CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
01 de julho de 2010
COLUNA DAS QUINTAS
O PARTO
01 de julho de 2010
COLUNA DAS QUINTAS
O PARTO
VAI SER
DEMORADO
Por Enéas de Souza
A RODA DO APERTO
As bolsas são criaturas especulativas; mas expressam uma alma sensitiva. Trazem a inquietação do dinheiro e dos capitais neste sistema de hegemonia financeira. As bolsas do mundo andaram caindo devido a um passado duvidoso, senão carregado de pecados. Por exemplo: os bancos europeus tomaram, no ano de 2009, um empréstimo com prazo de 12 meses no Banco Central Europeu. Olha só a soma; 442 bilhões de euros com o objetivo de solucionarem seus problemas de liquidez. Pois, acompanhem; passaram-se os dias, o ano sumiu, e hoje, quinta feira, dia 1° de julho, dia sem jogo na Copa, os bancos devem comparecer ao guichet pagador. E todo mundo sabe, sobretudo entre os banqueiros, que quando o momento chega, faltando recursos, pode-se arrumar dinheiro no interbancário, que é onde os bancos se emprestam uns aos outros. É uma azafama para arrumar valores para fazer o que deve ser feito: pagar e/ou renovar os empréstimos. E o que a gente vê é que a turma está desesperada. Ninguém empresta para ninguém. Ou só por uma taxa inviável. E mais; algo que parece com uma nova barreira. O BCE diz, com qual o vigor ainda não se sabe, que não faltará dinheiro. Só que desta vez – detalhe fundamental -, ele empresta não por um ano; empresta somente por três meses. O BCE está apertando o torniquete.
ONDE ACABA O DESESPERO DA LIQUIDEZ
1) Temos aí dois visíveis pontos de tensão. O primeiro é o BCE fazendo o seu trabalho, forçando, com a mão mais pesada, o encurtamento do crédito. “Olha, já dei dinheiro; vocês tiveram 12 meses para trabalhar e melhorar a situação. Agora, chega, vamos diminuir os prazos de empréstimos. Vamos buscar uma melhoria da liquidez dos bancos. Façam o seu papel.”
2) Mas aí é que está. Muitos bancos estão engrossados de problemas. Os bancos espanhóis, por exemplo. E qual é a questão? Trata-se é óbvio de uma incapacidade de freqüentar a zona da liquidez, dado que os riscos assumidos no passado continuam e reaparecem. A questão é mais grave, a questão é de insolvência. Ora, o resultado disso é um aperto de crédito no interbancário, e aquele desespero de obter grana para pagar e renovar os empréstimos do BCE.
O EMPOLEIRAMENTO E A DEPENDÊNCIA
1) Veja o leitor econômico ou o leitor de ocasião, o que está acontecendo. A crise dos Estados na Europa mostrou uma profunda e íntima ligação entre os Leviatãs e o Capital. E isto tudo está marcado por um espelhamento. Essencialmente, a dívida dos bancos acaba por cair nos cofres do Estado. Logo, sobre a dívida e os déficits estatais. E daí ela volta para os bancos e que neste círculo do toma que o filho é teu, repica intensamente sobre a regulação da instância monetário-financeira do Banco Central Europeu. Nasce uma pressão desconfortável.
2) E não deve escapar a ninguém, que estamos no desdobramento da crise financeira, que deu os seus primeiros saltos para a vida, em 2005 nos Estados Unidos. Dalí passou pela Inglaterra e chegou ao continente europeu. Depois de um tempo, aparentemente, tinha sido contida. Como se dizia antigamente, ledo engano. Porque, a crise financeira na Europa mostrou uma ligação fervorosa entre o Estado e as finanças, cujo casamento era mais “caseiro” do que nos Estados Unidos. Mais “caseiro” e menos fácil de resolver. Porque se a dívida e o déficit americano aumentaram, ela e ele são em dólar, são dívidas contra o próprios americanos. O manejo da política monetária sempre pode resolver. Mas, na Europa não. O euro é uma moeda sem uma perna, uma Vênus Manca, de tal maneira, que a verdadeira reserva de valor no continente é o dólar. E isto causa problemas graves. As dívidas acabam em outra moeda. Portanto, muito mais difíceis de serem solucionadas. E os Estados estão mais atados às finanças, como estas a estes. E a obesa dívida pública dificulta a solução. Ao mesmo tempo, que os bancos estão empoleirados no Estado e dependentes do Banco Central Europeu.
