CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
11 de agosto de 2011
Coluna das quintas
TODAS CRISES SÃO UMA SÓ
Por Enéas de Souza
São tantos assuntos a discutir. A crise americana e a crise européia; a situação do Brasil e a sua resposta à crise global; a questão da corrupção, essa flor negra e malcheirosa plantada no jardim brasileiro; e as inúmeras manifestações de violência que assolam várias partes do mundo, desde Santiago do Chile, Noruega, TelAviv até a Síria, até a Espanha e até as mais midiáticas de todas: as explosões das cidades inglesas. Pensava eu, neste momento, escrever sobre o nosso país, depois de ter me centrado na crise americana e na crise européia. Mas vou continuar tratando dessas, dados os acontecimentos dos últimos dias, pois a crise do eixo USA-Inglaterra-Europa está no centro do tráfico do capital financeiro. E aglutina eventos econômicos, políticos e sociais que estão eclodindo como efeito de uma crise mais profunda, mais decisiva, mais devastadora: a crise mundial do capitalismo. Essa sim é a verdadeira crise, aquela que interessa e da qual o Brasil não está isento e da qual faz parte. Prefiro, por essa razão, analisar o quadro mais geral, pois certamente ele tem repercussões e determinações muito fortes sobre todas as regiões. E não poderia ser diferente, afeta também o país de Macunaíma e de Brás Cubas. Ou como diria Glauber Rocha, o país de Paulo Martins. O que é preciso ver é que a crise capitalista tem características gerais que perpassam todas as partes, só que ela tem um rosto que se mostra singular nas figuras históricas de cada lugar e de cada país.
NÃO EXISTE CRISE ISOLADA, TODO MUNDO ESTÁ NO INCÊNDIO
1) As crises não podem ser tomadas isoladamente. A crise dos Estados Unidos, a crise da Inglaterra, por exemplo. O que está acontecendo é uma crise da dinâmica do capital, levando suas instituições ao limite. Tínhamos, até 2007/08, um único eixo econômico, cujo pólo dominante era os Estados Unidos e que enlaçava todo o mundo. Seu ponto culminante, sua pedra preciosa, seu toque de gênio foi capturar a China para a realimentação do seu capital. E duas foram as conexões: o deslocamento das indústrias americanas para a produção de suas mercadorias, a preços mais baixos, na China e a atração dos saldos do comércio externo dessa para serem aplicados como reservas chinesas nos títulos do Tesouro Americano. Faziam essas operações parte da dinâmica expansiva do capital com a hegemonia financeira dos Estados Unidos, que se articulava e se expandia por todo o mundo. Esse processo tem o nome de globalização financeira, mas que não é apenas financeira, pois esse movimento reorganizava também o espaço da produção das multinacionais. As finanças iam à frente, puxando o barco produtivo. Ou seja, o capitalismo sempre teve uma pretensão de universalidade, sempre buscou ir além das fronteiras nacionais. Um economista chegou a dizer que o capital é sem pátria. Tivemos nesses últimos tempos, então, um capitalismo que buscava se expandir por um espaço extra-nacional e que passava por dentro de múltiplos países. Ele tinha, além de uma faixa de acumulação mundial, uma zona de acumulação restrita, pois penetrava no interior de uma nação. Era como uma centopéia, um corpo amplo unindo vários pés. Logo, esse capitalismo, com fortes movimentos multinacionais, com um espaço de acumulação mais amplo que o território das nações, estava inscrito tendencialmente a absorver ou a se confrontar com os Estados nacionais. Árvore frutífera que, gerada num quintal, dá galhos e frutos no terreno ao lado.
2) A crise de 2007/08 colocou em cheque brutalmente a liderança financeira americana. E pode-se ver a passagem – e isso vem se consolidando desde aí – de um eixo único mundial para a constituição de dois eixos, um que é o eixo Estados Unidos-Inglaterra-Europa, que está em turbulência, e um segundo eixo, cujo dinamismo parte da China, agrega Ásia, África e engata também na América Latina, sobretudo com o Brasil. Só que o Brasil, como o resto desta América, sempre esteve e ainda está no eixo americano, digamos assim, por simplificação. Mas, dizendo melhor, estamos na conexão, estamos entre os dois eixos, fato que tem conotações econômicas e políticas Significa que estamos hoje mais vinculados produtivamente à China, mais financeiramente aos Estados Unidos e mais politicamente ligados ao Ocidente. Contudo, saímos pelas reuniões dos Gs, pelos fóruns e pelos congressos um tanto companheiros dos BRICS.
