quinta-feira, janeiro 28, 2010



CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
28 de janeiro de 2010
Coluna das quintas

QUÁ, QUÁ, RÁ, QUÁ, QUÁ
Por Enéas de Souza

Olha lá, Davos! Estão discutindo a tentativa de regulação da economia financeira. Só este fato, já é algo picante, sobretudo quando este Fórum for olhado pelo ângulo de anos atrás, quando a arrogância dele era extrema. Mas, isso não é o melhor. O mais hilário são certos economistas, que ainda tem cara de pau de vir na televisão, e dizer que Davos não tem mais sentido. E a razão é única: Davos está atacando os princípios do capitalismo. E fundamentalmente, porque a solução agora proposta vai na direção anti-capitalista. Disse um, numa TV brasileira por assinatura, que as causas do diagnóstico estavam erradas. O problema não tinha sido o capital financeiro, mas os governos.Claro, os governos. Olha a velha cantoria: gastam muito, não controlam suas contas, não fazem o dever de casa.. Os governos é que foram os verdadeiros culpados. E, sobretudo agora, quando estão aumentando a sua gigantesca dívida.

A cara de pau chegou ao inimaginável, porque nem o mendigo da esquina desconhece que o endividamento, mais recente dos Estados, foi para salvar os bancos. Realmente aquele personagem do Jô Soares de anos atrás, serve bem para este cidadão falante, quando dizia: “Fica vermelha cara sem vergonha”. Mas, o mais terrível está na figura: não era um banqueiro, não era um capitalista, não era um político, quem dava a entrevista. Era um colega economista. Ora, que cara maneiro. Será que o verso de Ataulfo Alves está certo: “quanto mais conheço os homens, cada vez mais gosto do meu cão”? E o que é estarrecedor: este argumento, que foi lançado logo no início da crise, pelos banqueiro, não pegou nem mesmo entre os próprios banqueiros. Como é que tempos depois, um futuro prêmio Nobel, sim só pode ser, – e prêmio Nobel brasileiro – vem apregoar esta deliciosa parábola: a causa da crise foram os governos. A minha decepção foi imensa e abismal, não pelas suas declarações ditas a sério, mas porque não ouvi sonoras e gostosas gargalhadas no estúdio. Podia ser de todo o estúdio, não ficava mal; podia ser toda emissora de televisão, sairia consagrada; podiam ser de todos seus tele-espectadores, o que evidenciaria a seriedade da audição. O riso podia explodir com toda a gratuidade porque a piada é ótima. Mas, as risadas não apareceram. Terá tido algum coitado que tenha acreditado? Não, não acredito. E por isso me arrisco: tenho um conselho, se é que posso dar, aos banqueiros descuidados que gostam de contratar esses ideólogos de cintura grossa. Olha, querido banqueiro, pega mal, essa gente é mercadoria deteriorada, beberam. E se foram contratados, rápido, cancela a conta. E se ele insistir, diz que não está!

POPULISTA!

Continuamos em Davos. O Presidente de uma agência de auditoria famosa « Pricewaterhouse », o inimitável Denis Hallis, disse que o debate sobre as reformas econômicas é um “debate populista”. Pode ter um bom ar, soa bem. “Mas, será que ele é eficaz?. O populismo domina o debate » Estou chorando com a infelicidade e a preocupação cívica do referido presidente. Novamente o refrão. Quando se toma posição que afeta o setor privilegiado, o setor dos bancos, os assessores saem que nem uma matilha de lobos e acusam a, b, c, ou qualquer autoridade de “populista”. E queriam que Obama fosse o que? Elistista? Por mais que financiem a campanha, quem vota sãos os populares.

Quando o governo saiu em defesa dos banqueiros, ninguém gritou: populista. Todos os financistas falaram em risco sistêmico. Como aqui na época do FHC, por ocasião do PROER. O delicioso nesses tempos atuais tem esta face: os banqueiros que exploraram os investidores, que exploraram os aplicadores, que exploraram os portadores de ações, que exploraram o governo, que exploraram os contribuintes, não acharam nada. Jogaram como a Goldman Sachs apostando contra os seus próprios clientes; mas isso não é vigarice, faz parte do jogo econômico E agora, no Congresso americano ao deporem sobre o imposto proposto por Obama, sobre os bancos para compensar perdas do governo e dos contribuintes, por estes banqueiros terem usado o dinheiro público, eles disseram descaradamente que quem ia pagar, de qualquer jeito mesmo, eram os contribuintes. Por isso, não querem pagar. E, atenção,este imposto era para ser pago em 10 anos, hein? Agora, quando Obama insiste, assoprado por Volker - o conservador que sabe dos revolveres - em separar os bancos comerciais dos bancos de investimento, a fúria dos bancos redobra. Populista! Socialista! Que seja! Porque o banco de investimento é o dínamo da especulação e o dinamite da economia. Eles foram dizimados logo no início da crise. A sua volta é a volta de uma morte anunciada. Mesmo assim as finanças insistem. Porque? Como me disse uma vez um capitalista: “vamos tirar desta laranja todo o suco possível, enquanto der”. E o caso é o seguinte: se os banqueiros não forem parados, adeus a presidência do Obama. A revolta do povo americano que sopra forte estará cada vez mais em alto mar. Obama está jogando a sua vida política.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Obama vai conseguir colocar a finança de volta na garrafa?

