CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
Coluna das quintas
24 de setembro de 2009
REDONDO É RIR DA VIDA
Por Enéas de Souza
A civilização e o estilo de vida das finanças
A primeira grande pergunta sobre a situação atual é se os atores políticos têm idéia de que a crise financeira não é uma crise financeira. E sim, uma crise do capitalismo, uma crise do capital, que, no seu processo de acumulação, encontrou neste modelo da “finance led growth” o seu limite. É fundamental perceber que a crise não é apenas financeira, mas também produtiva e vem combinada e acompanhada de uma crise política, de uma crise climática e de uma crise de civilização. Isto significa que há uma necessidade de uma revolução nos métodos de solução desta crise. Ou seja, a crise, se bem olhada, tem uma fisionomia realmente muito maior do que se sua face fosse apenas financeira. É verdade que esta sintetiza quase tudo. Vejam-se os padrões éticos, os comportamentos políticos dos financistas, as propostas de idéias econômicas, as visões de civilização desta elite dominante do processo atual. E se não fosse cômica esta faceta, bastaria olhar as propostas fúteis do estilo de vida desta classe hegemônica. Por isso a arte tem colocado sob diversos pontos, tantos ângulos, a terrível decomposição da civilização, sobretudo, quando exemplificada, por exemplo, pelo comportamento de bancos que vendem um ativo para um cliente e através de uma cadeia de securitização acabam por apostar contra o primeiro comprador. Isto quer dizer, que a traição é um elemento básico do sistema. Uma civilização que trabalha com o crime, através dos jogos mafiosos ou de empresas militares privadas, como forma de ajustes de suas diferenças sociais e nacionais não pode se sustentar. Uma civilização que usa e se apropria do corpo do outro como instrumento de destruição, de gozo, de escravização, falando em nome da democracia, tem tudo para perder o seu rumo e a sua dignidade. Sem contar, com essa corrosão lenta, mas fantástica da devastação dos recursos naturais e da explosão dos temas climáticos como vem falando o prof. Loss.
A magia do cinema
Se duvidam basta ver os vários filmes que tratam sobre estes temas: “Carlito´s Way” de Brian de Palma, “Senhores Crime” de David Cronemberg, “ Cidade dos Sonhos” de David Lynch, “Sangue Negro” de Paul Anderson Thomas, “Cinema Falado” de Manuel de Oliveira; “La vie Nouvelle” de Phillipe Grandrieux, “Onde os fracos não tem vez” dos Irmãos Cohen, “Gran Torino” de Clint Eastwood, “Collateral” de Michael Mann, “Dogville” de Lars von Trier, “Histoire(s) du Cinema” de Jean-Luc Godard. Ao assinalarmos estas películas, não excluímos outras, inclusive destes mesmos autores. O que importa apenas é que temos nestas obras uma amostra da civilização que direta ou indiretamente as finanças criaram. É verdade que “Os Pássaros” de Hitchcock, já em 1963, ainda no século XX, anunciava um maltrato geral com a natureza, e os efeitos danosos sobre o próprio homem, em ação reversa, desta apropriação “racional” dos recursos naturais, Somando o que dissemos, a pergunta aqui é: trata-se de um momento onde a natureza histórica do homem volta-se contra ele próprio ou estes comportamentos fazem parte da natureza humana propriamente dita?
Onde está a sociedade?
O segundo ponto que analisamos é o seguinte: apesar do desastre produzido pelas finanças, estas continuam a comandar o processo econômico. Não na sua recuperação, mas no impedimento de qualquer mudança, de qualquer transformação para que as finanças sejam funcionais para o sistema econômico. Exemplo claro é o cerco, já tantas vezes falado por essa coluna, que sofre o governo Obama, que não consegue propor nenhum maior controle sobre o desempenho deste setor. Vejam o que é indispensável para resolver a questão do sistema financeiro americano e internacional: aportes significativos de recursos para o capital das instituições financeiras; definições de regras claras sobre alavancagem e seus níveis, estabelecimento de critérios seguros sobre securitização e seus produtos financeiros; tratamento adequado do controle destas falsas autoridades que são as agências de ratings; o desenho de uma regulação estatal que reúna as múltiplas agências que controlam partes do sistema financeira e que colidem muitas vezes entre elas; uma concepção clara das funções do sistema financeiro em relação ao sistema produtivo, etc. A pergunta que fazemos é a seguinte: como é que com um nível de desemprego altíssimo e com uma paralisia alentada da economia americana, a sociedade dos Estados Unidos não foi capaz de pressionar para transformações profundas na sua estrutura produtiva e financeira?
