista, a sua natureza é a de uma flor especulativa. E como especulativa ela não vai querer nem que seja fortemente controlada, depois de ter chegado ao nível da auto-regulação, nem que seja posta a ferros para desamarrar o crédito para a produção. Isso só poderia acontecer se politicamente fizessem um vantajoso acordo ou fossem inteiramente derrotadas. O que, embora fragmentada e ferida, ela ainda não está fazendo, no circo da economia, o número do rastejar ou a prova da subordinação.
A prudência versus os indícios
Talvez fosse mais prudente da minha parte aguardar mais um tempo pra verificar e aprofundar os efeitos do plano Geithner. Mas, não vejo condições para que se altere o comportamento da esfera financeira, dada a situação atual. O que se pode esperar é que o plano possa, num primeiro momento, encontrar alguma temporária solução na órbita das finanças, mas os problemas dos títulos podres, todo mundo sabe, não serão eliminados. O rastro de pólvora dos CDS estará sempre à espreita para derrubar a frágil barreira de uma precária capitalização dos bancos. Longe, portanto, de uma solução para esfera em pauta. E não há, a meu ver, nenhuma hipótese, nesta fase dos acontecimentos, de que o crédito volte a fluir tranquilamente para o setor privado produtivo. Este é um dos indícios de que os problemas das instituições e dos ativos podres ainda estão muito críticos, já que como vimos Geithner e Bernake querem autorização para controlar um dos setores que está incontrolável, os hedge funds.
Ter consistência ou não ter?
Penso, a esta altura da música da ópera, que a administração Obama tem que ter um plano unitário e estratégico para a economia, envolvendo tanto o setor produtivo, como o setor financeiro. E se vermos o discurso de Obama, as atitudes de Geithner, de Lawrence Summers e de Bernanke, não enxergamos nenhuma visão e muito menos algum planejamento para uma solução de curto prazo do sistema financeiro americano. E os europeus ainda querem que haja um plano para a organização do sistema financeiro internacional. O G-20 vai ser só a reafirmação do comando americano sem que se saia para uma estratégia global. Talvez algumas medidas para enrolar mais a crise na crise e colocar no carro americano o combustível da pressa e da pressão. Como escrevi: se no nível do plano, muitos economistas saltam contra o mesmo, no nível teórico – e daí porque acho que esse é um plano decepcionante – não há consistência para os objetivos de eliminar os títulos tóxicos, de re-capitalizar os bancos e de retornar, para o primeiro plano da economia, o fundamental do desenvolvimento do capitalismo, o crédito. O fato é um só, as finanças como Narciso só acha bonito o que é dinheiro e ativo financeiro cujo rendimento esteja aberto ao infinito.
terça-feira, março 24, 2009
Bernanke quer poder sobre o shadow banking system
Bernanke pediu ao Congresso que amplie os poderes do FED de intervenção em qualquer instituição financeira que possa colocar em risco o sistema. Na prática, isso significa que o FED passará a supervisionar grandes fundos hedge, de private equity e seguradoras cuja falência represente elevado risco sistêmico.
Muito tarde. E quero mais detalhes para ver como isso será feito na prática.
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Martin Wolf: programa de Geithner é insuficiente
Martin Wolf está de novo assustado. Ele teme que o programa anunciado ontem, sendo insuficente para uma recapitalização do sistema bancário norte-americano, bloqueie as possibilidades de planos mais consistentes no futuro.
Segundo Wolf, é importante levar em conta que as condições políticas da presidência Obama se deterioram com os constantes fracassos e novos pedidos de ajuda ao Congresso do EUA. Isso também enfraquece a liderança norte-americana no G20, o que dificulta uma saída global para a crise. É interessante notar que Bill Gross, da PIMCO, empresa que irá participar do programa de Geithner, tem a mesma opinião: o plano é pequeno frente às necessidades dos bancos e a montanha de ativos tóxicos produzida na última farra financeira.
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Primeiro ministro tcheco é mais uma vítima da crise
A queda do gabinete tcheco pode complicar a posição da Europa na reunião do G20, uma vez que a República Tcheca está à frente da presidência rotativa da União Europeia. É mais uma vítima da crise econômica na região...
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Terça-feira, 24 de março de 2009
O MOVIMENTO ANTI-CRISE
Por Enéas de Souza
Trabalhadores na avenida, os blocos dos protestos anti-crise. Isto significa que estão de volta os movimentos da fração social dos assalariados. No primeiro momento, é uma tentativa não apenas de compreender a situação que está em curso, mas também deixar inscrito que os Estados devem reagir para defesa não apenas dos bancos e das empresas, mas também do setor que trabalha. Desde a queda da União Soviética e do triunfo avassalador do neo-liberalismo, a superioridade social, política e ideológica das finanças e da produção, do capital, era enorme, por uma razão muito simples, a economia crescia, o capital financeiro mandava, e sobretudo, esta fração social estava unida e tinha projeto. Um projeto de acumulação financeira. Até a produção atuava financeiramente, ou seja, o seu itinerário se orientava pela liderança do outro capital. Produzia sim, mas nas sobras de uma dinâmica calcada em títulos privados e públicos.
