CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
14 de agosto de 2010
COLUNA DAS QUINTAS
NÃO HÁ PAZ
NA LONGA JORNADA
DENTRO DA GUERRA
(Comédia ou tragédia?)
Por Enéas de Souza
Quando Obama assumiu sabia que o vento passava à tempestade, como uma tarde destas de inverno balouçante e feroz. Mas, esta história da política externa está meio inquietante. Primeiro, porque ele lançou o tema da paz. E a jogada era boa. Stalin numa situação complicada e grave e sem dinheiro para gastar e com um país destruído lançou a cortina de ferro, o comunismo em crescimento e a paz. Deu no que deu. Embora a idéia da paz tenha sido frutífera. Pois, agora foi Obama quem entrou com a carta pacífica. Tudo muito bem, e na sociedade do espetáculo, tudo dá um bom marketing. Só que quando ninguém manda na política externa americana, nem Obama, nem Hillary, nem mesmo o Pentágono - porque não pode insistir demais na guerra, porque o povo é contra - o diabo se diverte com os Estados Unidos. E Obama fica pendurado na palavra.
Comédia ou tragédia?
A idéia da paz era uma boa idéia. O país vai de retro. As finanças dando as piruetas do momento, fazendo os lobbies mais indesejáveis possíveis e a economia não saindo do saco – basta ver o desemprego que continua alto, muito alto: 9,5%. Resultado: a carta da paz é uma bela carta, mas que se esmaece visivelmente. Vejamos o contexto. Obama sai tentando dar um drible em todos, passa a ênfase da guerra do Iraque para o Afeganistão, marcando a promessa de saída do primeiro, e garantindo aos militares com o segundo, a sua boa guerra. O anúncio de que os americanos saem agora em agosto pouca gente acredita, porque não basta que haja retirada de tropas, é importante que saiam também as agências privadas de guerra. Estas vão sair? Não. No caso do Afeganistão, o general Christal falou demais, meio que ridicularizou Washington, teve que abandonar o comando do teatro de operações enquanto o general Petraeus retornou ao campo, só que não mais no Iraque, mas no campo dos afegãos. Contudo, a coisa mais contundente foi essa história do Wikileaks, tremenda enrascada, onde está muita coisa em jogo: a capacidade dos americanos de fazer a guerra, a qualidade da sua estratégia e a segurança dos seus órgãos de inteligência. E, principalmente, a evidência de uma desordem militar, política e de inteligência do povo de Obama. (Isso sem contar o problema do controle da Internet, da qual falaremos proximamente).
Tragédia ou comédia?
Claro, a política externa americana é uma coisa complexa. Mandam três pontos: (1) o gabinete de Obama, (2) Hillary e (3) o Pentágono e a indústria bélica. Ou seja, não há unidade. Um grupo tenta sobrepassar o outro, e todos se atrapalham e o maior poderio do mundo – incontestável – do Exército dos Estados Unidos está colecionando, no momento, a sua segunda monstruosa derrota, o Iraque, e se encaminha para a terceira, o Afeganistão, depois do fatídico Vietnam. E tudo em tempo de busca de paz que é a busca de uma boa guerra. No Iraque, continuam os contratos de petróleo, provavelmente protegidos pelas empresas privadas de guerra (continua lá a turminha do Bush, do Cheney e da Blackwater). No Afeganistão, uma guerra sem sentido, num país devastado pelas lutas com a União Soviética, pela guerra civil e agora pela guerra contra Bin Laden, no pós 11 de setembro. Para se ter uma idéia destas circunstâncias, veja o leitor “Guerra do Terror” de Kathryn Bigelow (*), Oscar deste ano, que é sobre o Iraque, mas vale para o Oriente Médio (inclusive para a projetada e ambicionada guerra do Irã). Neste filme se pode perceber porque alguns americanos ainda vão para o combate, que é uma colcha de bombas chamando os soldados para o abraço do horror.
Ou seja, o lance de Obama está fazendo água, tem a figura de espelho partido: a paz, o Iraque, o Afeganistão, o vazamento de 92.000 documentos da Wilileaks, a fragmentação do comando da política externa, até mesmo a tentativa de criar clima de guerra com o Irã. Reflexo contraditório de sua vitória eleitoral e do desmanche da união finanças–indústria bélica–mídia–militares (que elegeu o governo Bush) e que obviamente ainda está de pé e tenta virar-se e revirar-se para novamente dominar e mandar no jogo. Mas, se algo está desmanchando ainda sem perspectiva de solução é porque não há acordos internos vencedores e muito menos uma nova e coerente política externa. Os conflitos que envolvem os Estados Unidos continuam em ebulição, mas sem transformação profunda. Claro, a hegemonia desleixou-se, mas o bloco insiste via Pentágono, via Wall Street, em ganhar o petróleo, vender armas, fornecer créditos e botar tropas em ação. E porque Wall Street? Para entender, temos que dar um passo adiante de Eisenhower, militar vencedor da 2ª guerra e presidente dos USA, que denunciou a articulação indústria militar e forças armadas. Pois não é que a privatização acrescentou as companhias privadas de guerra e as finanças aos dados do problema? Como é que Obama vai se safar? Conseguirá como presidente a astúcia indispensável e a inteligência e imaginação política para armar uma nova combinação social interna e externa? De qualquer maneira, a crise mostra que a hora é mais do que nunca política – e política de longo prazo. Há que reorganizar a sociedade em torno de uma nova estratégia nacional americana, que só vai sair em cima dos conflitos sociais de interesse, que envolvem forças que estão enlaçadas ou desfeitas desde a deterioração interna da economia e da sociedade até os problemas geopolíticos mundiais, inclusive os aqui referidos. O panelão do diabo ainda acrescentou o recente e espetacular crescimento da China, para temperar o momento.
Comédia ou tragédia?
(*) Quem tiver interesse em ler uma abordagem cinematográfica sobre “Guerra ao Terror” tem um texto meu sobre o filme na revista “TEOREMA” número 16¨, lançada agora em agosto.
14 de agosto de 2010
COLUNA DAS QUINTAS
NÃO HÁ PAZ
NA LONGA JORNADA
DENTRO DA GUERRA
(Comédia ou tragédia?)
Por Enéas de Souza
Quando Obama assumiu sabia que o vento passava à tempestade, como uma tarde destas de inverno balouçante e feroz. Mas, esta história da política externa está meio inquietante. Primeiro, porque ele lançou o tema da paz. E a jogada era boa. Stalin numa situação complicada e grave e sem dinheiro para gastar e com um país destruído lançou a cortina de ferro, o comunismo em crescimento e a paz. Deu no que deu. Embora a idéia da paz tenha sido frutífera. Pois, agora foi Obama quem entrou com a carta pacífica. Tudo muito bem, e na sociedade do espetáculo, tudo dá um bom marketing. Só que quando ninguém manda na política externa americana, nem Obama, nem Hillary, nem mesmo o Pentágono - porque não pode insistir demais na guerra, porque o povo é contra - o diabo se diverte com os Estados Unidos. E Obama fica pendurado na palavra.
Comédia ou tragédia?
A idéia da paz era uma boa idéia. O país vai de retro. As finanças dando as piruetas do momento, fazendo os lobbies mais indesejáveis possíveis e a economia não saindo do saco – basta ver o desemprego que continua alto, muito alto: 9,5%. Resultado: a carta da paz é uma bela carta, mas que se esmaece visivelmente. Vejamos o contexto. Obama sai tentando dar um drible em todos, passa a ênfase da guerra do Iraque para o Afeganistão, marcando a promessa de saída do primeiro, e garantindo aos militares com o segundo, a sua boa guerra. O anúncio de que os americanos saem agora em agosto pouca gente acredita, porque não basta que haja retirada de tropas, é importante que saiam também as agências privadas de guerra. Estas vão sair? Não. No caso do Afeganistão, o general Christal falou demais, meio que ridicularizou Washington, teve que abandonar o comando do teatro de operações enquanto o general Petraeus retornou ao campo, só que não mais no Iraque, mas no campo dos afegãos. Contudo, a coisa mais contundente foi essa história do Wikileaks, tremenda enrascada, onde está muita coisa em jogo: a capacidade dos americanos de fazer a guerra, a qualidade da sua estratégia e a segurança dos seus órgãos de inteligência. E, principalmente, a evidência de uma desordem militar, política e de inteligência do povo de Obama. (Isso sem contar o problema do controle da Internet, da qual falaremos proximamente).
Tragédia ou comédia?
Claro, a política externa americana é uma coisa complexa. Mandam três pontos: (1) o gabinete de Obama, (2) Hillary e (3) o Pentágono e a indústria bélica. Ou seja, não há unidade. Um grupo tenta sobrepassar o outro, e todos se atrapalham e o maior poderio do mundo – incontestável – do Exército dos Estados Unidos está colecionando, no momento, a sua segunda monstruosa derrota, o Iraque, e se encaminha para a terceira, o Afeganistão, depois do fatídico Vietnam. E tudo em tempo de busca de paz que é a busca de uma boa guerra. No Iraque, continuam os contratos de petróleo, provavelmente protegidos pelas empresas privadas de guerra (continua lá a turminha do Bush, do Cheney e da Blackwater). No Afeganistão, uma guerra sem sentido, num país devastado pelas lutas com a União Soviética, pela guerra civil e agora pela guerra contra Bin Laden, no pós 11 de setembro. Para se ter uma idéia destas circunstâncias, veja o leitor “Guerra do Terror” de Kathryn Bigelow (*), Oscar deste ano, que é sobre o Iraque, mas vale para o Oriente Médio (inclusive para a projetada e ambicionada guerra do Irã). Neste filme se pode perceber porque alguns americanos ainda vão para o combate, que é uma colcha de bombas chamando os soldados para o abraço do horror.
Ou seja, o lance de Obama está fazendo água, tem a figura de espelho partido: a paz, o Iraque, o Afeganistão, o vazamento de 92.000 documentos da Wilileaks, a fragmentação do comando da política externa, até mesmo a tentativa de criar clima de guerra com o Irã. Reflexo contraditório de sua vitória eleitoral e do desmanche da união finanças–indústria bélica–mídia–militares (que elegeu o governo Bush) e que obviamente ainda está de pé e tenta virar-se e revirar-se para novamente dominar e mandar no jogo. Mas, se algo está desmanchando ainda sem perspectiva de solução é porque não há acordos internos vencedores e muito menos uma nova e coerente política externa. Os conflitos que envolvem os Estados Unidos continuam em ebulição, mas sem transformação profunda. Claro, a hegemonia desleixou-se, mas o bloco insiste via Pentágono, via Wall Street, em ganhar o petróleo, vender armas, fornecer créditos e botar tropas em ação. E porque Wall Street? Para entender, temos que dar um passo adiante de Eisenhower, militar vencedor da 2ª guerra e presidente dos USA, que denunciou a articulação indústria militar e forças armadas. Pois não é que a privatização acrescentou as companhias privadas de guerra e as finanças aos dados do problema? Como é que Obama vai se safar? Conseguirá como presidente a astúcia indispensável e a inteligência e imaginação política para armar uma nova combinação social interna e externa? De qualquer maneira, a crise mostra que a hora é mais do que nunca política – e política de longo prazo. Há que reorganizar a sociedade em torno de uma nova estratégia nacional americana, que só vai sair em cima dos conflitos sociais de interesse, que envolvem forças que estão enlaçadas ou desfeitas desde a deterioração interna da economia e da sociedade até os problemas geopolíticos mundiais, inclusive os aqui referidos. O panelão do diabo ainda acrescentou o recente e espetacular crescimento da China, para temperar o momento.
Comédia ou tragédia?
(*) Quem tiver interesse em ler uma abordagem cinematográfica sobre “Guerra ao Terror” tem um texto meu sobre o filme na revista “TEOREMA” número 16¨, lançada agora em agosto.
Um comentário:
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