28 de maio de 2009
Coluna das quintas
por Enéas de Souza
DOS BLOQUEIOS À MUDANÇA
A informação também é uma arma
Trata-se, no momento, de apurar os verdadeiros contornos da crise. A primeira constatação que percebemos é que um sistema, que sempre pregou a informação e a transparência, a eficiência e a probidade, tem um sistema de informação absolutamente competente, altamente profissional, mas definitivamente – perdoem a palavra – cretino. Ou seja, o sistema é totalmente mentiroso, falsificador, mas muito bem feito e opera extremamente bem no objetivo principal: manter a dominância das finanças e sustentar a idéia de que a crise, se não passou, ela esta em vias de passar. Isto desde 2007. E continua assim. Há um amor cínico pela mentira, por tentar produzir fantasias. E porque se faz isso? Um ponto é obvio faz parte da estratégia das finanças. Mas, eles só mantém estas proposições porque a sociedade aceita. E porque ela aceita? Porque, a ideologia atual perdeu um dos seus braços, a proposta neo-liberal. Isto está morto, desmoralizado, etc. Mas, o que continua vigorando, com muita força, com extrema sedução, é a ideologia do individualismo.
O individualismo é a moeda de ouro do capitalismo
Os indivíduos sabem que a sociedade está em crise, que as finanças se batem entre si, mas não vem alternativas. Não acreditam na esquerda. Não pensam quem revoltas, revoluções, etc. possam ser a solução. Mas, sabem, que numa sociedade capitalista, por menos mobilidade que tenham, ela existe, e portanto, cada indivíduo, você, por exemplo, pode pensar que escapa da debacle geral, pelo seu talento, pelas suas relações, pela sua história, etc. Ou seja, há no coração desta crise, no meio do desabamento da direita e da esquerda, da crise das finanças e do desemprego, a ideologia do individualismo, que é capaz de aceitar e não reagir a estas derrapadas desastrosas e fulminantes deste capitalismo endoidecido.
A especulação é um ponto de fuga no sistema
Digo bem: capitalismo endoidecido. Porque temos um capitalismo cuja sustentação é o movimento desregulamentado da valorização de títulos, que funciona por especulação e portanto, o próprio mercado não tem capacidade de controlar. O mercado financeiro é organizado em torno de dois pontos de fuga, que é o aumento infinito e a redução a zero. Ou seja, o seu sistema de preços é explosivo em qualquer sentido. E é exatamente, por essa razão que o sistema financeiro é suscetível a bolhas. Porque a regulação especulativa é dada pela bolha, que infla e desinfla de acordo com os movimentos em massa dos participantes, sempre suscetíveis a boatos, a idéias, a astúcias, a vigarices, a imaginações, a invenções políticas, econômicas, etc. que conduzem o mercado para um ou para outro lado.
A força dominante no Estado
A força dominante no Estado
O momento atual revela que o capitalismo financeiro funciona livremente pelo lado especulativo, mas que tem sempre um companheiro, um personal training que é o Estado. O Estado fica ali, deixando tudo acontecer em nome da confiança do mercado, ou sustentando-a sob a idéia pouco discutida de risco sistêmico. E o Estado é na verdade uma instituição socialmente construída, mas que tem sempre uma força dominante que o impele a definir posições quando formula políticas econômicas. Nessa direção, o que temo hoje é um Estado voltado para a salvação da sociedade da crise financeira. Ora, esta salvação não é a salvação da sociedade. Podem até serem ações para evitar o caos. Mas, o objetivo primeiro – e praticamente único – é salvar o capital. Na verdade, é salvar as finanças, e não deixar que o conflito decisivo capital-trabalho inaugure-se com extenuada corrosão. Por isso, a salvação da esfera produtiva entra com forte e demorada lentidão.
As contradições que seguram o barco
E o que vemos hoje. Em primeiro lugar, uma contradição no grupo dirigente do capitalismo. As finanças não se entendem. E não se entendem porque as necessidades de rendabilidade e de competição dos grupos são divergentes, todos querem sair melhjor que os demais, e se possíveis que eles desapareçam. Veja-se como resultado desta prática, a decisão desastrada de Paulson em quebrar o Lehman Brothers. Mas, a crise nas finanças, politicamente, não os faz inimigos definitivamente mortais. Há um momento anterior, aquele onde os personagens sabem que estão mal, mas sabem também que devem se unir, para enfrentar a derrocada e os demais adversários.
Nesse sentido, as finanças, mesmo em franjas, se unem, continuam mandando no Estado e bloqueiam maiores reivindicações do capital produtivo, e as escandalosas taxas de desempregos, por exmplo da economia americana, são deixadas de lado na discussão. Vejam Keynes escreveu: “Teoria geral do emprego, do juro e da moeda”. Ou seja, o emprego era um dos temas centrais da sua preocupação como economista. Hoje, um economista financeiro está preocupado com a renda e os juros. O emprego é um problema que lhe interessa pouco. Porque para ele o emprego virá como conseqüência fatal das aplicações financeiras. O que é uma parvoíce. GFazer uma aplicação numa ação de uma empresa, não quer dizer que esta aplicação vai incrementar o aumento de emprego. O emprego não é o ponto de interesse do capital financeiro. É, apenas em parte, do capital produtivo, porque a tecnologia já mostrou que o trabalho tem uma importância muito limitada para o capital. Assim, o trabalho – e conseqüentemente, as questões de emprego, estão subjugadas a duas dominâncias do capital: a hegemonia das aplicações financeiras sobre as inversões produtivas, e a constante renovação tecnológica. São dois obstáculos fundamentais ao movimento dos trabalhadores. E o Estado tem cumprido bem o seu papel: manter as finanaçs funcionando e financiando as pesquisas tecnológicas sem alterar as relações sociais de produção.
De outro lado os trabalhadores, não conseguem mais se agregar em torno das idéias de revolução, sobretudo aquelas revoluções do estilo soviético, chinês, cubano. Elas são referências, mas não podem ser imitadas. Assim, como o capitalismo financeiro não pode mais imitar este capitalismo neoliberal que desabou, os socialistas não podem imitar as revoluções anteriores. Ou, seja é preciso encontrar novas saídas para a crise, seja quem lute pelo capital, seja quem lute pela metamorfoses social. Só que apesar de tudo, está mais fácil para o capital do que para os seus adversários. Vejam-se as duas dominações econômicas brutais: as finanças e a tecnologia.