A proposta de reforma financeira de Obama "chocou" o mundo financeiro. O "inimaginável' aconteceu mais uma vez nessa crise: Obama propõe aprisionar e cantonar as instituições financeiras, amordaçando-as em regras rígidas.

Vamos a uma avaliação geral da situação antes de entrarmos nos detalhes da proposta. Tal qual eu e o Enéas vimos alertando desde o início desse processo ainda em 2007, dada a explosão em todos os pontos que articulavam o sistema e que ficou explícita em 2008, seria impossível mantê-lo intacto. A melhora de 2009 fortaleceu essa ilusão, mas essa foi uma recuperação exclusivamente contábil do balanço das empresas financeiras, a partir de uma transferência massiva de recursos do Estado para o setor. Ao contrário da saída de outras crises, a capacidade de soprar bolhas nos preços dos ativos (como vem ocorrendo nas bolsas de valores, nos "mercados emergentes" e nas commodities) não mais consegue dinamizar a economia como um todo. A hegemonia financeira não é mais funcional à acumulação do capital, ao contrário, é um entrave que exaure a capacidade do Estado de apoiar outras alternativas capazes de aglutinar um novo núcleo sistêmico expansivo. O centro do capitalismo mundial, os EUA, estão correndo sério risco de se arrastarem durante longos anos na digestão dessas perdas em uma economia estagnada à la Japão (isso apesar dos áulicos nos lembrarem todo o tempo das virtudes da flexibilidade e da capacidade adaptativa da economia norte-americana).

Os reflexos políticos da crise econômica provocada pela finança inevitavelmente se fariam sentir. Obama não conseguiu nem mesmo propor uma reforma financeira quando de sua posse e existem algumas hipóteses para esse fato. Ele teria acreditado na recuperação da finança e na eficácia permanente do estímulo fiscal e, portanto, teria sido persuadido pelo lobby financeiro a empurrar para o futuro alguma solução para a questão. Em outra possibilidade, Obama teria sido convencido que, dada a péssima situação do setor financeiro, qualquer regulação e restrição das atividades seria contraproducente (o timing seria inadequado). Uma outra, dentre tantas hipóteses a mais provável, dá conta de que a ação do lobby financeiro no Congresso teria impedido até mesmo a discussão de uma reforma. O certo é que alguns conselheiros de Obama (como Paul Volcker principalmente) e outros economistas ligados ao partido com influência na opinião pública (como Paul Krugman e Robert Reich, dentre outros) vem alertando para a imperiosidade de controlar o setor financeiro, embora em minoria numa administração cujos nomes proeminentes são Summers e Geithner.

Mas o tempo político se acelerou nesse início de 2010. A derrota dos Democratas em Massachussets, a péssima perspectiva do partido para as futuras eleições congressuais e a necessidade de ter algo a apresentar no discurso sobre o Estado da União na próxima semana empurraram Obama à ação nesse momento. A popularidade do Presidente está em queda e a bronca da opinião pública com a liberdade de ação do setor financeiro, em alta. Ao contrário do que parece quando se escuta a mídia triunfante, a economia norte-americana já apresenta sinais de que a estagnação está se transformando em nova desaceleração, como mostra o aumento no número de pedidos de seguro desemprego nas últimas semanas e o aumento no número de foreclosures combinado à queda na venda de imóveis novos.

E Obama passou da inação ao ataque com uma velocidade que surpreendeu o lobby financeiro. Sua proposta, espertamente cunhada "Volcker Rule" para se aproveitar do prestígio junto aos conservadores do ex-Presidente monetarista do FED Paul Volcker, é de compartimentar novamente a estrutura do sistema financeiro, proibindo a atuação de bancos comerciais em atividades próprias aos bancos de investimento. É um ataque direto à estrutura de bancos múltiplos que transformou as instituições em supermercados financeiros com uma infinidade de produtos. Os bancos não poderiam mais emprestar recursos aos fundos hedge e aos fundos de private equity, e, principalmente, não poderiam utilizar recursos próprios para a constituição de mesas de operação especulativas (atividades típicas de hedge funds, o chamado proprietary trading).