O fracasso gigantesco das finanças, com as derrubadas dos bancos de investimento, das Fannies e Freddies, da AIG, de bancos americanos e bancos europeus, etc., trouxe um vendaval nas sociedades, sobretudo mais avançadas do planeta. Vimos que as crises financeiras desde 97 foram chegando até o centro do mundo, deram um abalo em 2001/2002, mas vieram a explodir definitivamente agora em 2007/2008. Pois diante de toda a problemática financeira e produtiva desta crise, os trabalhadores começaram a fazer protestos. O que querem os trabalhadores? Os dos países avançados querem voltar às vantagens do Bem-Estar Social e os dos países mais atrasados, a começar a ter o que nunca tiveram. E vários sindicatos e a Confederação Sindical das Américas (CSA), além de sindicatos europeus, etc., querem investimento públicos voltados para o emprego, querem serviços públicos de qualidade, querem reforma do sistema financeiro, querem controle das remunerações dos executivos financeiros, querem financiamento público para projetos de desenvolvimento, querem garantia de trabalho, querem um Estado voltado para os problemas sociais, etc.
Ou seja, a roda da fortuna trouxe à rua os conflitos sociais. Os conflitos têm nesse momento uma definida clareza. Existem duas lógicas em movimento, uma de salvação dos bancos, de re-formatação do sistema financeiro, da tentativa de relançar a demanda, via Estado e outra, de defesa do emprego, melhoria dos serviços públicos: saúde, previdência, educação, etc. O que os observadores podem registrar é o retorno da política, da grande política social, aquela que organiza o Estado em direção a uma sociedade determinada. Entramos numa nova fase da luta social, há uma disputa que envolve uma nova estrutura de poder. As finanças que dominaram e comandaram uma estratégia de um modelo de acumulação financeira vão enfrentar tentativas de mudanças. É possível que se passe para um modelo de acumulação produtiva, mas para que tal ocorra, é necessário um rearranjo das posições estruturais das finanças, da produção e do trabalho.
O MOVIMENTO ANTI-CRISE
Por Enéas de Souza
Trabalhadores na avenida, os blocos dos protestos anti-crise. Isto significa que estão de volta os movimentos da fração social dos assalariados. No primeiro momento, é uma tentativa não apenas de compreender a situação que está em curso, mas também deixar inscrito que os Estados devem reagir para defesa não apenas dos bancos e das empresas, mas também do setor que trabalha. Desde a queda da União Soviética e do triunfo avassalador do neo-liberalismo, a superioridade social, política e ideológica das finanças e da produção, do capital, era enorme, por uma razão muito simples, a economia crescia, o capital financeiro mandava, e sobretudo, esta fração social estava unida e tinha projeto. Um projeto de acumulação financeira. Até a produção atuava financeiramente, ou seja, o seu itinerário se orientava pela liderança do outro capital. Produzia sim, mas nas sobras de uma dinâmica calcada em títulos privados e públicos.
O fracasso gigantesco das finanças, com as derrubadas dos bancos de investimento, das Fannies e Freddies, da AIG, de bancos americanos e bancos europeus, etc., trouxe um vendaval nas sociedades, sobretudo mais avançadas do planeta. Vimos que as crises financeiras desde 97 foram chegando até o centro do mundo, deram um abalo em 2001/2002, mas vieram a explodir definitivamente agora em 2007/2008. Pois diante de toda a problemática financeira e produtiva desta crise, os trabalhadores começaram a fazer protestos. O que querem os trabalhadores? Os dos países avançados querem voltar às vantagens do Bem-Estar Social e os dos países mais atrasados, a começar a ter o que nunca tiveram. E vários sindicatos e a Confederação Sindical das Américas (CSA), além de sindicatos europeus, etc., querem investimento públicos voltados para o emprego, querem serviços públicos de qualidade, querem reforma do sistema financeiro, querem controle das remunerações dos executivos financeiros, querem financiamento público para projetos de desenvolvimento, querem garantia de trabalho, querem um Estado voltado para os problemas sociais, etc.
Ou seja, a roda da fortuna trouxe à rua os conflitos sociais. Os conflitos têm nesse momento uma definida clareza. Existem duas lógicas em movimento, uma de salvação dos bancos, de re-formatação do sistema financeiro, da tentativa de relançar a demanda, via Estado e outra, de defesa do emprego, melhoria dos serviços públicos: saúde, previdência, educação, etc. O que os observadores podem registrar é o retorno da política, da grande política social, aquela que organiza o Estado em direção a uma sociedade determinada. Entramos numa nova fase da luta social, há uma disputa que envolve uma nova estrutura de poder. As finanças que dominaram e comandaram uma estratégia de um modelo de acumulação financeira vão enfrentar tentativas de mudanças. É possível que se passe para um modelo de acumulação produtiva, mas para que tal ocorra, é necessário um rearranjo das posições estruturais das finanças, da produção e do trabalho.
