Segunda-feira, 6 de abril de 2009
A DANÇA DO FOGO
Por Enéas de Souza
A contenção dos fortes ataques
As finanças continuam o seu intenso jogo para não perder a posição de comando da economia dos Estados Unidos. Um primeiro ponto foi conseguido: manter uma representação muito forte dentro das instituições do Estado americano. Dominam o FED e o Tesouro, e têm vinculado a elas, de uma forma ou de outra, o diretor do National Economic Council, do Presidente Barack Obama, Lawrence Summers. E além da manutenção desses lugares têm uma vasta rede de lobistas no Congresso Nacional. O seu domínio permitiu, na realidade, que fossem contemplados com tentativas de “bail outs”, inclusive esse último PPIP (Public Private Partnership Investment Program), plano que é um verdadeiro saque no povo, segundo o economista Joseph Stieglitz. De qualquer maneira, para quem entrou numa crise formidável, que inviabilizou o crédito, que paralisou os mercados financeiros no geral, as finanças estão feridas, mas não derrubadas e, institucionalmente, continuam tentando soluções para saírem da crise, obviamente em seu benefício.
Os pães dos ricos não cessam
Como podemos sentir, moralmente, as finanças estão mal situadas politicamente com a população. Primeiro, pelo desastre financeiro que infelicitou inúmeras pessoas, sobretudo nas questões das hipotecas imobiliárias. Segundo, pelas perdas dos múltiplos investidores nas diversas aplicações em títulos financeiros. Terceiro, pela questão dos bônus aos executivos, que se tornaram escandalosos, uma vez que pessoas que causaram rombos financeiros inauditos ficaram, ou mesmo saíram deles, com gratificações retumbantes, incompatíveis com a condução incompetente dessas entidades. E mais, ocorreram situações graves que provocaram imensa irritação. É o caso de funcionários da AIG que receberam alargados bônus, quando esta seguradora teve um aporte de mais de 200 bilhões de dólares do setor público, dinheiro dos contribuintes. Obama, obviamente, não só se manifestou por um limite nos bônus, quanto na questão específica da AIG recomendou que Geithner lutasse, de todas as maneiras, para diminuir os valores envolvidos na questão. Até o Congresso foi sacudido por grandes discussões sobre o tema. (E para que não paire dúvidas, o secretário Geithner, no geral, é favorável ao pagamento de bônus).
Concessões que podem ser benéficas
Agora, na Europa, no G-20, as finanças foram atacadas intensamente por todas as partes, mas aparentemente as concessões foram poucas em termos concretos. Não houve nenhuma definição sobre a nova estrutura do sistema bancário, salvo a criação de Financial Stability Board, um órgão que vai dar uma controlada na instabilidade internacional e vai registrar e fiscalizar os hedge funds, de acordo com os governos, com o G-20 e com os bancos centrais. E houve, cabe registrar, uma outra concessão: um certo controle dos movimentos financeiros na questão dos paraísos fiscais. Olhado sobre os mais diversos ângulos, estas medidas soam mais como medidas preventivas, que poderão ser também benéficas às finanças na prevenção de novas crises. Não provocam transformações profundas no sistema financeiro. Ou seja, nada sobre as modificações das instituições (por exemplo, sobre a nacionalização, sobre a governança corporativa), nada sobre modificações do Banco Central, nada sobre a desbragada criação e controle dos títulos financeiros. Apenas, como um modesto anúncio de um leve outono, três concessões relativamente menores: hedge funds, Financial Stability Board e alguma regra para os paraísos fiscais. Resumindo: ficou algum controle na total desregulamentação que vigia até agora, e que, como as modificações paliativas do Banco Central americano, pode dar uma certa estabilidade para que as finanças consigam atravessar o rio dos mortos.
