CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
20 de maio de 2010
COLUNA DAS QUINTAS
VAMOS PARA
20 de maio de 2010
COLUNA DAS QUINTAS
VAMOS PARA
A DEPRESSÃO?
Por Enéas de Souza
O TIRO DAS FINANÇAS NÃO VAI AONDE ELA QUER
Não se pode ver a crise da Europa isoladamente e culpar a Grécia como o bode expiatório da realidade. É preciso ver que isso tudo faz parte da instalação das finanças no comando do mundo. Mas, hoje, é ela quem está caindo. E, contudo, como fera acuada, as finanças estão manobrando para pôr nos governos a culpa; empurrar para a população os custos; e assumirem, com a astúcia de vítima, um pouco mais, o domínio político-econômico das regiões. E, ameaçam. Sim, ameaçam. Ameaçam com um ataque de gavião, onde a sua garra financeira, fulminante, rasga e dilacera. Trata-se de uma garra que tem o nome de especulação. E que traz um ás escondido, uma receita econômica preferida: corte de gastos, diminuição de salários dos funcionários públicos, liquidação dos regimes de aposentadorias, aumento de impostos sobre os bens de consumo, etc., visando uma falsa estabilização. E, olha a perfídia das mentes traiçoeiras e das bactérias oportunistas: em nome de que os governos vão ter menos receitas, porque este plano é obviamente deflacionário, contracionista, dobram a aposta e retornam, num segundo tempo, a um novo movimento especulativo, ameaçando os governos e as nações de uma crise sem precedente. Mas, o resultado final não será o que eles almejam, porque sempre pensam individualmente. E o que é bom para um capital, não é para todos – e muito menos para todos os países. Então, este jogo não será aquele de um tiro no pé, vai ser o de um tiro no próprio peito.
A BALA ARMADA
O grave problema é que de um lado, os governos, tendo criado a desregulamentação dos mercados financeiros, ao ouvirem a sedução das finanças, se encontram hoje impedidos – por estarem ligados a este setor – de tomarem medidas extremas para re-haver o controle público da economia. Exemplo: poderiam definir uma regulamentação para as finanças; interditarem vários tipos de operações e títulos; poderiam nacionalizar os bancos; e poderiam, ponto supremo da mais extrema audácia, estatizar os bancos. Então, dada a impossibilidade destas medidas, abrem-se aos famosos e ditos planos de austeridade e, logo, às avenidas tensas e críticas da revolta social. E olhe, leitor perseverante, elas já estão vagando pela Grécia. Num passe de temor, podem incendiar outros países ameaçados: Espanha, Portugal e Itália. Como também já se sentem comichões pela França. Porém, com olhos míopes dos governos pelas idéias neoliberais e pela terapia da austeridade buscam dar uma medicina “amarga, mas necessária” como os cortes e os aumentos que já falamos acima. Como é que não querem que se diga que os Estados continuam na mão dos mercados? É a visão dos Arsène Lupin das finanças. Que vão acabar por recuperar no social o mito de Robin Hood, que Ridley Scott está exibindo agora nos cinemas do mundo. Vê-se que o cinema é capaz de funcionar como metáfora dos eventos econômicos. E tudo se passa, através da indústria midiática da ideologia, como se os bancos não tivessem participado do excesso de crédito oferecido aos Estados. As instituições financeiras querem enrolar a quem? Terapia da austeridade é aperitivo para novas especulações, é transferência de renda do Estado e da população para as finanças. E, obviamente, é a bala armada para o tiro no peito.
QUE ESTADO AS FINANÇAS CONSTRUÍRAM?
