Finalmente aconteceu... Depois de mais de um ano de superávits mensais, a conta corrente brasileira apresentou um déficit de US$ 452 milhões em janeiro de 2006.
É ainda cedo para sabermos se se trata de uma tendência ou de um fato isolado. No entanto, já é inquestionável que a sobrevalorização cambial do real inicia a causar os também conhecidos problemas externos. Ainda de forma light, bem light diriam alguns. Os crédulos de sempre vêem virtudes no ocorrido, pois a mágica do câmbio flutuante poderia assim funcionar em seu automatismo ajustador. Ou seria autismo da parte de quem assim se manifesta? É evidente que uma desvalorização cambial pressionaria automaticamente a taxa de inflação, que impediria a queda dos juros, que impediria uma maior desvalorização e assim o automatismo se transforma em autismo. Mais uma vez e mesmo que o mecanismo não se comporte exatamente dessa forma, a interação câmbio/juros vai ditar o cenário futuro e não pretensos "sinais do mercado" vistos de forma isolada. O problema todo é ter que desvalorizar algo que o próprio governo permitiu que valorizasse. Eles não aprendem que o câmbio flutuante só é bom quando não flutua. Não olham para a Ásia, talvez por vergonha. Pelo contrário, acreditam que a flutuação é sua virtude. Paguemos, pois...
É interessante verificarmos que as remessas de lucros pressionaram balanço de pagamentos, com as multinacionais enviando 1,54 bi de dólares ao exterior apenas no mês de janeiro. Extrapolando, teríamos uma remessa de US$ 18 bi em 2006, o que não deve ocorrer. Ainda. Em meus artigos sobre o investimento direto no Brasil na década de 1990 sempre deixei claro e frisei que essa conta ainda estava para ser paga e iria aparecer quando as condições (maior crescimento econômico e /ou sobrevalorização cambial) se fizessem presentes.
Em um contexto completamente diferente, quando da desvalorização cambial de 2002 e da aceleração do ajuste externo, escrevi junto com o colega Celso Pudwell, um artigo (Indicadores FEE, 2003/1, pode ser obtido em http://www.fee.rs.gov.br/sitefee/pt/content/publicacoes/pg_revistas_indicadores.php) que, além de mostrar a evidente preponderância da estratégia das empresas multinacionais para o destino dos saldos comercais brasileiros, apontava para alguns efeitos dessas mudanças. O efeito-China (compreendido em sentido amplo) retardou a rapidez do ajuste dessas empresas à valorização cambial brasileira prevista no artigo. Ainda assim, ali já estava escrito (2003!) que "a possibilidade um aumento nos custos para as emprsas multinacionais (...) possa representar uma reconstituição de sua preferência por insumos e produtos importados em detrimento de sua produção local e das exportações.
Por hora, a estagnação econômica brasileira e o bom desmpenho da economia mundial impedem que eses efeitos ameacem o próprio saldo comercial, embora este esteja em queda. Devemos prestar atenção detalahda na evolução do câmbio e da contas do balnço de pagamentos para não sermos surpreendidos com reversões abruptas de indicadores que julgávamos consolidados.
Um comentário:
Ae sor! Aqui é o Vinicius Mutterle, aluno de Rel. Int. da PUC :P
Tá na hora de dar uma atualizada nesse teu blog em? :P
Posta alguma coisa sobre o caso Bolivia :P
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