terça-feira, junho 30, 2009
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Incrível! Vendas revisadas de 89% para 6,5%!
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Preços dos imóveis caem mais 1% nos EUA enquanto despejos avançam
sexta-feira, junho 26, 2009
quinta-feira, junho 25, 2009
Coluna das quintas
25 de junho de 2009
O QUE FAZ UM
ESTADO FINANCEIRO?
Por Enéas de Souza
Estamos numa encruzilhada. O carro da economia chegou num ponto onde pode seguir a estrada para a ascensão ou entrar na rota da ladeira abaixo. Por quê? Existe uma política econômica – talvez, seria melhor dizer uma política de Estado – que está tentando, com alguma coerência, propor uma saída para a economia americana. Vejamos seus passos.
O começo está no fundamental
Primeiro passo – fazer uma intervenção forte do Estado no campo da economia. Seu objetivo foi evitar o risco sistêmico e proporcionar às instituições financeiras e produtivas condições de recuperação. Dizendo noutra linguagem: dado que a economia chegou a um impasse, sua solução é só uma: concentração e centralização de capital. Pois o Estado americano está proporcionando esta concentração e esta centralização. Ao mesmo tempo em que também tenta amparar empresas pouco competitivas no mercado mundial, como a GM, para a reformulação de sua estratégia nacional e internacional, demitindo presidente, exigindo mudança de projetos, etc. A importância da intervenção do Estado passa pela possibilidade de tornar-se, momentaneamente, uma cabeça financeira – papel fundamental do Estado financeiro – e gerir as estruturas em falência do atual estágio. Gerir para salvar. Gerir para manter a árvore crescendo. Gerir para salvar a produção e manter parte do emprego. Claro, a solução principal buscada não é o emprego, a solução principal é a recuperação do capital.
OBAMA é um CEO?
Segundo passo – O Estado é uma cabeça financeira, mas é uma cabeça política, e uma cabeça política com visão privada. E isto quer dizer que, como diz o Laurence “Hot” Summers, a primeira preocupação do presidente da República – Obama para os íntimos públicos – é a manutenção dos princípios de mercado. Portanto, o Estado financeiro é uma cabeça financeira que tem vários sócios, e estes sócios, Obama diria “gentlements”, são sócios políticos da dominação do mercado sobre o Estado. O presidente é uma espécie de CEO (Chef Executive Office, geralmente equivalente a presidente) ao menos na área econômica, que define política, administrativa e burocraticamente a forma de buscar a manutenção e a continuação da estrutura do capitalismo. Portanto, fica claro, que a última instância do sistema não é o banco central, mas sim o Estado. E não apenas financeiramente, mas politicamente. Porque, politicamente, ele decide que a política pública vai defender, financeiramente, com fundos públicos, o que um comentarista vulgar disse: a “solidez e a estabilidade” do capitalismo americano. Ou será que é o capital que, dominando o Estado, decide salvar-se a si próprio, via recursos da sociedade?
As chaves do Paraíso
Terceiro – A garantia do Estado faz com que a sua intervenção use tanto a política monetário-financeira quanto a política fiscal para garantir a sobrevivência sistêmica do mercado. Daí a dupla face da política: intervenção (bailouts, participações, linhas de liquidez, etc.) e administração privada (ou seja, o governo não passa a indicar o board de diretores, etc. O que ele faz, no máximo é vetar os planos de recuperações ou diretores consagradamente incompetentes para a fase atual, etc.). Ou seja, o Governo tem a participação, assim como os shareholders (acionistas), apenas nas considerações políticas, mas a administração continua privada ou, praticamente, a mesma. O que significa: a consagração máxima do modelo da Governança Corporativa. Isto quer dizer que o Governo toma a posição dos proprietários do capital, mas conserva a contradição do sistema, com a permanência dos administradores correntes, ou seja, mantém o capital em funções. Isto quer dizer que garante o sistema da governança corporativa tanto na sua forma quanto no nível do conteúdo.
(Porque será que os economistas não conseguem entender que a resposta da China tem que ser mais rápida que a americana, uma vez que a China é um capitalismo de Estado e os Estados Unidos não, é um sistema privado que usa o Estado quando possível?)
A máscara do Estado como
acionista das empresas privadas
Quarto – A diferença do Estado como acionista e o acionista normal é que a intervenção do primeiro vem por ter assumido a posição do capital em geral, e que, portanto, depois de restabelecida a posição de competitividade dos capitais, ele devolverá aos investidores, as frações do capital, a recuperação alcançada. Embora possa fazer esta operação com lucros, o Estado procura, e este é o projeto do capital financeiro, na sua fortaleza, deixar o cenário econômico para apenas sustentar o sistema em bom funcionamento, cuidando para que a sociedade mantenha o seu apoio e as suas convicções em favor do sistema de mercado. E, de outro lado, no caso dos Estados Unidos, que ele continue o seu processo de liderança, que no momento, é uma das preocupações fundamentais de Obama, ou seja, na verdade, a correção de seu rumo perdido pelo inolvidável George Bush, filho. Enfim, temos aí um resumo do Estado financeiro americano. Sustentador de estratégias econômicas e políticas com recursos da população; funcionando politicamente como emprestador, em última instância, do sistema financeiro em risco sistêmico; e reorganizador, no caso dos Estados Unidos, das ordens econômica e política mundiais, sempre instáveis por natureza da hegemonia do capital financeiro.
E o Estado tem bala?
Há dois problemas que é preciso considerar no momento. Primeiro, o repique da crise. Segundo, a capacidade do Estado de sustentar financeiramente a reformulação do sistema de mercado.
a) O repique da crise
Começa-se a desconfiar, algo que já apontamos outras vezes, mas não com esse desdobramento, de que existe uma série de ativos que estão embutidos no sistema, e podem estourar. Trata-se da securitização de cartões de créditos, empréstimos estudantis, e empréstimos para a construção civil para imóveis não-residenciais. O FED tem contribuído para dar liquidez ao sistema financeiro, visando – olho preciso, tentando ser cirúrgico – a eliminação dos ativos tóxicos originados dos CDOs, das RMBAs, etc. Ensaia dar, obviamente, tempo para que as instituições do setor possam aumentar capital, sanear papéis do balanço, alcançar lucros em novas operações, etc. Mas, a bomba da segunda geração da crise ainda não foi desativada. E isto sem esquecer o CDS, cujos efeitos destrutivos ninguém sabe bem quais serão. E ainda há perigos com as instituições do tipo fundos de pensões e hedge funds. Ou seja, o que queremos dizer e perguntar é o seguinte: pode haver um repique da crise? Esperemos que não. Mas, se isto ocorrer, a crise não será em W, mas, como diz uma amiga, talvez seja em M, ou seja, a última perna descendente nos levará a uma crise mais vasta que a depressão dos anos 30. Assim, a verdade seria que o cassino financeiro teria se tornado um vulcão econômico. Por isso, a questão que se impõe: vai haver um repique da crise? No caso afirmativo, a recidiva seria desastrosa para os Estados Unidos e para todo o mundo. A visão, então, é catastrofista? Não, a pergunta é que é realista.
b) A sustentação financeira do sistema de mercado
Examinando o segundo problema. Obviamente, que o panorama e o potencial de gasto do Estado, na amplitude da sua capacidade de financiar-se, seja por dívida pública, seja por emissões, causa desacertos e inquietações. Todavia, de qualquer modo, há um limite no processo. Porque, embora o próprio governo deseja uma certa inflação, a deterioração das contas americanas pode chegar a um ponto de ameaçar a integridade da moeda americana. Hoje mesmo, a preocupação do mundo é quase frontal, o dólar oscila, cambaleia, às vezes fica sóbrio, mas volta a cair e etc. Ou seja, o dólar está sempre na eminência de uma ameaça possível de desvalorização.
A reunião dos BRICs, sobretudo a China, tem mostrado uma sombria preocupação quanto à política monetária americana e o dólar. A própria idéia de swaps de divisas, no comércio dual entre vários países, vem do fato de que o dólar e as políticas americanas não inspiram total confiança nos seus parceiros mundiais. E que eles tem dúvida da função do dólar como reserva de valor internacional. O que significa dizer que os países não querem pagar a conta da crise americana. Principalmente a China, que acumulou um saldo de mais de 2 trilhões de dólares. Mas, uma coisa é clara: não há moeda substituta do dólar à vista. O euro só foi moeda stand by em momentos especulativos, seja quando a economia está bem ou quando a economia mundial começou a entrar em crise. O yen desapareceu como moeda pela anulação do Japão como pólo organizador da economia asiática, assim como o yuan por ser uma moeda controlada pelo Estado Chinês, que não tem nenhuma viabilidade de padrão monetário internacional, mesmo que a economia chinesa cresça. Portanto, uma desvalorização crescente da moeda americana pode levar a um caminho complexo e complicado. Os países, definitivamente, não querem pagar a conta dos Estados Unidos e não há outra moeda para tomar o lugar do dólar.
Sinta então leitor, se a crise der uma recidiva, os gastos do governo aumentarão em muito, e as possibilidades de uma desvalorização do dólar serão fatais. De qualquer forma, colocamos estas duas questões, porque a solução da crise ainda está andando sobre uma lâmina. Há um grau enorme de indefinição e de incerteza, ou seja, ninguém sabe o que vai acontecer. O que serve para desmascarar a ridícula idéia de que a crise já passou e que o pior ficou para trás. Até pode ser, mas o horizonte da estrada aponta um futuro que ninguém sabe para que lado a economia vai. É preciso ter calma e aguardar novos sinais e novas atuações das forças econômicas e uma sucessão de gestos do governo, para que se possa ter, se não uma certeza, ao menos uma intuição para onde vamos. Por enquanto, temos que fazer como o poeta Thiago de Mello, que em outros tempos, nos tempos da ditadura brasileira, dizia: “É noite, mas eu canto”.
quarta-feira, junho 24, 2009
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Timelines of Policy Response to the Global Financial Crisis (FED)
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Como ão afetadas as exportações do Japão e da China com a queda de 1% na demanda norte-americana?
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Exportações japonesas caem mais de 40%
segunda-feira, junho 22, 2009
quinta-feira, junho 18, 2009
Coluna das quintas
18 de junho de 2009
OBAMA VERSUS AS FINANÇAS
( Ou a nova regulação financeira)
Por Enéas de Souza
Contra o próprio capital financeiro
Saiu ontem o plano de Obama, enviado ao Congresso, para que os Estados Unidos busquem um mínimo de controle deste endiabrado e fogoso e insensato setor financeiro. Damos as primeiras impressões deste “Financial Regulatory Reform”, que tem um esperançoso subtítulo; “Rebuilding Finantial Supervision and Regulation”. Naturalmente, que um projeto que vise dar uma certa direção ao que os financistas chamam impropriamente de “indústria financeira”, será sempre bem vindo, mesmo que de forma tardia. Pois, a primeira crítica que se pode fazer ao “Financial Regulatory Reform” é que ele já chegou tarde. E que Obama perdeu, com alguma razão, muito tempo. Mas, podemos constatar, que só ficou sentado, esperando, meditando e fazendo um grupo de trabalho, porque ele estava num círculo de ferro, e como Prometeu, acorrentado, pelas forças financeiras. Junto com esta crítica, pode-se efetivamente chegar à conclusão que a demora, a aparente inércia - que estava exasperando o público americano - é que, e falamos sempre sobre isso, as finanças tinham – e tem ainda - o domínio total da economia, e mesmo, da política americana. Obama estava cercado, desde Ben Bernanke, Tymothy Geithner até Laurence “Hot” Summers - o camaleão, como alguém muito bem disse. De qualquer modo, foi um gesto positivo, uma tentativa de propor algo, uma busca de tentar dar uma coordenação estatal ao atualmente destrutivo capital financeiro. Sim, porque a desregulação é o precipício, a flor aguda do abismo, mas que as finanças, quase insubmissas, não querem livrar-se dela. E com isso fica evidente o primeiro propósito de Obama: salvar o livre mercado – e dentro dele o capital financeiro contra o próprio capital financeiro.
