domingo, outubro 31, 2010

Dilma Presidenta do Brasil! Mudanças na economia? Por André Scherer

Bom, no estilo twitter, muito poucos caracteres:

Primeiro discurso de Dilma, nas entrelinhas:

- o Brasil vai adotar medidas protecionistas (excelente decisão), com o discurso de que é uma forma de forçar a negociação de parte dos países ricos;

- o Brasil não vai fazer ajuste fiscal, aliás, ela já trocou o discurso do equilíbrio por "o governo não vai gastar de modo insustentável"!).

Me parece que vem mudança na economia por aí... mas, do discurso à prática, por vezes demanda tempo e por vezes nem acaba acontecendo.

quinta-feira, outubro 28, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
28 de outubro de 2010
CRONICA DAS QUINTAS



DECIDIDAMENTE DILMA!
Por Enéas de Souza


No meu modo de ver, a superioridade de Dilma sobre Serra é notória e vertiginosa. A primeira razão – razão substancial – é que ela tem, fazendo parte do governo Lula, uma visão e uma proposta de Brasil mais ampla e mais brasileira do que Serra. Seu papel como ministra da Casa Civil foi essencial para o sucesso do atual do governo. Em que ponto? Em verdade, ela foi uma espécie de Super-Ministro do Planejamento. Logo de saída, deu ordenação e coerência nas obras dos diversos ministérios. Deu unidade e tornou denso o trabalho do governo. Pois, antes de Dilma, as pernas estavam para um lado, os braços para outro, a cabeça jogada lá diante, e os calcanhares e os pés andavam sozinhos pela Esplanada dos Ministérios. Tudo existindo, mas, todas as partes dispersas. Uma espécie de diáspora do governo Lula. Dilma fez como os mágicos: agregou um cenário ao conjunto e reuniu tudo num corpo só. E surgiu daí a envergadura do governo Lula. Era o que o político Lula precisava. Tinha que vir alguém que soubesse organizar as peças do governo numa cara de governo. Precisava de um ministro que planejasse e coordenasse as ações para que Lula se tornasse o estadista. E ele o foi. E é. Assim, no final do Lula I, a população já tinha se dado conta que todo um projeto estava organizado: aumento de salário mínimo consistente, Bolsa Família, crédito consignado, ProUni. E Dilma, vindo do Ministério de Minas e Energia acrescentou o que faltava: Luz para Todos. Isto depois da secura e dos apagões dos anos neoliberais de FHC e Serra, onde grassava a hemorragia da privatização, a volúpia desastrosa da dívida, o crescimento ralo do PIB (média de 2,2%), o crescente desemprego, o empréstimo “fraternal” Clinton-FMI, a decadência da infra-estrutura, etc. Ruth Cardoso é quem forçava os programas sociais que estavam soltos dentro do governo de FHC (Não nos esqueçamos das palavras caniculares e afrontosas de Sérgio Motta sobre “Comunidade Solidária” da Dona Ruth: “Essa masturbação sociológica me irrita porque não chega a nenhum resultado”. 1995. Que diria em 2010 do sociológico sucesso total do governo Lula?).

O Luz para Todos. Se pensarmos bem foi um dos grandes projetos de Dilma. Pense o leitor e imagine. Na época, discutia com um amigo e lhe disse: “Ah, você acha que esse é um programa banal, é? Faça o seguinte, você que é classe média: apague as luzes da sua casa e fique uns 15 dias sem luz. Pense como será o seu dia; pense, sobretudo, como será a sua noite. Você está na Idade Média. São 15 milhões de pessoas que viajaram 500/600 anos”. E não deu outra. Lula apesar dos grandes ataques do Mensalão, conseguiu uma vitória espetacular naquela eleição de 2006. Dilma botou a sua parcela de votos na cesta eleitoral de Lula. Só isso já seria bastante para consagrá-la: dar coerência ao governo e apoiar a população a ter um melhor padrão de vida.

