terça-feira, novembro 30, 2010

Liberdade... Assange perseguido pela Interpol: crimes sexuais; por André Scherer

Um dia após divulgar um "vazamento" de documentos comprometendo um "grande banco" dos EUA (em outra entrevista ele confirma ser o BofA), o fundador do WikiLeaks passa a ser perseguido internacionalmente pela Interpol. Crimes sexuais. Alguém acredita?

segunda-feira, novembro 29, 2010

China constrói hotel em seis dias; por André Scherer

Sei que esse vídeo já está um pouco antigo (está já faz quase um mês na Internet), mas me parece espetacular a construção de um hotel de quinze andares em seis dias... ainda mais quando se leva 6 anos para duplicar uma estrada no Brasil.

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Vazamentos financeiros ameaçam Wall Street; por André Scherer

WIKILEAKS... Pouca gente entendeu a real importância do que está ocorrendo. Prometo aos leitores do ECONOBRASIL  uma grande matéria interpretativa sobre o tema. E sobre o que o ativismo de Assange representa, ao meu modo de ver...

Vocês sabem que o site WikiLeaks vazou para todo o mundo as "opiniões" da diplomacia norte-americana sobre os mais diversos temas e também sobre os principais líderes mundiais... muitos deles haviam dado informações aos EUA sob compromisso de sigilo. Bem, Assange, o fundador e porta-voz do site, agora promete um vazamento espetacular com documentos "leakados" de um ou dois grandes bancos norte-americanos. Tudo isso para o início de 2011.

 Assange gosta mesmo de uma boa encrenca, quero ver se ele resiste à força conjunta do Pentágono e Wall Street. Vale a pena dar uma lida no que ele pensa, no que faz e por que faz.

Link relacionado:

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Vencimento dos títulos espanhóis... hummmmm; por André Scherer

Hummmm... a maturidade dos títulos espanhóis não ajuda em nada a conter o contágio europeu. Que aliás, com  toda a justiça, já tem nome devido: Merkel Crash.

Link relacionado:
http://tiny.cc/evr11

sábado, novembro 27, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Europa em contágio fatal?

Três artigos interessantes sobre a possibilidade de contágio das grandes economias europeias dados os sucessivos resgates das economias menores. aliás (e aí está o problema), o estoque de pequenas economias em crise está acabando...

Comentário de um professor alemão recolhido por Evans-Pritchard, do Telegraph: "não se encontra um cofre  bancário disponível  na Alemanha inteira porque eles já estão cheios de ouro e de prata". Preocupante. 

Artigos relacionados:

quinta-feira, novembro 25, 2010

HOJE - Palestra em Chapecó

IX Ciclo de Debates sobre o Desenvolvimento Regional - UNOCHAPECO

Palestra: "Conjuntura Internacional: Oportunidades e Desafios para o Brasil", com André Scherer

Hoje, 25/11 as 19:30 hs.

Convidamos aos leitores do EconoBrasil no oeste catarinense a comparecerem ao evento.

Painel na FEE

O painel de ontem na FEE sobre a economia brasileira no governo Dilma  foi tema de reportagem do Sul21 hoje. 

CRÍTICA FINANCEIRA MUNDIAL
25 de novembro de 2010
COLUNA DAS QUINTAS



A DANÇA RITUAL
DA UNIDADE ECONÔMICA

Por Enéas de Souza



A unidade de política econômica parece ser a grande conquista do governo Dilma. E ela não se fez de rogada. Escolheu uma equipe que vai seguir as suas determinações. Naturalmente, que o ministro da Fazenda tem autonomia para fazer a política determinada pela presidente, como também o ministra do Planejamento tem autonomia para seguir as orientações da Dilma. É o que o mercado financeiro mais esperava; confirmou-se, o presidente do Banco Central também terá a sua autonomia. Ou seja, tem todos autonomia. E são todos auxiliares da presidente do Brasil. Esta talvez seja uma linguagem que os mercados não entendam. Autonomia após as diretrizes.. Felizmente, as instituições financeiras ficaram contentes. O problema da autonomia do Banco Central é importante porque ela é diferente de sua independência. Esta é uma coisa que passa pela incapacidade que tem o presidente da República, depois de escolhido o presidente da Autoridade Monetária, de retirá-lo do jogo. Escolheu, não tira mais. O cara tem mandato definido por lei especial. E a independência significa que o Banco Central não tem que estar alinhado com o Executivo, com o país. O Banco Central escolhe as políticas, as metas, a execução e o Estado que se vire para arrumar os seus gastos, os seus títulos, a sua dívida, a sua política de desenvolvimento, etc. Este modelo é o ideal para as finanças. Por quê? Porque ele não segue a postura estratégica da nação, segue e faz a política dos capitais, dos mercados. Parece que funciona assim: é como se estudantes definissem os temas dos cursos, os horários e a periodicidade das aulas, dos estudos e as questões que vão cair na prova. O professor que se vire, a partir daí pode fazer o que quiser.

Mas, não é disso que queremos falar. O nosso negócio é a unidade do governo, a unidade da economia. Quando o neoliberalismo dominava na época de Fernando Henrique o esquema era o seguinte: O comando do Executivo estava dividido entre o presidente da República de um lado, a Fazenda e o Banco Central de outro. Num segundo momento, sobretudo depois da intervenção do FMI, a cisão foi absolutamente crítica: de um lado, FHC, do outro, a Fazenda e o Banco Central, mas agora com um lado picante, o Armínio Fraga, que dirigia este último, passou a mandar mais do que Pedro Malan e até mesmo que o FHC. Claro que esta linha de fissura era sutil, pois quando tocava assuntos propriamente políticos, seguramente, o Fernando comandava, mas quando se tratava de assunto econômico, o presidente não palpitava. Um, que ele não sabia nada de economia; dois, que o poder estava com os bancos – e logo com o Armínio Fraga.

Com o Lula o jogo foi pouco assim: o Palloci parecia vigorar imperiosamente. Mas, era o Meirelles, então, quem mandava mais que todos. Como diria o Tom Zé, não se podia ofender o Meirelles, porque o mercado não gostava, e obviamente, Pallocci e Lula seguiam o dito. O Pallocci, jeitoso, manêro, sem ofender o Lula, até tava mais com o Meirelles. Diante de alguns clamores do PT, da esquerda, o Lula começou a se aconselhar com economistas; e o Belluzzo e o Delfim insinuaram questões importantes. Lula tinha dúvidas. Até que Palloci, o “médico que sabia mais economia que os economistas”, deu um passo em falso, na sua dança ritual, e foi substituído por Guido Mantega. Pois, Mantega foi a surpresa. Foi um bilhete premiado. Lula foi ver, olhou bem, no princípio Mantega fez uma ou outra bravata, mas logo, logo, se ajeitou e se ajustou; e criou uma primeira cisão forte entre Fazenda e Banco Central. Guido era do lado de cá, era desenvolvimentista. E, embora com alguns arrufos desafetivos, Mantega e Meirelles acabaram encontrando uma linha de convivência e de conduta. Mas, a imbatível combinação Banco Central/Fazenda tinha um trincado na sua taça. O mundo mostrava sinal de mudanças, a fruta tinha amadurecido.