É preciso analisar o tema dentro da dinâmica do capital e da organização da política em função do triunfo progressivo, desde os anos 70, do setor financeiro. O primeiro movimento foi criar um desfavorecimento à área produtiva via uma taxa de juros imbatível – uma taxa de rendimento do capital aplicado nos mercados financeiros – em face da expectativa dos resultados futuros dos investimentos produtivos. Esta hegemonia tornou o setor financeiro um sugador de recursos do setor produtivo e dos trabalhadores. Já o segundo movimento foi garantir que as políticas monetárias e financeiras, e mesmo fiscais, fossem todas na direção do incentivo às finanças privadas. E a ação forte, como um ferro abrasador, foi dominar os governos, separando a área econômica da influência da atividade política normal. Os bancos centrais passaram, de uma forma ou de outra, a assumir um papel de independência e de autonomia em relação aos executivos. E em muitos deles, a própria Fazenda (chamadas de Finanças ou Tesouro em alguns países), como propugnador das políticas financeiras do próprio sistema. Criou-se o Estado Financeiro em toda a sua dimensão hegemônica e coercitiva. O ápice deste movimento foi, certamente, a desregulamentação que permitiu inúmeros fatos: alavancagens absurdamente perigosas; nenhum controle sobre os níveis de capital para solucionar aplicações podres; possibilidades quase infindáveis de securitizações que elevavam as apostas financeiras alargadas teoricamente ao infinito. E, sobretudo, à combinação ou ao conúbio espúrio entre os bancos comerciais e os bancos de investimento que davam insegurança aos depósitos e margens amplas para especulações devastadoras, como estas que não afrontam apenas aos investidores e aos bancos, mas ao próprio e ao garantidor em última instância, o Estado. É a visão contemporânea da sentença romana “delenda Cartago”. Porém o que se escuta é a voz do último desejo das Finanças.
O VÍRUS DA ESPECULAÇÃO NA SOCIEDADE
Pois com as finanças soltas como cães danados na noite das sociedades, o crédito foi praticamente direcionado para as especulações, e a financeirização assumiu a sociedade em todos os níveis: na esfera da produção, via governança corporativa e o princípio do valor acionário; na esfera do governo com ataques aos orçamentos, déficits e dívida pública. E, como desdobramento lógico desta dominância, o ataque frontal à remuneração de funcionários públicos e assalariados. Ora, se combinarmos esta reboldosa com a estrutura do Estado financeiro temos a gênese da culpa que os banqueiros e a imprensa de plantão acusam: a “farra” do endividamento. É isso que os economistas conservadores chamam de que “os governos e pessoas viviam acima das suas possibilidades”, que eles faziam festa com o dinheiro dos outros... Como se os bancos não tivessem nenhuma participação nessa “farra” e usassem seu próprio dinheiro nesse processo e nesse clima. Na verdade, é preciso verificar que a ideologia das finanças invadiu o Estado e invadiu a sociedade. E criou um sistema lamentável, onde o futuro é desconsiderado pelo presente, onde o investimento só surge por efeito do exagero do consumo. E agora que amputam os gastos públicos e privado, botam os Estados em quarentena. E não nos enganemos, olhando bem, as finanças se vestem neste carnaval tétrico com a fantasia de bactéria oportunista.
A INSANIDADE COMO POLÍTICA ECONÔMICA
1) Desta forma, na crise de 2007, quando as finanças americanas foram atropeladas por elas mesmas e quando o Estado teve que salvar os bancos, elas, as finanças, ficaram muito agradecidas e comovidas, e voltaram, como gangsters de filmes dos anos 30, a ameaçar a sociedade e o governo de Obama, com recusas de mudanças do sistema financeiro e com novas especulações, sobretudo atravessando a economia globalizada. Assalto puro: revólver na cabeça. Porém, o neoliberalismo não era uma propriedade americana, estava impregnado como um carrapato em toda parte. Perniciosamente, esta classe dominante continuou tentando viver como antigamente. E, naturalmente, depois de demolir os Estados Unidos, faltava desmontar o outro lado do Atlântico. Já na crise americana, vários bancos ingleses, alemães, franceses, suíços, tiveram problemas. Mas, as armações, verdadeiras bombas de retardamento, estavam inseridas em todo o sistema.
2) Pois agora, em 2010, o estouro se deu ali no canto mais pobre, porém berço da civilização ocidental, a Grécia. E com isso pôs a descoberto vários aspectos. O primeiro deles que o euro era uma moeda capenga e coxa, que, como escrevi no SUL 21, parodiando Machado de Assis, mostrava-se como uma Vênus Manca. A nudez mostrou tudo: a Europa como União Monetária não é um vestido que se sustente, pois nenhuma moeda sobrevive às crises cíclicas sem Tesouro. Mais, em segundo lugar, o que falta à Europa, além das etapas da consolidação fiscal é o projeto de construção de uma União Política. Sem isso não há solução definitiva dos problemas econômicos e sociais europeus. Então, parece que a insanidade está valendo como política econômica em tempos de crise. Ela está toda inteira nisso: jogar as infelizes nações a uma política conservadora de cortes públicos, de baixas de salários, de inanição de investimentos públicos e privados, de desemprego, etc., como se essas idéias fizessem parte de uma solução salvadora, além de ser a única e a insubstituível. Olha só o palpite infeliz da dona Ângela Merkel: a solidariedade e a solidez das economias são irmãs. E diz isso sem enrubescer e quando a crise explodiu. A Alemanha está inventando a teoria da destruição como forma de solidariedade. Talvez uma outra forma de se apoiar na pulsão de morte de Sigmund Freud, ou ainda, na transformação da postura econômica de Schumpeter em teoria política: a destruição criadora... Keynes poderia falar do seu túmulo: “Frau Merkel, o que liga o futuro ao presente é o investimento”.