Estas atividades levam a vários conflitos de interesse, pois permitem a prática do front running (tomar a frente se engajando na compra de ações e títulos cujos preços sofrerão variação posterior por ordens de compra dos próprios clientes do banco) e outras operações de arbitragem possibilitadas pela interação entre os negócios com dinheiro próprio e os negócios com dinheiro dos clientes. A reforma de Obama levaria ao fim das atividades de divisões que operam como hedge funds dentro dos bancos e ao fim do uso de dinheiro de depósitos bancários (seguros pelo governo) em operações eminentemente especulativas. Obrigatoriamente, os bancos comerciais teriam de se desfazer de suas operações como bancos de investimento, levando a uma fissão das instituições e a uma redução do tamanho dos bancos (reduziindo o risco sistêmico ), bem como a um melhor controle e supervisão das atividades bancárias típicas. Uma limitação da alavancagem nas operações com divisas também está em estudo. Ou seja, trata-se de uma completa mudança na estrutura e na forma de atuação do sistema financeiro, separando atividades especulativas das atividades bancárias tradicionais.

A proposta, entretanto, é incompleta, ao não trazer regras para a operação com derivativos, nem para a difusão das chamadas inovações financeiras. Sabe-se, de outra parte, que essa reforma vem sendo estudada em nível da BIS e de outras instituições como algo geral e planetário, uma vez que sua implantação em um mercado nacional apenas deslocaria as operações geograficamente, sem alterar o risco por elas colocado.

As cartas agora estão na mesa e o Congresso norte-americano vai decidir a parada. Os lobbies vão lutar com todas as forças para ao menos amenizar as restrições à atuação do setor (ao que parece, a definição do que é proprietary trading é o ponto crucial para a efetividade da propsição e é aí que os lobbies vão atuar). Wall Street foi pega de surpresa e considera que "Obama declarou guerra ao setor financeiro". Obama afirmou que "se é luta que querem, eles terão e eu estou pronto para a luta". Imediatamente a mídia financeira passou a ridicularizar a proposta, dizendo-a 'inócua e populista" (essa expressão não podia faltar...). Caso a reforma passe nos termos propostos por Obama, o capítulo da desregulamentação financeira será página virada para os próximos anos. E, provavelmente, será um marco na desmontagem da hegemonia financeira. Mas a força política do setor financeiro é imensa e o resultado dessa luta é tão incerto quanto é importante para o futuro da economia mundial.

Em tempos de Fórum Social Mundial, Obama está a dizer que um outro mundo capitalista é urgente, possível e necessário. Não é o meu mundo, nem o nosso mundo dos sonhos, mas é o projeto norte-americano para a economia mundial que começa a ser reformulado, de dentro para fora. As instituições do neoliberalismo começam a ser definitivamente desmontadas, ao menos, essa é a tentativa de Obama. O que virá em seu lugar?

quinta-feira, janeiro 21, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
Coluna das quintas
21 de janeiro de 2010

OBAMA E O NOVO
FAROESTE AMERICANO

Por Enéas de Souza

A vitória republicana em Massachusetts demonstra não o fracasso de Obama, representa um recado, o povo americano está insatisfeito. E pelos dois lados. Pela direita, sob o império dos bancos e da mente neoliberal de guerra, a vontade de liberdade para o sistema financeiro e para a expansão do poder militar com gastos governamentais justamente nesta área. Pelo centro e pela esquerda, um grito contra a impotência imediata do presidente diante do poderio das instituições bancárias e dos financistas, a fraqueza diante das questões energéticas e ecológicas, como aconteceu em Copenhagen; a lentidão em apoiar a retomada industrial; a falta de atenção ao emprego que atinge mais de 10% da força de trabalho, etc. A mistura do coquetel de posições de direita e de esquerda deu, num estado que tinha como representante um Kennedy, portanto, um democrata, a mensagem, o aviso da população. Take care.

OBAMA ESTÁ NA RODA

a) O balanço do descaramento

Olhando de um ponto de vista mais estrutural, pode-se ver o seguinte: Obama dança o seu cool jazz no meio de um círculo de ferro das classes no poder. A hegemonia está com as finanças, o que significa não apenas liderar economicamente a nação e o mundo, mas ter condições de influir na definição do Estado. E o que ela quer mesmo é a continuidade dele com a sua atual organização. Ou seja, O Estado deve continuar financeiro. E diz isso descaradamente. Agora. E diz com todas as pressões e abertamente, porque antes a hegemonia estava coberta com o véu ideológico. Agora não; agora escancarou tudo. Agora é nu frontal. Senão, vejamos. Para estupefação geral, os banqueiros tomaram dinheiro do Estado com a finalidade de resolver seus problemas com os ativos podres, com falta de caixa, com a carência de capital. E todo mundo viu, todo mundo sabe, não resolveram. O Citi, por exemplo, anunciou nesta semana, que deu prejuízo, mas foi um preju que não impediu a direção de pensar em distribuir os famosos bônus. Envergonhado, fala em diminuir os valores, mas outros bancos, que tem dinheiro do Estado como o próprio Citi, reservaram para si polpudas recompensas. O bônus é o escândalo da dominação e da hegemonia financeira. Logo, um fato como esse, revela, como uma fenda geológica num terremoto, a visão da desigualdade social. E na hora presente, o tratamento político e econômico débil, por parte do Estado, na preservação dos interesses coletivos. E aparece como evidente – absolutamente evidente para a população – que os financistas mandam e o governo obedece contrafeito por falta de força e age com inquietante hesitação. Logo, a conseqüência emerge: os eleitores votam pelos republicanos, contra Obama.