Intervalo para uma pergunta tupiniquim
Agora uma temática mais nativa. Começamos salientando os seguintes pontos: o governo brasileiro jogou na crise defensivamente muito bem; acertou desonerações de impostos para alguns setores com a finalidade de manter o consumo; forçou os bancos públicos a criarem uma certa concorrência ao setor bancário privado; propôs um plano de habitação popular, etc. Enfim só bola no gol. Mas, este lance foi seqüência de um passo sólido já dado anteriormente, quando elegendo a Petrobrás como um dos centros do PAC, o Estado nacional já tinha se proposto a mostrar que só há uma saída: atuar fortemente como um elemento articulador da política e da economia, sobretudo num momento de crise.
Do ponto de vista econômico, o neoliberalismo amarrou os Estados para ficarem numa posição externa à economia, ao menos enquanto o setor financeiro não precisasse de recursos para salvar as suas instituições. Porém se o Estado brasileiro soube sair do cerco atuando ativamente nas desonerações, na forma de atuação dos bancos públicos, etc,, ele não pode sair na frente fazendo investimentos autônomos. Estava obviamente amarrado. A interconexão das economias no plano internacional e as condições políticas internas do país bloqueavam a possibilidade de usar a inflação, bem como aumentar a carga de impostos com a finalidade desenvolvimentista. Dito isso, o que se percebe é que o Estado brasileiro acabou por conceber um projeto de futuro, que vai da energia (petróleo, pré-sal, bio-combustíveis), passando pela produção de alimentos para chegar até a organização de indústrias tanto ao redor do pré-sal como no campo militar. Com isso, o projeto se torna explícito: de um lado, tornar-se uma potência de grau intermediário, buscando inclusive participar do Conselho de Segurança da ONU como integrante permanente; e de outro, arrancar para uma maior presença na divisão internacional do trabalho.
Para fazer a ligação entre a postura defensiva depois da emergência da crise e o projeto de futuro do Brasil, são necessários e indispensáveis investimentos, a pergunta que se faz necessária é a seguinte: qual ou que atores farão estas inversões indispensáveis? De maneira crua: de onde vão sair esses recursos? E daí, passamos a outras perguntas, dentro da mesma zona de questões, considerando os processos internacionais que tentam superar a crise. A burguesia nacional estará ousando ultrapassar sua posição sempre temerosa e subordinada no processo de acumulação de capital? Terá a Petrobrás e a Petrosal a capacidade política e econômica de atrair parceiros privados no nível capaz de fazer mudar o status do país? Quais serão os capitais estrangeiros que entrarão num mix para investir nos múltiplos projetos nacionais? Como? Quais? Enfim, este momento histórico de crise do capitalismo é um momento de grande oportunidade que permitirá o Brasil sair da longa fase de paralisia que atingiu o país, desde o fim dos governos militares até o governo de Fernando Henrique Cardoso?
O enterro do G-8
Voltando ao mundo. Este G-20 está revelando a liquidação do G-8, o que significa uma necessidade de reformulação da estratégia americana; do reconhecimento de uma fraqueza crucial da Europa e da necessidade de uma reposicionamento de suas forças; da emergência muito forte e decisiva dos países emergentes com a China, como a India, como o Brasil, etc. Seja como for, a tarefa deste G-20 é imensa. Vai trabalhar na tentativa de evitar o protecionismo - o que é um fato quase impossível -, vai requerer a busca de uma coordenação na regulação financeira nacional e internacional, vai lutar por uma reativação do comércio internacional num tempo breve e vai exercer uma diplomacia visando bloquear conflitos que terminem em hostilidades tão agudas como conflitos armados. Mas sobre G-20 não escapamos de fazer uma pergunta: se os Estados Unidos, que é a nação mais poderosa do mundo – econômica, política, financeira, tecnológica e militarmente - não consegue nem se organizar internamente, como poderá liderar um processo de reorganização internacional? Depois desta interrogação, podemos fazer mais outra questão. O G-20 vai conseguir – se conseguir - fazer alterações negociadas na ordem política e econômica mundial. em que prazo? No curto, no médio ou no longo prazo?
Perguntar não ofende
A depresssão está descartada? Pois este é um problema que economistas e políticos tentam esconder, colocar em baixo da terra, como se não falar sobre o assunto fosse uma forma de descartar a sua possibilidade. Esta pergunta é uma flor do mal. Mas, a meu ver, ela está presente, ela é como aquelas pessoas que a gente quer evitar, mas que aparecem, que se infiltram e estão aí. Se a gente começa a conjeturar, a gente vê que esta idéia não pode ser descartada assim tão facilmente. E porque? Em primeiro lugar, o buraco deixado pelas finanças e o encadeamento da superacumulação na área produtiva não está permitindo que o investimento se faça e adquira robustez. O Estado, de fato, está ajudando fortemente os financistas e as instituições financeiras, mas muito pouco ao setor industrial. E olhando bem, a superacumulação na esfera produtiva está levando a uma queima de capital e a uma certa aversão ao investimento. Acresce que a necessidade de transformações tecnológicas profundas está sendo modestamente alcançada. De outro lado, o crédito não está fluindo e as empresas produtivas não tem recursos próprios suficientes para aplicarem em equipamentos e máquinas e em novos processos de produção. A preferência pela liquidez continua florescendo. Os bancos que são a chave nesse processo, sobretudo no capitalismo americano, estão engordados com ativos tóxicos de todas as espécies. O crédito não deslanchou e os setores que tem dinheiro não conseguem encontrar, com segurança, setores que precisam de capital. O sistema financeiro como hegemônico está totalmente desarvorado e só girando em torno de sua salvação. Já falamos muito nisso: falta a ele capital, ele está atolado em ativos podres e não está conseguindo padrões de rendimentos atrativos como nos grandes tempos. As especulações são raras e efêmeras e sem grandes compensações. Tudo está dominado por um ambiente de incerteza e medo. E ao mesmo tempo, o resultado total desta finance led growth é o desemprego, é a ausência de investimento, é a preferência pela liquidez, é a inapetência pela aplicação na produção. E o governo, abraçado às finanças, vai aumentando o seu déficit fiscal, levando o dólar a uma trajetória de desvalorização, minguando consequentemente o seu poder de troca. Por isso, leitores, é importante perguntar sem nenhum pudor: quais são os argumentos que nos garantem que uma segunda grande depressão está descartada definitivamente?
Coluna das quintas
24 de setembro de 2009
REDONDO É RIR DA VIDA
Por Enéas de Souza
A civilização e o estilo de vida das finanças
A primeira grande pergunta sobre a situação atual é se os atores políticos têm idéia de que a crise financeira não é uma crise financeira. E sim, uma crise do capitalismo, uma crise do capital, que, no seu processo de acumulação, encontrou neste modelo da “finance led growth” o seu limite. É fundamental perceber que a crise não é apenas financeira, mas também produtiva e vem combinada e acompanhada de uma crise política, de uma crise climática e de uma crise de civilização. Isto significa que há uma necessidade de uma revolução nos métodos de solução desta crise. Ou seja, a crise, se bem olhada, tem uma fisionomia realmente muito maior do que se sua face fosse apenas financeira. É verdade que esta sintetiza quase tudo. Vejam-se os padrões éticos, os comportamentos políticos dos financistas, as propostas de idéias econômicas, as visões de civilização desta elite dominante do processo atual. E se não fosse cômica esta faceta, bastaria olhar as propostas fúteis do estilo de vida desta classe hegemônica. Por isso a arte tem colocado sob diversos pontos, tantos ângulos, a terrível decomposição da civilização, sobretudo, quando exemplificada, por exemplo, pelo comportamento de bancos que vendem um ativo para um cliente e através de uma cadeia de securitização acabam por apostar contra o primeiro comprador. Isto quer dizer, que a traição é um elemento básico do sistema. Uma civilização que trabalha com o crime, através dos jogos mafiosos ou de empresas militares privadas, como forma de ajustes de suas diferenças sociais e nacionais não pode se sustentar. Uma civilização que usa e se apropria do corpo do outro como instrumento de destruição, de gozo, de escravização, falando em nome da democracia, tem tudo para perder o seu rumo e a sua dignidade. Sem contar, com essa corrosão lenta, mas fantástica da devastação dos recursos naturais e da explosão dos temas climáticos como vem falando o prof. Loss.