E AGORA, EUROPA? E AGORA, MUNDO?
Vamos para a depressão? É a pergunta inquietante que brota desta crise americana e européia. Serão os Estados capazes de se distanciarem desta fração da classe dominante que querem exaurir todos os recursos públicos em nome de sua salvação? Como a política vai gerir esta crise econômica profunda? Combater algumas operações dos especuladores como quer a Alemanha é apemas um modestíssimo começo. Os conflitos estão à flor da pele, vamos ver se surgem os estadistas que nos faltaram até agora. E é preciso ver como a população vai ser tratada na política que virá. Sobretudo, se sabendo que o caminho da renovação está claro: um novo Estado, uma nova arquitetura financeira, um novo retorno à separação entre o banco comercial e o banco de investimento, uma nova relação finanças-produção, uma nova onda de investimentos baseadas nas novas tecnologias, e, sobretudo, uma nova política de empregos e de proteção social e uma nova política cultural e uma política ambiental. Fácil de escrever, difícil de realizar. Porque, obviamente, as ações e os gestos são políticos. O que é certo é que, neste caminho, por mais nítido que pareça, não será feito sem grandes solavancos. As cabeças estão a prêmio, mas as armas ainda não começaram a disparar no rumo certo. Estamos entre os romances de Marçal Aquino e os filmes de Michael Mann. Pode-se até dizer que o clima é mais dramático, mais duro com o coração da gente. Tem o tom da película de Sidney Lumet “Antes que o diabo saiba que você está morto”, se a gente quiser enxergar esta questão social e histórica do ponto de vista pessoal.
Por Enéas de Souza
O TIRO DAS FINANÇAS NÃO VAI AONDE ELA QUER
Não se pode ver a crise da Europa isoladamente e culpar a Grécia como o bode expiatório da realidade. É preciso ver que isso tudo faz parte da instalação das finanças no comando do mundo. Mas, hoje, é ela quem está caindo. E, contudo, como fera acuada, as finanças estão manobrando para pôr nos governos a culpa; empurrar para a população os custos; e assumirem, com a astúcia de vítima, um pouco mais, o domínio político-econômico das regiões. E, ameaçam. Sim, ameaçam. Ameaçam com um ataque de gavião, onde a sua garra financeira, fulminante, rasga e dilacera. Trata-se de uma garra que tem o nome de especulação. E que traz um ás escondido, uma receita econômica preferida: corte de gastos, diminuição de salários dos funcionários públicos, liquidação dos regimes de aposentadorias, aumento de impostos sobre os bens de consumo, etc., visando uma falsa estabilização. E, olha a perfídia das mentes traiçoeiras e das bactérias oportunistas: em nome de que os governos vão ter menos receitas, porque este plano é obviamente deflacionário, contracionista, dobram a aposta e retornam, num segundo tempo, a um novo movimento especulativo, ameaçando os governos e as nações de uma crise sem precedente. Mas, o resultado final não será o que eles almejam, porque sempre pensam individualmente. E o que é bom para um capital, não é para todos – e muito menos para todos os países. Então, este jogo não será aquele de um tiro no pé, vai ser o de um tiro no próprio peito.