3) Fiquemos então com a análise da turbulência. A crise de 2007/08 deu uma explosão no eixo único, partindo-o em dois, e restringindo o fulgor dela ao eixo USA-UK-EU, mas com efeitos bem menos potentes sobre o outro pólo liderado pela China. O tumulto não deixou de afligir, inclusive, os países que estão na conexão dos dois eixos. Tornou-se evidente que a dinâmica financeira mundial havia se rompido, pois o vulcão americano teve que lidar com a falência e o rearranjo dela. Enquanto que, do lado da China, a dinâmica do capital foi hegemonizado pelo Estado, que passou a comandar as peças financeiras, produtivas, comerciais e de serviço do capital, encadeando e rearranjando as articulações com a Ásia: Hong-Kong, Coréia, Singapura, e até ao Japão. Já a Índia e o Brasil, por exemplo, ficaram na ligação vacilante entre os dois eixos. Essa dinâmica econômica global, em processo de fracionamento, ia também construindo no plano político a passagem da unipolaridade americana para uma possível bipolaridade Estados Unidos-China. E com essa descrição já podemos constatar alguns efeitos: I) a fragmentação da economia universal liderada pelos Estados Unidos; II) a constituição de dois eixos dinâmicos baseados nos Estados Unidos e na China; III) a reformulação do novo eixo americano com uma recomposição de cada um dos seus integrantes, afetados com as crises nomeadas americana, inglesa e européia; IV) e os desafios múltiplos infligidos às economias que estão na conexão: Brasil, Índia, Rússia, por exemplo. Fica, então, a sinopse da peça: a crise pegou todo mundo e ela é inexoravelmente mundial.
ESTAMOS NA ÚLTIMA ESTRADA DA PRAIA DO NOVO PADRÃO
Agora, amigo leitor, mais outro passo. Existe no capitalismo um processo de longa duração que se desdobra em vários ciclos econômicos, caracterizados pela constituição de padrões de acumulação produtiva animados por indústrias que puxam a economia como um todo. E que, de tempos em tempos, entram em crise e dão nascimento a outro padrão. É o caso agora: estamos saindo de um baseado no petróleo e no automóvel e que possibilitou a criação de várias indústrias de produção em massa. Tendo chegado ao seu final, se dirige, meio tumultuadamente, para um outro patamar, que vai se organizar ao redor das indústrias de comunicação e informação. Mas tenhamos em mente que essas indústrias que vão passar a liderar já estavam no padrão que termina, pois a presença da eletrônica e da informática veio dando alento final a ele, através da modificação da tecnologia no setor de bens de capital com a mecatrônica; através da transformação na comunicação de dados no setor das instituições financeiras; e através da transformação da mídia, inclusive com a presença irreversível da internet, etc. Estamos, portanto, rumando na direção de um outro oceano. E para lá chegar, a transição não é automática; o capitalismo não se faz sem obstáculos, sem resistências, sem crises, sem rupturas, sem violência, já que a trama do real é caracterizada por agrestes e selvagens conflitos. A hora é essa: o passado está chegando e o futuro ainda não é presente.
A AUTO-IMPLOSÃO DO EIXO AMERICANO
1) O nosso objetivo, portanto, é examinar os eventos dramáticos que ocorreram nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Europa. Vamos situar o episódio do rebaixamento da nota dos Estados Unidos, os inúmeros distúrbios na Inglaterra, o surpreendente rumor da ameaça de rebaixamento da nota da França e os ataques especulativos contra bancos franceses de importância. É claro, para quem lê esta coluna, que essa não é uma nova crise, como muitos economistas e a grande parte da mídia estão afirmando. Na verdade, é o prosseguimento da crise do neoliberalismo de 2007/08 que está se revelando uma crise da economia capitalista. E os desdobramentos de agora são os conseqüências daqueles momentos. Por isso que a crise financeira nos Estados Unidos se espalhou por todo o eixo, incendiando a Inglaterra e a Europa, e deixando problemas que eclodiram nesses tempos soturnos, mas cômicos, de forma diferente e em pontos distintos, evidenciando questões políticas, econômicas ou sociais. A lógica dos Estados Unidos, da Inglaterra, da Europa fez a sua parte, naturalmente que dentro de uma espécie de sistema, um sistema de vasos comunicantes, pois o que ocorre num lugar pode contagiar outro, seja num plano ou noutro.
2) A crise financeira levou a três situações distintas no eixo americano. Nos Estados Unidos, a situação recente era a incapacidade do Estado de regulamentar as finanças. A hegemonia desse setor era de tal ordem que houve dois salvamentos públicos, inúmeros programas do FED para dar liquidez e solvabilidade aos bancos, o que terminou por fazer com que esses, novamente robustos (embora com a queda de seus mercados e com a liquidação de alguns produtos e a reduzida inovação de outros), se impusessem novamente como líderes do processo. E, com garra renovada, atacaram o Estado com a sua velha proposição de cortes de gastos. Pois essa ação estava dentro do desejo do setor financeiro, que, podemos assinalar, é de (I) acabar com o controle público de suas atividades, ou seja, eliminar os pequenos controles que passaram a existir depois da anêmica reforma bancária do Congresso em 2009, sendo o alvo único e obsessivo o retorno à plena auto-regulação; (II) manter a dinâmica financeira livre, usando o crédito para especulação e sendo o crescimento econômico a conseqüência de um efeito derivado, a retomada do consumo tão rápida quando possível; (III) subordinar o Estado nacional através do domínio de FED, do Tesouro, de agências reguladoras de áreas da economia e do próprio Legislativo, esse por intermédio de lobbies; (IV) cortar gastos para que os Estados possam pagar belos juros pela compra de títulos públicos e para que possam usar a dívida pública com a finalidade de cumprir uma função financeira do Estado: a de emprestador em última instância – uma função salientada por Hyman Minsky.