b) O equívoco do lance estratégico

A direita tem mais um outro grupo, os fiéis da guerra, os seguidores da seita Cheney, que fustigam fortemente a política externa americana. São cães que ladram no limite da ferocidade. Batalham em defesa da “América” em perigo. O discurso segue sempre na mesma direção: precisa-se de mais militares no Iraque, Obama disse e diz que não. Tentou uma manobra: deslocar o eixo da guerra para o Afeganistão. Ampliou o espaço para a fala guerreira. Pois não dá para sair do Iraque porque senão ele desmancha. E acabou por se envolver no Afeganistão. Ganhou o prêmio da Paz, por declarações de princípios não confirmadas. E está perdendo a batalha da guerra por equívoco de concessão aos militaristas na sua estratégia política. E os atentados dos Talibans põem fogo nas esperanças dos pacifistas. Enquanto isso, a direita americana, rejubilando-se, tenta empurrar o rastilho para o Irã. Só que o Irã está escapando, acabou de fazer um acordo concreto para uma rede de gás e petróleo, que envolve o Turbequistão, a China, a Rússia e o próprio Irã. Ou seja, os americanos não conseguiram isolar este país e tiveram como resposta política um eixo econômico que garante a Ahmadinejad um trunfo de resistência muito forte. Claro, a direita fustiga Obama. E o centro, e a esquerda e os pacifistas clamam contra as tortuosidades do presidente. Resultado: as urnas votam contra.

I LOVE THIS GUY

Claro, Obama tem uma estratégia semelhante ao Lula. Está cercado e vai tentar sair do terreno minado. Sair pelo popular. Tem mais dois anos para ganhar a esperança da reeleição. Até agora está faltando para ele algo como uma bolsa família e seus derivados. Começou com o Healthcare, mas o resultado é ainda indeciso, talvez nebuloso. Não conseguiu emplacar o alvo maior que era o seguro do Estado. Não conseguiu a cobertura universal, é verdade, mas ao menos botou 36 milhões de novos segurados, via recursos do Estado no jogo. Só que este dinheiro vai entrar nos cofres do setor privado. Mas a proposta ainda não é vencedora, tem que passar no Senado. E com a derrota de Massachusetts o projeto treme e Obama vai ter negociar para ganhar. Se perder, sua reputação vai se derreter vivamente.

Já na reforma financeira a coisa tá preta, tem uma montanha de lobbies das finanças jogando no ataque. E agora a adversidade aumentou, há uma fúria dos banqueiros e financistas na questão das taxas sobre os cinquenta maiores bancos. Aqui nesta arena a impulsão contra Obama é devastadora. Suas cartas não têm a natureza do curto prazo, são aquelas que atingem o curso longo: energia, meio ambiente, mudança da estrutura produtiva com ampliações da área tecnológica de comunicações e informações, reformulação no médio prazo do setor financeiro, etc. Bem, para cumprir a rota e pousar neste aeroporto, de fato, tem que fazer uma estratégia à la Lula: tentar ganhar a população no primeiro mandato para alcançar, no segundo, a intensidade suficiente, com o fim de produzir as mudanças que levariam aos seus objetivos. O problema é que, para atrapalhar o cenário, o prestígio americano está declinando tanto na economia como na política. E isso serve à direita e ao voto contra Obama para fabricar a tentativa de cortar o segundo período presidencial.

Assim, o ano de largada do novo mandatário foi um prolongado e progressivo desgaste do eleito, uma erosão do seu governo. Mas na política democrática o que importa não é o hoje, é o balanço que o povo faz na próxima eleição. O peso do pró e do contra, ou seja, da avaliação concreta das múltiplas medidas e das múltiplas atitudes, da materialização da estratégia proposta e da imagem que o presidente vai conseguir construir. De qualquer maneira, o sentimento que se tem do primeiro ano é o que se nota: Obama tem jogo, mas está cercado. Como nos antigos filmes de faroeste, a caravana está envolvida pelos índios. Só que nestes anos do século XXI, a Cavalaria que vem é contra e está do lado dos índios.

