O que se deve fazer quando uma economia opera com elevado desemprego estrutural e conjuntural, com queda no ritmo de crescimento da atividade, com elevado saldo comercial e em transações correntes e sujeita à especulação cambial em mercados futuros que leva os "agentes impessoais do mercado" a apostarem em uníssono na valorização da moeda local? Dentre outras características, esse país ainda possui uma elevada divida interna que o "obriga" a realizar expressivos superávits primários, dívida essa que é remunerada pelos juros domésticos...
Esta seria uma situação trágica se a economia desse país ostentasse taxa de juro real bastante inferiores à média mundial, caracterizando assim a impotência da política monetária para alvancar uma retomada do crescimento. Agora, esse "dilema" é de facílima solução em um país que detém o record mundial de juros reais: todos os desequilíbrios acima citados seriam afetados positivamente por uma expressiva queda na taxa real de juros básica dessa economia. Seria alavancado o crescimento, a taxa de câmbio ao menos não se apreciaria, a dívida interna não sofreria o efeito dos juros que torna inócuo o próprio esforço fiscal.
Será que o COPOM não sabe disso? Será que os economistas que dirigem o BACEN (exima-se de culpa, a bem da verdade, os pobres técnicos, funcionários qualificados sem poder de decisão e que assistem espantados às barbaridades cometidas em seu nome...) se sentem à vontade para defender essa política absurda? Cortar 0,75 pontos percentuais da SELIC em um momento em que as reuniões fechadas que definem essa taxa tem sua periodicidade ampliada significa apenas uma coisa: 2006 tem tudo para ser mais um ano perdido para a economia brasileira. Como o foram, todos os anos, pelos mais variados motivos, depois de 1980!!!!
E isso em um momento único para a economia mundial nos últimos 30 anos, onde a entrada da China (muito falaremos sobre isso nese blog) com mais força na economia mundial traz uma configuração que, se não derruba a ditadura das finaças que tem impedido um maior crescimento mundial nesse período, ao menos aciona forças que permitem dar um maior dinamismo à essa economia.
Graças aos ultra-ortodoxos de um monetarismo desacreditado até mesmo nas universidades norte-americanas que os formaram, esses "malucos dos juros", incensados convenientemente pelos rentistas do sistema financeiro nacional que são benficiários do maior programa de transferência de renda dos pobres para os ricos no mundo, acabarão por conseguir seu objetivo. Para seu deleite, se nada mudar, o Brasil será um dos países mais pobres do mundo em meados do século XXI!
Parabéns, vocês venceram. Por enquanto.
3 comentários:
E a tendência de queda , não indica algo??? E se os juros fossem cortados bruscamente, que efeito traria? O consumo se manteria estável? A inflação dispararia?
Me parece razoável o tal remédio aplicado pelo governo diante um paciente que se apresentava terminal , em um caminho sem volta, com dólar a R$4,00 e taxa de juros beirando os 30%a.m.
Que medidas permitiriam gozarmos de um privilegiado juros internacionais de 3% a.a.?
Que medidas permitiriam a continuidade do crescimento das exportações, que mesmo com opiniões de que averia um decrescimo esta se manteve em crescimento...
Em fim , gostaria de ver um conjunto de medidas que não desestabilizassem e indicassem um caminho de mudança com crescimento.
ratificação: onde está escrito averia , leia-se haveria, desculpe a distração.
É verdade Fábio, as exportações continuaram crescendo... como disse ali, o efeito-China tá puxando o mundo todo. Mas o que eu argumentei é que baixar os juros estabiliza, os juros altos é que desesstabilizam nesse momento. Causam mais desequilíbrios do que o contrário nesse momento. Obrigado pelo comentário, segue freqüentando que vamos tratar de outros temas que não a política econômica brasileira.
Postar um comentário