3) Pois como conseqüência de endividamentos anteriores e do endividamento durante a crise, a dívida americana tinha chegado ao limite de um teto fixado pelo Congresso em 14,3 trilhões de dólares. Claro que a solução para o problema era aumentar o referido limite e, ao mesmo tempo, exigir corte de gastos e/ou aumentar impostos. Mas, a sociedade pós-crise não é nada fácil, diversos problemas continuam se impondo: empobrecimento da população, perda de emprego, baixa do consumo, perda de residências, assistência pública diversificada, etc. E entre os grupos sociais existem muitos pensamentos sobre as causas e diversas propostas de solução para a presente crise. Pensamentos e soluções geralmente encharcados de ideologia. E no bojo do processo americano surgiu uma proposta contundente para a crise da dívida. Uma proposta mais à direita, fogosamente reacionária, e, portanto, mais à direita do que a da própria direita. Não só cortar gastos, mas forçar o governo de Obama a só gastar o que arrecadasse. E com um propósito maligno: cortar na pele do social. Essa lava de vulcão veio da extrema direita, de um grupo do Tea Party. Uma beleza de concepção fiscal!
4) Lançaram o bode na sala. O Tea Party forçou, batalhou, conspirou e constrangeu a sociedade a ir mais para a direita, quase arrastando para o abismo o Partido Republicano e uma parte dos democratas. O resultado final foi o aumento controlado e escalonado da dívida e o estabelecimento de cortes nos gastos. E a perfídia do controle: a aprovação de uma comissão parlamentar para definir quais cortes efetuar. Ou seja, foram derrotados Obama, o Partido Democrata, o Partido Republicano, as finanças e a sociedade pobre. Mexeram na colméia, todos queriam o mel e emergiu um bando furioso de abelhas, picando para todo o lado. E foi por esse bloqueio que uma fração das finanças, sentindo-se abandonada e criticando os partidos políticos, partiu para tocar fogo na aldeia. A Standard and Poor´s, uma agência de rating, acabou por rebaixar a classificação e a nota dos Estados Unidos (triple AAA), após o fechamento da Bolsa de sexta-feira, dia 5 de agosto. E essa atitude instalou um pânico especulativo que sacudiu o mundo, dando origem a um medo que se espalhou pela sociedade planetária. Um revival piorado de 2007/08
5) Que fatos importantes ocorreram aí? A par da paralisia e limitação objetiva do governo Obama, evidenciou-se um limite da democracia. Como é que um Estado poderoso é capaz de ser derrubado por uma agência de rating, onde meia dúzia de técnicos funcionários tem a petulância de fazer uma avaliação e uma análise fuleira, com erros de cálculos de 2 trilhões de dólares? Como é que essa mesma agência é também capaz de fazer julgamentos sobre o comportamento de partidos, pondo os Estados Unidos e o tão santificado mercado e o mundo à beira do abismo?
6) Mas não foi somente nesse ponto que o limite foi alcançado. Existe um outro e aconteceu na esfera política. Como é que um grupelho de parlamentares – deputados – pôde jogar o governo numa situação de aprisionamento, sob certa forma com a conivência moderada de outros parlamentares? E, dessa maneira, pôde-se constatar que, politicamente, os americanos começaram a traçar um caminho muito forte com o Tea Party para a direita e para o fascismo. E não se viu nenhuma resistência maior a essa energia direitista. Imaginem então se ocorrer uma aglutinação de finanças, Pentágono, mídia conservadora e Tea Party. Já do ponto de vista econômico, abriu-se, com essas medidas, uma crise fiscal que embaralha mais ainda as possibilidades da retomada do crescimento. Não fica no horizonte nenhuma possibilidade de investimento e da criação de empregos. Por outro lado, a decisão do FED de não aumentar a taxa de juros, por um período de dois anos, até 2013, teve o poder de parar, na terça feira, dia 9, o movimento depressivo da Bolsa de Valores. Pois tal medida instala alguma certeza, favorecendo, meio que esfarrapadamente, a liquidez, o que tende a trazer o retorno da manivela e o círculo vicioso da especulação.
Que notícias péssimas para a democracia e para a economia americana.