Quem poderá intervir a favor de Obama? Haverá um deus ex-machina, um super-herói, que salvará o segundo mandato? A estratégia à la Lula de furar o muro terá sucesso? É fatal: Obama tem dois, dois anos e meio, para abrir o cerco das finanças e dos homens da guerra.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

CRISE ECONÔMICA MUNDIAL
Coluna das quintas
14 de janeiro de 2010

ECONOMIA
BRASILEIRA:
NA VERTIGEM
DA EUFORIA

Por Enéas de Souza



Temos falado que o Brasil saiu, dentro das possibilidades, muito bem na crise. Agora se começa a pensar o que será o ano de 2010. E é preciso tentar entender este fenômeno, este corpo de economia brasileira na qual ela está se transformando. E se transformará. É preciso olhar como nos filmes de Philippe Grandrieux: ver o corpo, o seu ritmo, o peso dele, os seus ossos, a sua carne, o direito e o avesso das entranhas, etc. No caso específico de um crítico de conjuntura, dar uma olhada no esboço que trama como será este corpo da economia brasileira. E por quê? Porque já há gente que quer fazer da economia brasileira um espetáculo. Será o espetáculo de crescimento de que falava Lula? Antes de seguirmos adiante, pensemos um pouco nos nossos comportamentos de nação: de um lado, temos o “complexo de vira lata” de que nos falava Nelson Rodrigues, mas também aquela imagem megalô, “somos os campeões” do mundo, “Deus é brasileiro”. E vai ser difícil de nos demorarmos nesse olhar sobre o futuro (“Brasil, país do futuro”) porque 2010 vai ser o campo e o festival e o carnaval das ideologias. Trata-se, nem o mais desligado mauricinho desconhece, de um ano eleitoral, imensamente decisivo para a nossa história. Está em jogo o projeto Lula, mesmo que o antilulismo do PSDB queira evitar o tema.

Como se mexe a serpente

A economia é uma víbora que se mexe em busca de alimento, tem uma fome desgraçada. Quando está razoavelmente alimentada – aleluia! – viaja dando esperanças, fica quieta e deixa o mundo ter contentamentos e viver. Mas, quando entra em colapso, joga excremento em todo mundo, e põe uns contra outros, acusações e vociferações. Dito isso, como é que vamos entender as coisas agora? Os Estados Unidos sonharam a eternidade financeira e deram uma topada em ativos podres e se esborracharam no chão. Levaram consigo todas as economias do mundo, mas nem todos os países na globalização caíram do mesmo jeito. Mesmo porque as economias reagem diferente. A China, antes das outras, revirou-se, o Estado agiu e já está crescendo a mais de 9%. E, o Brasil? O Estado, limitado na sua força pelos anos neoliberais, desdobrou-se, renunciou impostos, definiu setores privilegiados e dinâmicos, escalonando uma série de isenções – desde automóveis até infra-estrutura, e segurou a queda da economia no abismo. Fez como Gary Grant quando reteve a queda de Eva Marie Saint nas cenas finais de “Intriga Internacional”, filme de Alfred Hitchcock. Neste movimento, o Brasil mostrou sua nova fase. A tradicional e falada pneumonia, que durante as crises anteriores se abatia sobre o Brasil, tornou-se, desta vez, fortes espirros de uma boa gripe. E não passou disso: uma boa gripe. E passageira. E, sobretudo, o setor mais pobre continuou atendido: bolsa família, aumento do salário mínimo, crédito consignado; incentivo para compra de produtos de eletrodomésticos, linha branca. Até a classe média baixa, média e alta trocaram de carro. De outro lado, para os de menor renda desenhou-se um programa especial: minha vida, minha casa. Portanto, o governo fica como passarinho imobilizado na frente da serpente.

Vamos dar um passo a mais na nossa análise. Sempre falamos que havia uma divisão, um corte profundo no Estado. Um setor desenvolvimentista, ligado num Estado intervencionista, e um setor que tenta forçar uma política de acumulação para as finanças, um Estado neoliberal, aberto – e bota braços abertos – para o capital internacional, para o setor financeiro. Bom, pois são estes caras que estão deslumbrados com o Brasil (também com a China, a Índia, etc.). E por quê? Ah, meus irmãos, o olho gordo das finanças. Ela está enxergando aqui no Brasil um espaço para a sua acumulação privada. Duvidam? Temos uma taxa de lucratividade altíssima, como nos afirma Delfim Netto (Carta Capital, desta semana), a valorização é de 7 a 8%, ao mês – e em dólar. Claro que ela vai vir, como já está vindo. Uma tempestade de investimentos internacionais em direção ao Brasil. Para que servem as taxas de juros zero ou quase zero nos países maduros? Temos aí a origem da alavancagem que propicia a emigração dos capitais para a terra de Macunaíma. E na revoada desses pássaros, apenas um partezinha pequena desce no ninho da produção. O grosso das tropas, a massa de insetos e de gafanhotos, vem não para o barco dos produtos, mas para a bacia financeira, para o mercado financeiro e para a Bolsa. E é ainda porque todo mundo está de férias que não estamos sentindo o ruído da manada. Mas já têm gente, alguns programas de televisão conhecidos, entrando na fase que Kindleberger chamaria de “euforia”. Ou, seja o Brasil já está entrando em campo para ser o campeão do mundo.

Quando a gangorra sobe...