A magia do cinema
Se duvidam basta ver os vários filmes que tratam sobre estes temas: “Carlito´s Way” de Brian de Palma, “Senhores Crime” de David Cronemberg, “ Cidade dos Sonhos” de David Lynch, “Sangue Negro” de Paul Anderson Thomas, “Cinema Falado” de Manuel de Oliveira; “La vie Nouvelle” de Phillipe Grandrieux, “Onde os fracos não tem vez” dos Irmãos Cohen, “Gran Torino” de Clint Eastwood, “Collateral” de Michael Mann, “Dogville” de Lars von Trier, “Histoire(s) du Cinema” de Jean-Luc Godard. Ao assinalarmos estas películas, não excluímos outras, inclusive destes mesmos autores. O que importa apenas é que temos nestas obras uma amostra da civilização que direta ou indiretamente as finanças criaram. É verdade que “Os Pássaros” de Hitchcock, já em 1963, ainda no século XX, anunciava um maltrato geral com a natureza, e os efeitos danosos sobre o próprio homem, em ação reversa, desta apropriação “racional” dos recursos naturais, Somando o que dissemos, a pergunta aqui é: trata-se de um momento onde a natureza histórica do homem volta-se contra ele próprio ou estes comportamentos fazem parte da natureza humana propriamente dita?
Onde está a sociedade?
O segundo ponto que analisamos é o seguinte: apesar do desastre produzido pelas finanças, estas continuam a comandar o processo econômico. Não na sua recuperação, mas no impedimento de qualquer mudança, de qualquer transformação para que as finanças sejam funcionais para o sistema econômico. Exemplo claro é o cerco, já tantas vezes falado por essa coluna, que sofre o governo Obama, que não consegue propor nenhum maior controle sobre o desempenho deste setor. Vejam o que é indispensável para resolver a questão do sistema financeiro americano e internacional: aportes significativos de recursos para o capital das instituições financeiras; definições de regras claras sobre alavancagem e seus níveis, estabelecimento de critérios seguros sobre securitização e seus produtos financeiros; tratamento adequado do controle destas falsas autoridades que são as agências de ratings; o desenho de uma regulação estatal que reúna as múltiplas agências que controlam partes do sistema financeira e que colidem muitas vezes entre elas; uma concepção clara das funções do sistema financeiro em relação ao sistema produtivo, etc. A pergunta que fazemos é a seguinte: como é que com um nível de desemprego altíssimo e com uma paralisia alentada da economia americana, a sociedade dos Estados Unidos não foi capaz de pressionar para transformações profundas na sua estrutura produtiva e financeira?
Intervalo para uma pergunta tupiniquim
Agora uma temática mais nativa. Começamos salientando os seguintes pontos: o governo brasileiro jogou na crise defensivamente muito bem; acertou desonerações de impostos para alguns setores com a finalidade de manter o consumo; forçou os bancos públicos a criarem uma certa concorrência ao setor bancário privado; propôs um plano de habitação popular, etc. Enfim só bola no gol. Mas, este lance foi seqüência de um passo sólido já dado anteriormente, quando elegendo a Petrobrás como um dos centros do PAC, o Estado nacional já tinha se proposto a mostrar que só há uma saída: atuar fortemente como um elemento articulador da política e da economia, sobretudo num momento de crise.
Do ponto de vista econômico, o neoliberalismo amarrou os Estados para ficarem numa posição externa à economia, ao menos enquanto o setor financeiro não precisasse de recursos para salvar as suas instituições. Porém se o Estado brasileiro soube sair do cerco atuando ativamente nas desonerações, na forma de atuação dos bancos públicos, etc,, ele não pode sair na frente fazendo investimentos autônomos. Estava obviamente amarrado. A interconexão das economias no plano internacional e as condições políticas internas do país bloqueavam a possibilidade de usar a inflação, bem como aumentar a carga de impostos com a finalidade desenvolvimentista. Dito isso, o que se percebe é que o Estado brasileiro acabou por conceber um projeto de futuro, que vai da energia (petróleo, pré-sal, bio-combustíveis), passando pela produção de alimentos para chegar até a organização de indústrias tanto ao redor do pré-sal como no campo militar. Com isso, o projeto se torna explícito: de um lado, tornar-se uma potência de grau intermediário, buscando inclusive participar do Conselho de Segurança da ONU como integrante permanente; e de outro, arrancar para uma maior presença na divisão internacional do trabalho.