O INTERVALO INGLÊS: A PAUSA QUE NÃO REFRESCA
Não podemos esquecer, então, os distúrbios da Inglaterra. Esse país foi a primeiro que salvou aos bancos e fez uma meia sola na direção financeira deles, mas tudo retornou à felicidade dos bônus. De outra parte, o Governo inglês instalou um processo contracionista, reduzindo salários e custos sociais, o que, na prática, levou muitos ao desemprego. E o resultado foi escandalosamente claro: baderna e saques na rua, dos jovens sem trabalho, dos injustiçados, etc. Foi assim como em outras partes da Europa. E não se pode olvidar o ato direitista do fuzilamento de pessoas na Noruega. Enfim, ligando o Tea Party, com as desordens das cidades inglesas, com os movimentos de Madrid, as revoltas na Grécia, etc., etc., movimentos das mais diversas orientações políticas e sociais, uma coisa é clara: a direita se organiza, tem apelo social pela exclusão que propõe, requer sempre forças repressivas para buscar uma ordem não democrática. Age contra o medo com o medo da força. O que vai deter esses atores? E mais profundamente: qual é o movimento que a esquerda e as forças da liberdade propõem?
A QUARTA FEIRA DA BOMBA EUROPÉIA
1) A crise nos Estados Unidos é uma crise política e social grave e uma crise fiscal controlável no interior de uma crise econômica sem perspectivas de retomada do crescimento. Estamos na véspera e na linha de tiro de um fuzil recessivo. É verdade que o sistema bancário está ainda parcialmente controlando o seu colapso, mas a moldura dessa pintura é o avanço da crise do capitalismo. Já a face européia é uma crise política extremamente grave, uma crise econômica ampla, uma crise eminente do sistema bancário e uma crise fiscal poderosa. E tudo tomou um caminho sinistro por causa do rumor de que a França, dado sua situação fiscal e, inclusive, a fragilidade dos seus bancos (Société Générale, BNP Paribas), iria sofrer um rebaixamento de nota como o dos Estados Unidos. Depois, ficou constatado que a França tem uma dívida de 85,4 % do seu PIB, (contra 102,4% dos Estados Unidos) e um déficit que está em 5,7% embora tivesse chegado a 7,1% (versus 11% dos americanos). E a comicidade chegou ao climax quando a inefável Standard and Poor´s acabou por declarar que a situação francesa era melhor do que a dos Estados Unidos, sobretudo porque o pessoal do vinho e do queijo controlava melhor a execução orçamentária. A conclusão depois dessas trapalhadas e da especulação que se deu em cima, principalmente, dos bancos franceses é que o capital financeiro está em desespero e relativamente desarticulado e não está enxergando uma trajetória a seguir. Vamos então à depredação do patrimônio: os mercados financeiros estão caindo; as moedas (dólar e euro) estão balançando, balançando; e os Estados europeus estão quase preparados para uma queda em dominó: Irlanda, Grécia, Portugal... Espanha...Itália, e hoje...França (escrevo quarta-feira, dia 10).
Ah! O ouro chegou a 1.800 dólares.
2) A saída da Europa é política e tem de haver um movimento em direção a um Tesouro europeu, agora, já! E preparar uma agenda onde se estabeleça um projeto de constituição de um Estado. Faço, então, as indagações indispensáveis: querem isso os países da região, os políticos e os povos europeus? Querem isso Sarkozy e Ângela Merkel? Veja-se a Alemanha, sua população está rejeitando qualquer movimento de aportar recursos. É certo que a Alemanha vai ganhar, mas como diz meu colega André: “vai perder, porque vai pagar a conta”. Na Europa, temos o exemplo frontal de que, nos últimos tempos, os capitais foram na frente, varando tudo o que encontravam na estrada, até que a crise de 2007/08 deu uma porretada neles. E depois, logo em seguida, ampliaram e se enredaram mais ainda nos empréstimos aos Estados da mesma zona, empréstimos impagáveis, como o que acontecerá com a Grécia. Ou seja, na Europa, parece que, se houver uma crise bancária, ela se tornará igualmente uma crise de Estado. E se, ao contrário, a crise vier do Estado, ela se transformará imediatamente em crise bancária. Portugal mostrou isso exemplarmente. Por isso que todas as ajudas aos países têm que resolver tanto o endividamento estatal como o fortalecimento dos bancos. E olhem que nem estamos falando no crescimento da economia e no aumento do emprego.
FÁCIL DE NOMEAR
Retornamos ao ponto fundamental. Olhe-se por onde se olhar, esmiúce o que tiver que ser esmiuçado, estamos numa crise do capitalismo, uma crise que não é uma crise da longa duração, mas sim uma crise do longo prazo, na verdade um crise cíclica, uma crise de um padrão de acumulação em transição para outro. Fácil de nomear, difícil de chegar ao outro lado do rio. É preciso aprender a nadar.
