terça-feira, março 24, 2009

Terça-feira, 24 de março de 2009

O MOVIMENTO ANTI-CRISE
Por Enéas de Souza


Trabalhadores na avenida, os blocos dos protestos anti-crise. Isto significa que estão de volta os movimentos da fração social dos assalariados. No primeiro momento, é uma tentativa não apenas de compreender a situação que está em curso, mas também deixar inscrito que os Estados devem reagir para defesa não apenas dos bancos e das empresas, mas também do setor que trabalha. Desde a queda da União Soviética e do triunfo avassalador do neo-liberalismo, a superioridade social, política e ideológica das finanças e da produção, do capital, era enorme, por uma razão muito simples, a economia crescia, o capital financeiro mandava, e sobretudo, esta fração social estava unida e tinha projeto. Um projeto de acumulação financeira. Até a produção atuava financeiramente, ou seja, o seu itinerário se orientava pela liderança do outro capital. Produzia sim, mas nas sobras de uma dinâmica calcada em títulos privados e públicos.

O fracasso gigantesco das finanças, com as derrubadas dos bancos de investimento, das Fannies e Freddies, da AIG, de bancos americanos e bancos europeus, etc., trouxe um vendaval nas sociedades, sobretudo mais avançadas do planeta. Vimos que as crises financeiras desde 97 foram chegando até o centro do mundo, deram um abalo em 2001/2002, mas vieram a explodir definitivamente agora em 2007/2008. Pois diante de toda a problemática financeira e produtiva desta crise, os trabalhadores começaram a fazer protestos. O que querem os trabalhadores? Os dos países avançados querem voltar às vantagens do Bem-Estar Social e os dos países mais atrasados, a começar a ter o que nunca tiveram. E vários sindicatos e a Confederação Sindical das Américas (CSA), além de sindicatos europeus, etc., querem investimento públicos voltados para o emprego, querem serviços públicos de qualidade, querem reforma do sistema financeiro, querem controle das remunerações dos executivos financeiros, querem financiamento público para projetos de desenvolvimento, querem garantia de trabalho, querem um Estado voltado para os problemas sociais, etc.

Ou seja, a roda da fortuna trouxe à rua os conflitos sociais. Os conflitos têm nesse momento uma definida clareza. Existem duas lógicas em movimento, uma de salvação dos bancos, de re-formatação do sistema financeiro, da tentativa de relançar a demanda, via Estado e outra, de defesa do emprego, melhoria dos serviços públicos: saúde, previdência, educação, etc. O que os observadores podem registrar é o retorno da política, da grande política social, aquela que organiza o Estado em direção a uma sociedade determinada. Entramos numa nova fase da luta social, há uma disputa que envolve uma nova estrutura de poder. As finanças que dominaram e comandaram uma estratégia de um modelo de acumulação financeira vão enfrentar tentativas de mudanças. É possível que se passe para um modelo de acumulação produtiva, mas para que tal ocorra, é necessário um rearranjo das posições estruturais das finanças, da produção e do trabalho.

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