Telegraph também pensa que o problema da avaliação dos ativos tóxicos continua
A chave da questão é: por quanto? Bom, aí veremos se, e até que ponto, o Plano Geithner funciona... Isso sem contar com a possibilidade da "auto-oferta" para aumentar o valor dos títulos...
Essa fraude faria a AIG parecer coisa de amador...
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segunda-feira, março 23, 2009
FED se livra dos ativos do Bear/AIG
O FED repassou ao Tesouro os ativos que estavam no fundo Maiden Lane, constituído para auxiliar o JP a comprar o que restou do Bear... De quebra, também ativos comprados da AIG foram repassados ao tesouro. É bom lembrar que Geithner é ex-New York Fed...
Mais detalhes e significado em outra postagem posterior.
Mais detalhes e significado em outra postagem posterior.
O aumento da venda de imóveis usados nos EUA
Repercutiu bastante bem no "mercado" o aumento da venda de imóveis usados nos EUA em 5,1% fevereiro quando comparados `a janeiro de 2009 (com ajuste sazonal). Entretanto, mais da metade do resultado, que em números absolutos ainda é ligeiramente inferior ao obtido em fevereiro de 2008, refere-se à casa retomadas e que estão sendo vendidas aos investidores em lotes. Por outro lado, mesmo esse crescimento é inferior ao ritmo de colocação de novas unidades no mercado, o que faz com que o estoque de imóveis usados à venda esteja aumentando (fora a existência de um estoque-sombra de imóveis retomados ou por retomar que ainda não foram contabilizados). Isso explica a diferença entre as vendas de imóveis novos (em queda constante) e de imóveis usados, que aprestna uma aparente estabilização.
Investidores privados interessados em participar do Plano Geithner
O "mercado" aplaudiu efusivamente o Plano Geithner lançado hoje. Diversos grandes "investidores" privados como Blackrock, Carlyle e Pimco anunciaram a intenção de comprarem ativos podres em poder dos bancos em "parceria" com o FDIC e o Tesouro (uma parceria na qual o poder público fica responsável por 97% do valor dos ativos adquiridos...) .
Com a perspectiva de melhora do balanço dos bancos, as ações explodiram hoje em todo o mundo. Ainda é necessário mais detalhes quanto ao funcionamento efetivo dos fundos criados pelas parcerias público-privadas para podermos avaliar a extensão temporal dessa euforia. Cabe notar, entretanto, que vários problemas devem se interpor para que esse plano possa ser considerado como a "solução" para a crise financeira e sua extensão econômica (o próprio presidente Obama declarou que "o objetivo do plano é desbloquear o crédito"):
1) não fica claro se essa solução de "mercado" a partir de leilões de ativos tóxicos será suficiente para livrar os bancos de seus problemas, uma vez que os preços dos ativo serão a chave da questão;
2) a deterioração econômica encontra-se em pleno curso, o que faz com que as perspectivas para o preço de diversos ativos possa ser influenciada negativamente (refiro-me aqui à deterioração dos títulos baseados em hipotecas comerciais, cartões de crédito e, especialmente, oas créditos corporativos);
3) nessa conjuntura depressiva, será que o refinanciamento das dívidas passadas permitirá o relançamento da securitização de dívidas em escala necessária para "desbloquear" o crédito, como quer Obama?;
4) a incorporação de fundos hedge e de private equity ao esquema de salvamento dos bancos comerciais impõe novas dificuldades á regulação do shadow banking system, essencial para evitar novas catástrofes financeiras;
5) ainda não está clara a a forma (e o interesse) de impedir a criação de "fundos fantasma" patrocinados pelos bancos para jogarem o valor dos ativos para cima, o que retiraria os efetivos participantes do mercado;
6) os consumidores e empresas nos EUA estão, em larga medida, à beira da bancarrota dado seu excessivo endividamento e a dificuldade em refinanciar sua dívidas, podendo-se esperar lucros em queda ou negativos para 2009;
7) o mercado de CDS continua sendo uma bomba-relógio (ainda mais dado o exposto em 6) ainda não tocada pelo governo. Qualquer "deslocamento" aí pode representar um 'evento" com repercussão sistêmica.
Estaremos acompanhando esses elementos e os novos passos dos governos no sentido de uma maior regulação dos mercados financeiros, especialmento no âmbito do G20. Hoje, um interessante gráfico no site do Financial Times dá conta de que as três maiores instituições financeiras bancárias do mundo são chinesas e, dentre as 20 maiores, duas são brasileiras...
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O Plano Geithner por Geithner
Está repercutindo a coluna escrita por Tim Geithner no Wall Street Journal explicando e defendendo seu plano. Parecer que Geithner está disposto a não repetir a pífia performance midiática de fevereiro passado...
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Segunda-feira, 23 de março de 2009
A GALINHA DOS OVOS DE OURO
Por Enéas de Souza
1) A crise não será resolvida enquanto não houver uma estratégia geral de solução da economia mundial. A meu ver, só os Estados Unidos terão essa possibilidade.
2) Os Estados Unidos ainda não tem um plano global. Até agora, as finanças parecem decididas a fazer algo assim: tirar os títulos podres do balanço e possibilitam uma capitalização dos bancos. Sempre variações em torno do “bad bank/good bank”. É resolver para continuar tudo como estava. Vai adiantar?
3) O Obama, via Lawrence Summers, pretende fazer um relançamento estatal da economia americana e mundial. Porque o maior multiplicador de investimentos é o investimento público.
4) Há que preparar a economia para o crédito. Sim, é necessário rearranjar os bancos para poderem emprestar e não ficarem grudados na preferência pela liquidez. Mas, é preciso, por outro lado, que existam corporações para tomarem os empréstimos. Ou seja, a economia produtiva tem que recomeçar a funcionar.
5) O plano de relançamento da economia deve visar às obras públicas, porque ampliam a absorção do desemprego. Estes projetos devem também atuar sobre alguns suportes do emprego, como saúde, transporte, educação, etc.
6) A questão creditícia deve levar em conta as questões das relações internacionais, as relações entre os países. Porque deve haver um sistema fluente de liquidação das dividas internacionais do comércio corrente. Os Bancos Centrais tem que concertar uma forma do crédito duradoura e de liquidações de contas que funcionem sem atropelos.
7) Quando é que as finanças vão se constituir de novo em um apoio ao setor produtivo, quando nos últimos tempos, a esfera financeira ficou voltada praticamente para a especulação?
8) O Estado não deve mudar sua estrutura, para tornar mais unitária a sua ação? Não se trata de re-introduzir a política econômica e o planejamento para se adequar à mudança da hegemonia da economia para a economia produtiva? A política econômica e o planejamento foram coisas que o capitalismo financeiro derrubou fortemente, transformando a regulação, não em uma desregulação, mas numa completa ausência de regulação. Uma desordem absoluta. Aliás, vimos agora, o que a desalavancagem está mostrando, um caos completo na economia financeira e produtiva.
9) O movimento anti-capitalista terá forças para propor uma teoria, uma estratégia e uma prática capaz de serem uma força importante no jogo nacional e internacional?
A GALINHA DOS OVOS DE OURO
Por Enéas de Souza
1) A crise não será resolvida enquanto não houver uma estratégia geral de solução da economia mundial. A meu ver, só os Estados Unidos terão essa possibilidade.
2) Os Estados Unidos ainda não tem um plano global. Até agora, as finanças parecem decididas a fazer algo assim: tirar os títulos podres do balanço e possibilitam uma capitalização dos bancos. Sempre variações em torno do “bad bank/good bank”. É resolver para continuar tudo como estava. Vai adiantar?
3) O Obama, via Lawrence Summers, pretende fazer um relançamento estatal da economia americana e mundial. Porque o maior multiplicador de investimentos é o investimento público.
4) Há que preparar a economia para o crédito. Sim, é necessário rearranjar os bancos para poderem emprestar e não ficarem grudados na preferência pela liquidez. Mas, é preciso, por outro lado, que existam corporações para tomarem os empréstimos. Ou seja, a economia produtiva tem que recomeçar a funcionar.
5) O plano de relançamento da economia deve visar às obras públicas, porque ampliam a absorção do desemprego. Estes projetos devem também atuar sobre alguns suportes do emprego, como saúde, transporte, educação, etc.
6) A questão creditícia deve levar em conta as questões das relações internacionais, as relações entre os países. Porque deve haver um sistema fluente de liquidação das dividas internacionais do comércio corrente. Os Bancos Centrais tem que concertar uma forma do crédito duradoura e de liquidações de contas que funcionem sem atropelos.
7) Quando é que as finanças vão se constituir de novo em um apoio ao setor produtivo, quando nos últimos tempos, a esfera financeira ficou voltada praticamente para a especulação?
8) O Estado não deve mudar sua estrutura, para tornar mais unitária a sua ação? Não se trata de re-introduzir a política econômica e o planejamento para se adequar à mudança da hegemonia da economia para a economia produtiva? A política econômica e o planejamento foram coisas que o capitalismo financeiro derrubou fortemente, transformando a regulação, não em uma desregulação, mas numa completa ausência de regulação. Uma desordem absoluta. Aliás, vimos agora, o que a desalavancagem está mostrando, um caos completo na economia financeira e produtiva.