Mas, o grande lance veio a 22 de janeiro de 2007, logo depois da vitória de Lula, no Lula II, o lançamento do PAC. Fiquei tão entusiasmado que escrevi imediatamente um artigo: “DA ESTRATÉGIA DO INVESTIMENTO NASCEM AS NAÇÕES”, datado de 29 de janeiro de 2007 e publicado em Indicadores Econômicos FEE, vol. 34, n.4, março de 2007. Mas, qual o motivo do entusiasmo? Era como dizemos, nós os gaúchos: “o tal de PAC”. E o PAC, disse Serra, “era uma lista de obras”. Não sejamos tão apressados na conclusão, vamos pensar um pouco. Sim, o PAC tinha uma lista de obras, alguns projetos com dificuldades para sair do papel, inclusive, vimos depois, por briga entre empresas. Mas, isso é ver pouco, é ficar com o olho grudado no chão. Vamos fazer um contraste, a diferença entre o projeto econômico de Lula e o de Fernando Henrique. O governo de FHC tinha sustentado um modelo financeiro de acumulação. A jogatina das finanças dava um falso ar de festa. FHC e Serra continuaram a crise produtiva de 1982 e terminaram o século e entraram no século XXI sem investimento. Tudo se pautava pela multiplicação dos pães miraculosos dos títulos financeiros públicos e privados. Na verdade, não eram pães, era papel que rendia dinheiro e não dava emprego. Eles construíram um Estado que chamei, em outros textos, de Estado Financeiro, onde o núcleo da sua estratégia se pautava numa política econômica peculiar, uma “política econômica reduzida”. Só se pensava em moeda, câmbio, taxa de juros e contas públicas. Não havia política industrial, política agrícola, política agrária, política tecnológica, política de rendas, etc. Tudo ficava para o mercado. O Estado só se preocupava com a acumulação financeira. E houve um abandono melancólico e desesperado, dostoievskiano, do investimento. Deu-se um investimento raquítico e tudo ia para o circuito financeiro. E é nesse ponto que surge o PAC, para quebrar o cassino brasileiro.

Não fiquemos na idiotice empírica, a lista de obras. O grande do PAC foi o gesto simbólico, imponente, maior, um gesto estratégico. Um toque de reunir dos empresários com uma forte declaração do governo: O FUNDAMENTAL DE UM PAÍS É O INVESTIMENTO. O velho Keynes veio do Além e conversou com a Dilma, o Lorde sabia das coisas: “Dilma, joga as tuas fichas no investimento”. Vejam caros leitores, não tinha havido ainda a crise financeira americana e mundial. O Lehman Brothers não tinha falido. O Lorde sabia por que nos anos trinta ele tinha escrito e batalhado por isso, pelo investimento. A especulação financeira estava matando o Brasil. E o que fez Dilma? Fez mais que um programa, fez um ato político da maior transcendência. No meio do neoliberalismo, com o barco das aplicações financeiras velejando a todo vapor para o boom, que vai desabar logo em seguida, ela ousa. E Lula? A apóia vigorosamente. E o investimento viaja mar afora, o mar que vai, mais tarde, nos levar ao Pré-Sal. Fernando Pessoa falava do mar português; com a Petrobrás o mar pode ser brasileiro. E então vamos para o investimento.

Mas, este ato político de Dilma trouxe mais duas coisas decisivas – e fundamentais. Ela estava dizendo de forma magistral que havia uma inspiração no pensamento econômico brasileiro na hora e a vez do PAC. Veio na herança de Celso Furtado, de Ignácio Rangel, de Maria da Conceição Tavares, E de todos outros economistas nacionais que são “desenvolvimentistas”. Qual o ensinamento? É preciso recuperar o ESTADO, é preciso recuperar a nossa capacidade de PLANEJAMENTO. Que coisa bendita, poder ser herdeira de uma grande corrente, da corrente que veio construindo e lutando pelo Brasil, desde os anos 30. Mas, o PAC não passou apenas esta mensagem. Tinha mais coisa. Para muitos, foi um capricho de Lula pôr Dilma como candidata a presidente da República. Nada disso, descrentes brasileiros. Não, Lula, viu tudo; viu tudo porque também se beneficiou deste vigor de pensamento de Dilma. Um ESTADO para ser forte tem que ter instrumentos para realizar o seu projeto e sua estratégia. E aí que o PAC mostrou a arma engatilhada desde sempre.

O PAC trouxe para o núcleo estratégico do governo a filha pródiga, a filha dileta, a filha por quem a nação tinha lutado. A Petrobrás. A campanha “O Petróleo é nosso” é uma memória histórica tão forte, tão contundente, tão brasileira, tão nossa, que impediu que FHC e Serra vendessem a Petrobrás. E o gesto de Dilma na época do Programa de Aceleração do Crescimento, pouca gente entendeu. Ora, para quê trazer, para dentro do PAC, a Petrobrás que já tinha um programa avantajado de investimentos? A miopia neoliberal não permitiu às pessoas enxergarem que o PAC era um fabuloso gesto simbólico e político, do qual falamos antes, e que trazia para o centro estratégico do governo um verdadeiro núcleo de acumulação. E quando veio a descoberta do Pré-Sal, a cabeça oca de muita gente “explodiu de lucidez”, como dizia meu colega Galeno da UNICAMP. Perceberam que o Pré-Sal iria encadear um conjunto de indústrias, todas investindo adoidado. E, principalmente, dentro de um programa que assegurasse às empresas um conjunto de obras. Uma demanda garantida. Na verdade, o sonho de todo empresário. Basta ouvir o presidente da Petrobrás Sérgio Gabrielli para ver o gigantismo do projeto, da riqueza que temos pela frente, das possibilidades de aumentar o índice de nacionalização da cadeia produtiva. O mundo do investimento – o futuro – voltou a reabrir-se para o Brasil. E tudo veio da audácia do Governo Lula de ir contra o neoliberalismo, de buscar novamente o investimento e o emprego e desenvolver a riqueza brasileira. E Lula encontrou em Dilma o talento para continuar a sua obra: despachar o neoliberalismo, “bye, bye, forever”. E com esse lance, retomar o baú de riquezas nacional: desenvolvimento com distribuição de renda.

