Sábado, 4 de abril de 2009
OBAMA E A LUTA SOCIAL
Por Enéas de Souza
As finanças são indomáveis?
A pergunta que mais interessa é a seguinte: como Obama vai resolver a grave crise americana? Naturalmente, que envolvido no meio de um tumulto formidável, a sua grande vantagem é ter estratégia. E uma estratégia interessante: ele joga no longo prazo, ele tem um pensamento de longo alcance. Como é que faz? Lança a bola lá adiante, bem longe, e manda a turma correr atrás. Tem a visão de que se ficar preso ao tempo curto, não vai resolver nada, vai perder o jogo. A visão de longo prazo lhe permite ter uma base, ter um centro, ter um ponto de apoio para a tentativa do capital de sair do abismo onde está metido. A sua avaliação política está clara: as finanças têm que ser modificadas com o tempo, por enquanto Obama vai comendo o mingau pelas bordas. Elas foram, são e continuarão poderosas, cada vez menos, mas ainda assim poderosas. São plantas que fenecem, mas ainda podem se recuperar com alguma água, mesmo que o regador tenha sumido.
E, como as finanças estão em apuros, estão com problemas de balanço, de valores dos ativos tóxicos, de capital, de liquidez - sem nenhuma proposta nova para o sistema financeiro e para uma nova organização da economia – elas, de fato, estão enfraquecidas. Mas dado o seu poder de fogo, a perspectiva de Obama é deixá-las soltas, mas não ampliar o seu espaço. O objetivo é tentar desgastá-las, fazê-las perder peso, até poder fazer o cerco derradeiro. Enquanto não resolve a situação, Obama busca amparo em todo lugar, inclusive no âmbito internacional, o G-20 é um exemplo. Porque ele não pode atacá-la de frente para domá-la, para incluí-la no seu projeto Elas estão isoladas, mas continuam comandando, cada vez com menor legitimidade, mas continuam na liderança do processo. Desejam retomar a pura dinâmica financeira, desejam o retorno da especulação. Não dizem, mas desejam. Todavia, há um fato novo: elas perderam o apoio do capital produtivo, e elas perderam objetivamente, porque já não podem proporcionar à tesouraria das grandes corporações produtivas rendimentos financeiros apreciáveis. Então, os dois setores estão se deteriorando, mas estão desatados, ambos têm que se virarem sozinhos. E é por aí, que o governo pensa dar ao capital um novo caminho, deslocando-se do modelo financeiro de acumulação para o modelo de acumulação produtiva.
A estratégia de restabelecimento da economia
Obama percebe que o seu ponto de apoio para o restabelecimento do capitalismo é fazer uma união entre o capital produtivo e os trabalhadores. E uma união que perpasse o mundo, porque há uma proposta do governo americano de que haja um relançamento das atividades produtivas em toda parte. E depois, tão logo que puder, trazer as finanças, reformuladas, para o amparo da produção, na figura do crédito. Num primeiro momento, é preciso usar o Estado para resolver minimamente problemas dos trabalhadores: seguro-desemprego, saúde, educação, solução via impostos para o caso das hipotecas, novos empregos no Estado, fazer investimentos em obras públicas para alcançar novos empregos, etc. O ponto alto é jogar com o investimento público para conseguir dar o primeiro passo na articulação capital produtivo e os empregados.
Por outro lado, Obama prepara estímulos de longo prazo para alcançar a construção de um novo patamar de acumulação, mudando a energia e promovendo a incorporação de novas tecnologias. Mas, como diz o meu colega Pedro Fernando Almeida, a questão para Obama é como ligar o curto prazo - onde ele vai ter que fazer uma limpeza de terreno para por as empresas em condições de competição - e o longo prazo. Nesta passagem, que pode durar um, dois ou três anos, ele vai ter que usar as finanças. Pois é aí que aparece o ponto de encruzilhada da sociedade americana: ou elas serão nacionalizadas e submetidas a um novo sistema financeiro ou o governo se entrega e capitaliza os bancos, e a crise se prolonga indefinidamente. A questão tem uma tonalidade exuberante: qual é o montante para salvar, de fato, os ativos podres dos bancos quebrados? Roubini estimava em 3,6 trilhões. Portanto, diante de cifras que vão ameaçar até a estabilidade do governo, porque vão dinamitar as finanças públicas, e no limite último, o próprio dólar, só resta a Obama começar a unir capital produtivo e trabalho, até que possa aparecer a oportunidade – os gregos davam o nome de kairós – para rearmar as finanças em função do desenvolvimento. Ficou claro, inclusive na reunião do G-20, que o problema vai ser o de cercar e laçar as finanças, desmontar e dominar o seu profundo e alentado esquema especulativo. E, finalmente, trazê-las para acionar a dinâmica da produção de curto, médio e longo prazo. Com todas as letras: incorporá-las ao novo modelo de acumulação produtiva.