9) O movimento anti-capitalista terá forças para propor uma teoria, uma estratégia e uma prática capaz de serem uma força importante no jogo nacional e internacional?
domingo, março 22, 2009
Geithner Plan FAQ
Brad de Long traz uma explicação do que deve ser o Plano Geithner que será conhecido amanhã pela manhã. trta-se de uma operação na qual os detalhes são decisivos, mas que traz realidades dificilmente conciliáveis: ou os ativos são comprados com descontos que não interessam aos bancos; ou os ativos não interessam aos investidores privados mesmo com o aporte público de capital, uma vez que os investidores privados são os primeiros a sofrerem as possíveis perdas.
É engenhoso, mas o problema deve continuar a se arrastar: como avaliar os ativos tóxicos que têm uma marcação sobrevalorizada pelos bancos em seus ativos contábeis?
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Revolta na Grécia
A revolta da juventude contra o governo grego, na visão de Mike Davis.
Vale a pena uma olhada em todo o site da revista francesa anti-capitalista Contretemps.
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Credores chantageiam com falência da GM,
Neste domingo, credores ameaçaram a GM de irem aos tribunais e apresntarem um pedido de falência da empresa. Segundo um certo "comitê de credores", a empresa e a autoridade governamental constituída para tratar dos problemas das montadoras norte-americana, não estariam levando e conta os interesses dos credores, expresso em uma carta datada do início de março.
A ameaça é explícita:
"We believe that, unless the framework we suggested is utilized, the restructuring currently contemplated will not achieve the required level of acceptance to succeed on an out-of-court basis. The result of such a failed exchange would likely be a bankruptcy that would have dire consequences for the company, the tens of thousands of hard-working Americans that GM employs and the economy as a whole."
Ainda que esse instrumento não deva passar de mais uma chantagem em busca de interesses particulares, uma falência "não-ordenada" de qualquer grande empresa nesse momento pode resultar em forte deslocamento nos mercados de CDS e de crédito, podendo desencadear novo episódio de crise sistêmica nos mercados financeiros. Olho vivo!
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Geithner luta por sua sobrevivência como Secretário do Tesouro
Menos de três meses após sua ascensão ao cargo de Secretário do Tesouro, Timothy Geithner enfrente resistências políticas cada vez mais abertas á sua permanência no cargo. Hoje, Obama chegou a afirmar que não aceitaria um pedido de renúncia da parte do Secretário e o Senador Republicano Richard Shelby, liderança no comitê sobre bancos do Senado norte-americano, diz que "a continuar nesse caminho, a confiança em Geithner estará irremediavelmente abalada". John McCain, o ex-candidato republicano à Casa Branca, saiu em defesa de "uma chance ao Secretário do Tesouro".
Nessa semana, Geithner apresenta o detalhamento de seu plano de "limpeza" do sistema financeiro norte-americano. Sua sorte epende da recepção dos "mercados" ao plano. Nunca é demais lembrar que a apresentaçãode um plano sem detalhes operacionais por parte do Secretário em fevereiro trouxe a última "onda" de desconfiança no mercado de capitais naquele mês, e suscitou intenso debate sobre a necessidade da nacionalização dos bancos insolventes. Geithner resistiu em sua proposta de uma "parceria público-privada" (o nome já lembra à picaretagem...) que estará sendo detalhada amanhã e os grandes bancos lançaram uma contra-ofensiva faz duas semanas em torno de sua sobrevivência. O detalhamento da proposta nessa semana é o teste de fogo para Geithner.
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Além das eleições: o filme
Recebo a recomendação do colega Adalmir Marquetti, autor de um importante livro sobre o Orçamento Participativo e experiências similares ao redor do mundo.
Sem novas formas de participação política, que explore de forma invoadora o potencial das novas tecnologias de informação, nunca teremos controle efetivo sobre a ação do Estado. É fundamental uma reinvenção da democracia, uma vez que sua forma representativa está falida no mundo inteiro, como mostram os episódios da eleiçao de Lula no Brasil e, mais recentemente, de Obama nos Estados Unidos. Estes, apesar de representarem avanços inequívocos frente ao passado, não conseguem (nem querem) alterar significativamente a forma de funcionamento institucional e as estruturas de poder que comandam seus países. O mundo vai passar por transformações e essas somente serão positivas para a maior parte da população se contiverem a possibilidade de novas formas de participação democrática, mais importante ainda em um momento em que o agravamento das desigualdades e a falta de oportunidades podem ( e irão) reviver, em escala global, "tentações" autoritárias em nome de uma "volta à oredem" que beneficie apenas a elite da elite mundial.
Nesse sentido, vale ver o documentário "Além da eleições", sobre as experiências latino-americanas de participação popular e seus resultados na última década. Muito falta fazer no sentido de aprofundar a participação popular na política, preferencialmente com o uso inovador de novas tecnologias para esse fim. Quando o Brasil dispõe de mais celulares do que habitantes, por que ainda não trilhamos esse caminho e esse tema é tão pouco debatido?