São tantos assuntos a discutir. A crise americana e a crise européia; a situação do Brasil e a sua resposta à crise global; a questão da corrupção, essa flor negra e malcheirosa plantada no jardim brasileiro; e as inúmeras manifestações de violência que assolam várias partes do mundo, desde Santiago do Chile, Noruega, TelAviv até a Síria, até a Espanha e até as mais midiáticas de todas: as explosões das cidades inglesas. Pensava eu, neste momento, escrever sobre o nosso país, depois de ter me centrado na crise americana e na crise européia. Mas vou continuar tratando dessas, dados os acontecimentos dos últimos dias, pois a crise do eixo USA-Inglaterra-Europa está no centro do tráfico do capital financeiro. E aglutina eventos econômicos, políticos e sociais que estão eclodindo como efeito de uma crise mais profunda, mais decisiva, mais devastadora: a crise mundial do capitalismo. Essa sim é a verdadeira crise, aquela que interessa e da qual o Brasil não está isento e da qual faz parte. Prefiro, por essa razão, analisar o quadro mais geral, pois certamente ele tem repercussões e determinações muito fortes sobre todas as regiões. E não poderia ser diferente, afeta também o país de Macunaíma e de Brás Cubas. Ou como diria Glauber Rocha, o país de Paulo Martins. O que é preciso ver é que a crise capitalista tem características gerais que perpassam todas as partes, só que ela tem um rosto que se mostra singular nas figuras históricas de cada lugar e de cada país.
NÃO EXISTE CRISE ISOLADA, TODO MUNDO ESTÁ NO INCÊNDIO
1) As crises não podem ser tomadas isoladamente. A crise dos Estados Unidos, a crise da Inglaterra, por exemplo. O que está acontecendo é uma crise da dinâmica do capital, levando suas instituições ao limite. Tínhamos, até 2007/08, um único eixo econômico, cujo pólo dominante era os Estados Unidos e que enlaçava todo o mundo. Seu ponto culminante, sua pedra preciosa, seu toque de gênio foi capturar a China para a realimentação do seu capital. E duas foram as conexões: o deslocamento das indústrias americanas para a produção de suas mercadorias, a preços mais baixos, na China e a atração dos saldos do comércio externo dessa para serem aplicados como reservas chinesas nos títulos do Tesouro Americano. Faziam essas operações parte da dinâmica expansiva do capital com a hegemonia financeira dos Estados Unidos, que se articulava e se expandia por todo o mundo. Esse processo tem o nome de globalização financeira, mas que não é apenas financeira, pois esse movimento reorganizava também o espaço da produção das multinacionais. As finanças iam à frente, puxando o barco produtivo. Ou seja, o capitalismo sempre teve uma pretensão de universalidade, sempre buscou ir além das fronteiras nacionais. Um economista chegou a dizer que o capital é sem pátria. Tivemos nesses últimos tempos, então, um capitalismo que buscava se expandir por um espaço extra-nacional e que passava por dentro de múltiplos países. Ele tinha, além de uma faixa de acumulação mundial, uma zona de acumulação restrita, pois penetrava no interior de uma nação. Era como uma centopéia, um corpo amplo unindo vários pés. Logo, esse capitalismo, com fortes movimentos multinacionais, com um espaço de acumulação mais amplo que o território das nações, estava inscrito tendencialmente a absorver ou a se confrontar com os Estados nacionais. Árvore frutífera que, gerada num quintal, dá galhos e frutos no terreno ao lado.
2) A crise de 2007/08 colocou em cheque brutalmente a liderança financeira americana. E pode-se ver a passagem – e isso vem se consolidando desde aí – de um eixo único mundial para a constituição de dois eixos, um que é o eixo Estados Unidos-Inglaterra-Europa, que está em turbulência, e um segundo eixo, cujo dinamismo parte da China, agrega Ásia, África e engata também na América Latina, sobretudo com o Brasil. Só que o Brasil, como o resto desta América, sempre esteve e ainda está no eixo americano, digamos assim, por simplificação. Mas, dizendo melhor, estamos na conexão, estamos entre os dois eixos, fato que tem conotações econômicas e políticas Significa que estamos hoje mais vinculados produtivamente à China, mais financeiramente aos Estados Unidos e mais politicamente ligados ao Ocidente. Contudo, saímos pelas reuniões dos Gs, pelos fóruns e pelos congressos um tanto companheiros dos BRICS.
