terça-feira, setembro 07, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: A nova peça do dominó europeu

Não é surpresa para ninguém as notícias de que a Irlanda apresenta dificuldades no resgate ao seu sistema financeiro. Para entender melhor o significado que pode vir a ter um aprofundamento desse problema, vamos de início relembrar algumas propsições (fatos estilizados diriam alguns mais prolixos) quanto as características da crise financeira na Europa (afinal, faz tempo que abandonei vocês por essas páginas, é bom relembrarmos algumas coisas):

1) a crise na Europa é consequência direta da adoção de um modelo anglo-saxão de liberalização financeira e da tentativa dos bancos europeus em fazer concorrência direta aos bancos e demais instituições financeiras norte-americanos e ingleses, adotando para tanto práticas tão ou mais agressivas visando a conquista de "mercados" tanto nos EUA quanto no resto da europa;

2) esse comportamento resultou em uma hipertrofia do sistema financeiro europeu, com bancos gigantescos, bastante alavancados e, portanto, ainda mais frágeis que seus congêneres norte-americanos (os europeus se atiraram de cabeça em um jogo em que eles não detinham as regras nem conheciam tão bem);

3) a adoção do euro levou à constituição de uma moeda sem o suporte correspondente de um Tesouro, baseada em compromissos fiscais de fácil contorno e de lógica econômica absurda (Tratado de Maastricht). Sem mecanismos de coordenação entre os Estados-membro, o capital inundou países que tiveram artificialmente reduzidas suas taxas de juro (Portugal, Espanha e Grécia, por exemplo), ao mesmo tempo em que alimentou bolhas imobiliárias tão ou mais importantes do que a norte-americana em diversos países como Irlanda, Espanha e Inglaterra;

4) a disseminação das inovações financeiras integrou o sistema financeiro europeu ao anglo-saxão (assim, imediatamente os principais bancos franceses, alemães, holandeses, belgas e suíços foram impactados pelo estouro da bolha imobiliária norte-americana e a redução dos preços dos ativos que se seguiu) mas também, e, principalmente, no interior do continente. A teia de relações assim constituída faz com que qualquer default bancário ou soberano tenha efeitos sistêmicos de difícil mensuração e separação;

5) a assunção sob a forma de garantias estatais dos prejuízos dos sistemas financeiros dos países somada a queda na arrecadação fiscal originada da deterioração da atividade econômica levou ao aumento dramático da dívida soberana de países como Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia.

Em resumo, a crise financeira mundial é a responsável pelas dificuldades do sistema financeiro europeu. E a irlanda não é um país pequeno nesse jogo, onde a crise de um aumenta as dificuldades de todos.

Uma crise irlandesa poderia ser o gatilho para uma crise inglesa e daí para os EUA... Entraríamos em uma quarta e última etapa da crise financeira, com a própria moeda mundial, o dólar, sob desconfiança. Por isso a Irlanda é fundamental no dominó financeiro. Evitar sua queda deveria estar no centro das preocupações das autoridades financeiras mundiais. Mas, o histórico de pífia atuação preventiva até o momento, a falta de clarividência quanto as consequências de uma omissão, permitem grande otimismo quanto à atuação oficial. Para ver com atenção e acompanhar de perto.

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