Tudo está pronto para a festa. O Estado está com o comando da situação, mesmo dividido internamente. O lado desenvolvimentista conseguiu conclamar os empresários ao investimento, pelo PAC, pelas ações da Petrobrás, pelas isenções fiscais, pela ação do sistema de financiamento público (Banco do Brasil, Caixa, BNDES), pela força que tem dado ao mercado interno: salário mínimo, crédito, programa habitacional, isenções fiscais, etc. Os únicos pontos adversos são o câmbio (que facilitará as importações e dificultará as exportações) e a taxa de juros, como sempre alta para deter inflações, mas apetitosa para atrair capitais, etc. Além do mais estão disponíveis uma vasta e interessante gama de empresas que podem ser adquiridas e fusionadas no processo e no vendaval de capitais, que já está aportando e aportará por aqui. Ou seja, tudo promete um 2010 um ano de oba, oba, uma caravana jubilatória. Ainda mais que, sendo ano eleitoral, os gastos governamentais estarão em ação. E não adianta a oposição econômica e política, os liberais, a direita e o PSDB, pedir: contenção dos gastos correntes, aumento do superávit fiscal, controle da dívida pública, diminuição de impostos e o que mais que seja, que o clima será, se não houver uma queda brutal da economia americana ou internacional, de grandes resultados, de grandes saltos. O nosso Armínio Fraga, insuspeito economista, já disse que a economia brasileira vai crescer entre 4,5 e 5%. Mais do que a média dos oitos anos de FHC. E, se a previsão do governo de 5,8 for alcançada, ela baterá todo e qualquer recorde de crescimento das últimas décadas. O que estamos querendo dizer com tudo isso é que o samba das finanças, da produção e do governo pode dar um bom ano para o Brasil.

O problema é a falação que vem junto, sobretudo a falação dos liberais. Sim, mas tudo isso tem que ser considerado dentro do tumulto da eleição que está chegando. Como no Brasil, a eleição se mede pela economia e a economia se mede pela política, fica claro a quem ela beneficiará. Vai dar capital internacional, vai dar banco brasileiro em primeiro lugar, vai dar setor produtivo estatal e privado em segundo, e vai dar emprego e salário em terceiro. E isso vai assustar o Serra. Será? Será que ele vai arrepiar a corrida presidencial? Mas, seja que ganhe Dilma ou ganhe Serra, o que é certo é que a ideologia neoliberal vai tentar a sua fatia neste condomínio econômico. Mas se isto ocorrer na economia – atenção, estou dizendo: se isto ocorrer – a candidatura da Dilma dará um grande salto, pois colherá a festa das flores e dos cães, dos pássaros e dos rinocerontes. Seja por ser candidata do Lula, seja por ser candidata de uma nova aliança política finanças-setor popular, seja por que é vista e apresentada como a primeira ministra ou a gerente, conforme a visão, da profusão econômica que virá. Mas será que não terá contra-ataque?

Na festa, vai haver deslizamento econômico?

Quem olhar para as possíveis dinâmicas das combinações que serão possíveis com as forças econômicas se aprontando para se apropriar do Brasil, há algo que não é propriamente uma novidade. É preciso ver que toda forma econômica, qualquer que ela seja, já contém si os germes e os vírus de sua deterioração. Então, são esses pontos que o Estado tem que atentar, tem que cuidar, ao longo do tempo, para que não haja desfolhamento das matas. Existem vários problemas, dependendo dos desdobramentos, o que, no entanto, nos parece mais protuberante, se tudo correr bem, é algo que está na cara: o vulcão do saldo do balanço de transações correntes. Todos os economistas do NEPE, da Fundação de Economia de Estatística, têm a mesma opinião que eu. Este fotograma, nós já vimos. FHC II. Ou seja, a balança comercial dado a grande demanda de bens de capital, de matérias primas, peças, etc. e dado o escasso progresso do comércio internacional, vai produzir um resultado reverso. Mais importações do que exportações. Logo, vai dar negativo. E por outro lado, os serviços: lucros, juros, assistência técnica, etc. estarão como sempre dando números adversos. Ou seja, o balanço de transações correntes vai estourar, vai dar o seu salto no vazio. Claro, ao menos em 2010, se o quadro permanecer do jeito que está, vai entrar muito capital, o que dará para cobrir o balanço de pagamentos. Mas, a ferida de uma confusão no balanço de transações correntes nascerá no ano. Ora, isso vai pressionar 2011 de forma contundente. E estará armado o quadro para problemas no câmbio, problemas na dívida, problemas fiscais, problemas de empréstimos internacionais, etc. Isso não é uma fatalidade inexorável. Vai, então, haver muito que fazer e que controlar.