Para fazer a ligação entre a postura defensiva depois da emergência da crise e o projeto de futuro do Brasil, são necessários e indispensáveis investimentos, a pergunta que se faz necessária é a seguinte: qual ou que atores farão estas inversões indispensáveis? De maneira crua: de onde vão sair esses recursos? E daí, passamos a outras perguntas, dentro da mesma zona de questões, considerando os processos internacionais que tentam superar a crise. A burguesia nacional estará ousando ultrapassar sua posição sempre temerosa e subordinada no processo de acumulação de capital? Terá a Petrobrás e a Petrosal a capacidade política e econômica de atrair parceiros privados no nível capaz de fazer mudar o status do país? Quais serão os capitais estrangeiros que entrarão num mix para investir nos múltiplos projetos nacionais? Como? Quais? Enfim, este momento histórico de crise do capitalismo é um momento de grande oportunidade que permitirá o Brasil sair da longa fase de paralisia que atingiu o país, desde o fim dos governos militares até o governo de Fernando Henrique Cardoso?
O enterro do G-8
Voltando ao mundo. Este G-20 está revelando a liquidação do G-8, o que significa uma necessidade de reformulação da estratégia americana; do reconhecimento de uma fraqueza crucial da Europa e da necessidade de uma reposicionamento de suas forças; da emergência muito forte e decisiva dos países emergentes com a China, como a India, como o Brasil, etc. Seja como for, a tarefa deste G-20 é imensa. Vai trabalhar na tentativa de evitar o protecionismo - o que é um fato quase impossível -, vai requerer a busca de uma coordenação na regulação financeira nacional e internacional, vai lutar por uma reativação do comércio internacional num tempo breve e vai exercer uma diplomacia visando bloquear conflitos que terminem em hostilidades tão agudas como conflitos armados. Mas sobre G-20 não escapamos de fazer uma pergunta: se os Estados Unidos, que é a nação mais poderosa do mundo – econômica, política, financeira, tecnológica e militarmente - não consegue nem se organizar internamente, como poderá liderar um processo de reorganização internacional? Depois desta interrogação, podemos fazer mais outra questão. O G-20 vai conseguir – se conseguir - fazer alterações negociadas na ordem política e econômica mundial. em que prazo? No curto, no médio ou no longo prazo?
Perguntar não ofende
A depresssão está descartada? Pois este é um problema que economistas e políticos tentam esconder, colocar em baixo da terra, como se não falar sobre o assunto fosse uma forma de descartar a sua possibilidade. Esta pergunta é uma flor do mal. Mas, a meu ver, ela está presente, ela é como aquelas pessoas que a gente quer evitar, mas que aparecem, que se infiltram e estão aí. Se a gente começa a conjeturar, a gente vê que esta idéia não pode ser descartada assim tão facilmente. E porque? Em primeiro lugar, o buraco deixado pelas finanças e o encadeamento da superacumulação na área produtiva não está permitindo que o investimento se faça e adquira robustez. O Estado, de fato, está ajudando fortemente os financistas e as instituições financeiras, mas muito pouco ao setor industrial. E olhando bem, a superacumulação na esfera produtiva está levando a uma queima de capital e a uma certa aversão ao investimento. Acresce que a necessidade de transformações tecnológicas profundas está sendo modestamente alcançada. De outro lado, o crédito não está fluindo e as empresas produtivas não tem recursos próprios suficientes para aplicarem em equipamentos e máquinas e em novos processos de produção. A preferência pela liquidez continua florescendo. Os bancos que são a chave nesse processo, sobretudo no capitalismo americano, estão engordados com ativos tóxicos de todas as espécies. O crédito não deslanchou e os setores que tem dinheiro não conseguem encontrar, com segurança, setores que precisam de capital. O sistema financeiro como hegemônico está totalmente desarvorado e só girando em torno de sua salvação. Já falamos muito nisso: falta a ele capital, ele está atolado em ativos podres e não está conseguindo padrões de rendimentos atrativos como nos grandes tempos. As especulações são raras e efêmeras e sem grandes compensações. Tudo está dominado por um ambiente de incerteza e medo. E ao mesmo tempo, o resultado total desta finance led growth é o desemprego, é a ausência de investimento, é a preferência pela liquidez, é a inapetência pela aplicação na produção. E o governo, abraçado às finanças, vai aumentando o seu déficit fiscal, levando o dólar a uma trajetória de desvalorização, minguando consequentemente o seu poder de troca. Por isso, leitores, é importante perguntar sem nenhum pudor: quais são os argumentos que nos garantem que uma segunda grande depressão está descartada definitivamente?
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