A trajetória vitoriosa de Meirelles - soberbo imperador da economia do Brasil; até Ministro chegou a ser, um posto que no tempo do Delfim era um cargo subordinado - tornou-se por longo tempo o comandante geral da economia, dirigindo medidas, ações, normas, posicionando o Banco Central, o COPOM e a Fazenda, para uma política monetária que favorecia fortemente o modelo financeiro de acumulação, originado aureamente no governo de FHC. Tempos inesquecíveis de Meirelles no Lula I. Depois da queda do Pallocci - o Hipócrates economista - os tempos mudaram. E com a entrada da Dilma na Casa Civil, servindo como o centro de planejamento e aliada inconsutil de Mantega, aconteceu uma transformação na composição do poder econômico na cúpula do governo. O sistema equilibrou. E lentamente, a força foi deixando a praia de Meirelles. Tanto o equilíbrio das contas do governo, com o desempenho de Mantega; como o recomeço do desenvolvimento e o retorno do investimento com a ação firme da Dilma; tanto os resultados da diplomacia de Celso Amorim como os avanços do conhecimento do Estado, do mundo e da economia, por parte do presidente Lula, fizeram com que o balão altivo do Meirelles se tornasse cativo. Acresce a esta química, uma mistura inusitada dos meandros e dos labirintos do fracasso neoliberal no mundo e da recuperação desenvolvimentista, inclusive na China, Índia e que passaram pelo Brasil, foi levando as águas do rio à inevitabilidade da saída de Meirelles. O mundo liberal estava cantando aquela música glorificada por Nora Ney: “Meu mundo caiu”. O tombo sem saudades das finanças, sobretudo dos Estados Unidos; o aumento da taxa de investimento e a busca de crescimento do PIB no Brasil - postulados pela Dilma e também por Mantega - trouxeram um velejar a plenos pulmões para a expansão da economia produtiva. As finanças estavam sendo senão batidas; no mínimo, postas nas cordas com um lutador de boxe acuado. Mas, não esqueçamos: batidas, mas não derrotadas.

Pois, o que está fazendo agora, Dilma? Está tentando dar unidade ao comando da política econômica, que por ser política tem a orientação da presidência da República, e, por ser econômica, deve ser seguida pelos ministros da área. Ou seja, cada um tem individualidade e tem autonomia, cada um deve ter brilho e inteligência pessoal, mas sob as diretrizes do governo e da presidente da República. Portanto, todos agem solidariamente, de modo técnico e político, dentro de uma estratégia e dentro de um projeto de nação. O Estado serve para isso: para organizar e executar uma política nacional. E obviamente, o Estado, via a presidência da República, desenvolve sob este conteúdo uma política econômica global. Pois, além da política monetária, financeira, cambial e fiscal – únicas fundamentais na política econômica neoliberal – constrói-se também uma política industrial, uma política agrícola, uma política de rendas, uma política de comércio exterior, uma política social, uma política tecnológica, etc., etc., etc. Ou seja, o presidente da República trabalha a unidade do Estado no guarda chuva do campo da política e do projeto nacional. Por isso, a unidade da equipe econômica é da maior importância, porque um Estado Desenvolvimentista tem que ter uma unidade de planejamento, de ação e de trajetória. E quem arbitra, obviamente, os conflitos naturais numa equipe do governo é o presidente da República, ouvido os ministros em sua autonomia e complementariedade operativa. Mas, é preciso dizer, e ser claro, nem todos os ministros são iguais, eles agem e são apreciados na sua hierarquia dentro da unidade do governo. Então é bom não confundir hierarquia e autonomia com independência, com o fazer o que bem quiser, com o fazer o que o mercado deseja. O que a Dilma está nos dizendo com as escolhas atuais é isto; há unidade, há hierarquia, há autonomia, mas o ponto principal é a unidade de comando que fica na presidência da República. E o ponto de sustentação de tudo está na política e no projeto nacional. Adeus Meirelles, o tempo do neoliberalismo dominante terminou, começou o do neodesenvolvimentismo. Que este - tenha longa vida!


segunda-feira, novembro 22, 2010

Preconceito em alta no Brasil

Muito interessante o resultado da pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo sobre a percepção dos brasileiros frente aos grupos sociais menos favorecidos. É raiva e ódio para todo lado.

 De minha parte, vale a expressão "eu odeio a quem odeia". Gente chata, se importando com os outros que nunca fizeram nada para eles além de existir e serem diferentes.


CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Irlanda obrigada a pedir auxílio financeiro

Era inevitável, dada a deterioração da situação bancária com a aceleração da fuga de capitais: Irlanda pede ajuda ao European Financial Stability Facility (EFSF) e ao FMI. O montante do resgate é estimado em torno dos 100 bilhões de euros. Ainda se desconhecem os detalhes da operação. 

Agora é esperar para ver se, ao menos momentaneamente, Portugal e Espanha respirarão novamente sem aparelhos.

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domingo, novembro 21, 2010

Palestra na FEE

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Bancos irlandeses em risco, afirma mídia inglesa.

O jogo pesado continua: o mundo tentando empurrar a conta para o povo irlandês a partir de um plano de resgate do seu sistema financeiro e o governo irlandês, por motivos políticos óbvios, tentando obter termos que não retirem completamente a autonomia econômica do país para assinar esse acordo. 

Mas aí, o "mercado" tem a força: os aplicadores estrangeiros estão retirando seus "investimentos" do sistema bancário irlandês, o que pressiona para que a solução seja adotada o mais rapidamente possível, o que joga em favor das propostas oficiais. O vazamento de notícias a esse respeito desde a sexta-feira é apenas mais uma amostra do quão os bancos alemães e ingleses estão empenhados em abocanhar os recursos do Banco Central Europeu e do FMI o quanto antes, deixando a conta para a população irlandesa pagar pelas próximas décadas. E o governo irlandês está comprometido com uma garantia sobre depósitos bancários de 440 bilhões de euros concedida para acalmar a ameaça de corrida bancária ocorrida em 2008. É uma garantia muito acima das possibilidades do país. Já se sabia disso em 2008...

Veja a notícia alarmista no Daily Mail:

quinta-feira, novembro 18, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL

18 de novembro de 2010
COLUNA DAS QUINTAS


O BURACO NEGRO DO DÓLAR

Por Enéas de Souza




A primeira coisa que a gente tem de considerar com a reunião do G-20 é que o neolibralismo está de fato em decomposição, em dissolução. Assim, o que se pode tentar entender é que esta crise é uma crise do capitalismo. Atenção platéia: falei crise do capitalismo. E com isso, é preciso perceber que o capitalismo está com uma perna quebrada, a financeira, e que está tentando um engessamento do resto da sociedade para se salvar, para evitar a gangrena. Olha só: o neoliberalismo fez com que o Estado despeje uma galáxia de dinheiro nos cofres dos bancos para salvar os ativos podres dos que “cuidam do nosso dinheiro”. Então, vou repetir: o neoliberalismo acabou e o capitalismo está em crise. E quando o capitalismo está em crise é isso mesmo que acontece: incapacidade de efetuar investimentos e alto volume de desemprego. Somando a esse ventinho pneumônico, aparecem as complicações de uma crise no comércio internacional e outra nos movimentos de capitais. Há uma doidura geral nos grandes países, principalmente nas transações mercantis: todo mundo querendo ter preço baixo para que os outros países comprem. E eles também desejam que os outros mantenham abertas as entradas de recursos financeiros para aplicações em títulos, bolsas e até mesmo ativos reais, obviamente para sacar do exterior os resultados que faltam nos seus próprios mercados.

Então, o que ocorre é exatamente isso: crise do capitalismo que se expressa cada vez mais naquilo que permite as trocas: a moeda. Claro que não podia ser diferente. Então, estamos numa crise da moeda que é uma crise do dólar. Por quê? Porque não temos mais um padrão monetário confiável nas trocas. Uma das funções da moeda é ser medida de valores. Ora, se padrão é tão volúvel, e pode ser mexido a toda hora, vão-se os preços, vai-se a moeda, vai-se o dólar. Como dizia o poeta Raymundo Correia: “Vai-se a primeira pomba despertada.../ Vai-se outra mais... mais outra...enfim dezenas.” O que a gente tem que entender tem origem nessa verdade: o dólar é hoje uma moeda instável, uma moeda que vai se desvalorizando, uma moeda problemática. O que traz um odor do início de uma profunda crise monetária. Os americanos querem continuar arranjando a sua economia, como se nada tivesses acontecido, e jogar a sua crise no colo dos outros países. Me joga uma bomba que eu gosto de explosão!

Portanto, tudo começa nos Estados Unidos. E começa porque eles eram a primeira economia do mundo e porque eles quebraram. O modelo financeiro de acumulação quebrou, os bancos quebraram, as indústrias quebraram. E o governo botou dinheiro nos bancos e o Banco Central entupiu com os títulos podres. O governo ficou com uma dívida cavalar e um déficit de urso. Ora, isso tudo que principiou em 2007 continua ainda o seu efeito. Efeito que passa para o campo das trocas, afetando, como um knock down de Cassius Clay, o padrão dólar. E a faísca que está no rastilho da dinamite é que os americanos querem vender agora cada vez mais para o exterior, para melhorar a sua indústria e o seu balanço comercial. Para tal, as outras moedas precisam se valorizar, principalmente o yuan. O diagnóstico já está feito a tempo: a culpada é a China. Ah! Ah! Ah! E vejam de onde eles tiram essa idéia: “antes da crise usamos os chineses para deslocar nossas empresas e ganharmos muito dinheiro. E fizemos muito comércio com os próprios Estados Unidos, pois eram as corporações de Tio Sam que estavam instaladas na China. E o que era melhor: os chineses – mágica suprema – ainda nos emprestavam a grana para cobrirmos os furos da balança comercial, comprando os nossos títulos públicos, sustentando assim os nossos delicados déficits anuais e a nossa interessante dívida. Pois bem, agora o jogo virou. É preciso que os chineses desvalorizem a sua moeda para exportarmos mais, para melhorar nossa balança comercial e também desenvolver a nossa indústria. E vejam só, os mandarins estão dizendo não. Ora, isto está virando bagunça; os chineses não estão com medo do Exterminador”. Será possível?

Ora, o que é que quer dizer isso? Jogo pesado e começo de uma guerra cambial. E este é um jogo que não é só de dois parceiros, mas de todo o planeta. Se esta guerra continuar e se os cowboys, os chins, os europeus, os brasileiros, etc. não se entenderem, a briga vai ser generalizada. No G-20 que passou, eles não se entenderam. E aí a coisa pode ficar feia: protecionismo, controle de capitais, desvalorização de moedas, guerra comercial. E desta cadeia de eventos pode resultar (hipótese ainda longínqua, mas não descartável) que algum militar na ativa ache que é preciso fazer alguma coisa, e tentar buscar produtos essenciais à força. Não é um quadro que não tenha ocorrido; pelo contrário, se dá ares de presença frequentemente neste Ocidente azoado. Lembraram do Iraque e do petróleo? A hora pode chegar novamente!

Então repito: crise do capitalismo, crise da moeda. E se o barco continua navegando pode chegar a outros portos; como uma guerra comercial. Ah!, a guerra da moeda não se trata apenas da desvalorização. Toda a questão monetária está em brasa. E por essa razão, duas coisas se insinuam no horizonte da crise. Primeira coisa: ou o dólar no seu processo de valorização progressiva deixa de ser padrão monetário e perde o lugar de equivalente geral; ou este último lugar fica sendo ocupado por diversos outros substitutos em situações pontuais: num momento pelo euro, noutro pelo yen, talvez num instante efêmero pela libra; etc. Nesse ponto, a função reserva de valor da moeda passa a não ter uma moeda mundial, uma moeda de um país que faça o papel universal, que garanta a plenitude da função examinada. E o mundo vira um bordel e uma algazarra. A inquietude torna-se a ave de mau olhar e a bagunça, a cortesia de mercados em decadência. Dito assim, logo se vê, os países vão brigar como Caim e Abel. Até que dê uma inspiração súbita pelo cansaço e aconteça um acordo internacional. O que só emergirá quando ficar nítido quem mandará no mundo. E o que se sabe é que os Estados Unidos são uma potência em caminho descendente..

E parece que não estamos equivocados, porque, se conseguirem se acomodar, o mundo vai ser comandado não por um, mas por dois líderes: USA e China. Cabe, com certeza, uma pergunta: quanto tempo vai levar para que se estabeleça essa conveniência que eles – e o mundo, por conseqüência – se entendam? Os chineses estão progressivamente organizando o seu mercadinho; os americanos nem começaram. A razão é notória: as entidades financeiras, com o seu Congresso republicano anti-Obama, não vão deixar. E o pior é que a antiga economia que eles organizaram se esfalfou e não vai dar mais nem pudim nem doce de leite. No entanto, as finanças vão morrer sempre dizendo que tudo tem que começar com o mercado financeiro, aquele que dá crédito para a produção. (Ouvem-se ao fundo novas e sonoras gargalhadas, porque as finanças são matreiramente especulativas, dão crédito praticamente apenas para o jogo do mercado de títulos e ações). Portanto, este acordo não é para agora. E, de outro lado, sabemos que os chineses não têm uma moeda de curso no mercado mundial. Vão ter que construir uma, possivelmente. Só que isso leva tempo. Ou seja, deste mato não vai sair padrão universal por um bom tempo.