A BALA ARMADA
O grave problema é que de um lado, os governos, tendo criado a desregulamentação dos mercados financeiros, ao ouvirem a sedução das finanças, se encontram hoje impedidos – por estarem ligados a este setor – de tomarem medidas extremas para re-haver o controle público da economia. Exemplo: poderiam definir uma regulamentação para as finanças; interditarem vários tipos de operações e títulos; poderiam nacionalizar os bancos; e poderiam, ponto supremo da mais extrema audácia, estatizar os bancos. Então, dada a impossibilidade destas medidas, abrem-se aos famosos e ditos planos de austeridade e, logo, às avenidas tensas e críticas da revolta social. E olhe, leitor perseverante, elas já estão vagando pela Grécia. Num passe de temor, podem incendiar outros países ameaçados: Espanha, Portugal e Itália. Como também já se sentem comichões pela França. Porém, com olhos míopes dos governos pelas idéias neoliberais e pela terapia da austeridade buscam dar uma medicina “amarga, mas necessária” como os cortes e os aumentos que já falamos acima. Como é que não querem que se diga que os Estados continuam na mão dos mercados? É a visão dos Arsène Lupin das finanças. Que vão acabar por recuperar no social o mito de Robin Hood, que Ridley Scott está exibindo agora nos cinemas do mundo. Vê-se que o cinema é capaz de funcionar como metáfora dos eventos econômicos. E tudo se passa, através da indústria midiática da ideologia, como se os bancos não tivessem participado do excesso de crédito oferecido aos Estados. As instituições financeiras querem enrolar a quem? Terapia da austeridade é aperitivo para novas especulações, é transferência de renda do Estado e da população para as finanças. E, obviamente, é a bala armada para o tiro no peito.
QUE ESTADO AS FINANÇAS CONSTRUÍRAM?
É preciso analisar o tema dentro da dinâmica do capital e da organização da política em função do triunfo progressivo, desde os anos 70, do setor financeiro. O primeiro movimento foi criar um desfavorecimento à área produtiva via uma taxa de juros imbatível – uma taxa de rendimento do capital aplicado nos mercados financeiros – em face da expectativa dos resultados futuros dos investimentos produtivos. Esta hegemonia tornou o setor financeiro um sugador de recursos do setor produtivo e dos trabalhadores. Já o segundo movimento foi garantir que as políticas monetárias e financeiras, e mesmo fiscais, fossem todas na direção do incentivo às finanças privadas. E a ação forte, como um ferro abrasador, foi dominar os governos, separando a área econômica da influência da atividade política normal. Os bancos centrais passaram, de uma forma ou de outra, a assumir um papel de independência e de autonomia em relação aos executivos. E em muitos deles, a própria Fazenda (chamadas de Finanças ou Tesouro em alguns países), como propugnador das políticas financeiras do próprio sistema. Criou-se o Estado Financeiro em toda a sua dimensão hegemônica e coercitiva. O ápice deste movimento foi, certamente, a desregulamentação que permitiu inúmeros fatos: alavancagens absurdamente perigosas; nenhum controle sobre os níveis de capital para solucionar aplicações podres; possibilidades quase infindáveis de securitizações que elevavam as apostas financeiras alargadas teoricamente ao infinito. E, sobretudo, à combinação ou ao conúbio espúrio entre os bancos comerciais e os bancos de investimento que davam insegurança aos depósitos e margens amplas para especulações devastadoras, como estas que não afrontam apenas aos investidores e aos bancos, mas ao próprio e ao garantidor em última instância, o Estado. É a visão contemporânea da sentença romana “delenda Cartago”. Porém o que se escuta é a voz do último desejo das Finanças.
O VÍRUS DA ESPECULAÇÃO NA SOCIEDADE
Pois com as finanças soltas como cães danados na noite das sociedades, o crédito foi praticamente direcionado para as especulações, e a financeirização assumiu a sociedade em todos os níveis: na esfera da produção, via governança corporativa e o princípio do valor acionário; na esfera do governo com ataques aos orçamentos, déficits e dívida pública. E, como desdobramento lógico desta dominância, o ataque frontal à remuneração de funcionários públicos e assalariados. Ora, se combinarmos esta reboldosa com a estrutura do Estado financeiro temos a gênese da culpa que os banqueiros e a imprensa de plantão acusam: a “farra” do endividamento. É isso que os economistas conservadores chamam de que “os governos e pessoas viviam acima das suas possibilidades”, que eles faziam festa com o dinheiro dos outros... Como se os bancos não tivessem nenhuma participação nessa “farra” e usassem seu próprio dinheiro nesse processo e nesse clima. Na verdade, é preciso verificar que a ideologia das finanças invadiu o Estado e invadiu a sociedade. E criou um sistema lamentável, onde o futuro é desconsiderado pelo presente, onde o investimento só surge por efeito do exagero do consumo. E agora que amputam os gastos públicos e privado, botam os Estados em quarentena. E não nos enganemos, olhando bem, as finanças se vestem neste carnaval tétrico com a fantasia de bactéria oportunista.