3) Fiquemos então com a análise da turbulência. A crise de 2007/08 deu uma explosão no eixo único, partindo-o em dois, e restringindo o fulgor dela ao eixo USA-UK-EU, mas com efeitos bem menos potentes sobre o outro pólo liderado pela China. O tumulto não deixou de afligir, inclusive, os países que estão na conexão dos dois eixos. Tornou-se evidente que a dinâmica financeira mundial havia se rompido, pois o vulcão americano teve que lidar com a falência e o rearranjo dela. Enquanto que, do lado da China, a dinâmica do capital foi hegemonizado pelo Estado, que passou a comandar as peças financeiras, produtivas, comerciais e de serviço do capital, encadeando e rearranjando as articulações com a Ásia: Hong-Kong, Coréia, Singapura, e até ao Japão. Já a Índia e o Brasil, por exemplo, ficaram na ligação vacilante entre os dois eixos. Essa dinâmica econômica global, em processo de fracionamento, ia também construindo no plano político a passagem da unipolaridade americana para uma possível bipolaridade Estados Unidos-China. E com essa descrição já podemos constatar alguns efeitos: I) a fragmentação da economia universal liderada pelos Estados Unidos; II) a constituição de dois eixos dinâmicos baseados nos Estados Unidos e na China; III) a reformulação do novo eixo americano com uma recomposição de cada um dos seus integrantes, afetados com as crises nomeadas americana, inglesa e européia; IV) e os desafios múltiplos infligidos às economias que estão na conexão: Brasil, Índia, Rússia, por exemplo. Fica, então, a sinopse da peça: a crise pegou todo mundo e ela é inexoravelmente mundial.
ESTAMOS NA ÚLTIMA ESTRADA DA PRAIA DO NOVO PADRÃO
Agora, amigo leitor, mais outro passo. Existe no capitalismo um processo de longa duração que se desdobra em vários ciclos econômicos, caracterizados pela constituição de padrões de acumulação produtiva animados por indústrias que puxam a economia como um todo. E que, de tempos em tempos, entram em crise e dão nascimento a outro padrão. É o caso agora: estamos saindo de um baseado no petróleo e no automóvel e que possibilitou a criação de várias indústrias de produção em massa. Tendo chegado ao seu final, se dirige, meio tumultuadamente, para um outro patamar, que vai se organizar ao redor das indústrias de comunicação e informação. Mas tenhamos em mente que essas indústrias que vão passar a liderar já estavam no padrão que termina, pois a presença da eletrônica e da informática veio dando alento final a ele, através da modificação da tecnologia no setor de bens de capital com a mecatrônica; através da transformação na comunicação de dados no setor das instituições financeiras; e através da transformação da mídia, inclusive com a presença irreversível da internet, etc. Estamos, portanto, rumando na direção de um outro oceano. E para lá chegar, a transição não é automática; o capitalismo não se faz sem obstáculos, sem resistências, sem crises, sem rupturas, sem violência, já que a trama do real é caracterizada por agrestes e selvagens conflitos. A hora é essa: o passado está chegando e o futuro ainda não é presente.
A AUTO-IMPLOSÃO DO EIXO AMERICANO
1) O nosso objetivo, portanto, é examinar os eventos dramáticos que ocorreram nos Estados Unidos, na Inglaterra e na Europa. Vamos situar o episódio do rebaixamento da nota dos Estados Unidos, os inúmeros distúrbios na Inglaterra, o surpreendente rumor da ameaça de rebaixamento da nota da França e os ataques especulativos contra bancos franceses de importância. É claro, para quem lê esta coluna, que essa não é uma nova crise, como muitos economistas e a grande parte da mídia estão afirmando. Na verdade, é o prosseguimento da crise do neoliberalismo de 2007/08 que está se revelando uma crise da economia capitalista. E os desdobramentos de agora são os conseqüências daqueles momentos. Por isso que a crise financeira nos Estados Unidos se espalhou por todo o eixo, incendiando a Inglaterra e a Europa, e deixando problemas que eclodiram nesses tempos soturnos, mas cômicos, de forma diferente e em pontos distintos, evidenciando questões políticas, econômicas ou sociais. A lógica dos Estados Unidos, da Inglaterra, da Europa fez a sua parte, naturalmente que dentro de uma espécie de sistema, um sistema de vasos comunicantes, pois o que ocorre num lugar pode contagiar outro, seja num plano ou noutro.
2) A crise financeira levou a três situações distintas no eixo americano. Nos Estados Unidos, a situação recente era a incapacidade do Estado de regulamentar as finanças. A hegemonia desse setor era de tal ordem que houve dois salvamentos públicos, inúmeros programas do FED para dar liquidez e solvabilidade aos bancos, o que terminou por fazer com que esses, novamente robustos (embora com a queda de seus mercados e com a liquidação de alguns produtos e a reduzida inovação de outros), se impusessem novamente como líderes do processo. E, com garra renovada, atacaram o Estado com a sua velha proposição de cortes de gastos. Pois essa ação estava dentro do desejo do setor financeiro, que, podemos assinalar, é de (I) acabar com o controle público de suas atividades, ou seja, eliminar os pequenos controles que passaram a existir depois da anêmica reforma bancária do Congresso em 2009, sendo o alvo único e obsessivo o retorno à plena auto-regulação; (II) manter a dinâmica financeira livre, usando o crédito para especulação e sendo o crescimento econômico a conseqüência de um efeito derivado, a retomada do consumo tão rápida quando possível; (III) subordinar o Estado nacional através do domínio de FED, do Tesouro, de agências reguladoras de áreas da economia e do próprio Legislativo, esse por intermédio de lobbies; (IV) cortar gastos para que os Estados possam pagar belos juros pela compra de títulos públicos e para que possam usar a dívida pública com a finalidade de cumprir uma função financeira do Estado: a de emprestador em última instância – uma função salientada por Hyman Minsky.
3) Pois como conseqüência de endividamentos anteriores e do endividamento durante a crise, a dívida americana tinha chegado ao limite de um teto fixado pelo Congresso em 14,3 trilhões de dólares. Claro que a solução para o problema era aumentar o referido limite e, ao mesmo tempo, exigir corte de gastos e/ou aumentar impostos. Mas, a sociedade pós-crise não é nada fácil, diversos problemas continuam se impondo: empobrecimento da população, perda de emprego, baixa do consumo, perda de residências, assistência pública diversificada, etc. E entre os grupos sociais existem muitos pensamentos sobre as causas e diversas propostas de solução para a presente crise. Pensamentos e soluções geralmente encharcados de ideologia. E no bojo do processo americano surgiu uma proposta contundente para a crise da dívida. Uma proposta mais à direita, fogosamente reacionária, e, portanto, mais à direita do que a da própria direita. Não só cortar gastos, mas forçar o governo de Obama a só gastar o que arrecadasse. E com um propósito maligno: cortar na pele do social. Essa lava de vulcão veio da extrema direita, de um grupo do Tea Party. Uma beleza de concepção fiscal!
4) Lançaram o bode na sala. O Tea Party forçou, batalhou, conspirou e constrangeu a sociedade a ir mais para a direita, quase arrastando para o abismo o Partido Republicano e uma parte dos democratas. O resultado final foi o aumento controlado e escalonado da dívida e o estabelecimento de cortes nos gastos. E a perfídia do controle: a aprovação de uma comissão parlamentar para definir quais cortes efetuar. Ou seja, foram derrotados Obama, o Partido Democrata, o Partido Republicano, as finanças e a sociedade pobre. Mexeram na colméia, todos queriam o mel e emergiu um bando furioso de abelhas, picando para todo o lado. E foi por esse bloqueio que uma fração das finanças, sentindo-se abandonada e criticando os partidos políticos, partiu para tocar fogo na aldeia. A Standard and Poor´s, uma agência de rating, acabou por rebaixar a classificação e a nota dos Estados Unidos (triple AAA), após o fechamento da Bolsa de sexta-feira, dia 5 de agosto. E essa atitude instalou um pânico especulativo que sacudiu o mundo, dando origem a um medo que se espalhou pela sociedade planetária. Um revival piorado de 2007/08
5) Que fatos importantes ocorreram aí? A par da paralisia e limitação objetiva do governo Obama, evidenciou-se um limite da democracia. Como é que um Estado poderoso é capaz de ser derrubado por uma agência de rating, onde meia dúzia de técnicos funcionários tem a petulância de fazer uma avaliação e uma análise fuleira, com erros de cálculos de 2 trilhões de dólares? Como é que essa mesma agência é também capaz de fazer julgamentos sobre o comportamento de partidos, pondo os Estados Unidos e o tão santificado mercado e o mundo à beira do abismo?
6) Mas não foi somente nesse ponto que o limite foi alcançado. Existe um outro e aconteceu na esfera política. Como é que um grupelho de parlamentares – deputados – pôde jogar o governo numa situação de aprisionamento, sob certa forma com a conivência moderada de outros parlamentares? E, dessa maneira, pôde-se constatar que, politicamente, os americanos começaram a traçar um caminho muito forte com o Tea Party para a direita e para o fascismo. E não se viu nenhuma resistência maior a essa energia direitista. Imaginem então se ocorrer uma aglutinação de finanças, Pentágono, mídia conservadora e Tea Party. Já do ponto de vista econômico, abriu-se, com essas medidas, uma crise fiscal que embaralha mais ainda as possibilidades da retomada do crescimento. Não fica no horizonte nenhuma possibilidade de investimento e da criação de empregos. Por outro lado, a decisão do FED de não aumentar a taxa de juros, por um período de dois anos, até 2013, teve o poder de parar, na terça feira, dia 9, o movimento depressivo da Bolsa de Valores. Pois tal medida instala alguma certeza, favorecendo, meio que esfarrapadamente, a liquidez, o que tende a trazer o retorno da manivela e o círculo vicioso da especulação.
Que notícias péssimas para a democracia e para a economia americana.