PARA ONDE VAI A ESPIRAL DINÂMICA DO ESTADO E DAS FINANÇAS
A complicação européia faz parte da evolução dinâmica da crise mundial, mostrando, de modo solar, a interligação dos sistemas financeiros e dos países, ao mesmo tempo, que revela, com sabores de relativa surpresa, mais duas coisas: a capacidade do sistema capitalista de pôr contenções e colchões às diversas quedas, e por conseqüência, desembocar num amplo perdurar da crise. Na verdade, temos uma constelação e uma combinação orgânica de vários fatores. Dela nasce um ritmo lento e prolongado. Para que tenhamos uma idéia desta evolução, listo os itens que compõe a foto: a) a relação incestuosa entre o Estado e bancos; b) a fluência e a contaminação dos sistemas financeiros; c) a transferência das dívidas das instituições financeiras privadas para o Estado, que mantém um certo controle da situação pelo seu próprio endividamento; d) a sinalização de um ponto onde a dívida e o déficit dos Estados precipitam uma parada da economia e afetam e são afetados pelos bancos. e) a instauração de um círculo vicioso Estado/finanças que, com uma política fiscal contencionista, encaminha a economia para uma tendência depressiva; f) a crise de uma parte do sistema tem o poder de passar o tecido danificado às demais partes da economia capitalista; e, g) o estabelecimento da hegemonia do dólar, que emerge como o cruzamento de efeitos onde o sistema pode desabar por completo.
Como se vê uma espiral dinâmica descendente.
NÃO DÁ PARA SEGURAR!
1) A economia americana foi a primeira a ser profundamente afetada pela crise, e foi também a primeira a receber uma terapia financeira por parte do Estado, que deu como contrapeso osso, uma modesta aspirina para recuperar a produção, solucionou temporariamente com um grande pacote para os bancos. E deu com a graça de sempre um tapinha nas costas dos empregados e desempregados, todos igualmente com dívida forte. E ela, a economia dos Estados Unidos, na sua pujança de economia mais poderosa, continua. No entanto, na cama, no leito, com uma doença ainda não resolvida. Não está nem em convalescença, quando mais pronta para sair a rua. Tudo está em passo de vamos ver como é que vai ficar. De outro lado, a China, segundo noticias, continua crescendo muito, mas crescendo menos, o que significa que como um motor poderoso para a demanda internacional tem menos potência. E não terá capacidade de segurar sozinha a recuperação da economia mundial.
2) Todas essas três razões, a crise na Europa, a crise dos Estados Unidos e uma desaceleração na China, provocaram no mundo e nas bolsas, nesta semana, uma respiração ofegante, cuja dramaticidade inquieta assinalou, apesar dos empolgamentos midiáticos com a Copa, que a geologia econômica não vai tão bem como as publicidades tentam nos dizer. (Já reparam como a mídia contemporânea gosta de vitórias e de falsas felicidades!) Por isso, habitantes do planeta, vibrem com os jogos, mas não retirem o olho do noticiário econômico e fiquem atentos às participações políticas, porque só a política contrarresta as náuseas da economia.
A CHEGADA DE KRUGMAN AO BANDO DOS PESSIMISSTAS
A verdade está, hoje, portanto, ali nas bolsas, pois o caminho da crise continua seguindo para uma tendência depressiva. E a depressão, se o leitor quer uma figura, ela é um animal, um bicho como o tatu - vai cavando, vai cavando; e muito e muito, o seu alentado buraco. Paul Krugman, economista de respeito, está chegando ao nosso time, aquele que pensa que o pessimista é um otimista bem informado. Diz ele: “Receio que estejamos nos primeiros estágios de uma terceira depressão”. Terceira depressão? Sim ele está falando de 1873, e daquela dos anos trinta, e desta que já vem passando do plano recessivo para a depressão. Assim, aquelas bobagens de curvas em V, de curvas em W – a tal de double dipp - não passam de ciclos menores, ciclos de curto prazo, inscritos numa crise de um ciclo longo. Deste modo a depressão nesta fase do capitalismo financeiro pode ser um momento indispensável para a revolução das estruturas produtivas, da reformulação da função das finanças, e da organização de uma nova sociedade política, econômica e social.
Se isto for assim - o parto vai ser evidentemente demorado!
Por Enéas de Souza
A RODA DO APERTO
As bolsas são criaturas especulativas; mas expressam uma alma sensitiva. Trazem a inquietação do dinheiro e dos capitais neste sistema de hegemonia financeira. As bolsas do mundo andaram caindo devido a um passado duvidoso, senão carregado de pecados. Por exemplo: os bancos europeus tomaram, no ano de 2009, um empréstimo com prazo de 12 meses no Banco Central Europeu. Olha só a soma; 442 bilhões de euros com o objetivo de solucionarem seus problemas de liquidez. Pois, acompanhem; passaram-se os dias, o ano sumiu, e hoje, quinta feira, dia 1° de julho, dia sem jogo na Copa, os bancos devem comparecer ao guichet pagador. E todo mundo sabe, sobretudo entre os banqueiros, que quando o momento chega, faltando recursos, pode-se arrumar dinheiro no interbancário, que é onde os bancos se emprestam uns aos outros. É uma azafama para arrumar valores para fazer o que deve ser feito: pagar e/ou renovar os empréstimos. E o que a gente vê é que a turma está desesperada. Ninguém empresta para ninguém. Ou só por uma taxa inviável. E mais; algo que parece com uma nova barreira. O BCE diz, com qual o vigor ainda não se sabe, que não faltará dinheiro. Só que desta vez – detalhe fundamental -, ele empresta não por um ano; empresta somente por três meses. O BCE está apertando o torniquete.
ONDE ACABA O DESESPERO DA LIQUIDEZ
1) Temos aí dois visíveis pontos de tensão. O primeiro é o BCE fazendo o seu trabalho, forçando, com a mão mais pesada, o encurtamento do crédito. “Olha, já dei dinheiro; vocês tiveram 12 meses para trabalhar e melhorar a situação. Agora, chega, vamos diminuir os prazos de empréstimos. Vamos buscar uma melhoria da liquidez dos bancos. Façam o seu papel.”
2) Mas aí é que está. Muitos bancos estão engrossados de problemas. Os bancos espanhóis, por exemplo. E qual é a questão? Trata-se é óbvio de uma incapacidade de freqüentar a zona da liquidez, dado que os riscos assumidos no passado continuam e reaparecem. A questão é mais grave, a questão é de insolvência. Ora, o resultado disso é um aperto de crédito no interbancário, e aquele desespero de obter grana para pagar e renovar os empréstimos do BCE.
O EMPOLEIRAMENTO E A DEPENDÊNCIA
1) Veja o leitor econômico ou o leitor de ocasião, o que está acontecendo. A crise dos Estados na Europa mostrou uma profunda e íntima ligação entre os Leviatãs e o Capital. E isto tudo está marcado por um espelhamento. Essencialmente, a dívida dos bancos acaba por cair nos cofres do Estado. Logo, sobre a dívida e os déficits estatais. E daí ela volta para os bancos e que neste círculo do toma que o filho é teu, repica intensamente sobre a regulação da instância monetário-financeira do Banco Central Europeu. Nasce uma pressão desconfortável.
2) E não deve escapar a ninguém, que estamos no desdobramento da crise financeira, que deu os seus primeiros saltos para a vida, em 2005 nos Estados Unidos. Dalí passou pela Inglaterra e chegou ao continente europeu. Depois de um tempo, aparentemente, tinha sido contida. Como se dizia antigamente, ledo engano. Porque, a crise financeira na Europa mostrou uma ligação fervorosa entre o Estado e as finanças, cujo casamento era mais “caseiro” do que nos Estados Unidos. Mais “caseiro” e menos fácil de resolver. Porque se a dívida e o déficit americano aumentaram, ela e ele são em dólar, são dívidas contra o próprios americanos. O manejo da política monetária sempre pode resolver. Mas, na Europa não. O euro é uma moeda sem uma perna, uma Vênus Manca, de tal maneira, que a verdadeira reserva de valor no continente é o dólar. E isto causa problemas graves. As dívidas acabam em outra moeda. Portanto, muito mais difíceis de serem solucionadas. E os Estados estão mais atados às finanças, como estas a estes. E a obesa dívida pública dificulta a solução. Ao mesmo tempo, que os bancos estão empoleirados no Estado e dependentes do Banco Central Europeu.
PARA ONDE VAI A ESPIRAL DINÂMICA DO ESTADO E DAS FINANÇAS
A complicação européia faz parte da evolução dinâmica da crise mundial, mostrando, de modo solar, a interligação dos sistemas financeiros e dos países, ao mesmo tempo, que revela, com sabores de relativa surpresa, mais duas coisas: a capacidade do sistema capitalista de pôr contenções e colchões às diversas quedas, e por conseqüência, desembocar num amplo perdurar da crise. Na verdade, temos uma constelação e uma combinação orgânica de vários fatores. Dela nasce um ritmo lento e prolongado. Para que tenhamos uma idéia desta evolução, listo os itens que compõe a foto: a) a relação incestuosa entre o Estado e bancos; b) a fluência e a contaminação dos sistemas financeiros; c) a transferência das dívidas das instituições financeiras privadas para o Estado, que mantém um certo controle da situação pelo seu próprio endividamento; d) a sinalização de um ponto onde a dívida e o déficit dos Estados precipitam uma parada da economia e afetam e são afetados pelos bancos. e) a instauração de um círculo vicioso Estado/finanças que, com uma política fiscal contencionista, encaminha a economia para uma tendência depressiva; f) a crise de uma parte do sistema tem o poder de passar o tecido danificado às demais partes da economia capitalista; e, g) o estabelecimento da hegemonia do dólar, que emerge como o cruzamento de efeitos onde o sistema pode desabar por completo.
Como se vê uma espiral dinâmica descendente.
NÃO DÁ PARA SEGURAR!
1) A economia americana foi a primeira a ser profundamente afetada pela crise, e foi também a primeira a receber uma terapia financeira por parte do Estado, que deu como contrapeso osso, uma modesta aspirina para recuperar a produção, solucionou temporariamente com um grande pacote para os bancos. E deu com a graça de sempre um tapinha nas costas dos empregados e desempregados, todos igualmente com dívida forte. E ela, a economia dos Estados Unidos, na sua pujança de economia mais poderosa, continua. No entanto, na cama, no leito, com uma doença ainda não resolvida. Não está nem em convalescença, quando mais pronta para sair a rua. Tudo está em passo de vamos ver como é que vai ficar. De outro lado, a China, segundo noticias, continua crescendo muito, mas crescendo menos, o que significa que como um motor poderoso para a demanda internacional tem menos potência. E não terá capacidade de segurar sozinha a recuperação da economia mundial.
2) Todas essas três razões, a crise na Europa, a crise dos Estados Unidos e uma desaceleração na China, provocaram no mundo e nas bolsas, nesta semana, uma respiração ofegante, cuja dramaticidade inquieta assinalou, apesar dos empolgamentos midiáticos com a Copa, que a geologia econômica não vai tão bem como as publicidades tentam nos dizer. (Já reparam como a mídia contemporânea gosta de vitórias e de falsas felicidades!) Por isso, habitantes do planeta, vibrem com os jogos, mas não retirem o olho do noticiário econômico e fiquem atentos às participações políticas, porque só a política contrarresta as náuseas da economia.
A CHEGADA DE KRUGMAN AO BANDO DOS PESSIMISSTAS
A verdade está, hoje, portanto, ali nas bolsas, pois o caminho da crise continua seguindo para uma tendência depressiva. E a depressão, se o leitor quer uma figura, ela é um animal, um bicho como o tatu - vai cavando, vai cavando; e muito e muito, o seu alentado buraco. Paul Krugman, economista de respeito, está chegando ao nosso time, aquele que pensa que o pessimista é um otimista bem informado. Diz ele: “Receio que estejamos nos primeiros estágios de uma terceira depressão”. Terceira depressão? Sim ele está falando de 1873, e daquela dos anos trinta, e desta que já vem passando do plano recessivo para a depressão. Assim, aquelas bobagens de curvas em V, de curvas em W – a tal de double dipp - não passam de ciclos menores, ciclos de curto prazo, inscritos numa crise de um ciclo longo. Deste modo a depressão nesta fase do capitalismo financeiro pode ser um momento indispensável para a revolução das estruturas produtivas, da reformulação da função das finanças, e da organização de uma nova sociedade política, econômica e social.
Se isto for assim - o parto vai ser evidentemente demorado!
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