DECIDIDAMENTE DILMA!

quinta-feira, outubro 21, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
21 de outubro de 2010
COLUNA DAS QUINTAS

QUATRO
LANCES
DE DADOS
Por Enéas de Souza



PRIMEIRO LANCE
O Dramaturgo da Vida olhou para a eleição brasileira e viu dois personagens. Serra e Dilma. Para definir o jogo teatral das campanhas imaginou como faria a natureza das figuras dramáticas. Para Dilma não lhe veio nada imediatamente. Talvez lutadora, talvez firme, talvez de pronta resposta. "Não sei, não estou certo. Vou pensar um pouco". Quanto ao Serra, vou concebê-lo agora. Botou-se a imaginar e a sua definição veio logo: camaleão. Porque? Porque ele vai tentando se amoldar às coisas. Se está perto da terra, fica como terra. Se está do lado das folhas, fica verde. "Camaleão" é uma boa, pensou o Dramaturgo. Ele vai mudando sempre. Tem efetivamente um mérito, funciona como uma matéria plástica, vai se conformando ao debate, vai escapando aos ataques. Como não tem posição, vai saltando para todos os lados. Sobre aborto, ele pula para cá e se funde ao assunto. Sobre religião, para lá e já tem cara de beato. Sobre privatização, para um terceiro lugar e já pensa no pré-sal. Mas, como a personagem Dilma reagiu, Serra, camaleão, respondeu rápido: vou fortalecer a Petrobras.
SEGUNDO LANCE
Depois, de camaleão, escolheu o Dramaturgo da Vida uma outra face do Serra. Ter dois estilos. Na frente das câmeras, nas discussões fazer-se de santo, procurar construir a figura de homem sereno, que tem perfil de retidão moral, absolutamente imbatível. Fez tudo, projetos, leis, medidas. Sempre foi o primeiro. Seja no Ministério, na Câmara, no Senado e como Governador. Fora dos holofotes, articula e arma vários golpes e várias tramas. E vem o aborto, e vem a religião, e vem os santinhos da Igreja. Por isso, ao lado camaleão se agrega o lado daquele que tem a capacidade de dividir-se. Enquanto no primeiro vai se adequando ao terreno, no segundo se cinde para melhor combater. A face visível, a que pode ser exposta, constrói a figura do puro. Na face invisível emerge um químico sutil, torna-se um fabricador de enredos e de história como ninguém. E todas as suas fábulas são para fazer a DIlma, sua adversária, perder tempo com problemas importantes, mas menores. As questões maiores, como uma estratégia e um projeto nacional, isso não lhe diz respeito.
TERCEIRO LANCE
A terceira característica do candidato é ser privatizador. Como é que é esta figura? Ela começou com Fernando Henrique Cardoso, mágico do neoliberalismo, que convenceu a todos de sua equipe que enfraquecer o Estado, que eliminar o capital estatal, que dar a liderança ao investimento estrangeiro na dinâmica econômica brasileira, traria vantagens. E o Brasil seria feliz. Então precisou de um privatizador; na verdade, de um mestre, de um doutor, de um engeneiro da privatização. E o escolhido foi o Dr. Serra. E podemos vê-lo, nas fotos e nos filmes da época, incessante, no mandado de FHC, fazendo rápidas e muitas privatizações. Assumiu esta personalidade e guardou para si a receita, com carinho e fraternidade, da relação com os investidores estrangeiros. Mas, o mais importante é que guardou o pensamento. Pois bem, Lula foi extraordinário, fez um desenvolvimento com distribuição de renda. E também descobriu o pré-sal. Com isso deixa uma herança para o povo brasileiro. E para a Dilma e a Petrobrás o caminho da exploração da riqueza. E com um projeto amplo, a partir dos seus resultados, desenvolver ciência e tecnologia e dar à população do Brasil, educação, saúde, segurança, etc. Na verdade, resumindo numa frase de efeito: o pré-sal vai sustentar o bolsa família. Só que Lula não contava com uma surpresa. Atrás da porta, está o privatizador das estatais, com um objetivo, anunciado por um de seus assessores: privatizar o pré-sal. E claro, se se animar, mais tarde, virá a própria Petrobrás, depois o BB e quem sabe num futuroo oportuno, a financiadora dos imóveis, a Caixa Econômica Federal. Mas, o Dramaturgo da Vida vai jogar este problema, este conflito no bojo das eleições: riqueza para a população versus venda para o setor privado. As peripécias do confronto trarão os encaminhamentos do desenlace.
QUARTO LANCE
Para dar maior sensação a este personagem, o Dramaturgo da Vida vai colocá-lo como um dos protagonistas de sua geração. Talvez o maior dela tenha sido FHC, o grande neoliberal, mas que hoje está semi-retirado, numa quase obscuridade dourada. FHC teria um novo rosto. E este rosto cabe bem em José Serra. São ambos vinhos da mesma bodega, da mesma vinícola. E qual é a marca suprema, o traço peculiar destes personagens? No fundo, realizar a grande metamorfose: ser de esquerda na juventude - Serra foi presidente da UNE - e de direita na maturidade. Com isso, o Dramaturgo da Vida está satisfeito, já que se completa, numa primeira amostragem, os mais importantes determinantes de sua figura dramática, este neoliberal candidato a presidente da Repúlica.

quinta-feira, outubro 14, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
14 de outubro de 2010
COLUNA DAS QUINTAS

TROPA DE ELITE
Por Enéas de Souza


O que fizeram FHC/Serra?
FHC e Serra enganaram muito tempo, mascararam durante muitos anos. O primeiro, cognominado como Príncipe da Sociologia, com uma carreira acadêmica sublinhada pela glória de ter sido aluno de Florestan Fernandes e de ter participado de um seminário de Marx em tempos de ditadura, escreveu um livro famoso em parceria com Enzo Faletto e foi eleito suplente de senador, suplente de Franco Montoro. Este último episódio trouxe uma movimentação de classe média inédita, única, porque a favor de um grande intelectual. Me lembro que a UNICAMP e o resto de São Paulo se moveu toda em torno dele. E apostem para saber quem era o puxador da campanha do ilustre sociólogo? Advinhem? Acertaram. O prof. Serra. Como Fernando, também se apresentava como um nacionalista, um intelectual que, colado na Maria Conceição Tavares, participou de um trabalho marco na época da ditadura: “Mas allá del desarollo”, escrito nas plagas promissoras e depois, terríveis do Chile dos anos 70. E naquela época, Fernando Henrique tinha a sua luz e a sua aura; era o farol e a cintilação, o grande resistente da ditadura. Nada mais justo que José Serra fosse o seu escudeiro, sempre ligado a muitas estatísticas, avizinhando uma possível posição nacionalista. Nunca foi uma grande figura como Fernando Henrique, me lembro do seu único e belo trabalho “solo”. Trata do desempenho do Brasil no século XX até os anos 70, mostrando a performance de longo prazo nacional, só superada, no mundo pelos japoneses. Fernando Henrique era o Zeus do Olimpo paulista, e Serra, o Mercúrio do chefe da assembléia de deuses.

A dança da política trouxe duas carreiras políticas, com um ou outro percalço para o pleno de sucesso. Glória, glória, nas alturas. Nas múltiplas trajetórias das pessoas existem episódios menores, porém pode ocorrer algo maior, algo que mude tudo. Tudo se transforma. FHC é escolhido presidente. Aqui é o salto do tigre. FHC pula do nacionalismo para o liberalismo. Poucos viram antes das eleições. José Luís Fiori viu claro. Anunciou para todos que Fernando vinha como o cavaleiro andante do Consenso de Washington. Anunciou e escreveu. De todos que falavam da opção do futuro presidente, foi o único que o Príncipe se dignou a responder. Respondeu por que José Luís tinha visto o coração da reforma intelectual e política de FHC, que ao longo do processo foi de todo o seu grupo. O nacionalismo virou liberalismo. A defesa do Estado virou delapidação das suas propriedades. Diga-se: propriedades do povo brasileiro. As empresas foram torradas por títulos podres, o governo permitiu o uso de títulos desvalorizados no processo de compra, o governo financiou grupos internacionais e nacionais na compra destas corporações. E José Serra, o escudeiro fiel, tornou-se o agilizador das vendas, o cirurgião – porque Ministro do Planejamento – da amputação do Brasil, o Chefe do Plano de Privatização.

Caiu a máscara da face, diz o samba antecipador. E venderam mal, pois cobraram pouco, permitiram que as moedas podres entrassem na jogada. A Vale foi um crime de lesa-pátria. E por que? Porque estrategicamente foi como perder uma das armas decisivas numa política de agigantamento do país. Olhem onde a Petrobrás foi novamente colocada por Lula e Dilma, no centro do grande movimento de retorno do Estado à economia brasileira. Ocupa o nervo estratégico do governo. Se a Vale fosse do Estado seria o segundo grande suporte. (A descoberta do pré-sal veio na corcova deste processo.) E o FHC não queria deixar a Petrobrás de fora, queriam fazer a Petrobrax. Olha só, Petrobrax! Mente de colonizado. Não conseguiram vender, o fantasma do velho Getúlio e a história do “Petróleo é nosso” impediram a venda. E isso nos salvou. Um dia, discutindo sobre a economia brasileira, no final do segundo mandato de FHC, com o economista francês Pierre Salama, (Salama temia que o Brasil seguisse os passos da Argentina) lhe disse: “a grande diferença é que o Brasil não entregou nem a Petrobrás, nem o Banco do Brasil, nem a Caixa”. E, de fato, o Fernando Henrique não teve coragem de ir até o fim no seu processo de venda. E com o Brasil quebrando três vezes, com a privatização desamparada e desarvorada pendendo para os lados dos compradores, com a abertura do comércio externo (completando Fernando Collor) e com a abertura financeira, sem pedir nada em troca, o Fernando Henrique tornou-se um grande entregador de empresas estatais. Tudo em nome da modernidade da economia. E nós, brasileiros, ficando sem investimentos e com alto desemprego, e sendo chamados, por cima, de “neo-bobos”.

Mas, o que queria salientar era outra coisa. Pela primeira vez, temos concorrendo à presidência da República dois candidatos que, de uma forma ou de outro vem das batalhas dos anos 60, mais exatamente da ditadura. Serra era presidente da UNE na hora do golpe, participou dos discursos do famoso comício de 13 de março, o comício onde Jango bradava por um caminho inexistente e Maria Tereza olhava perdida para o infinito. Como se antevisse a derrota, o golpe militar. Duvidam que Maria Tereza olhava para o infinito? Vejam o filme de Silvio Tendler sobre “Jango”. Como dissemos, Serra era presidente da UNE. Um das músicas do CPC da UNE, acho que uma música do Carlos Lira, falava nos “capitais amigos dos Estados Unidos”. A UNE do Serra. Pois, mirem-se nos engajamentos políticos dos anos sessenta. Havia muitos caminhos: ser golpista, ser pró-americano, ser resistente – e aqui com várias raízes, vindas de dois troncos fortes: a guerrilha e a resistência legal. Fernando Henrique e Serra foram contra a ditadura. E Dilma, a adversária de Serra, nem se fala.

Mas, a aranha que formata as teias da história não formata como poderia parecer a lógica dos personagens. Qual seria esta lógica? Que a resistência à ditadura por parte de gente de esquerda (Fernando Henrique era, Serra sempre pareceu que, e Dilma esteve sintomaticamente na contramão da ditadura) os levasse não só à democracia, mas com uma posição nacionalista. Pois, o que é a realidade, o cara que foi da UNE, o cara que participou do Seminário de Marx dos anos 60, ao entrarem no templo da política culminaram como vendedores do patrimônio estatal. Entregaram a preços de amendoim. O que foi a venda da Vale? E Serra vendeu muito mais. Fernando Henrique aprovou tudo. Pois não é que oito anos depois do FHC, depois que o neoliberalismo está em decomposição, Serra não desmente o “anúncio” de David Sylbersztajn de que o pré-sal pode ser vendido. O Serra, como dizia a minha mãe, “o Serra não se emendou”. Parece continuar na ponta do balcão a dizer: “Quem quer comprar o pré-sal? Se for presidente, o pré-sal vai estar à venda”. Comprem, comprem. A astúcia da História mostrou bem: a tropa de elite da intelectualidade e da política brasileira quer vender o Brasil.

E Dilma, não. Continua fiel aos princípios pelos quais foi à luta em 64. Pela democracia, pela distribuição da riqueza para os brasileiros. Mas, esta tropa de elite, não, Quando tomaram o poder, foi para negociarem tudo. Venderam tudo. Vale, Telebrás, Banespa, etc. etc. E agora fingem deveras que querem estatizar, (“Vou reestatizar tudo”, disse Serra depois do debate da Bandeirantes) quando pensam em vender. Isto consagra a grande volta que fizeram, quando trocaram de lado: de nacionalistas a neoliberais, de defensores do Estado a adeptos do mercado, de homens de esquerda a políticos de direita. São os pássaros desta vertigem e da fascinação pelo capital financeiro. Constituíram uma tropa de elite, uma formação de primeira (FHC, Serra, Malan, Paulo Renato Souza, Wiston Fritsch, Elena Landau. Mendonça de Barros, Gustavo Franco, Pérsio Arida, Armínio Fraga, Lara Rezende, Edmar Bacha, etc.) para ser a vanguarda econômica e política do neoliberalismo. Anos 90. Agora, no século XXI, não esqueçam que, apesar da crise nos Estados Unidos, existe um movimento forte de capital das finanças, alimentados pela liquidez americana garantida pelo Banco Central (FED). Estes capitais estão dispostos a investirem no Brasil e no mundo afora. Seríamos, portanto, a cauda de um neoliberalismo financeiro retardatário. As metas parecem claras: pré-sal, em primeiro lugar (como disse o economista Pedro Almeida, este patrimônio pode valer 8 trilhões de dólares ou seja mais da metade do PIB anual dos Estados Unidos). E claro, vende-se primeiro o dito pré-sal, e depois pode ser a Petrobrás. Isto pode descortinar um itinerário. E obviamente nessa visão, o Estado não deve ter bancos, pensando assim poderíamos arrastar o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal para linha de tiro. No fim, quem sabe se ponha o BNDES para correr; ou, como Fernando Gros (outro que foi da Tropa de Elite e já faleceu) fez, transformá-lo em Banco de Investimento (que, na linguagem neoliberal, é banco de aplicações financeiras).