OBAMA E A LUTA SOCIAL
Por Enéas de Souza
As finanças são indomáveis?
A pergunta que mais interessa é a seguinte: como Obama vai resolver a grave crise americana? Naturalmente, que envolvido no meio de um tumulto formidável, a sua grande vantagem é ter estratégia. E uma estratégia interessante: ele joga no longo prazo, ele tem um pensamento de longo alcance. Como é que faz? Lança a bola lá adiante, bem longe, e manda a turma correr atrás. Tem a visão de que se ficar preso ao tempo curto, não vai resolver nada, vai perder o jogo. A visão de longo prazo lhe permite ter uma base, ter um centro, ter um ponto de apoio para a tentativa do capital de sair do abismo onde está metido. A sua avaliação política está clara: as finanças têm que ser modificadas com o tempo, por enquanto Obama vai comendo o mingau pelas bordas. Elas foram, são e continuarão poderosas, cada vez menos, mas ainda assim poderosas. São plantas que fenecem, mas ainda podem se recuperar com alguma água, mesmo que o regador tenha sumido.
E, como as finanças estão em apuros, estão com problemas de balanço, de valores dos ativos tóxicos, de capital, de liquidez - sem nenhuma proposta nova para o sistema financeiro e para uma nova organização da economia – elas, de fato, estão enfraquecidas. Mas dado o seu poder de fogo, a perspectiva de Obama é deixá-las soltas, mas não ampliar o seu espaço. O objetivo é tentar desgastá-las, fazê-las perder peso, até poder fazer o cerco derradeiro. Enquanto não resolve a situação, Obama busca amparo em todo lugar, inclusive no âmbito internacional, o G-20 é um exemplo. Porque ele não pode atacá-la de frente para domá-la, para incluí-la no seu projeto Elas estão isoladas, mas continuam comandando, cada vez com menor legitimidade, mas continuam na liderança do processo. Desejam retomar a pura dinâmica financeira, desejam o retorno da especulação. Não dizem, mas desejam. Todavia, há um fato novo: elas perderam o apoio do capital produtivo, e elas perderam objetivamente, porque já não podem proporcionar à tesouraria das grandes corporações produtivas rendimentos financeiros apreciáveis. Então, os dois setores estão se deteriorando, mas estão desatados, ambos têm que se virarem sozinhos. E é por aí, que o governo pensa dar ao capital um novo caminho, deslocando-se do modelo financeiro de acumulação para o modelo de acumulação produtiva.
A estratégia de restabelecimento da economia
Obama percebe que o seu ponto de apoio para o restabelecimento do capitalismo é fazer uma união entre o capital produtivo e os trabalhadores. E uma união que perpasse o mundo, porque há uma proposta do governo americano de que haja um relançamento das atividades produtivas em toda parte. E depois, tão logo que puder, trazer as finanças, reformuladas, para o amparo da produção, na figura do crédito. Num primeiro momento, é preciso usar o Estado para resolver minimamente problemas dos trabalhadores: seguro-desemprego, saúde, educação, solução via impostos para o caso das hipotecas, novos empregos no Estado, fazer investimentos em obras públicas para alcançar novos empregos, etc. O ponto alto é jogar com o investimento público para conseguir dar o primeiro passo na articulação capital produtivo e os empregados.
Por outro lado, Obama prepara estímulos de longo prazo para alcançar a construção de um novo patamar de acumulação, mudando a energia e promovendo a incorporação de novas tecnologias. Mas, como diz o meu colega Pedro Fernando Almeida, a questão para Obama é como ligar o curto prazo - onde ele vai ter que fazer uma limpeza de terreno para por as empresas em condições de competição - e o longo prazo. Nesta passagem, que pode durar um, dois ou três anos, ele vai ter que usar as finanças. Pois é aí que aparece o ponto de encruzilhada da sociedade americana: ou elas serão nacionalizadas e submetidas a um novo sistema financeiro ou o governo se entrega e capitaliza os bancos, e a crise se prolonga indefinidamente. A questão tem uma tonalidade exuberante: qual é o montante para salvar, de fato, os ativos podres dos bancos quebrados? Roubini estimava em 3,6 trilhões. Portanto, diante de cifras que vão ameaçar até a estabilidade do governo, porque vão dinamitar as finanças públicas, e no limite último, o próprio dólar, só resta a Obama começar a unir capital produtivo e trabalho, até que possa aparecer a oportunidade – os gregos davam o nome de kairós – para rearmar as finanças em função do desenvolvimento. Ficou claro, inclusive na reunião do G-20, que o problema vai ser o de cercar e laçar as finanças, desmontar e dominar o seu profundo e alentado esquema especulativo. E, finalmente, trazê-las para acionar a dinâmica da produção de curto, médio e longo prazo. Com todas as letras: incorporá-las ao novo modelo de acumulação produtiva.
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