Os intocáveis
As pressões continuam muito gritantes de todos os lados. E há um ponto que continua sendo muito problemático para as finanças. Um monte de cacos de vidros para atravessar o corredor. É o caso dos executivos, que além de ganharem muito dinheiro, quebraram os bancos e, paradoxalmente, continuam intocáveis, firmes nos seus postos. Geithner, vindo da Europa, do G-20, disse que o governo removerá os executivos dos bancos – olha o tempo! - no futuro (!), se isto for necessário e se houver uma “assistência excepcional” do governo. Na verdade, talvez seja mais uma declaração tática, porque, os exemplos dos bancos Citigroup e Bank of América são contundentes. Houve uma injeção governamental de capital e ninguém foi substituído. Geithner, então, está fazendo esta afirmação porque o governo está sob sol abrasador. Os críticos falam que Obama endureceu com o setor automobilístico, tirando inclusive o chefe executivo da GM, mas até agora não forçou o tom com setor financeiro. Fato que levou alguns congressistas proclamarem que a White House pega leve com Wall Street.
Por quem dobram os sinos?
A conclusão é obvia. Quando um grupo social, uma fração de classe como as finanças, ganhou tal volume de poder como o que acumulou nestes 30 anos, a metamorfose das relações sociais de produção não são fáceis de serem realizadas. As finanças manobram para continuar no comando do processo econômico. E aparecem indicações vindas dos discursos de Obama, sobretudo daquele no “estado da nação” no Congresso, que querem assinalar que existe, no entanto, no subterrâneo da sociedade uma busca de metamorfose. Esta, se crescer como um bolo, como uma nova forma, fará funcionar uma corrente, um fluxo, na direção de um outro modelo capitalista de acumulação. A luta, porém, está instalada, mas ainda não é volumosa. Movimentos anti-capitalistas são personagens coadjuvantes, fazem pequenas pontas, no palco das oposições. Analisando bem, o que está se vendo nesse momento é que há uma forte pressão contra as finanças, que até agora apenas estão dando o lado e cedendo o mínimo. A crise vai demorar muito ainda para ser resolvida. Mas, algo se deslocou, apesar do reduzido deslizamento do setor financeiro. E as finanças que antes tinham o total domínio político, econômico, social e ideológico da sociedade, agora não têm mais, perderam, sim, o domínio ideológico. E estão disputando, ferozmente, os domínios social, político e econômico, nesta seqüência. Então, a sua ditadura, que antes era sólida, está algo abalroada. As finanças estão oscilantes, estão balançando, mas não estão dominadas - e muito menos, estão de joelhos.
A DANÇA DO FOGO
Por Enéas de Souza
A contenção dos fortes ataques
As finanças continuam o seu intenso jogo para não perder a posição de comando da economia dos Estados Unidos. Um primeiro ponto foi conseguido: manter uma representação muito forte dentro das instituições do Estado americano. Dominam o FED e o Tesouro, e têm vinculado a elas, de uma forma ou de outra, o diretor do National Economic Council, do Presidente Barack Obama, Lawrence Summers. E além da manutenção desses lugares têm uma vasta rede de lobistas no Congresso Nacional. O seu domínio permitiu, na realidade, que fossem contemplados com tentativas de “bail outs”, inclusive esse último PPIP (Public Private Partnership Investment Program), plano que é um verdadeiro saque no povo, segundo o economista Joseph Stieglitz. De qualquer maneira, para quem entrou numa crise formidável, que inviabilizou o crédito, que paralisou os mercados financeiros no geral, as finanças estão feridas, mas não derrubadas e, institucionalmente, continuam tentando soluções para saírem da crise, obviamente em seu benefício.
Os pães dos ricos não cessam
Como podemos sentir, moralmente, as finanças estão mal situadas politicamente com a população. Primeiro, pelo desastre financeiro que infelicitou inúmeras pessoas, sobretudo nas questões das hipotecas imobiliárias. Segundo, pelas perdas dos múltiplos investidores nas diversas aplicações em títulos financeiros. Terceiro, pela questão dos bônus aos executivos, que se tornaram escandalosos, uma vez que pessoas que causaram rombos financeiros inauditos ficaram, ou mesmo saíram deles, com gratificações retumbantes, incompatíveis com a condução incompetente dessas entidades. E mais, ocorreram situações graves que provocaram imensa irritação. É o caso de funcionários da AIG que receberam alargados bônus, quando esta seguradora teve um aporte de mais de 200 bilhões de dólares do setor público, dinheiro dos contribuintes. Obama, obviamente, não só se manifestou por um limite nos bônus, quanto na questão específica da AIG recomendou que Geithner lutasse, de todas as maneiras, para diminuir os valores envolvidos na questão. Até o Congresso foi sacudido por grandes discussões sobre o tema. (E para que não paire dúvidas, o secretário Geithner, no geral, é favorável ao pagamento de bônus).