Link para o filme "Além das eleições":
Domingo, 22 de março de 2008
A CASA BRANCA,
O TESOURO E O FED
Por Enéas de Souza
Parece que não há clareza da decisão
A dinâmica da economia financeira está num momento decisivo diante das dificuldades para resolver a questão. A dinâmica levou a necessidade de resolver alguns problemas: 1) problemas com a capitalização e o balanço dos grandes bancos; 2) problemas renovados com Fanny Mae e Freddy Mac em função de novas perdas; 3) as crescentes e renovadas perdas da AIG, verdadeiro saco sem fundo para aportes do Tesouro; 4) problemas dos bônus dos altos administradores das empresas apoiadas pelo Tesouro. A questão dos bônus da AIG causou celeuma no Congresso, levou a intervenção de Obama exigindo que o Tesouro encontrasse uma solução legal para a eliminação deste ponto, etc.
Sentimos que Geithner está diante de problemas extremamente difíceis que a dinâmica financeira trouxe à praia: 1) como resolver a questão dos ativos podres dentro dos balanços (sendo que a solução preferida parece ser a adoção do “bad bank” para uma gerência pública de ativos); 2) quais são os bancos que poderão encontrar uma boa estrutura de capitalização; 3) o que fazer com aqueles que são insolventes, que terão que ser fechados ou nacionalizados. Como dizia um antigo personagem de Losey: “Decisions, always decisions!”.
Como chefe da economia americana, Geithner enfrenta mais dois grandes problemas: como enfrentar a crise econômica da área produtiva, sobretudo a questão da indústria automobilística, onde nos parece que permanece uma indefinição sobre as diversas formas de agir. E, naturalmente, como resolver adequadamente as questões vinculadas ao endividamento das famílias nas hipotecas imobiliárias. Dito isso, questões que estão nebulosas para os observadores e mesmo para os congressistas americanos, há um problema fundamental para o qual Geithner não disse nada: como relançar a economia produtiva no caminho da acumulação do capital.
The long hot Summers
É neste último ponto que o Tesouro recebe o ataque mais frontal e de dentro da Casa Branca. O assessor de Obama, Lawrence Summers sempre um candidato a substituir Geithner, e que conhece bem o cargo porque foi o imediato de Rubin, o primeiro secretário do Tesouro de Clinton, e ele mesmo terminou por substituir ao antigo titular. Pois, este gênio do mal, este camaleão dos cargos econômicos como é dito em outras áreas, lançou com ponto fundamental da economia de Obama a necessidade da sustentação da demanda seja na economia americana, seja na economia mundial.
Numa olhada, para quem observa de fora, as trapalhadas desse início do governo Obama, percebe que esta é uma proposta sensata, pois Summers propõe tanto o gasto fiscal de 2% do PIB na economia americana, como que os governos de todo o mundo ajam do mesmo modo. Isto significa que Summers penetra na seara keynesiana e, pragmaticamente, se coloca dentro da visão de Obama. De um lado, a necessidade de pôr a economia produtiva em andamento e em segundo lugar preparar, via o resto do mundo, um mercado para a economia americana. Como já dissemos em nossas postagens, o objetivo de Obama é relançar a economia americana como exportadora. E preparar para o futuro, num segundo tempo, após inúmeras pesquisas, que ela possa transformar a base energética da produção articulada com tecnologias novas e adequadas a esta nova infra-estrutura da energia.
Vendo este lance de Summers, apoiado inclusive por inúmeras personalidades nacionais e internacionais, inclusive o colunista do Financial Times, Martin Wolf, a gente poderia fazer uma paródia de uma obra de William Faulkner que Martin Ritt filmou chamada: The long hot Summer”. Basta troca Summer por Summers para definir a situação.
(Te cuida, Geithner, tem gente de olho no teu cargo!)
O doce, calvo e barbudo Bernanke
Pois quem soube retirar-se para um plano mais discreto foi Bernanke. Percebeu que o FED é um órgão regulador, que embora não regulasse quase nada, Bernanke poderia solicitar que o Congresso desse, com urgência, um marco regulatório, uma reforma significativa para a estrutura financeira, que fosse considerada como “top priority”. Enquanto isso não acontece, vai fazendo o que pode: compra de “Tresury securities” e mais que dobrou as “mortgages related securities”. E afirmou que se sentia encorajado pela aprovação dos mercados com essas medidas.