(Como podemos resistir a este itinerário político e econômico da privatização, que já foi efetuado no passado e que está antevisto para o futuro do Brasil na campanha de Serra? O “candidato do bem” sabe a quem oferecê-lo. Que Serra, FHC e seu grupo tomem esta posição faz parte do jogo democrático, mas não queiram passar por nacionalistas e defensores da riqueza nacional, quando são atores da privatização e da venda de empresas estatais para o capital estrangeiro. São atores do neoliberalismo).

quinta-feira, outubro 07, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
07 de outubro de 2010
COLUNA DAS QUINTAS


A CENA FINAL
Por Enéas de Souza


Estamos na seguinte situação: a peça está entrando no último ato. Para que ela fique interessante o Autor do texto, o Senhor, o Acaso - como se queira chamar - fez uma pequena falseta, algo que não estava no “plot”, no enredo, na tessitura dramática. O personagem Dilma que tinha tudo para não perder, não ganhou a consagração no primeiro turno de nossas eleições, foi para o segundo, depois de ter chegado quase lá. Ora, o ardiloso Autor, já que a peça estava tão boa, resolveu, feito esses autores de novelas da TV, espichar um pouco mais as cenas, fazer render os horizontes dos personagens, etc. Mas, como sabem os escritores e os roteiristas, não se pode fazer nada contra a lógica dos personagens, eles são rebeldes a qualquer maltrato. Não me lembro quem, mas recordo de um grande artista dizendo o seguinte (até nem sei se não foi o nosso Erico Verissimo): “se quero que o personagem faça algo diferente de sua natureza, ele não aceita, ele tem rebeldia. Resiste – e não consigo mudar o seu modo de ser. Os diálogos saem falsos e as ações sem sentido”.

Tem um personagem na atual história das eleições que se chama Mídia Convencional. De repente, estando sendo derrotada, se deu conta da mudança de parte da população em face da candidata Dilma Rousseff. E ela fez uma pirueta e apostou nos verdes, nos religiosos e na Marina. E olha só o minuto de traição da história. Prestes a vencer no primeiro turno, Dilma encontrou este obstáculo. O Dramaturgo da Vida resolveu dar mais sensação ao drama, pôr mais caldo no suco de maçã. Dilma ficou ali; 3 pontos da vitória no primeiro turno. E ela, como muitos – eu mesmo, vamos confessar – sentiu que a adversidade tinha aparecido na noite de domingo no nosso apartamento. Como diz o título do filme de Stanley Kramer “Advinhe quem vem para jantar?” Pois é, ficamos todos decepcionados, perplexos. Antes era a vitória certa, agora a vitória adiada... E Dilma falando no domingo, depois de ter tido milhões de votos a favor, quase 15 milhões de diferença para o adversário, ela, Dilma, estava com um ar de decepção, quase de derrota por não ter ganho no primeiro turno.

Como costumavam dizer as gurias no meu tempo de luta política estudantil: “olha aqui, gente”. Sim, olha aqui, gente. O companheiro Hegel já nos falava: vamos encarar o negativo na cara. O negativo foi não termos vencido a eleição no primeiro turno. Mas, o grande resultado foi o seguinte: uma candidata sem experiência de campanha política levou uma mensagem, a de continuidade ampliada do governo Lula, ao povo, aos eleitores. E saiu dos famosos 3% iniciais para 47%, derrotando – vou escrever com letras maiúsculas: DERROTANDO – o seu adversário de forma espetacular. Foi uma vitória maiúscula. “Gente”, não vamos cair nesta armadilha porque não triunfamos de primeira. Não vamos deixar que este sentimento de frustração passe para o primeiro plano, machuque o nosso entusiasmo e dê ao candidato tucano uma vantagem psicológica, que ele, metido a esperto, e que não tem o “physique du rôle”, quer aproveitar. Ora, convenhamos, Dr. Serra, foi um massacre: 47 a 33. Felizmente, a equipe da Dilma se deu conta e já está se reorganizando, lavando as feridas, percebendo as falhas. Já consciente do passa pé do último momento, da surpresa elaborada pelas traças do destino, Dilma está repensando o jogo. E os contra-ataques já estão sendo disparados como quem lava um cacho de uva naturalmente. Pois quem ganhou do jeito que ganhou não pode achar que o jogo vai virar.

O Dramaturgo da Vida está pensando: “que cenas vou botar agora?” Concebe em seguida: o grupo da Dilma vai ter que fazer duas coisas: primeiro, mostrar de onde veio, novamente. Sim, sim, veio do Lula. E aí põe o que o Lula fez. Bolsa-família, aumento de salário mínimo, crédito consignado, luz para todos. Pode contar que ele manteve os empregos com a desoneração fiscal para as indústrias automobilísticas e para a linha branca eletrodoméstica. E ainda cabe neste balaio o fato de que jogou o consumo para cima. Mas, se isto já é muito, veja mais um outro passo do Lula: retoma a Petrobrás para o país assim como deixa também a descoberta de uma riqueza notável como o pré-sal. É pouco? E o Dramaturgo da Vida pensa: “mas isso o povo sabe!” Só que raciocina: Dilma vai ter que dizer tudo de novo, porque é preciso confirmar o que foi feito. Comparar Lula com FHC. “Confirmar o voto”, pensam agora os eleitores das praias e dos sertões, das cidades e dos campos.

“Ah, mas vou ter que dizer o que a Dilma vai fazer”, fala para si mesmo o autor da peça, somando as idéias dela ao que o Lula fez. A candidata vai dizer que vai aumentar o poder do Estado para fazer mais investimentos, para alcançar mais empregos, para melhorar a infra-estrutura do país, para fazer a Petrobrás gerar indústrias na sua cadeia produtiva: indústria naval, indústria de bens de capital para o petróleo, ou seja, produzir navios, plataformas, sondas, etc. E mais, vai mandar alimentos, minerais e petróleo na pauta de exportações para garantir importações brasileiras, sobretudo de equipamentos para a nossa indústria. É isto: Dramaturgo da Vida sabe que a Dilma vai pôr o Estado em defesa do Brasil, seja na questão externa, seja no mercado interno, seja onde for necessário. Estas coisas estão na lógica do personagem. “E claro não se pode esquecer que Dilma vai dar um carinho especial ao trabalho do Lula na diplomacia”. Virá uma herança imensa das jornadas do Celso Amorim. O leitor pode imaginar: Ângela Merkel e Dilma Rousseff?

Antes disso, ainda nos confrontos eleitorais do segundo turno, o personagem Dilma vai ter que indagar: “Mas que é que o outro cara vai fazer?” Ah, aí é que está toda a diferença! O Zé, como disse o Plínio de Arruda Sampaio no debate final do primeiro turno, vai fazer duas coisas, como já disse logo depois da derrota, comemorando como se a Dilma tivesse perdido: “Vamos fazer um Estado forte”. Sim, foi isso que eles – o FHC e ele, o José Serra, Ministro de Planejamento – fizeram quando instalaram no Brasil o neoliberalismo tropical. Engana-se quem conjeturou que retirar o Estado da economia, deixando as finanças livres para ganhar o que puderem, é fazer um Estado fraco. Não. É um Estado forte. Mas, a pergunta se desdobra, e é pergunta de advogado: “Fazer um Estado forte para que? E para quem?”. O José Serra diz agora, como dizia no final dos anos 90 e início do século XXI, que é para dar desenvolvimento e emprego. Pois aí, pensa o Dramaturgo da Vida, a personagem Dilma vai ter que ser explícita: “Ora, candidato” – candidato, como se costuma falar agora – “essa não é a sua linha. Quando FHC estava no governo e você era ministro do Planejamento e depois ministro da Saúde, o que vocês fizeram foi privatização. Venderam as coisas do Estado. Pior: venderam as coisas do povo. Venderam as coisas do Brasil. VENDERAM.”. E aí reflete o Dramaturgo: “Querida Dilma, tens que ser cruel e definitiva” E põe o personagem no ataque: “Será que você, Serra, não quer vender também o Pré-sal? Quem sabe você não quer vender a Petrobrás, como na eleição de 2006, Alckimin disse que queria fazer? Quem sabe você não quer vender o Banco do Brasil e a Caixa Econômica como o Fernando Henrique estava pronto para tocar adiante?”

Pensando no desenvolvimento da trama da peça, o Dramaturgo da Vida cogita: “Aqui, para o conflito da peça crescer – pois é o último ato – tenho que forçar o clímax. E Dilma vai ter que botar o José Serra diante de sua biografia, já que é isto que ele diz que tem”. “Como é, candidato, como é que você diz que vai fazer o que nós queremos fazer, um governo para o povo, quando no governo você aconselhou FHC a vender a Vale do Rio Doce? Como é que você vai fazer os bancos serem a favor da população, como o Banco do Brasil, a Caixa Federal – sobretudo para o setor habitacional – e o BNDES, quando você logo que assumiu o governo de São Paulo queria vender a NOSSA CAIXA. Como é que você vai ajudar o Brasil privatizando o país. Vai vender o BB e a Caixa?”