A outra coisa que fica apontando no horizonte é o velho Bankor do Keynes. Uma moeda mundial, uma moeda de referência. Porém, agora, sob a idéia de ser uma moeda ponderada por várias moedas, por uma cesta delas. Até já teve gente falando no Direito Especial de Saque (DES), uma moeda do FMI. Só que aí teríamos vários problemas e a necessidade de uma instituição que tivesse capacidade de controlar essa nova realidade monetária. E obviamente que tivesse força. E não será esse FMI, um pouco vitaminado com novas contribuições dos participantes, que iria fazer o seu trabalho. Seja como for, essa solução vai ter que ter uma arquitetura, tem que ser construída sob um fogo duro e uma batalha vigorosa. Não há no oceano da economia terra à vista. E enquanto a caravana não passa, os cães vão se trucidando. O dólar, via o “quantitative easing 2” (olha o nome!), vai tentando emagrecer e perder valor e, por causa desse movimento, o administrado yuan busca a sombra do dinheiro americano. Já o euro, uma luta das finanças européias; tenta se manter vivo com a Europa se rasgando. Irlanda, Portugal, Grécia e Espanha na mira permanente do default. E na fila, ainda estão presentes candidatos um pouco mais robustos do que estes. A Itália, por exemplo.

Enfim, o que é certo é que o boteco da economia vai mal e o dono não tem dinheiro para garantir o jogo das mercadorias. E esta crise é ainda resultado da crise financeira que se desdobrou numa crise produtiva, que caminhou para uma crise das dívidas e déficits do Estado, que está na rota da deterioração do dólar, que pode levar a problemas monetários nos inúmeros países, que aponta no horizonte para uma crise comercial e que navega na direção ao maremoto de uma crise da ordem econômica e política mundial. Assim, não tenhamos dúvidas: o perigo é, se o mundo bobear, que o dólar acabe nos arrastando para o buraco negro de uma crise maior que a crise de 30. Mudanças sociais e de liderança na economia tem que ocorrer. O jogo entrou no segundo tempo. Por isso, respondam rapidinho: vocês pensam que as finanças têm solução para a economia mundial?

















quarta-feira, novembro 17, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: A armadilha por trás do EFSF, por André Scherer

O principal dispositivo europeu para combater à crise do sistema financeiro é o European Financial Stability Fund. Criado durante a crise grega, trata-se de um fundo sediado em Luxemburgo para servir de emprestador em última instância aos países em dificuldades. Em realidade,o EFSF lastreia emissões de dívida no mercado a partir de um colchão de capital providenciado pelos membros da Zona do Euro.

Satyajit Das mostra que esse mecanismo tende a se tornar um meio de contágio entre os países em dificuldades e os países em situação "normal".  Na medida em que a Irlanda, por exemplo, venha a utilizar recursos do fundo, mais aportes serão exigidos dos demais países para que o EFSF possa preservar sua capacidade de captação no mercado a juros relativamente reduzidos. Ora, supondo-se que países como Portugal e Espanha também venham a se utilizar dos recursos do fundo, maior será a contribuição dos demais países. Ou seja, as contas públicas alemãs (por exemplo) tendem a se deteriorar pelos aportes que o país terá que fazer ao EFSF, na tentativa de mantê-lo operacional. Isso somente pode ocorrer se os países em boas condições tiverem a possibilidade de levar seu endividamento no mercado, o que mostra bem como existe a possibilidade de contágio das dívidas dos países problemáticos sobre as dívidas dos países em relativamente boa situação.

 Isso mostra também como as opções de transferência das dívidas de um lado para outro - do setor financeiro ao setor público; dos países mais débeis aos países mais fortes - estão se esgotando. Está chegando a hora (provavelmente em 2011) dos credores admitirem  triste realidade:  fizeram maus negócios  e terão prejuízos. A possibilidade da ilusão está se esgotando.

Link relacionado: 

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Entrevista com a economista Maria da Conceição Tavares à TV Senado, primeira parte

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Entrevista da economista Maria da Conceição Tavares à TV Senado, segunda parte

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Entrevista da economista Maria da Conceição Tavares à TV Senado, última parte

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Esquadrão europeu "especialista em crise" vai chegar à Irlanda

Parece piada! Mas a mídia especializada fala em "especialistas do FMI, da ECB e da Comissão Europeia em crises financeiras e bancárias viajando à Irlanda para ultimar detalhes do pacote de resgate da economia do país"... Engraçadíssimo: então esse pessoal que não viu a crise chegar e não sabe o que fazer para resolvê-la são os "especialistas", capazes de "salvar" a economia irlandesa???? Pobres irlandeses... 

A realidade aparece é no relatório da BIS: são 650 bilhões de euros devidos pelo país e seu sistema financeiro aos bancos franceses, alemães e ingleses que devem ser pagos até março 2011. Os especialistas são realmente especialistas nisso: transferir ao povo do país em questão os custos dos problemas dos sistemas financeiros nacionais. E salvar os financiadores da encrenca, que saem de fininho embolsando juros bem acima da média do mercado em seus países de origem. Espoliação, esse é o nome do jogo, nem um pouco novo, apenas com novo alvo. Autofagia europeia, isso não vai acabar bem.

Deixando de lado a brincadeira, o bailout vai sair muito em breve, embora a negativa veemente do governo irlandês. Caíram na rede, agora são peixes. Interessante vai ser acompanhar quanto tempo vai demorar para que a pescaria recomece em outras águas...       

segunda-feira, novembro 15, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Euro em risco? Irlanda forçada a aceitar resgate europeu.

Para Ambroise Evans Pritchard, o conservador analista financeiro do Telegraph, a situação europeia está escapando ao controle graças aos erros da ECB. E da insistência dos governos centrais em propugnar a mistificação moralista do ajuste fiscal como uma possibilidade para países que não mais conseguem sustentar os custos de suas dívidas, tanto no setor financeiro, quanto nos setor corporativo privado. E isso acaba tornando irrelevante qualquer ajuste que possa promover o setor público, a despeito do discurso de austeridade... 

Os outros epísódios desde 2007 (subprime, Lehman Brothers, Grécia, para citar os mais importantes) mostram que o custo da inação é sempre pago com juros estratosféricos no calor da batalha: não há como deixar de resgatar o sistema financeiro pois o risco é sistêmico, portanto, compartilhado por todos os envolvidos. O tempo apenas aumenta a fatura a ser paga pela sociedade. No caso europeu, ainda veremos muita luta sobre em quem recairá o custo da brincadeira de imitação dos "dinâmicos" norte-americanos chamada "globalização financeira". Jogo pesado.

O Guardian mostra que Portugal e Espanha estão pressionando o governo irlandês a aceitar o resgate europeu antes que seja tarde. A Irlanda sabe que o caminho é sem volta e que a tranquilidade vai durar apenas mais alguns meses e tenta garantir um financiamento compartilhado permanente para seus bancos falidos, cujas perdas estão apenas iniciando a serem contabilizadas... É possível que o dia 16 amanheça já com as tratativas avançadas. Editorial do mesmo jornal avisa que o governo irlandês está lutando para manter algo que já perdeu: sua soberania econômica. Já disseram isso da Argentina antes, não lembram? Mas, reconheço que a situação da Irlanda é bastante mais delicada e complexa... Vejam bem o tamanho da encrenca.

Links relacionados:

domingo, novembro 14, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Regulação e Crise Financeira

Seguem os slides da palestra sobre regulação e Crise Financeira realizada no Seminário Tendências do Debate em Economia, no auditório da FACE/PUCRS, dia 28/10/010. Comentários serão bem vindos.
Nova Regulação Financeira - André Scherer

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Ascensão e Queda do Capital Financeiro

Nessa semana foram publicados pela Fundação de Economia e Estatística os livros sobre As Três Décadas da Economia Gaúcha, que podem ser acessados na íntegra em http://www.fee.rs.gov.br/3-decadas/.

Meu artigo com o Enéas, inserido no volume 1, traz uma retrospectiva crítica da trajetória da economia mundial e brasileira entre 1979-2009. Dada a amplitude do tema e a limitação do espaço ficou um pouco denso, mas ainda assim, me parece ser uma leitura agradável para quem se interessa pelo tema. Comentários serão muito bem vindos.



1979-2009: Ascensão e Queda do Capital Financeiro

sexta-feira, novembro 12, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Resgate da economia irlandesa em curso; por André Scherer

O resgate da economia irlandesa não vai esperar para 2011, ao que parece. Com o custo de rolagem da dívida irlandesa superando os 8%, a União Europeia está aproveitando o G-20 para antecipar o resgate. Trata-se de uma das mais delicadas operações desde o início da crise mundial e, certamente, envolverá o European Financial Stability Fund (EFSF), criado no primeiro semestre para tentar conter o contágio da crise grega aos demais países fragilizados do continente, em conjunto do recursos do FMI.

Vamos acompanhar de perto essas tratativas e seus resultados, os quais poderão ser determinantes nos rumos e no ritmo da crise financeira mundial nesses próximos meses.

Mais detalhes:



quinta-feira, novembro 11, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
11 de novembro de 2010
COLUNA DAS QUINTAS


DILMA E
A TEMPESTADE
SOBRE O CÂMBIO
Por Enéas de Souza



Naturalmente, que vencida a etapa das eleições no Brasil, volta a preocupação sobre o cenário mundial onde o Brasil está inserido. O jogo está pesado. Isto porque as finanças continuam dominando nos Estados Unidos, e a solução de Bernanke e do FED (pôr 600 bilhões no mercado comprando títulos públicos até a metade do ano que vem) é tentar equacionar o seu problema com uma inflação que vai mudar a paridade do dólar em relação às demais moedas. É uma solução financeira porque não se dá no âmbito de estímulos fiscais (como queria Paul Krugman), dirigidos, prometidos para áreas onde os investimentos seriam fundamentais. Não; são recursos que vão entrar na área financeira e serão aplicados em títulos, naturalmente em mais festa da especulação. Com isso uma nova alavancagem importante surge para as instituições financeiras. E estas, dada as condições complicadas nos Estados Unidos vão se dirigir para o exterior, Hong Kong, Brasil, Alemanha, ou algum lugar que tenha possibilidades de rendas. Mas o que mais importa é que a expansão do investimento no setor produtivo local parece excluído. O sonho do retorno de Keynes, no crepúsculo das finanças, continua sendo uma ilusão ao longe.

YUAN NA SOMBRA DO DÓLAR

Ora, esta manobra é uma manobra interessante dos USA, pois o aumento da massa monetária terá como finalidade imediata baixar o dólar e, além de fornecer recursos para as finanças, este aumento vai permitir maior competitividade das suas exportações. E, portanto, melhorar seu persistente déficit no comércio exterior. Na verdade, trata-se de combater também a China, só que a China, de posse de forte capacidade de jogo de política econômica e com um domínio sobre o nível do yuan, está pronta para fazer o lance mais normal possível: acompanhar o caminho do dólar. E logo, como não trabalham pelo mercado, se o dólar baixar, eles também vão baixar o yuan.

G-20, O LUGAR DO BANG-BANG CAMBIAL

É como aquele filme de faroeste “OK Corral” monetário. E naturalmente, o Brasil tem um interesse especial sobre o assunto. Não se pode ficar sem fazer nada diante de um combate, que pode ser sem tréguas, entre USA e China. E é por isso que Dilma está em Seul: para sentir, para poder conversar, mais dificilmente negociar e - se for o caso - orientar o ministro Mantega sobre suas possíveis idéias. O fundamental é ter estratégia, e o Brasil a tem. A explícita é a de tentar incentivar que a dupla que dirige o mundo se acerte e consiga um entendimento razoável. A implícita é ter um plano para o caso dos países não se entenderem, como é o mais provável. Então, existe um arsenal de medidas que podem ser tomadas, porém a principal, a proteção decisiva – e factível de imediato – é o controle de capitais.

O QUE É QUE A DILMA ESTÁ OLHANDO?

A necessidade fundamental é evitar a invasão de capitais que, como gafanhotos, podem arrasar parte da economia, alterando fortemente o mercado financeiro, como também o mercado de ativos reais. Criando, num primeiro momento, por tabela, a apreciação da nossa moeda. E, claro, oportunizando maiores níveis de importações por parte do Brasil e tendo dificuldades crescentes nas exportações. E com um problema adicional, um segundo mais tarde, a bomba explodindo no balanço de pagamentos, na zona das transações correntes. Ou seja, um verdadeiro desastre. Aí sim, aquela pneumonia que foi apenas uma marolinha na crise de 2007, acamparia nos pulmões nacionais agora em 2010/11. Assim, tudo que parecia ir bem, acabaria mal. O inverso do título da peça de Shakespeare.

O que é que Dilma está olhando? São as nuvens que anunciam tempestade sobre o câmbio, mas não somente o câmbio brasileiro. Porque vamos atravessar uma fase complexa, onde o que está na mira no conflito das finanças e da produção é sem dúvida a moeda. A moeda construída pelo capital financeiro, na verdade, a moeda financeira, onde o fundamental era a combinação da taxa de juros do FED com os títulos do Tesouro Americano, que garantiam – ah, garantiam! – o dólar como o dinheiro que sustentava a função monetária mais importante, a de reserva de valor. Pois isso foi jogado na lixeira com a crise, com a baixa dos juros americanos, com as importações sendo maiores que as exportações, etc. O dólar hoje é uma moeda que saiu do rock da especulação desagradavelmente bêbada. Significa imperiosamente a necessidade não só de resolver a economia globalizada (daí a necessidade de uma moeda padrão), como de fornecer condições para uma trajetória da economia que não atente contra as demais nações.

O JOGO DE CINTURA É UMA QUESTÃO DE DEFESA

Certamente, Dilma, por ser economista, já tem um horizonte de solução país, mesmo dentro do governo Lula. Mantega tem sido hábil na condução da política econômica. E o que importa ver é que a crise da globalização e da economia americana tem que ser solucionada sem que o futuro do Brasil seja abalroado. E na economia, sobretudo na crise, as soluções surgem dos conflitos políticos. E é inequívoco e solar, que as finanças, se puderem, devastam o mundo, mas se salvam. E hoje, se nos Estados Unidos elas comandam, com a queda do neoliberalismo, a concertação de instituições financeiras não tem mais o mesmo domínio sobre o mundo – e sobre nós – como teve no governo de FHC ou mesmo durante parte do governo Lula. A luta dos capitais por espaço se tornou mais impetuosa. Já os nossos banqueiros e empresários não farão mais tanta pressão como fizeram nos anos 90 para o avanço do livre mercado. Um pouco de Estado acham que fará bem, para eles inclusive. É uma questão de defesa. Enfim, o mundo mudou, e é isso que Dilma já sabia e está vendo. Pela primeira vez nas histórias das crises mundiais, nós, o Brasil, estamos com razoável jogo de cintura.

PROTEÇÃO CONTRA A CRISE DA MOEDA

Mas temos que estar de olho na fúria tonta dos capitais das finanças. Por isso, a nossa proteção passa por conter os fluxos volumosos de recursos ávidos de grana fácil. E com isso proteger nossa moeda nesse momento selvagem do câmbio que pode virar uma vasta tempestade. E trabalhar com os demais países para a recomposição estrutural do capital financeiro. Um esforço de Estado e de mercado, do setor público e do setor privado para mudar a hegemonia de financeira para produtiva. E, ao mesmo tempo, saber que a “economia mundo”, como chama Braudel, se polarizará no futuro entre Estados Unidos e China. De qualquer forma, Dilma estará vendo o deslizar deste navio globalizado para encontrar um porto monetário razoavelmente seguro, fora da novidade esperta americana, que hoje diz do dólar para o mundo “toma que o filho é teu”. Trata-se então de conseguir que a moeda transite da fraqueza do dólar para um sistema misto (dólar, euro, yuan, libra, etc.) ou mesmo o Direito Especial de Saque, ou... O Zoellig, o sub do sub do sub, assim apelidado pelo Lula, hoje no Banco Mundial, está até propondo, de uma forma ou de outra, incorporar “a relíquia bárbara”, o ouro. É preciso, pode ver o leitor, é necessário encontrar uma referência monetária. Seja como for, a guerra das moedas já está exibindo o seu filme, que pode até receber o título poético de “O Mundo da Vênus Platinada”. A moeda tem sedução e é uma construção social, faz estrondos na geoeconomia e cala fundo na geopolítica. Por essa razão, enquanto as feras rugem e não se acertam, cabe ao Brasil assumir uma posição não-liberal. O objetivo está claro: controle do fluxo de capitais para evitar que a tempestade caia sobre o nosso câmbio. A favor da nossa economia produtiva e contra a especulação financeira internacional.


terça-feira, novembro 09, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Irlanda vai pedir auxílio ao FMI-UE... em 2011

A grande história de 2011 já está escrita desde hoje. No verão europeu próximo a Irlanda será obrigada a demandar ajuda financeira ao FMI ao EFSF, fundo de auxílio da União Europeia. O déficit público irlandês para 2010 está em 32% do PIB... isso, 32% em um ano, agravado pelas recorrentes necessidades de aportes aos bancos locais. A estrutura da dívida permite que até o meados de 2011 a situação esteja sob relativo controle, mas a partir daí novos recursos serão necessários. O custo hoje de um "seguro" (CDS) contra default da dívida irlandesa se encontra em 600 pontos base, ou seja, 6% acima do custo relativo a dívida alemã... e os problemas hipotecários (a Irlanda observou uma das principais bolhas imobiliárias no mundo até 2007) estão apenas começando por lá. A situação da Europa é calamitosa a médio prazo.

Leia mais sobre as dificuldades da economia irlandesa (o ex "tigre celta") neste artigo publicado no Irish Times http://www.irishtimes.com/newspaper/opinion/2010/1108/1224282865400.html

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: China aperta o controle sobre ingresso de capital externo... Brasil próximo da fila?

A reação dos governos mundiais à intenção explícita da Federal Reserve de monetizar o incremento da dívida interna norte-americana nos próximos meses (ou seja, compara títulos da dívida dos EUA) aumentando a já enorme liquidez no mercado internacional de divisas têm sido no sentido de ampliar os controles sobre a entrada de capital externo.

Após a Coréia ter anunciado medidas no sentido de limitar a entrada de dólares, agora a China, que já possui um dos sistemas de controle mais fortes do mundo, anuncia medidas complementares visando tapar os buracos que a imaginativa atuação dos aplicadores externos vêm explorando para promover o ingresso de capital de curto prazo no país. Isso inclui uma maior supervisão sobre fundos de bancos chineses no exterior. Ao mesmo tempo, serão monitoradas as contas dos bancos do país para que o volume de reservas em dólar não caia de um dia para o outro, entre outras medidas.

O Brasil também parece pronto, após o G20 dessa semana, a ampliar medidas de controle da entrada de capitais estrangeiros de curto prazo. É fundamental, dessa vez, exigir uma "estadia mínima" do capital no país (quarentena) e limitar as possibilidades de aplicações externas em bolsa de valores, com o retorno da cobrança de imposto de renda sobre os ganhos do capital estrangeiro. É quase certo que a reunião do G20 apenas aprofundará as divergências quanto ao tema, restando as soluções individuais de auto-defesa aos países alvo desses capitais que procuram sair do dólar.

Vale o ditado: antes tarde... Voltaremos a esse tema com detalhes em breve.



quinta-feira, novembro 04, 2010

04 11 2010
COLUNA DAS QUINTAS

PORQUE O PSDB PERDEU?
Por Enéas de Souza


ACHANDO RESULTADOS

O PSDB não quer na sua presunção intelectual reconhecer a sua fragorosa derrota eleitoral. E estão tentando achar resultados para dizer que não foram batidos. Daqui mais uns dias, pode ser que eles tentem nos convencer pela mídia, pelo sujeito comunicacional, pela indústria ideológica, de que ganharam ou que foram os vencedores morais da eleição. E poderiam continuar, dizendo que a votação foi equivocada e que o povo não sabe votar. Mas que São Paulo deu a vitória a Serra; que Porto Alegre deu a vitória a Serra; que Curitiba deu a vitória a Serra; que Florianópolis deu a vitória a Serra. E veja-se inclusive a fragilidade do argumento: o PSDB tenta fazer pensar que ter a vitória numa cidade ou numa região é não ter nenhum voto contra. E, por outro lado, dizem no seu silêncio que o Nordeste não interessa; que Brasília não interessa; que o Rio não interessa. É dar mais peso a uns votos que a outros. É o mesmo preconceito dos que um dia votaram contra Lula porque ele era metalúrgico e não falava inglês. Certos eleitores são mais qualificados que outros. No fundo, no fundo, os conservadores se acham os donos do Brasil e não querem que haja uma nova realidade no país. Não querem desenvolvimento com distribuição de renda, porque a distribuição de renda diminui a diferença entre as classes. Não querem a tendência a uma maior igualdade. Parte do PSDB não quer aceitar essa transformação profunda na economia. Resolveram bater chapa – e foram derrotados três vezes! Três vezes: duas com Lula e uma com Dilma. Sempre tratando de dizer, mesmo que no sussurro, mesmo que disfarçadamente, que a financeirização do Brasil foi um sucesso. E esta é a diferença fundamental da política econômica do PSDB e do PT, baseadas ambas na estabilidade da economia. Um, desenvolve a atividade econômica apenas para as finanças e o outro, não só para os capitais; mas também para uma boa parte da população.

PORQUE NÃO LER DESCARTES?

O PSDB paulista está absolutamente equivocado nesta pretensão de se eternizar. E Serra já se lançou candidato à próxima eleição, sendo o seu discurso de derrota, a tentativa de ser um discurso imaginário de vitória. E isto diante da mão estendida de Dilma. O PSDB tem que se convencer que perdeu. E, portanto, fazer uma reflexão, lá consigo, mas uma reflexão honesta, forte, intensa, sempre como fazia Descartes, duvidando das coisas. Aliás, é um bom conselho para Serra. Descartes dizia que se deve duvidar pelo menos uma vez na vida. E parece que Serra não duvida, nem duvidou nunca. Ele é o melhor. O PSDB – porque o PSDB não é Serra; é Aécio, é Alkmin, é Beto Richa, é ainda FHC – deve pensar porque perdeu. Deve fazer mais perguntas do que ter desde logo explicações. Serra não faz perguntas, já tem respostas. E tudo começa com ele nesta derrota eleitoral e pessoal.

MODERNIDADE É FALAR DA HERANÇA?

O PSDB tem que discutir qual é a sua modernidade diante da derrota para o Lula e para a Dilma. Qual é a sua modernidade – obviamente de direita – diante do projeto “desenvolvimento com distribuição da renda”. Os paulistas não querem ceder, mas é indiscutível que Aécio tem, no momento, melhor proposta do que eles. Primeiro, politicamente, uma oposição moderada. Segundo, na economia, uma revalorização do governo do FHC. É verdade que aqui Aécio está equivocado, mas ao menos tenta achar as suas raízes neoliberais. O próprio Serra não procura e também não tem resposta; pois busca ocultar a trajetória do PSDB e de seu único presidente, Fernando Henrique. E por quê? Independente do desastre que foi FHC, que obviamente Aécio não acha, o povo brasileiro discorda soberana e imperiosamente do projeto neoliberal, é a terceira derrota do PSDB na década. O neoliberalismo passou a ser uma árvore frutífera que não dá mais frutos - e nem presidentes. Igualmente, sem indagações hamletianas, Serra também acredita nisso lá no seu íntimo. Pois, nas duas eleições que participou, quase sem nenhuma hesitação, teve imensas dificuldades em reivindicar a herança de FHC. E quando Alckmin trouxe para si as idéias do neoliberalismo, não houve jeito, fracassou sumariamente. E aí está o fulcro da questão. O neoliberalismo é uma posição que acabou. É preciso que a direita tenha uma visão de capitalismo adequado aos novos tempos. Serra deu uma lembradinha na privatização...e derrapou feio na pista, se esborrachou...

NÃO É A HORA?

Aí está o grande tema para o PSDB: repensar a sua posição. Porque a questão do neoliberalismo tem um fundo histórico importante. O PSDB foi fundado por gente que, nos anos 60 e 70, era de esquerda. Assim como a Dilma também era. O problema é que o PSDB inclinou-se para a direita. Mario Covas é que o sustentou numa posição de centro-esquerda/centro-direita, uma lição aprendida com o velho pêndulo de Ulysses Guimarães, sempre de centro. A social-democracia poderia ser isto, mas o social liberalismo, jamais. E os antigos políticos de esquerda foram deslizando para a direita, na direção do neoliberalismo. O FHC fica irritado quando dizem que ele é neoliberal. Fernando, não te irrita! Tua posição é esta mesma! Tu defendes a privatização e o livre mercado. Agora é possível evoluir. Então, está na hora do PSDB refazer as suas fraturas e as suas feridas e repensar uma direita moderna. Não bastaram três derrotas? Não é hora de achar um novo caminho?

CONSERVADORES DO ATRASO OU DO AVANÇO?

O grande equívoco desta posição, desta impertinência de continuar sendo oposição sem ter discurso, sem ter proposta, é terminar como Serra no domingo. Freqüentando uma linha de fronteira perigosa, uma linha de fronteira que envolve um misto de oportunismo, de retardo do processo econômico, de defesa de um atraso político. E logo quando o momento histórico está pendendo para uma nova modernidade no Brasil. Lula chegou à margem do futuro; e Dilma tem a chance de trazer o futuro ao presente. O PSDB, no entanto, está perdendo o seu espaço. Não quer entender que Serra representou os conservadores do atraso. E a direita sempre avançou quando foi conservadora modernizante. Agora vejam onde está a nova modernidade. De fato, um partido que cresceu muito foi o PSB, que é um partido de esquerda, com uma vocação democrática e que traz, pelo menos, uma nova estrela do cenário político: Eduardo Campos. Assim, em termos de jovens, o PSDB não tem ninguém, salvo Aécio. Mesmo Alkmin já não é mais novo. Então, estão no cenário Eduardo Campos, Jacques Wagner, Sérgio Cabral e Tarso Genro, que formam com Aécio, o quinteto dos novos mais expressivos. Ou seja, eles estão a indicar que algo de diferente está nascendo na sociedade brasileira, em termos de política; diga-se, a bem da verdade, de prática política. Só Aécio é do PSDB - e à direita. Os demais, são do campo do centro para a esquerda. E devem incitar ao PSDB uma reflexão que passa tanto pelo projeto econômico, político e social, como pelo recrutamento de seus quadros. E não se trata de idade, a cabeça do PSDB, no momento, está velha. E nada melhor para começar a mudar do que fazer perguntas. E a primeira é a seguinte: porque esta é a terceira derrota para o projeto lulista? Porque perderam? Meu caro Serra, o PSDB perdeu. A derrota pode fazer bem, se o PSDB se reinventar. Caso contrário, a falência múltipla dos órgãos é o seu destino. Ou tornar-se um partido paulista.