A INSANIDADE COMO POLÍTICA ECONÔMICA
1) Desta forma, na crise de 2007, quando as finanças americanas foram atropeladas por elas mesmas e quando o Estado teve que salvar os bancos, elas, as finanças, ficaram muito agradecidas e comovidas, e voltaram, como gangsters de filmes dos anos 30, a ameaçar a sociedade e o governo de Obama, com recusas de mudanças do sistema financeiro e com novas especulações, sobretudo atravessando a economia globalizada. Assalto puro: revólver na cabeça. Porém, o neoliberalismo não era uma propriedade americana, estava impregnado como um carrapato em toda parte. Perniciosamente, esta classe dominante continuou tentando viver como antigamente. E, naturalmente, depois de demolir os Estados Unidos, faltava desmontar o outro lado do Atlântico. Já na crise americana, vários bancos ingleses, alemães, franceses, suíços, tiveram problemas. Mas, as armações, verdadeiras bombas de retardamento, estavam inseridas em todo o sistema.
2) Pois agora, em 2010, o estouro se deu ali no canto mais pobre, porém berço da civilização ocidental, a Grécia. E com isso pôs a descoberto vários aspectos. O primeiro deles que o euro era uma moeda capenga e coxa, que, como escrevi no SUL 21, parodiando Machado de Assis, mostrava-se como uma Vênus Manca. A nudez mostrou tudo: a Europa como União Monetária não é um vestido que se sustente, pois nenhuma moeda sobrevive às crises cíclicas sem Tesouro. Mais, em segundo lugar, o que falta à Europa, além das etapas da consolidação fiscal é o projeto de construção de uma União Política. Sem isso não há solução definitiva dos problemas econômicos e sociais europeus. Então, parece que a insanidade está valendo como política econômica em tempos de crise. Ela está toda inteira nisso: jogar as infelizes nações a uma política conservadora de cortes públicos, de baixas de salários, de inanição de investimentos públicos e privados, de desemprego, etc., como se essas idéias fizessem parte de uma solução salvadora, além de ser a única e a insubstituível. Olha só o palpite infeliz da dona Ângela Merkel: a solidariedade e a solidez das economias são irmãs. E diz isso sem enrubescer e quando a crise explodiu. A Alemanha está inventando a teoria da destruição como forma de solidariedade. Talvez uma outra forma de se apoiar na pulsão de morte de Sigmund Freud, ou ainda, na transformação da postura econômica de Schumpeter em teoria política: a destruição criadora... Keynes poderia falar do seu túmulo: “Frau Merkel, o que liga o futuro ao presente é o investimento”.
E AGORA, EUROPA? E AGORA, MUNDO?
Vamos para a depressão? É a pergunta inquietante que brota desta crise americana e européia. Serão os Estados capazes de se distanciarem desta fração da classe dominante que querem exaurir todos os recursos públicos em nome de sua salvação? Como a política vai gerir esta crise econômica profunda? Combater algumas operações dos especuladores como quer a Alemanha é apemas um modestíssimo começo. Os conflitos estão à flor da pele, vamos ver se surgem os estadistas que nos faltaram até agora. E é preciso ver como a população vai ser tratada na política que virá. Sobretudo, se sabendo que o caminho da renovação está claro: um novo Estado, uma nova arquitetura financeira, um novo retorno à separação entre o banco comercial e o banco de investimento, uma nova relação finanças-produção, uma nova onda de investimentos baseadas nas novas tecnologias, e, sobretudo, uma nova política de empregos e de proteção social e uma nova política cultural e uma política ambiental. Fácil de escrever, difícil de realizar. Porque, obviamente, as ações e os gestos são políticos. O que é certo é que, neste caminho, por mais nítido que pareça, não será feito sem grandes solavancos. As cabeças estão a prêmio, mas as armas ainda não começaram a disparar no rumo certo. Estamos entre os romances de Marçal Aquino e os filmes de Michael Mann. Pode-se até dizer que o clima é mais dramático, mais duro com o coração da gente. Tem o tom da película de Sidney Lumet “Antes que o diabo saiba que você está morto”, se a gente quiser enxergar esta questão social e histórica do ponto de vista pessoal.
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