domingo, abril 05, 2009

Domingo, 5 de abril de 2009

A CRISE SE AMPLIA
Por Enéas de Souza

O que se enxerga

A sociedade americana vive um momento difícil, o seu capitalismo está em desagregação, embora existam movimentos para a sua alteração. O que se enxerga, no entanto, é o cair das finanças embrulhadas numa crise de capital, de liquidez e afundadas em ativos podres; é o descambar da indústria, em função da superacumulação produtiva recente, para uma competição desesperada, para uma tentativa de reorganização produtiva, inclusive para retornar a liderança mundial em termos de produção e de produtividade; é o setor serviços, por conseqüência, caindo fortemente. Ou seja, a economia americana está em declínio e tenta buscar forças para a sua reformulação. Mas, são os trabalhadores que sofrem no bolso e nas suas vidas, pelo desemprego, toda essa fúria da crise.

O que marca a meteorologia social

Nos tempos áureos de Clinton e mesmo em momentos de Bush, a economia americana estava com uma taxa de desemprego ao redor de 4%. Pois, bem hoje ela chegou a 8,5%, o que significa a maior taxa dos últimos vinte e cinco anos. Fica muito claro, que a devastação social é intensa. Desde dezembro de 2007, quando a crise mal estava no início até agora são mais de cinco milhões e cem mil empregos perdidos, tendo este mês de março de 2009, desempregado 663.000 pessoas. E as perspectivas para os próximos meses continuam graves e parecem sombrias. Há precisões que estas taxas possam atingir 11% , talvez até mesmo este ano. A meteorologia social continua marcando chuvas fortes, temporais e ventanias. Naturalmente, que a ação do governo pode minorar o desemprego, mas o que se pode constatar é que as forças que fazem a economia penetrar na recessão e se encaminhar para a depressão são maiores que aquelas que geram o dinamismo contrário.

A demanda endoidecida

O terrível nesse processo é que a queda do emprego mostra profundamente um dos problemas graves dos fundamentos desta economia financeirizada, que tende a chegar ao fim. A dinâmica desta economia estava centrada na especulação, que produzindo rendimentos financeiros assegurava um dispêndio crescente no consumo, de tal modo que era este consumo que puxava, em terceiro lugar o investimento, o alimentador do emprego. Pois foi essa cadeia econômica que desabou. E quando os rendimentos das finanças secam, quando o desemprego cresce, e, portanto, o consumo desce e a demanda tomba endoidecida; nada faz o investimento subir. E então, as forças recessivas e depressivas se instalam, o consumo se enrosca no investimento, ambos despencam e a sociedade entra numa crise profunda.

Porque está mais difícil do que devia estar?

Neste momento, cabe ao Estado entrar em campo e reverter o quadro, centrando fundamentalmente os seus recursos no investimento. Isso se torna extremamente difícil porque há necessidade de salvar os bancos, as finanças sempre próximas, para evitar o risco sistêmico. O risco sistêmico significa a instalação da desordem absoluta na economia e na sociedade. Então, a conversão para uma outra economia é um processo longo, e por mais que o governo se incline para o investimento, há que tentar tapar os furos e salvar o bote financeiro. E nunca se pode esquecer, que o Estado está dominado pelas finanças ao menos em dois pontos, o Tesouro e o FED,. Ah!, devemos lembrar que o diretor do Nacional Economic Council do presidente Obama, o controverso Lawrence Summers, segundo Blomberg.com, de uma forma ou de outra, esteve ligado aos hedge funds e aos bancos. Não está aí, perspicaz leitor, um dos pontos candentes da crise? Obama vai ter que ter muito jogo de cintura. Para contrabalançar, e botar mais grafittis nos ouvidos dele, olha só o que escuta das ruas de Nova Iorque: “bail out the people”. É preciso compreender a crise em toda a sua amplitude, dentro da dinâmica econômica, dentro da política e dentro do Estado.

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