E se a gente lê nas observações do André Scherer, o aumento de capital do FED vem mostrar a incrível situação de piora da crise financeira. Porque Bernanke não só aumenta o capital do FED, como toma medidas para compra de títulos do Tesouro e dos títulos hipotecários, como amplia a sua ação, solicitando ao Congresso uma urgência para a aprovação de medidas regulatórias para o sistema. E ele nos dá a razão fundamental: as instituições financeiras estão tão interligadas, tão coladas umas às outras, que elas são “too big or too interconnected to fail”. Ou seja, o sistema financeiro, no final do processo de acumulação desregulada, se misturou tanto que constituiu uma vasta e enorme salada de ativos e títulos podres, espalhando confusão por toda parte. E Bernanke não nos disse apenas isso, nos disse mais duas conseqüências desta interconexão: a primeira, é que não há possibilidade de fazer uma falência ordenada dessas grandes corporações financeiras e a segunda, que no atual sistema não haveria alternativa para prevenir essas perturbações, essas turbulências e esses fracassos que ocorreram. É assustador sim, e profundamente grave o depoimento do doce, calvo e barbudo, Bernanke, como assinalaria o nosso Nelson Rodrigues.
(Com o cargo assegurado, Bernanke acabou ficando na dele. Deixa o Geithner e o Summers se matarem).
O ninho de cobras
A crise vem mostrando a sua face aguda. Chegou a um ponto em que se pode depreender que o sistema financeiro como um todo está falido. Não é novidade, mas é apenas a compreensão de que a mudança é complexa. E a necessidade da reconstrução do sistema passa por decisões do Estado, seja do executivo, seja do legislativo, alterações que envolvem múltiplas lutas econômicas e burocráticas, lutas onde parece não haver um grupo com maioria suficiente para sustentar uma transformação das perdas, nem a metamorfose para uma nova saída.
Somente a idéia de que é preciso lançar a recuperação da demanda, pode dar, primeiro, um passo nacional e mundial importante e, segundo, um tempo para que as forças econômicas e sociais possam definir quem vai ganhar nesta batalha das trevas nas finanças. Talvez, somente as modificações produtivas possam exigir e assegurar uma determinada construção de um novo sistema de crédito. Por isso, que a nacionalização – medida descartada por Geithner – daria um passo à frente, eliminando os vencedores perdedores, e possibilitando um plano de recuperação para a economia americana. Mas, a nacionalização seria de fato um imenso problema para a auto-imagem dos Estados Unidos e a consagração política da derrocada das finanças. Isto talvez ainda seja inaceitável no atual estado das lutas econômicas. Mas, o G-20 vai botar mais fogo na questão. O que dirão os credores dos americanos – dos chineses aos árabes? Não está vindo aí a galope, não há na atmosfera um cheiro, como reverso desta pressão, de um calote, de um gigantesco calote, só que, desta vez, dos americanos?
Por Enéas de Souza
Parece que não há clareza da decisão
A dinâmica da economia financeira está num momento decisivo diante das dificuldades para resolver a questão. A dinâmica levou a necessidade de resolver alguns problemas: 1) problemas com a capitalização e o balanço dos grandes bancos; 2) problemas renovados com Fanny Mae e Freddy Mac em função de novas perdas; 3) as crescentes e renovadas perdas da AIG, verdadeiro saco sem fundo para aportes do Tesouro; 4) problemas dos bônus dos altos administradores das empresas apoiadas pelo Tesouro. A questão dos bônus da AIG causou celeuma no Congresso, levou a intervenção de Obama exigindo que o Tesouro encontrasse uma solução legal para a eliminação deste ponto, etc.
Sentimos que Geithner está diante de problemas extremamente difíceis que a dinâmica financeira trouxe à praia: 1) como resolver a questão dos ativos podres dentro dos balanços (sendo que a solução preferida parece ser a adoção do “bad bank” para uma gerência pública de ativos); 2) quais são os bancos que poderão encontrar uma boa estrutura de capitalização; 3) o que fazer com aqueles que são insolventes, que terão que ser fechados ou nacionalizados. Como dizia um antigo personagem de Losey: “Decisions, always decisions!”.
Como chefe da economia americana, Geithner enfrenta mais dois grandes problemas: como enfrentar a crise econômica da área produtiva, sobretudo a questão da indústria automobilística, onde nos parece que permanece uma indefinição sobre as diversas formas de agir. E, naturalmente, como resolver adequadamente as questões vinculadas ao endividamento das famílias nas hipotecas imobiliárias. Dito isso, questões que estão nebulosas para os observadores e mesmo para os congressistas americanos, há um problema fundamental para o qual Geithner não disse nada: como relançar a economia produtiva no caminho da acumulação do capital.
The long hot Summers
É neste último ponto que o Tesouro recebe o ataque mais frontal e de dentro da Casa Branca. O assessor de Obama, Lawrence Summers sempre um candidato a substituir Geithner, e que conhece bem o cargo porque foi o imediato de Rubin, o primeiro secretário do Tesouro de Clinton, e ele mesmo terminou por substituir ao antigo titular. Pois, este gênio do mal, este camaleão dos cargos econômicos como é dito em outras áreas, lançou com ponto fundamental da economia de Obama a necessidade da sustentação da demanda seja na economia americana, seja na economia mundial.