Tudo vai depender da economia política. As vigorosas lutas neste terreno desembocarão numa decisão de Estado, na figura de uma opção estratégica nacional. Definido o rumo, define-se, no correr do tempo, também uma pluralidade de decisões de política econômica. Esta trajetória passa por alianças e adversidades de classes, passa por manobras e apostas de poder, passa por uma forma de Estado e de governo, passa pelos conflitos de nações, etc. Há que atuar, evidentemente, com um grande jogo de cintura. Jogar cima da lâmina, no círculo das múltiplas contradições. É deste jogo de facas no escuro que vai se perceber se o Brasil conseguirá aproveitar as oportunidades que estão vivas. E evitar, ou contornar, ou afrontar, as ameaças com um projeto bem administrado macroeconomicamente. Batalhas perdidas terão que ser mínimas; senão vai tudo explodir no colo da Dilma ou no colo do Serra (se estes forem os candidatos) E se tudo explodir, será uma repetição, sob forma de farsa (?), de FHC II, se é que este já não foi a farsa de FHC I. A economia é antecipadamente imprevisível; se fosse previsível não teria necessariamente solução; e se tivesse solução não seria definitiva. A economia é, como diria Rimbaud, uma estadia no inferno, um barco bêbado. Ela é indomável, porque o capital é cíclico e o ciclo tem um cão embutido que ladra e que se chama crise. Ou seja, o nosso próximo destino se jogará entre 2010 e alguma data, entre a euforia e o colapso. A viagem está claramente começando.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
Coluna das quintas
07 de janeiro de 2010

DE SOROS A LULA
Por Enéas de Souza

Quando a gente lê George Soros, pode-se não concordar com ele, mas vê-se que é alguém que tem a garra no pensamento. Não se ocupa com o senso comum; melhor, critica-o. Porque Soros tem a vontade de ganhar como especulador, mas tem igualmente o desejo de saber onde está, em que mundo está inserido, qual é a natureza dos acontecimentos. Sua mente trabalha sempre desenhando o movimento da realidade, aquilo que está caindo, aquilo que está fazendo ferida. Pois este especulador – e amador da filosofia, aluno de Karl Popp – está a prever (vamos usar verbo à portuguesa) que o mundo no qual vivemos não será nunca mais o mesmo. Ora, não é outra coisa que estamos dizendo há meses nesta coluna. Mas, óbvio, devemos nos perguntar imediatamente, se não estamos sendo capturados pelo pensamento de George Soros. Acho que não. Primeiro, porque nós é que estamos dizendo, faz tempo, que este mundo neoliberal acabou. Ora, o que parece é que Soros é que está chegando à nossa interpretação, ao nosso rio. Pois, o que sempre anunciamos – e continuamos a dizer – é que apesar de possíveis recuperações eventuais de um ou de outro setor, e até mesmo de um pequeno crescimento, o que importa é que este capitalismo neoliberal desabou estruturalmente.
E porque? Soros coincide, no principal, com a nossa opinião. Estamos num capitalismo esfacelado pela desregulação. Para os que pensam mais forte do que Soros, esta desregulação é um sonho de pretensiosos, de estultos e de delirantes. Delirantes, sim. O delírio foi tanto e com tanta força que o tombo aconteceu de um coqueiro extremamente alto. Como dizia o samba: mais alto o coqueiro, maior é o tombo. O que significa dizer que os especuladores financeiros foram levados ao pináculo da árvore financeira, ao cume da inflação de ativos – e não da glória – pela ganância e pelo o descontrole do sistema. E, de lá, despencaram, atraídos pela gravidade econômica, com seus ativos financeiros embuchados. Ben Bernanke, o chefe do FED, outro dia numa conferência, foi absolutamente claro: o problema da bolha imobiliária não foi um problema de política monetária, mas de regulamentação e de supervisão. Ora, é dizer clara e efetivamente: o capital financeiro comeu as suas próprias entranhas. Porque não tinha regras que o comandassem. E a sociedade, que acreditou nas finanças e deixou o Estado ser construído por ela para fazer exatamente esta desregulação, viu, sentiu e ficou estupefata diante deste tombo. E é um tombo, valha-nos Deus, que está arrastando os Estados: não há dívida que segure este buraco negro. Por isso, o próximo visado vai ser o dólar. Só que até ele chegar a estar na mira, ainda vai levar tempo. E nem sei se lá chegaremos, depende de outros fatores estratégicos como o declínio acentuado da Europa, uma intransigência monetária da China, por exemplo; etc. Ainda há muito jogo nesse campo. Tudo está indeciso. De qualquer forma, o império americano declina politicamente e, pelo menos, está estacionário economicamente. Sofre, no momento, variadas turbulências: afegãs, iranianas, chinesas, iêminianas, climáticas, etc. Embora ele faça força para sacudir a poeira, dar a volta por cima, talvez leve muito tempo. Na minha opinião, os americanos têm que terminar com a auto-regulação das finanças. Isso também vai levar tempo, há uma discussão congressual sem fim. É verdade que o país está se movendo no subterrâneo, mas na superfície a geologia continua imóvel, sem alterações significativas e aparentes. O “depois da queda”, como dialogaria conosco Arthur Miller, ainda não mostrou a outra face da lua.

