É simbólica e importante a presença do governador Tarso Genro na posse do presidente da FEE, Adalmir Antonio Marquetti. Em um estado que investe tão pouco em ciência e tecnologia, como o Rio Grande do Sul, a presença do governador pode ser um indicativo de que, finalmente, se iniciará o reconhecimento da importância da produção de dados qualificados para o embasamento das decisões de governo e, quem sabe, também para a geração de conhecimento científico de base.
Investimento em ciência básica e tecnologia e no(s) órgãos de assessoramento técnico-científico do Estado, na verdade, são atividades complementares, mas distintas. A tradição de não investimento em uma e outra, no entanto, é antiga e demonstra, mais do que o desconhecimento de sua importância, o desprezo puro e simples da sua necessidade para o bom exercício da gestão pública e para a promoção do desenvolvimento social e econômico da sociedade gaúcha.
O desprestigiamento da FEE, com o congelamento das verbas de investimento e manutenção e dos salários de seus quadros técnicos, de um lado, bem como o não cumprimento do percentual constitucional das transferências estatais para o fundo de financiamento científico, mantido pela FAPERGS, demonstra o menoscaso com que os governos anteriores trataram estas áreas.
Não por desconhecimento de sua importância, ressalte-se, mas porque a maioria dos governantes preferiu sempre relegar a tarefa de produzir conhecimento inovador que impulsiona o desenvolvimento e que possibilita melhor desempenho das funções públicas às universidades federais e às poucas universidades estaduais existentes no país, na melhor das hipóteses, ou aos centros de pesquisas internacionais, públicos ou privados, na pior das alternativas.
Muitos dos governantes brasileiros e gaúchos que integraram a leva ultraliberal tupiniquim acreditaram que se poderia importar conhecimento e que seria mais barato fazê-lo. Erro crasso. Esqueceram-se, ou melhor, tentaram fazer parecer que se esqueciam, de que conhecimento não é mercadoria de compra e venda direta. Quem detém conhecimento não o entrega, a não ser a preço muito elevado, e, quando o faz, entrega, normalmente, apenas os resultados finais do processo, mantendo para si, e como segredo, as etapas de sua geração.
Gerar um centro de pesquisas requer investimento pesado e contínuo por não menos do que 10 ou 15 anos – tempo médio de maturação necessário para que se produza massa crítica suficiente para a geração de cientistas e de um centro de excelência em pesquisas. Custa caro, sim, mas é o preço que se deve pagar para se obter boas informações e bom embasamento para a tomada de decisões no setor público e para se promover o desenvolvimento econômico e tecnológico avançado. Sem isto não se romperá nunca o circulo de dependência que ainda nos mantêm presos aos países e centros hegemônicos internacionais.
Se Tarso Genro pretende, como vem anunciando desde a campanha eleitoral e reafirmando desde sua posse como governador, retirar o Rio Grande do Sul da estagnação econômica e do atraso social e administrativo ao qual se mantêm atrelado há anos, é imprescindível que ele retome e aumente em muito os investimentos na FEE e nos seus técnicos, na FAPERGS e, inclusive, na UERGS.
O simbolismo da presença do governador na posse do presidente da FEE, por si só já alvissareiro, poderia ser reforçado com o estabelecimento de um calendário de aumento progressivo das transferências do orçamento público estadual para a ciência e tecnologia, definindo uma data para o cumprimento integral da determinação constitucional estadual para o setor.
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