Concessões que podem ser benéficas
Agora, na Europa, no G-20, as finanças foram atacadas intensamente por todas as partes, mas aparentemente as concessões foram poucas em termos concretos. Não houve nenhuma definição sobre a nova estrutura do sistema bancário, salvo a criação de Financial Stability Board, um órgão que vai dar uma controlada na instabilidade internacional e vai registrar e fiscalizar os hedge funds, de acordo com os governos, com o G-20 e com os bancos centrais. E houve, cabe registrar, uma outra concessão: um certo controle dos movimentos financeiros na questão dos paraísos fiscais. Olhado sobre os mais diversos ângulos, estas medidas soam mais como medidas preventivas, que poderão ser também benéficas às finanças na prevenção de novas crises. Não provocam transformações profundas no sistema financeiro. Ou seja, nada sobre as modificações das instituições (por exemplo, sobre a nacionalização, sobre a governança corporativa), nada sobre modificações do Banco Central, nada sobre a desbragada criação e controle dos títulos financeiros. Apenas, como um modesto anúncio de um leve outono, três concessões relativamente menores: hedge funds, Financial Stability Board e alguma regra para os paraísos fiscais. Resumindo: ficou algum controle na total desregulamentação que vigia até agora, e que, como as modificações paliativas do Banco Central americano, pode dar uma certa estabilidade para que as finanças consigam atravessar o rio dos mortos.
Os intocáveis
As pressões continuam muito gritantes de todos os lados. E há um ponto que continua sendo muito problemático para as finanças. Um monte de cacos de vidros para atravessar o corredor. É o caso dos executivos, que além de ganharem muito dinheiro, quebraram os bancos e, paradoxalmente, continuam intocáveis, firmes nos seus postos. Geithner, vindo da Europa, do G-20, disse que o governo removerá os executivos dos bancos – olha o tempo! - no futuro (!), se isto for necessário e se houver uma “assistência excepcional” do governo. Na verdade, talvez seja mais uma declaração tática, porque, os exemplos dos bancos Citigroup e Bank of América são contundentes. Houve uma injeção governamental de capital e ninguém foi substituído. Geithner, então, está fazendo esta afirmação porque o governo está sob sol abrasador. Os críticos falam que Obama endureceu com o setor automobilístico, tirando inclusive o chefe executivo da GM, mas até agora não forçou o tom com setor financeiro. Fato que levou alguns congressistas proclamarem que a White House pega leve com Wall Street.
Por quem dobram os sinos?
A conclusão é obvia. Quando um grupo social, uma fração de classe como as finanças, ganhou tal volume de poder como o que acumulou nestes 30 anos, a metamorfose das relações sociais de produção não são fáceis de serem realizadas. As finanças manobram para continuar no comando do processo econômico. E aparecem indicações vindas dos discursos de Obama, sobretudo daquele no “estado da nação” no Congresso, que querem assinalar que existe, no entanto, no subterrâneo da sociedade uma busca de metamorfose. Esta, se crescer como um bolo, como uma nova forma, fará funcionar uma corrente, um fluxo, na direção de um outro modelo capitalista de acumulação. A luta, porém, está instalada, mas ainda não é volumosa. Movimentos anti-capitalistas são personagens coadjuvantes, fazem pequenas pontas, no palco das oposições. Analisando bem, o que está se vendo nesse momento é que há uma forte pressão contra as finanças, que até agora apenas estão dando o lado e cedendo o mínimo. A crise vai demorar muito ainda para ser resolvida. Mas, algo se deslocou, apesar do reduzido deslizamento do setor financeiro. E as finanças que antes tinham o total domínio político, econômico, social e ideológico da sociedade, agora não têm mais, perderam, sim, o domínio ideológico. E estão disputando, ferozmente, os domínios social, político e econômico, nesta seqüência. Então, a sua ditadura, que antes era sólida, está algo abalroada. As finanças estão oscilantes, estão balançando, mas não estão dominadas - e muito menos, estão de joelhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário