quarta-feira, março 01, 2006

A volta do déficit em transações correntes

Finalmente aconteceu... Depois de mais de um ano de superávits mensais, a conta corrente brasileira apresentou um déficit de US$ 452 milhões em janeiro de 2006.
É ainda cedo para sabermos se se trata de uma tendência ou de um fato isolado. No entanto, já é inquestionável que a sobrevalorização cambial do real inicia a causar os também conhecidos problemas externos. Ainda de forma light, bem light diriam alguns. Os crédulos de sempre vêem virtudes no ocorrido, pois a mágica do câmbio flutuante poderia assim funcionar em seu automatismo ajustador. Ou seria autismo da parte de quem assim se manifesta? É evidente que uma desvalorização cambial pressionaria automaticamente a taxa de inflação, que impediria a queda dos juros, que impediria uma maior desvalorização e assim o automatismo se transforma em autismo. Mais uma vez e mesmo que o mecanismo não se comporte exatamente dessa forma, a interação câmbio/juros vai ditar o cenário futuro e não pretensos "sinais do mercado" vistos de forma isolada. O problema todo é ter que desvalorizar algo que o próprio governo permitiu que valorizasse. Eles não aprendem que o câmbio flutuante só é bom quando não flutua. Não olham para a Ásia, talvez por vergonha. Pelo contrário, acreditam que a flutuação é sua virtude. Paguemos, pois...
É interessante verificarmos que as remessas de lucros pressionaram balanço de pagamentos, com as multinacionais enviando 1,54 bi de dólares ao exterior apenas no mês de janeiro. Extrapolando, teríamos uma remessa de US$ 18 bi em 2006, o que não deve ocorrer. Ainda. Em meus artigos sobre o investimento direto no Brasil na década de 1990 sempre deixei claro e frisei que essa conta ainda estava para ser paga e iria aparecer quando as condições (maior crescimento econômico e /ou sobrevalorização cambial) se fizessem presentes.
Em um contexto completamente diferente, quando da desvalorização cambial de 2002 e da aceleração do ajuste externo, escrevi junto com o colega Celso Pudwell, um artigo (Indicadores FEE, 2003/1, pode ser obtido em http://www.fee.rs.gov.br/sitefee/pt/content/publicacoes/pg_revistas_indicadores.php) que, além de mostrar a evidente preponderância da estratégia das empresas multinacionais para o destino dos saldos comercais brasileiros, apontava para alguns efeitos dessas mudanças. O efeito-China (compreendido em sentido amplo) retardou a rapidez do ajuste dessas empresas à valorização cambial brasileira prevista no artigo. Ainda assim, ali já estava escrito (2003!) que "a possibilidade um aumento nos custos para as emprsas multinacionais (...) possa representar uma reconstituição de sua preferência por insumos e produtos importados em detrimento de sua produção local e das exportações.
Por hora, a estagnação econômica brasileira e o bom desmpenho da economia mundial impedem que eses efeitos ameacem o próprio saldo comercial, embora este esteja em queda. Devemos prestar atenção detalahda na evolução do câmbio e da contas do balnço de pagamentos para não sermos surpreendidos com reversões abruptas de indicadores que julgávamos consolidados.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

A hipótese da terceira fase da mundialização do capital (1)