O INTERVALO INGLÊS: A PAUSA QUE NÃO REFRESCA
Não podemos esquecer, então, os distúrbios da Inglaterra. Esse país foi a primeiro que salvou aos bancos e fez uma meia sola na direção financeira deles, mas tudo retornou à felicidade dos bônus. De outra parte, o Governo inglês instalou um processo contracionista, reduzindo salários e custos sociais, o que, na prática, levou muitos ao desemprego. E o resultado foi escandalosamente claro: baderna e saques na rua, dos jovens sem trabalho, dos injustiçados, etc. Foi assim como em outras partes da Europa. E não se pode olvidar o ato direitista do fuzilamento de pessoas na Noruega. Enfim, ligando o Tea Party, com as desordens das cidades inglesas, com os movimentos de Madrid, as revoltas na Grécia, etc., etc., movimentos das mais diversas orientações políticas e sociais, uma coisa é clara: a direita se organiza, tem apelo social pela exclusão que propõe, requer sempre forças repressivas para buscar uma ordem não democrática. Age contra o medo com o medo da força. O que vai deter esses atores? E mais profundamente: qual é o movimento que a esquerda e as forças da liberdade propõem?
A QUARTA FEIRA DA BOMBA EUROPÉIA
1) A crise nos Estados Unidos é uma crise política e social grave e uma crise fiscal controlável no interior de uma crise econômica sem perspectivas de retomada do crescimento. Estamos na véspera e na linha de tiro de um fuzil recessivo. É verdade que o sistema bancário está ainda parcialmente controlando o seu colapso, mas a moldura dessa pintura é o avanço da crise do capitalismo. Já a face européia é uma crise política extremamente grave, uma crise econômica ampla, uma crise eminente do sistema bancário e uma crise fiscal poderosa. E tudo tomou um caminho sinistro por causa do rumor de que a França, dado sua situação fiscal e, inclusive, a fragilidade dos seus bancos (Société Générale, BNP Paribas), iria sofrer um rebaixamento de nota como o dos Estados Unidos. Depois, ficou constatado que a França tem uma dívida de 85,4 % do seu PIB, (contra 102,4% dos Estados Unidos) e um déficit que está em 5,7% embora tivesse chegado a 7,1% (versus 11% dos americanos). E a comicidade chegou ao climax quando a inefável Standard and Poor´s acabou por declarar que a situação francesa era melhor do que a dos Estados Unidos, sobretudo porque o pessoal do vinho e do queijo controlava melhor a execução orçamentária. A conclusão depois dessas trapalhadas e da especulação que se deu em cima, principalmente, dos bancos franceses é que o capital financeiro está em desespero e relativamente desarticulado e não está enxergando uma trajetória a seguir. Vamos então à depredação do patrimônio: os mercados financeiros estão caindo; as moedas (dólar e euro) estão balançando, balançando; e os Estados europeus estão quase preparados para uma queda em dominó: Irlanda, Grécia, Portugal... Espanha...Itália, e hoje...França (escrevo quarta-feira, dia 10).
Ah! O ouro chegou a 1.800 dólares.
2) A saída da Europa é política e tem de haver um movimento em direção a um Tesouro europeu, agora, já! E preparar uma agenda onde se estabeleça um projeto de constituição de um Estado. Faço, então, as indagações indispensáveis: querem isso os países da região, os políticos e os povos europeus? Querem isso Sarkozy e Ângela Merkel? Veja-se a Alemanha, sua população está rejeitando qualquer movimento de aportar recursos. É certo que a Alemanha vai ganhar, mas como diz meu colega André: “vai perder, porque vai pagar a conta”. Na Europa, temos o exemplo frontal de que, nos últimos tempos, os capitais foram na frente, varando tudo o que encontravam na estrada, até que a crise de 2007/08 deu uma porretada neles. E depois, logo em seguida, ampliaram e se enredaram mais ainda nos empréstimos aos Estados da mesma zona, empréstimos impagáveis, como o que acontecerá com a Grécia. Ou seja, na Europa, parece que, se houver uma crise bancária, ela se tornará igualmente uma crise de Estado. E se, ao contrário, a crise vier do Estado, ela se transformará imediatamente em crise bancária. Portugal mostrou isso exemplarmente. Por isso que todas as ajudas aos países têm que resolver tanto o endividamento estatal como o fortalecimento dos bancos. E olhem que nem estamos falando no crescimento da economia e no aumento do emprego.
FÁCIL DE NOMEAR
Retornamos ao ponto fundamental. Olhe-se por onde se olhar, esmiúce o que tiver que ser esmiuçado, estamos numa crise do capitalismo, uma crise que não é uma crise da longa duração, mas sim uma crise do longo prazo, na verdade um crise cíclica, uma crise de um padrão de acumulação em transição para outro. Fácil de nomear, difícil de chegar ao outro lado do rio. É preciso aprender a nadar.
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