Lula, quem diria?

Pois o velho torneiro mecânico se tornou presidente do Brasil e de presidente do Brasil tornou-se, pelo insuspeito “Le Monde”, a personalidade do ano do mundo em 2009. Desta forma, a visão de Soros dá uma pista do porque Lula atingiu este topo. Pois, a primeira questão, depois de que a economia não pode continuar a ser auto-regulada, é que a antiga cadeia econômica mundial não pode se sustentar como estava. Veja o leitor: depois da 2ª guerra mundial, a oposição Estados Unidos-União Soviética foi extremamente vantajosa para o capitalismo. Pois, ao transformar-se lentamente em capitalismo financeiro hegemônico, e fazer do dinheiro uma mola disparadora, a nação americana do Norte jugulou o adversário e conseguiu um triunfo inexorável, no início dos anos 90. Mas, a vitória é a véspera da derrota. Bastaram dezesseis, dezessete anos (o que na História é menos que um minuto), para os Estados Unidos sucumbirem. Depois da queda do socialismo real, a explosão clintoniana, com final desregulatório, foi seguida pelo terror bushiano/cheneyano, feliz em fanatismo, arrogância, incapacidade estratégica e demência de condução política. Este último período levou os americanos a uma catástrofe financeira ensurdecedora. Curiosamente, no mesmo instante histórico, o país perdia a capacidade de ouvir os seus amigos. O país sucumbiu na economia financeirizada e na guerra do Iraque, não sem deixar de fortalecer um inimigo potencial, a China. Porque todo o sistema exigia que houvesse uma ou um conjunto de nações que fosse o núcleo do fornecimento de produtos de baixo custo para a auto-dita América. E que um país ou uma região financiasse largamente o déficit americano. Deu, entre outros, em primeiro lugar, a China. Esta é uma lei: o vencedor gera o seu inimigo favorito. Mas, ao mesmo tempo, no encadeamento geral, não apenas a China alçou vôo, mas também o Brasil, a Índia, a África do Sul, a Coréia, etc. Ora, o mundo desequilibrou a histórica liderança dos “States”, já comprometida pela infeliz presidência de George Bush. O mundo começou a desenhar-se diferente. E Lula, bem orientado pela diplomacia brasileira e com seu instinto e talento de político, aproveitou os diversos fóruns para aparecer. Mas, só pode aparecer porque o Brasil tinha passado de um país aliado e alinhado aos Estados Unidos da época da FHC para um país aliado, mas crítico (muitas vezes em oposição velada ou aberta), com idéias próprias sobre o mundo. Sobrava também capacidade de articulação regional e internacional de propostas geopolíticas e geoeconômicas. E isto se deu dentro de uma estratégia do Estado brasileiro, comandado por Lula: recuperação do próprio Estado, antes, na e depois da crise; presença infatigável na arena internacional; presença de estatais brasileiras como contraposição do desastre do setor privado mundial: Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica, BNDES; autonomia do petróleo, descoberta do pré-sal e biocombustíveis, tornando-se um país com evidente projeção de futuro, etc. Pensando no acontecido e no ano de 2009, revendo o que escrevemos até agora, só poderia dar Lula na cabeça! Quem diria, depois do primeiro mandato... Como Greta Garbo.

Vai dar Bolsa Família?

Assim, olhando o panorama internacional, a gente enumera três fatos: (1) a constatação de que o capitalismo não será o mesmo, será outro, porque o centro da decadência do mundo foram as finanças; (2) a percepção de que os Estados Unidos chegaram no seu movimento a um ponto de reversão, que proporcionou e deu aos países que puxava uma liderança inédita. Olhem o fiasco americano de Copenhague...; (3) a certeza de que o Brasil efetuou uma estratégia nacional e internacional exitosa, sobretudo depois de 2006. Ora, o resultado da citação desses pontos chega para concluir claramente que a eleição de Lula como o homem do ano não deve, nem pode ser vista como surpresa, mas sim como confirmação da decadência americana e da valorização do desempenho chinês, indiano, dos africanos do sul e dos brasileiros, estes sobretudo pelo encaminhamentos das coisas no campo diplomático, etc. Então, pode-se ter bem claro que Lula sim, sacudiu a lama do mensalão e deu a volta por cima. Claro, não vai tirar o lugar de Obama no cenário do planeta, mas é aquela do carioca tipo Romário:”eu sou mais eu”. Ganhou tudo inclusive a indicação do Rio de Janeiro para a sede das Olimpíadas. Todo isso vai mudar muito pouco o páreo da disputa mundial, contudo a sua política populista, varguista, inventiva da bolsa família, tem condições de invadir o mundo. Podemos, então, até perguntar sobre o destino da política mundial como Maria Gabriela Llansol perguntava sobre a atividade poética: “Onde vais drama-poesia”?