E aí o Dramaturgo da Vida pode até pôr uma frase popular no seu enredo como fala derradeira.. Pode pôr o Plínio, no fundo da cena, dizendo: “Acorda, Zé. O neoliberalismo acabou”.

terça-feira, outubro 05, 2010

Fernanda Torres leu o EconoBrasil... e não entendeu!

Na FSP de domingo dia 03, dia da eleição brasileira em primeiro turno, a excelente atriz e colunista Fernandinha Torres deu o recado: ela é fã de carteirinha do EconoBrasil e do Enéas, nosso co-editor. O artigo do Enéas sobre a motivação do papel da mídia na eleição (http://econobrasil.blogspot.com/2010/09/crise-financeira-mundial-23-de-setembro.html#links) foi tão brilhante, tocou tão fundo, que nossa Fernanda não se recusou em refutá-lo em plena Folha de São Paulo domingueira.

E, vejam o paradoxo: ela queria mostrar em seu artigo o quão desprezível é a força da nova mídia (blogs, redes sociais, etc...).

Para nós, do EconoBrasil, é exatamente o oposto: a nova mídia pauta a velha, que deverá existir para ter repercussão cada vez maior dentre nós. Estamos fazendo nossa parte, Fernanda. Publicamos abaixo seu artigo, e esperamos que continue nos seguindo, pois certamente o tema "mídia e novas tecnologias de informação e de comunicação" não deixará tão cedo a pauta do EconoBrasil:

São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2010

FERNANDA TORRES

Cronos


Rezo para que a antropofagia estéril das mágoas acumuladas não seja a grande vencedora em 2010


SE DILMA se eleger neste domingo, eu terei ao menos um grande alívio: o fim da preocupação de escrever essa coluna semanal.
Quando me foi feito o convite, a possibilidade de uma leiga como eu analisar a corrida eleitoral pelo seu lado teatral, o da política como fenômeno de comunicação, me seduziu a aceitar a proposta.
No meio do caminho, a disputa antes velada entre o poder e a imprensa se acirrou violentamente. Em um pronunciamento privado, José Dirceu nomeou seus principais desafetos: o Grupo Folha e as Organizações Globo.
Apesar de não ter contrato fixo com a TV Globo, eu, assim como centenas de atores que conheço, trabalho com frequência na maior produtora de conteúdo dramatúrgico do país. Não satisfeita, aceito participar do caderno Eleições 2010 da Folha de S.Paulo. Péssimos antecedentes.
Sempre que acontece uma polarização extrema, exige-se dos que estão envolvidos um posicionamento claro, partidário. Ou bem você ama a liberdade de expressão ou o povo. Ou você é Dilma, ou Serra. PT ou PSDB.
Lula sugeriu que os jornais explicitassem seu voto, em vez de mascararem o partido político pelo qual torcem com denúncias aparentemente isentas.
Ao longo dos últimos oito anos, aconteceram excessos de todos os lados, capas de revistas com pontapés na bunda do presidente e pronunciamentos de rancor público por parte das autoridades.
O economista Enéas de Souza, em um texto na rede, declarou que a imprensa se transformou na voz agonizante das oligarquias, em pânico diante da ameaça da verdadeira democracia opinativa das novas mídias de comunicação via internet.
O profético radicalismo apocalíptico do dilúvio tecnológico de Enéas, que virá abalar a atual concentração de poder e reinventar um mundo melhor, me incomoda tanto quanto os exageros difamatórios e o protecionismo de mercado das grandes corporações de comunicação.
Mais uma vez, reafirmo minha frágil posição de ovo sobre um muro estreito. Detesto extremismos e me preocupa o reflexo deste ódio mútuo nos setores menores da sociedade.
Em uma reunião entre a classe teatral e a secretária de Cultura do Rio, o diretor de um grupo teatral tomou o microfone para dizer que a dificuldade de sobrevivência, a falta de recursos e conexão com as plateias, ou seja, toda a crise do setor seria culpa dos atores, nas palavras dele, GLOBAIS, que além de fazer um teatro comercial, visam o lucro, viciando plateias com produções digestivas e destruindo a possibilidade de sua trupe, essa sim, séria, pura e competente, de existir como criadora.
Me deu vontade de mandá-lo assistir Marco Nanini em Pterodátilos para saber que ofensa há na existência de um trabalho extraordinário como aquele, que recebeu um redondo não de todos os possíveis patrocinadores, e que luta para existir tanto quanto qualquer mortal.
Rezo para que a antropofagia estéril das mágoas acumuladas não seja a grande vencedora em 2010.


FERNANDA TORRES é atriz




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