Numa olhada, para quem observa de fora, as trapalhadas desse início do governo Obama, percebe que esta é uma proposta sensata, pois Summers propõe tanto o gasto fiscal de 2% do PIB na economia americana, como que os governos de todo o mundo ajam do mesmo modo. Isto significa que Summers penetra na seara keynesiana e, pragmaticamente, se coloca dentro da visão de Obama. De um lado, a necessidade de pôr a economia produtiva em andamento e em segundo lugar preparar, via o resto do mundo, um mercado para a economia americana. Como já dissemos em nossas postagens, o objetivo de Obama é relançar a economia americana como exportadora. E preparar para o futuro, num segundo tempo, após inúmeras pesquisas, que ela possa transformar a base energética da produção articulada com tecnologias novas e adequadas a esta nova infra-estrutura da energia.
Vendo este lance de Summers, apoiado inclusive por inúmeras personalidades nacionais e internacionais, inclusive o colunista do Financial Times, Martin Wolf, a gente poderia fazer uma paródia de uma obra de William Faulkner que Martin Ritt filmou chamada: The long hot Summer”. Basta troca Summer por Summers para definir a situação.
(Te cuida, Geithner, tem gente de olho no teu cargo!)
O doce, calvo e barbudo Bernanke
Pois quem soube retirar-se para um plano mais discreto foi Bernanke. Percebeu que o FED é um órgão regulador, que embora não regulasse quase nada, Bernanke poderia solicitar que o Congresso desse, com urgência, um marco regulatório, uma reforma significativa para a estrutura financeira, que fosse considerada como “top priority”. Enquanto isso não acontece, vai fazendo o que pode: compra de “Tresury securities” e mais que dobrou as “mortgages related securities”. E afirmou que se sentia encorajado pela aprovação dos mercados com essas medidas.
E se a gente lê nas observações do André Scherer, o aumento de capital do FED vem mostrar a incrível situação de piora da crise financeira. Porque Bernanke não só aumenta o capital do FED, como toma medidas para compra de títulos do Tesouro e dos títulos hipotecários, como amplia a sua ação, solicitando ao Congresso uma urgência para a aprovação de medidas regulatórias para o sistema. E ele nos dá a razão fundamental: as instituições financeiras estão tão interligadas, tão coladas umas às outras, que elas são “too big or too interconnected to fail”. Ou seja, o sistema financeiro, no final do processo de acumulação desregulada, se misturou tanto que constituiu uma vasta e enorme salada de ativos e títulos podres, espalhando confusão por toda parte. E Bernanke não nos disse apenas isso, nos disse mais duas conseqüências desta interconexão: a primeira, é que não há possibilidade de fazer uma falência ordenada dessas grandes corporações financeiras e a segunda, que no atual sistema não haveria alternativa para prevenir essas perturbações, essas turbulências e esses fracassos que ocorreram. É assustador sim, e profundamente grave o depoimento do doce, calvo e barbudo, Bernanke, como assinalaria o nosso Nelson Rodrigues.
(Com o cargo assegurado, Bernanke acabou ficando na dele. Deixa o Geithner e o Summers se matarem).
O ninho de cobras
A crise vem mostrando a sua face aguda. Chegou a um ponto em que se pode depreender que o sistema financeiro como um todo está falido. Não é novidade, mas é apenas a compreensão de que a mudança é complexa. E a necessidade da reconstrução do sistema passa por decisões do Estado, seja do executivo, seja do legislativo, alterações que envolvem múltiplas lutas econômicas e burocráticas, lutas onde parece não haver um grupo com maioria suficiente para sustentar uma transformação das perdas, nem a metamorfose para uma nova saída.
Somente a idéia de que é preciso lançar a recuperação da demanda, pode dar, primeiro, um passo nacional e mundial importante e, segundo, um tempo para que as forças econômicas e sociais possam definir quem vai ganhar nesta batalha das trevas nas finanças. Talvez, somente as modificações produtivas possam exigir e assegurar uma determinada construção de um novo sistema de crédito. Por isso, que a nacionalização – medida descartada por Geithner – daria um passo à frente, eliminando os vencedores perdedores, e possibilitando um plano de recuperação para a economia americana. Mas, a nacionalização seria de fato um imenso problema para a auto-imagem dos Estados Unidos e a consagração política da derrocada das finanças. Isto talvez ainda seja inaceitável no atual estado das lutas econômicas. Mas, o G-20 vai botar mais fogo na questão. O que dirão os credores dos americanos – dos chineses aos árabes? Não está vindo aí a galope, não há na atmosfera um cheiro, como reverso desta pressão, de um calote, de um gigantesco calote, só que, desta vez, dos americanos?
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