O demorado adeus
Summers num discurso no Council on Foreign Relations, na semana passada, enunciou um princípio significativo de que o presidente americano tem, o princípio de preservação do sistema privado de mercado. E este discurso foi uma tentativa de mostrar que a sociedade americana, e obviamente, o Governo americano, estão do lado da livre iniciativa. Mas certamente, nem o Governo, nem a sociedade, não vão querer morrer pela insanidade de seu sistema financeiro. Daí a proposta de regulação. Sim, porque as finanças, depois do desastre de 2007/2008 ainda querem continuar com a desregulação, como se esse princípio fosse a própria enunciação da divindade, como se o próprio capital assim afirmasse. E mais, no nível das empresas financeiras sobravam, com força, o seguinte pensamento: “Ôba, conseguimos passar a bancarrota, conseguimos passar pelo stress test e nos livramos de concorrentes que desabaram como o Bear Sterns, como o Lehman Brothers. E agora que concentramos e centralizamos capital, o que significa mais poder, vamos manter tudo como era antes: alavancagem, desregulação, securitização, multiplicação de produtos, etc. Com um jeitinho mais, arrumamos o setor imobiliário. No momento, o que importa é soltar um ventinho nas bolsas, arrumamos uma sucessão de reportagens e editoriais de jornais importantes de que o pior já passou - e, ah!, o mundo voltará a ser como era antes”. Foi isto que as finanças armaram nestes dois últimos meses e fizeram deste esquema quase um ponto de honra De que maneira?. Anunciando o retorno de lucros; confirmando aumentos de capital. Insuficientes, sim; mas, de fato, aumentos de capital; e, sobretudo, promulgando a devolução dos bancos do dinheiro emprestado pelo Governo - o que seria uma vitrine onde se mostraria que tudo estava voltando ao melhor dos mundos.
(Mas, nem a sociedade, nem Obama acreditaram. E só restava ao Capitão América salvar o capitalismo: a política resolvendo a economia).
Onde estão os óculos das finanças?
Mas, as finanças não estão enxergando bem. Em primeiro lugar, esta crise não é uma crise de liquidez. Roubini tem batido nisso. E esta liquidez adiantou sim, mas não resolveu; o FED e o Governo despencaram em cima das instituições financeiras um vulcão de dinheiro. Ajudou, sim. Mas não resolveu. E os ativos podres ainda estão enfiados nos balanços dos bancos e as manobras bancárias não os tiraram da insolvência. E pior, não espalhem, mas começa-se a falar numa outra crise embutida no setor financeiro como a dos cartões de créditos, dos empréstimos comerciais, dos empréstimos estudantis, etc. Sem contar o CDS. E, antes que isso possa acontecer, o crédito benquisto não voltou minimamente satisfatório. E a crise financeira internacional continua com o seu fogo atiçado e o próprio dólar, desvalorizanado-se, está em causa, ao menos por uma parte dos BRICs, nem que seja para forçar concessões americanas.
Em segundo lugar, as finanças não estão enxergando bem, porque a economia real está numa descida louca, crise sobre crise, o produto industrial despencando e nenhuma expectativa de investimento. E vemos que o próprio incentivo fiscal do governo, que é bom, é, todavia, muito pequeno. E fica bastante evidente, que obviamente, está faltando crédito para as empresas produtivas. Ou seja, a miopia das finanças ou o seu jogo de passar cachorro na população e de traficar com o a mentira está muito gasto, o que significa que o governo resolveu dar mais um passo na sua estratégia de provocar uma mudança no capitalismo financeiro. Como dissemos: contra a sua obstinada vontade. Na verdade, o que estamos tendo é uma aula de como se comporta um grupo, que mesmo perdendo membros, continua hegemônico e portanto, prossegue mandando. E mandando por terceira pessoa, que agora proporciona mais um plano de salvação, só que com uma proposta mais estrutural. E não através de falsas propagandas.