O mundo capitalista está em mutação acelerada. Não, não se trata de um pleonasmo a partir de conceitos marxianos. A realidade, que só os socialistas mais atentos perceberam até o momento, é que, a partir de 2003, uma vez mais entramos em nova etapa do processo de globalização do capital. É evidente que trata-se apenas de uma hipótese, mas acreditamos que exitem indícios suficientes para que ela possa ser explorada, em sua caracterização e, também, em algumas de suas conseqüências políticas imediatas.
Nossa hipótese é que estaríamos entrando, a partir de 2003, em uma terceira etapa do processo recente de globalização do capital. A primeira etapa foi caracterizada pela liberalização do comércio e das finanças em consonância com a adoção massiva das tecnologias de informação nos países desenvolvidos nos anos 1980. A essa seguiu-se a extensão desse processo aos países em desenvolvimento que apresentavam algum interesse finaneiro aos países capitalistas centrais - doravante denominados eufemisticamente a partir do cínico jargão financeiro "mercados emergentes" -, nos anos 1990. Em comum entre essas duas fases, o baixo crescimento econômico mundial e as seguidas crises financeiras causadas pela explosão de bolhas de ativos inflados de forma fictícia, bem como a reafirmação brilhante da hegemonia norte-americana a partir do papel central do dólar como moeda-reserva mundial. O corolário do processo foi o crescimento das desigualdas entre os países desenvolvidos (em especial os EUA) e os demais e, sobretudo, no interior dos países (aqui o exemplo mais espetacular foi a Europa Ocidental e a progressiva - ainda em curso - destruição do seu sistema de bem-estar social). Mas mesmo a economia estadunidense esteve sempre dançando sobre o fio da navalha, com a crise potencial à espreita e, como em 1998, por vezes bastante próxima.
Essa terceira etapa não marca ruptura radical com as anteriores, mas difere qualitativamente do anteriormente ocorrido. Pela primeira vez em 30 anos, a economia mundial dá algum sinal de vigor por 3 anos seguidos, SEM QUE ISSO SIGNIFIQUE A QUEBRA DO PADRÃO SISTÊMICO QUE DENOMINAMOS COMO A "DITADURA DO CAPITAL FINANCEIRO", o qual caracteriza a possibilidade desvinculação parcial entre produção, renda e lucro com a incorporação e a criação de imensas massas de riqueza fictícia.
A incorporação da China e da Índia ao centro do processo de redivisão internacional do trabalho, com seus bilhões de trabalhadores- e consumidores - potenciais, trouxe pela primeira vez em longo período a possibilidade do capital de finalidade dita produtiva, EMBORA AINDA COMPLETAMENTE SUBMISSO AOS IMPERATIVOS FINANCEIROS, encontrar um potencial de acumulação que permitiu o deslocamento da produção industrial em direção à Ásia, à China em particular. O mesmo ocorre de forma ainda incipiente com o setor de serviçoes em seu deslocamento para a Índia. A redução das taxas de juros nos Estados Unidos, provocadas pela dinâmica interna da economia daquele país, permitiu o aparecimento de novas oportunidades de acumulação produtiva, em uma nova rodada de deslocamento geográfico da produção em direção à Ásia, agora não mais restrita aos bens depednentes estritamente do custo da mã-da-obra. À intensificação do processo de integração produtiva refgional a partir das maiors empresas asiáticas (capitaneadas principalmente pelas empresas japonesas e coreanas), embora não seja novidade, veio a somar-se à recente multinacionalização de empresas chinesas que vêm ganhando espaço em território asiático e prepaprando seu desmbarque no resto do mundo.
Mais interessante ainda é observar que esse movimento de transformação produtiva se dá em moldes que lembram, em seu aspecto qualitativo, mais o velho "capitalismo fordista" do que o modelo flexível japonês dos anos 1970-80. Aqui não me refiro às relações de trabalho, mas sim à transformação de produtos tecnologicamente sofisticados em commodities, onde o fator preço tende à preponderar, ao menos em um primeiro instante, em relação à variedade. Tudo indica que assistiremos em brevíssimo espaço de tempo à inundação dos espaços domésticos europeu e latino-americanos de produtos tão baratos quanto indiferenciados, com as novas multinacionais chinesas ressuscitando a importância das velhas economias de escala, tendo agora como alvo o mercado mundial. Trata-se aqui da "wallmartização" dos espaços de consumo - e de trabalho - domésticos, com bens mais acessíveis mas salários ainda menores e, cada vez mais, restritos ao setor dos serviços. O resultado dessa modificação na produção em seu novo acoplamento ao capitalismo financeiro é evidente e se expressa no continuado financiamento dos colossais déficits norte-americanos, seja pelos bancos centrais do resto do mundo, seja pelos detentores dos petrodólares dos anos 2000, sendo o aumento no preço das commodities básicas um efeito dos mais importantes dessa terceira etapa da mundialização do capital. Mas a história ensina ser essa elevação nos preços dos bens básicos passageira, enquanto a relocalização da produção é de mais difícil reversão.
Isso significa que uma nova etapa de expansão capitalista continuada (o tão famoso quanto absurdo "crescimento sustentado") está assegurada? Que a emergência de novas crises é agora impossível? Que países latino-americanos como o Brasil não tem mais que se preocuparem com a vulnerabilidade externa, uma vez que se integram como "colônias exportadoras de commodities básicas" de forma virtuosa ao novo ciclo econômico mundial? A resposta a todas essas questões é negativa. Exploraremos essas controvérsias, extrapolando para as conseqüências políticas dessa nova configuração do capital, em um post em futuro próximo.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

0,75 de corte na SELIC???? Fala sério...

O que se deve fazer quando uma economia opera com elevado desemprego estrutural e conjuntural, com queda no ritmo de crescimento da atividade, com elevado saldo comercial e em transações correntes e sujeita à especulação cambial em mercados futuros que leva os "agentes impessoais do mercado" a apostarem em uníssono na valorização da moeda local? Dentre outras características, esse país ainda possui uma elevada divida interna que o "obriga" a realizar expressivos superávits primários, dívida essa que é remunerada pelos juros domésticos...
Esta seria uma situação trágica se a economia desse país ostentasse taxa de juro real bastante inferiores à média mundial, caracterizando assim a impotência da política monetária para alvancar uma retomada do crescimento. Agora, esse "dilema" é de facílima solução em um país que detém o record mundial de juros reais: todos os desequilíbrios acima citados seriam afetados positivamente por uma expressiva queda na taxa real de juros básica dessa economia. Seria alavancado o crescimento, a taxa de câmbio ao menos não se apreciaria, a dívida interna não sofreria o efeito dos juros que torna inócuo o próprio esforço fiscal.
Será que o COPOM não sabe disso? Será que os economistas que dirigem o BACEN (exima-se de culpa, a bem da verdade, os pobres técnicos, funcionários qualificados sem poder de decisão e que assistem espantados às barbaridades cometidas em seu nome...) se sentem à vontade para defender essa política absurda? Cortar 0,75 pontos percentuais da SELIC em um momento em que as reuniões fechadas que definem essa taxa tem sua periodicidade ampliada significa apenas uma coisa: 2006 tem tudo para ser mais um ano perdido para a economia brasileira. Como o foram, todos os anos, pelos mais variados motivos, depois de 1980!!!!
E isso em um momento único para a economia mundial nos últimos 30 anos, onde a entrada da China (muito falaremos sobre isso nese blog) com mais força na economia mundial traz uma configuração que, se não derruba a ditadura das finaças que tem impedido um maior crescimento mundial nesse período, ao menos aciona forças que permitem dar um maior dinamismo à essa economia.
Graças aos ultra-ortodoxos de um monetarismo desacreditado até mesmo nas universidades norte-americanas que os formaram, esses "malucos dos juros", incensados convenientemente pelos rentistas do sistema financeiro nacional que são benficiários do maior programa de transferência de renda dos pobres para os ricos no mundo, acabarão por conseguir seu objetivo. Para seu deleite, se nada mudar, o Brasil será um dos países mais pobres do mundo em meados do século XXI!
Parabéns, vocês venceram. Por enquanto.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Olá a todos!

Olá a todos! Esse blog destina-se ao comentário de temas referentes à economia internacional e à economia brasileira, à globalização no conjunto de suas dimensões (econômica, cultural, geográfica, etc.) e à geopolítica internacional. Contamos com a colaboração de todos os interessados nesses temas.