A GRANDE VERDADE

Mas a grande verdade é que o PSDB perdeu porque o PT e o Lula tinham um projeto e uma proposta de Brasil mais ampla e mais brasileira. Uma proposta de desenvolvimento, uma proposta econômica e uma proposta social que atingia largas faixas da população. É preciso pensar isso, com carinho, com seriedade, com audácia e com vontade política. Uma proposta de benefício a qualquer classe social deve beneficiar as outras também. E Lula teve êxito porque o Brasil se colocou frontalmente contra o neoliberalismo. Mesmo no período inicial de suas gestões, ele organizou uma canalização coerente de políticas públicas sociais. Com o PAC, com a crise financeira e com a atuação do governo brasileiro no período da dita crise, isentando impostos e retomando a produção e o emprego, Lula e Dilma botaram o governo de FHC ladeira abaixo. Ficou evidente que o neoliberalismo é o governo que distribui renda para cima. Como poderiam Serra e o PSDB combater um governo que deu aumento real de salário mínimo, bolsa família, crédito consignado, Luz para Todos, ProUni e apoiou a agricultura familiar, inclusive com assistência técnica e crédito? Enfim, teria muito mais a dizer, sobretudo sobre este projeto de futuro que se baseia no Estado, no Pré-Sal e na Petrobrás e num ambicionado Fundo Social resultante deste Pré-Sal. O PSDB perdeu porque Lula, Dilma, o PT e os demais partidos apoiadores tinham e têm um projeto claro de continuidade e de ampliação do governo Lula, do Brasil e de inserção do Brasil no mundo. Qual era o projeto do PSDB e de Serra? Fica tanto mais claro quanto mais se fala que o PSDB precisa se reiventar, se modernizar e sintonizar com uma nova modernidade política e econômica que está vivendo o Brasil. E, se isso acontecer, será importante para a sociedade e a democracia brasileira. Acabará a raiva e o ressentimento, começarão as propostas e os projetos políticos de nação. Este é o desafio para o PSDB. E para tal, terá que entender e saber por que perdeu.

CONTRASTE EM FORMA DE PARÊNTESE

(Vejam o contraste com a Dilma. Bateram nela adoidado. Chamaram-na de tudo. Deu o lado, estendeu a mão. E ela tem tudo para vencer, tem qualidades que seus adversários se negam a considerar: inteligência, quando pensam que ela é apenas cria do Lula; fidelidade, quando acham que ela é submissa e sem imaginação; firmeza, quando lhe atribuem um vigoroso autoritarismo; talento, quando não vêem o brilho estratégico do PAC; e serenidade, quando não olham a sua força flexível. Há, todavia, uma qualidade a mais, aqueles que a conhecem sabem que ela tem, uma larga generosidade. E é com esta generosidade que ela vai tentar ampliar a construção de um novo Brasil para a população brasileira. Só resta desejar: boa sorte, Dilma!)

terça-feira, novembro 02, 2010

Eleições nos EUA: propostas inacreditáveis, por André Scherer

As eleições nos EUA são bastante importantes para o governo Obama. Na oposição republicana, destaca-se a novidade dos candidatos Tea Party, ultra-conservadores, que defendem a volta aos valores do século XIX... Misturando misticismo religioso a um conservadorismo rígido, eles querem fazer os EUA retornar aos tempos da colonização e aos "Pais Fundadores".

Amostras do que pensam os representantes do Tea Party:

Many Americans who end up voting for Tea Party-backed Republicans because they are worried about the state of the economy or size of the deficit will be shocked to find the kind of gridlock that will be caused if and when candidates get elected to office who have pledged not to support anything they don't find in their 19th-century view of the Constitution.

A few of the many races to watch:

  • Mike Lee, U.S. Senate Candidate from Utah: Lee, virtually guaranteed a win in this heavily Republican state, will bring to the Senate a remarkably reactionary view of the Constitution and the U.S. government's role in society. He has denounced as "domestic enemies" those who disagree with his radically limited view of the (divinely inspired) Constitution. He would abolish the federal departments of Energy and Education, dismantle the Department of Housing and Urban Development, and phase out Social Security. He says earmarks are unconstitutional. Lee could be one of a number of new senators who take the GOP's already unprecedented campaign of partisan obstruction to a damaging new level.
  • Joe Miller, U.S. Senate candidate from Alaska: Miller says the Department of Education should be eliminated because it's not in the Constitution. Also violating the Constitution, in Miller's mind, was health-care reform and legislation to extend jobless benefits to out-of-work Americans. He says he would phase out Social Security and Medicare.
  • Ken Buck, U.S. Senate candidate from Colorado: Buck calls for the elimination of the federal Department of Energy and Department of Education, the privatization of the Centers for Disease Control and Prevention, and the elimination of student loans. He says he "doesn't know" whether Social Security is constitutional, but calls it a "horrible policy" and says the federal government should not be running health care or retirement programs.
  • Marco Rubio, U.S. Senate candidate from Florida: Rubio calls "statism" the "fastest-growing religion in America."
  • Rand Paul, U.S. Senate candidate from Kentucky: Paul has suggested that Congress should not be making mine safety rules. He says Medicare is socialized medicine. He wants to eliminate the Departments of Education and Agriculture, do away with the Federal Reserve, and abolish the Americans with Disabilities Act.
  • David Hamer, U.S. House candidate from California's 11th Congressional District: Hamer, who calls public schools "socialism in education," wants to abolish public schools entirely and return education to "the way things worked through the first century of American nationhood," when an awful lot of people had no access to educational opportunities.

Ainda sobre o resultado das eleições.. Por André Scherer

Dá para recomendar a leitura desse artigo publicado no blog do Nassif e que ajuda a ter uma precisão maior sobre a distribuição regional da votação em 2010 em comparação com 2006: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/regionalizacao-preconceitos-politicos#more

Boa leitura a todos.

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Um protesto real e efetivo: retirar seu dinheiro dos bancos! Por André Scherer

Premidos pela loucura neoliberal remanescente que pede que os povos paguem via ajustes ficais absurdos pela estupidez financeira reinante nos últimos 30 anos, a reação (tardia ma non troppo) dos europeus não poderia ser mais radical: já que protestar nas ruas não faz mais efeito no mundo dos bancos centrais independentes (dos interesses das populações, evidente), os europeus querem agora sacar seus depósitos dos bancos!!!!!

E o protesto tem até data: 07 de dezembro! E o nome do protesto está absolutamente correto: REVOLUÇÃO.

Independente se vai funcionar, se vão fazer, se vai ter adesão: o simples fato dessa iniciativa estar sendo organizada em larga escala, de forma continental e via internet (ou seja, sem necessidade da cumplicidade da mídia oficial) mostra mais uma vez o óbvio: o neoliberalismo acabou enquanto ordem político-econômica dominante. E a simplicidade (e óbvia eficácia) da forma de luta escolhida mostra que hoje existe uma compreensão quanto ao fenômeno da hegemonia financeira que não permitirá mais que os argumentos de um falso interesse global na manutenção da ordem vigente triunfem.

O mundo mudou radicalmente com a crise financeira de 2007. Está na hora de entregar os anéis... ou ficarão sem as mãos.