O que está atrás da porta dos fundos
A estratégia política do governo em relação a economia foi buscar, por intermédio de injeções e linhas de liquidez. e das participações no capital das corporações financeiras e produtivas, que o risco sistêmico das finanças e das bancarrotas das empresas de produção não levassem para o buraco, além do emprego, o conjunto da sociedade. Ou seja, o governo usou a política monetária e a política fiscal para deter o desabamento de toda a economia. Os dementes do neoliberalismo saíram para as ruas e para as tribunas políticas afirmando de que havia “a kind of back door socialist”, glosando que o governo passara a ser dono de tudo. Pois, veja o leitor, como é que se faz política econômica. É assim, contra os ideólogos furiosos, contra os chantagistas financeiros, contra os opositores políticos, contra os perdedores inconformados, a receita é fazer uma estratégia coerente que envolva política monetária, política fiscal, projeto de longo prazo, tanto de renovação infra-estrutural como de transformação tecnológica. E finalmente, como a flor no amor ou o dinheiro no bolso, se reforma um marco des-regulatório inconseqüente e que levou a deformação e a decomposição e a destruição de uma estrutura econômica. E ela, uma política econômica, é na verdade uma arbitragem, de um lado determina e consolida vencedores; de outro confirma e dá destino aos perdedores. E só se faz ação econômica com querer político, porque a política é a possibilidade de canalizar propostas inclusive na criação de instituições. E instituições que tratam, inclusive, de salvar uma situação em franco desarranjo, em desesperada e impossível recuperação. São instituições que nascem aparentemente contra o próprio grupo social, que vira em determinados momentos altamente desafiador. Desafio que só não leva à subversões ou a golpes ou a impasses, quando o Estado age, de maneira precisa, e na forma de um astuto uso de oportunidades, contra uma fração do próprio grupo social hegemônico. No limite, o Estado afronta a ideologia dessa classe que já não expressa mais as soluções efetivas nem para si e nem para a sociedade que o apoiou ou o apóia. Por isso, pode-se compreender que a escolha do Estado americano da socialização dos prejuízos foi uma forma de poder retomar, num outro nível e não para todos os integrantes das finanças e da produção, a privatização dos lucros. Estratégia que se completa agora com o “Financial Regulatory Reform”. (”Yeah, that´s right, it´s a kind of back door socialist”).
Porta arrombada, tranca de ferro.
(Ou a bancarrota das finanças e a reforma da regulação)
Assim, para tentar resolver a crise financeira, o Governo lançou uma proposta de “We must act now to resolve confidence in the integrity of our financial system”, dividindo em 5 pontos básicos a sua proposta, que resumimos assim: 1) Promover uma robusta supervisão e regulação das empresas financeiras. 2) Estabelecer uma ampla supervisão dos mercados financeiros. 3) Proteger consumidores e investidores de abuso financeiro. 4) Fornecer ao governo instrumentos necessários para administração das crises financeiras. 5) Propor padrões de regulação internacional e implementar a cooperação internacional.
O que nos parece importante salientar é que há uma vasta proposta de uma reorganização e constituição de supervisão e de regulação, com inúmeras instituições, mas centrado no FED e num Conselho de reguladores financeiros. O FED terá o seu poder ampliado, passando a supervisionar qualquer instituição, de qualquer tipo, que ameace a estabilidade financeira. Enquanto que o Conselho, além de identificar o surgimento de risco sistêmico, tentará incrementar uma integração e uma cooperação entre as agências que controlam os diversos aspectos da área financeira. Precisaríamos muito espaço para examinar todos os aspectos positivos e controversos da proposta, mas não podemos deixar de caracterizar o último item do “Financial Regulatory Reform”. Ele é um ponto de escape e um dos pontos quentes da questão. Falo é claro da impossibilidade da regulação atingir os sistemas financeiros não-americanos, o que traz à cena a questão das finanças internacionais, e o reforço da necessidade de uma supervisão generalizada. Mas, não podemos deixar de notar que num ambiente governamental europeu um funcionário da Inglaterra disse: “Somos favoráveis à regulação. E temos um princípio: a regulação deve ser feita através de uma auto-regulação”.
(Olha aí as finanças resistindo em todas as janelas da casa!)
Assim, num pequeno apanhado geral do problema, o que se pretendeu foi chamar a atenção de que finalmente Obama jogou a carta decisiva da regulação. Ela entra no objetivo de alcançar que o desastre econômico, empacado no seu processo de recuperação das finanças e da produção, possa construir um marco regulatório na esfera financeira. Nada mais fácil dizer de que se trata de um passo importante na política de Estado de Obama para reformar o desarrumado capitalismo. Ou seja, a intervenção na economia, passando por questões monetário-finaceiras imediatas, ingressa numa estratégia de política econômica que contempla as finanças e a produção. E o Estado, mesmo jogando contra a fração xiita do capital financeiro, pretende produzir uma regulação que atenda ao próximo desenvolvimento dos mercados, mas que esteja atento, como disse um analista, às futuras e já previsíveis crises. Pois, como dizia um amigo meu, Isaac Johsua: “capital é crise”.
terça-feira, junho 16, 2009
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: A batalha da regulação continua
segunda-feira, junho 15, 2009
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Onde mora o perigo.
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Bancos europeus perdem mais US$ 283 bi em 2009-10
quinta-feira, junho 11, 2009
Coluna das quintas
11 de junho de 2009
BRASIL: NO MÁXIMO
UMA GRIPE FORTE
Por Enéas de Souza
Cai, cai balão
Duas quedas que caem bem na economia brasileira. O PIB caiu –1,8 % no primeiro trimestre de 2009 em relação ao mesmo período do ano passado e a taxa Selic foi alterada ontem e ficou em 9,25, perdendo 1%. Digo que são quedas que caem bem, porque a primeira foi uma diminuição menor do que a que o governo, o mercado e os analistas pensavam. E a segunda, foi a surpresa, quase escandalosa, do COPOM. É verdade, que já deveriam ter tomado esta medida. Só que um grupo tão conservador precisou ver, e a olho nu, que a economia brasileira estava perdendo altura, voando baixo, quase rasante. Por isso, o COPOM, como órgão do Estado, não poderia ficar como o navio de Fernando Pessoa, o da Ode Marítima, saindo e entrando no cais. O COPOM tem que atentar para o crescimento da economia. E parece que desta vez, olhou e olhou fundo e viu que é preciso criar forças que levem a reversão da queda da economia.
Salve lindo pendão da esperança
Um dos pontos mais interessantes desta crise financeira, que é uma crise de várias bolhas – bolha pontocom, bolha imobiliária, bolha das commodities – é, sem dúvida, o efeito mais tardio e menos profundo nos países emergentes do que o que ocorreu antes no centro da economia mundial. Os resultados recentemente divulgados sobre o Brasil mostram com clareza que de fato a crise chegou à terra de Machado de Assis, mas que depois de outubro de 2008 quando o mar encrespou feio como a cabeça de Medusa, este primeiro semestre de 2009 já revelou uma beliscada com um pouco de menos velocidade. Há alguns pequenos pontos a pôr em consideração, como quando a gente olha um panorama e algumas coisas desta paisagem ressaltam e nossa atenção, porque fazem relevo. E a gente nomeia e diz.
O primeiro ponto a extrair do nosso olhar é a já falada queda do PIB, que comparada com o final do trimestre do ano passado, deve ser comemorada. Caímos em relação a ele somente 0,8%. O que demonstra a desaceleração em ritmo de quase parando. Só que há um segundo ponto, um tanto desabusado, como se fosse um furúnculo grave. A queda brutal do investimento. Ou seja, a economia não vai se levantar tão rapidamente quanto gostaríamos. O BNDES fez projeções patrióticas, prevendo para 2009, um crescimento do investimento para 19%. Parece que eles estão olhando esta variável com uma lente de aumento poderosa, que nós - modestos observadores da economia - não estamos conseguindo ver.
Ora, a queda do investimento é um elemento decisivo da economia, porque as inversões produtivas possibilitam o crescimento da capacidade produtiva e repercutem como uma batida de samba na alegria do aumento do emprego. Com a caída referida e o acréscimo da capacidade ociosa, a manutenção da taxa de investimento – que, em 2008, foi de 19% – não parece estar assegurada. Evidentemente que um toque de baixa taxa de juros – caso da Selic – pode incrementar a esperança de uma melhoria da variável. Assim, com esta taxa básica de juros de 9,25%, estabelecendo uma taxa real de juros um pouco acima de 5%, vai reforçar, mesmo que levemente, as possibilidades de investimento. Porque é preciso considerar: as expectativas do empresariado de recuperação da economia ainda estão diminutas e a capacidade ociosa ainda está muito alta. Há que aumentar a ocupação das plantas e de forma consistente para que os empresários pensem em investir.
A pneumonia virou resfriado?
O recuo do PIB no primeiro trimestre foi certamente comemorativo, porque se dermos uma olhada no tombo americano, na escorregada das taxas européias, o Brasil, fica muito nítido com uma flor vermelha, saiu-se bem. E essa figura, nos conduz ao exame de um terceiro ponto: o comportamento do Governo. O que se pode constatar, então, é que ele tem respondido bem aos desafios, propondo atividades e soluções de natureza contra-cíclicas. Com essas intervenções, conseguiu colocar novamente o fortalecimento da presença do Estado na economia brasileira algo retirado pelo neoliberalismo. Mire o leitor no conjunto de medidas tomadas. Já lá atrás, o PAC, que foi meio apoiado, meio criticado pelos banqueiros, é hoje reclamado, por alguns empresários produtivos, como tímido. O maior empresário gaúcho chegou a dizer que seria necessário pelo menos o dobro de recursos para o Programa. Ou seja, o Governo estava certo na sua proposição. Agora, estamos em pleno lançamento do Plano de Habitação Popular, que está levando muita crítica, por parte de especialistas da realidade urbana, porém, que do ponto de vista econômico estrito senso, é uma postura forte e adequada. Quem sabe o Governo não consulta apenas os empresários, mas também a população, os urbanistas, os arquitetos, os ambientalistas, etc.? Isto quer dizer, vamos trazer a sociedade para o cenário das decisões.
Estas duas medidas acima têm sido acompanhadas por outras, como a diminuição ou isenção de tributos, que tem garantido uma demanda forte ao menos no setor automobilístico e no setor eletro-doméstico, linha branca. Ou seja, se nos dois primeiros pontos, expressos no parágrafo anterior, o PAC e o Plano de Habitação, os gastos do governo e/ou de órgãos do governo vestem a camiseta e entram em campo, nos outros, a liberação parcial ou global de impostos faz com que a economia não caia violentamente. Ou seja, um gesto político de oportunidade. E isso tudo deixando a dívida/PIB em 38,4% (dado de abril). Desta forma, o leitor poderá comparar o dado com os mais de 110% da relação japonesa, com os quase 80% da relação alemã, com os 70,4% da americana. E existe outro dado sintomático: com déficit fiscal confortável. Veja-se, inclusive, a previsão para o ano que vem é de 0,8% do nosso PIB contra um possível 13,6% dos Estados Unidos.
Falando ainda no Estado brasileiro, ressalta o continuado alto nível das reservas externas do Brasil – hoje em 205,5 bilhões de dólares – depois da hecatombe generalizada do efeito da crise global sobre todos os países. E tudo num ambiente não-inflacionário – pelo menos até agora. Estamos sim em crise, mas acho que estamos fazendo o melhor e o possível. Veja-se a diferença do Brasil de hoje para o de antes: antigamente se dizia que quando os Estados Unidos davam um espirro, a economia brasileira tinha uma pneumonia. Neste momento, é certo que teremos, no máximo, uma forte gripe; talvez fiquemos, no máximo, resfriados.
sábado, junho 06, 2009
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: O mundo dos quants em desencanto
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: A abordagem das "duas crises bancárias"
Of course, all large financial institutions hold both kinds of credit assets on their books. Some of the largest broker–dealers hold 70 percent of their assets at fair value, while some regional banks hold up to 90 percent of their assets in hold-to-maturity accounts. For the banking and securities industry as a whole, about two-thirds of assets are subject to hold-to-maturity accounting.
It might seem odd that accounting methodologies can make such a big difference. At the end of the day, what counts is the net present value of the cash flows from each asset, but those are unknowable until after a debt is repaid. Fair-value accounting, based on mark-to-market principles, immediately discounts assets when the expectation of a default arises and ability to trade the assets declines. Fair-value therefore makes the holder of the assets look worse, sooner. Hold-to-maturity accounting works in reverse and makes the holder look better for a longer time."
sexta-feira, junho 05, 2009
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: EUA perdem 345.000 empregos em maio. E isso é uma boa notícia!
quinta-feira, junho 04, 2009
Coluna das quintas
Por Enéas de Souza
A PAUSA QUE REFRESCA
Temos que dar boas notícias!
A crise já passou! Olha só a bolsa subindo, as finanças estão ficando contentes. No entanto, é preciso tomar cuidado com estas observações. Primeiro, a mídia hoje virou uma publicidade única, quase uma espécie de órgão de divulgação do capital financeiro. Segundo, mesmo na hipótese correta de que a esfera financeira tivesse se ajeitado, o que é uma insensatez, haveria que considerar que o problema fundamental não é a recuperação das finanças. Só isso não basta. O que é decisivo é sim, a recuperação da sociedade americana. Dêem uma olhada na produção industrial, no nível de capacidade ociosa, nas taxas de desemprego, nos níveis mensais de seguro-desemprego, e podemos ver que o desastre continua forte, nem ao menos diminuindo visível e substancialmente. Pode ser que cheguemos à conclusão que estamos num “pit stop” para um novo caminho desarvorado. Portanto, a economia americana é um Titanic que ainda não afundou totalmente.
Engodo - Parte II?
Voltemos ao sistema financeiro. O que é que mudou? A capitalização das finanças? Sim. Mas, em que nível? Foi suficiente? Não se sabe. Vamos, agora, como uma câmera que salta de fora para dentro dos bancos e das entidades que trabalham no setor, perguntar: aqueles “ativinhos podres” que estragaram a vida do neoliberalismo, já foram todos erradicados? Os balanços estão limpos? Duvido. Novas perguntas se seguem: estão todos voltando ao jogo, uns emprestando aos outros com taxas normais? Resposta: realmente os mercados estão fluindo razoavelmente. É verdade. Mas, salta logo a dúvida: não há nenhum medo de que o crédit crunch retorne com a mesma força? E continuam as questões: todas as instituições financeiras estão retomando e reorganizando os mercados americanos? Ou seja, mesmo sem nenhum desenho preparado, houve a recomposição de alguma arquitetura financeira? Certo, a alavancagem voltou e o dinheiro começa a se avolumar. O FED lambusou o sistema de liquidez, com taxas de juros zero, mas pergunta-se: o fluxo financeiro voltou sem nenhum entrave? Não.
Então...
Pode-se pensar num neo-neoliberalismo?
Então, o que há? O que há é um enorme poder social das finanças, que pôde usar um forte e denodado apoio do Estado - empregando os títulos e a dívida estatal e a maquineta de fazer dinheiro - para conseguir dar ao setor uma capacidade de manobra, de manipulação dos números, de ativos, e de mercados – enfim, tempo – para tentar mudar o panorama da esfera financeira. E pode até mudar. Pode até enlaçar, via novos métodos de crédito, o setor produtivo; mas isso é ainda coisa impensável. Pode até fazer um neo-neoliberalismo, mas nunca mais fará o movimento original. Porque? Só se a sociedade for estúpida para cair no engodo de achar que pode ganhar dinheiro do jeito que ganhavam. Onde encontrar mercados? Onde estão os produtos, os ativos? No exterior, no Brasil, por exemplo. Mas, jogar no Brasil, jogar em outros mercados deste porte, não é recompor o neoliberalismo; é apenas seguir, de um certo modo, o mesmo caminho original, porém menos consistente, de buscar recuperar o capital perdido nos Estados Unidos. O Brasil sustentará as necessidades de acumulação financeira dos grandes capitais especulativos do mundo? Nem por megalomania dos ufanistas das finanças pode-se pensar nisto. Ou seja, há que ter cuidado em examinar os sinais de recuperação. E é importante assinalar: o fundamental nesse momento, não é apenas uma leve melhora no mercado financeiro; o importante é a economia como um todo. Olha só, caro leitor, como a esfera produtiva está embaralhada, com problemas espetaculares como as do setor automobilístico americano. Vamos, com calma, para dizer que a crise já passou! Pode haver um ventinho favorável, um ou outro indicador melhor, mas as forças que levantam uma economia têm que predominar sobre os elementos que a levam para baixo. E isso ainda não está no cone de possibilidades.
Adivinhe quem vai fazer o jantar? A energia limpa?
Há também outro ponto a considerar. A economia produtiva atual está envolvida em problemas complexos. O mais fundamental é, sem dúvida, a questão energética. Tem havido esperanças fortes no campo do petróleo. Estão achando petróleo até em Cuba! Mas, a verdadeira questão é outra. Pois se o petróleo retornar a preços baixos, etc. etc., o tema se desloca para o meio ambiente, os estragos que este tipo de energia está fazendo. Que falem os ambientalistas! Pergunta decisiva: é possível fazer uma energia limpa com o petróleo, a preços convenientes? Mas, ainda na questão produtiva, como é que podemos pensar em recuperação sem modificações tecnológicas profundas, devido à competição aguçada e à queda da eficiência marginal do capital em diversas áreas?
(Não está parecendo tudo um golpe publicitário para enganar os incautos habitantes do planeta?).
A pergunta inquietante
Tudo isso nos leva a um problema sério. Quais são as possibilidades dos cidadãos do mundo de mudarem, em seu benefício, um pouco esta enorme máquina de fazer dinheiro e de engano que se constituiu o neoliberalismo - e que apesar de falido, continua gerindo as nossas consciências e os nossos destinos?