sexta-feira, outubro 21, 2011

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: "Crise ampliará a presença do Estado"; por André Scherer

Segue a entrevista concedida à coluna que o CORECON-RS tem no Jornal do Comércio de Porto Alegre e que é publicada toda sexta-feira:
Crise ampliará presença do Estado
Nos recentes debates sobre a crise mundial, a pressão é grande para que os europeus resolvam rapidamente a crise e os problemas de seus bancos fragilizados. Para o economista André Scherer (CORECON/RS - 4888), a crise europeia tem potencial para impactar fortemente a economia mundial. Confira abaixo.

CORECON/RS – Quais as razões que levaram a crise 
internacional, que envolve países da Zona do Euro? 
André Scherer - A crise financeira mundial iniciou-se ainda em 2007, com o fim da bolha especulativa imobiliária nos EUA. Essa crise mudou de fase em 2008, quando, após o episódio da falência do banco de investimentos Lehman Brothers, o crédito parou de irrigar a economia, os mercados financeiros perderam liquidez e a economia “produtiva” foi fortemente afetada, também em caráter mundial, com quedas expressivas no volume do comércio internacional. Nesta fase da crise, a situação é mais grave na Europa, uma vez que a moeda por lá foi constituída sem o suporte de um tesouro e de uma União fiscal. É isso que leva a intermináveis discussões sobre como, quando e quem paga pelo resgate dos sistemas financeiros e dos países atingidos pela crise. 
CORECON/RS - A crise ameaça a economia mundial?
Scherer -É importante ter em mente que o sistema financeiro mundial é, hoje, constituído por uma ‘teia’ de relações que ‘enozam’ os diversos produtos financeiros em escala mundial. A globalização produtiva, embora em ritmo mais lento, também propaga o impacto de uma queda da atividade econômica na Europa para os demais continentes. Para o Brasil, o melhor cenário possível é uma intervenção governamental na Europa que, embora não solucione, ao menos evite um agravamento maior da crise. 
Nesse cenário, as economias do centro (Europa, EUA e Japão) continuam estagnadas, mas permitem ao eixo ora dinâmico da economia mundial, capitaneado pela China, a continuidade de seu crescimento, ainda que em ritmo menor. Isso reduz, a médio prazo, as disparidades entre os países desenvolvidos e as economias emergentes. Para a economia brasileira, a grande questão é se a economia da China (e, consequentemente, o preço das commodities) será impactada negativamente pela crise européia.
CORECON/RS - O Estado injetará recursos?
Scherer - A intervenção do Estado na salvação do sistema financeiro é uma imposição da realidade concreta. Do contrário, levaria a enorme depressão mundial, com consequências político-sociais graves. A questão é que a intervenção em grande escala, se necessária, não pode repetir erros de 2008, quando deixou praticamente intocado o modus operandi das finanças que haviam levado à crise.
CORECON/RS - Quais as principais consequências?
Scherer - Nós, aqui na FEE, desde 2007, já alertávamos que a crise que se iniciava seria de longa duração, levando à desintegração do neoliberalismo que prevaleceu desde os anos 80.  É o que vem ocorrendo em um processo que agora começa a se acelerar. O debate público sobre as causas da crise e os beneficiários do sistema, que se intensifica com a ampliação da pressão popular nos países desenvolvidos, levará a uma reorganização institucional a partir de mudanças políticas. Acredito em maior presença do Estado na economia, preocupação com a economia produtiva e com a inovação e políticas ativas, visando à redução das desigualdades de renda. Isso somente será possível com um controle estrito sobre os fluxos internacionais de comércio e de capitais, que permita uma nova divisão internacional do trabalho. Ou seja, o oposto do que marcou a economia mundial nos últimos 30 anos.

Nenhum comentário: