quinta-feira, agosto 27, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
Coluna das quintas
27 de agosto de 2009

O BRASIL DAS INCERTEZAS
Por Enéas de Souza

A incerteza que é certeza

As economias de todo o mundo se encolheram devido às quedas diferenciadas da economia americana e da economia chinesa. Estas causaram problemas e contrações profundos no mercado internacional. O fato é que o comércio mundial se retraiu em 11%. Foi um tombo feio; tombo complicado, sobretudo, para economias do tipo Brasil. É que elas também sofrem, o caso brasileiro é evidente, com as oscilações das exportações graças ao curso especulativo do petróleo e das commodities. Em verdade. o resultado mais geral foi que o Brasil, flor despetalada, teve uma retração muito valente no quesito do comércio externo. O país continua - ainda bem! - mantendo o saldo positivo da balança comercial; mas, o volume global caiu significativamente.

Há que considerar que até o que alguns consideravam um ponto positivo, a importação de bens de capital, dado o recuo da economia planetária e nacional, agora está revertendo. E temos uma paralisia nesta importação, que numa economia mundializada seria essencial para a renovação da nossa estrutura produtiva. Em resumo: a idéia “vamos comprar mais máquinas para enfrentar a nova competição que está em andamento”, não está funcionando como chegou a acontecer nos últimos tempos. Macroeconomicamente, portanto, fica notória a queda de um dos pontos da demanda, ou seja, temos o comércio externo pendendo para baixo. E ainda por cima, não está se avançando na estratégia de resolver o investimento pela compra de equipamentos no exterior. Destas observações, percebe-se que o Brasil está surfando em águas adversas, só que a maior lentidão das relações com o resto do mundo está sendo controlada para que o saldo comercial não venha causar danos às contas externas.

Então, de um lado, tudo parece indefinido no mercado internacional; e de outro, não estamos respondendo ativamente para a melhoria do nosso próprio comércio externo. Estamos respondendo quando muito controladamente. O que já é um bom sinal. No entanto, existe para alguns, uma expectativa aleatória, mas animadora. Ela vem de um fator exógeno, vem de um eventual retorno da especulação. Porém, especulação é especulação, ou seja, especulação é algo que não depende da nossa vontade. E, portanto, só novas aventuras intensas do setor financeiro na busca da variação dos preços do petróleo ou das commodities agrícolas ou industriais podem afetar entusiasmadamente ao Brasil. Caso contrário é isso: o que é certo no país do futebol é que tudo está incerto.

A impossibilidade da política desenvolvimentista

O Brasil teria uma alternativa estratégica, a alternativa dos anos 30, que seria pôr o bloco na rua, pôr o time em campo. Mas, estamos numa outra época. O Estado de fato retomou a iniciativa. Só que há uma limitação extremamente aguda nessa oportunidade. De um lado, ele não tem recursos disponíveis em escala fundamental e apreciável. E a hipótese de aumentar impostos, que seria uma opção para quem teria o desejo de mudar a sua situação na economia internacional, trata-se de uma medida inviável no atual presente histórico. E, no ambiente neoliberal ainda vigente, o Estado, ao menos até o momento, não pode usar a inflação como um elemento forte de financiamento de um projeto desenvolvimentista. Teríamos problemas de credibilidade da nação como “Estado responsável” no campo internacional, e problemas de aceitação da alteração da estabilidade de preços como “um valor social”, pela sociedade brasileira no campo interno. Então, a saída política encontrada pelo governo foi a isenção temporária de impostos para o setor automobilístico e para o setor de eletro-domésticos.

Mas, a isenção de impostos é como dar igualmente aos os banqueiros e aos industriais e aos comerciantes um argumento, igualmente caro à classe média, contra o próprio governo: “o que a economia precisa é, unicamente, baixar impostos”. Tudo que o capital pede a Deus. E agora ao governo. Pois, o caso contrário, o seu aumento, teria uma oposição em forma de complô dos setores empresários, que só admitiriam o fato, se a elevação viesse a ter um fim definido, o encaminhamento dos recursos, sem nenhuma cláusula econômica, para eles. Já a classe média não admitiria o fato em hipótese nenhuma. E mais: ela se sentiria escorchada, esfolada e escamada como um peixe. Porque veria, com sua visão de curtíssimo prazo, diminuir os seus projetos de propriedades e de consumo. Desde logo, então, pede, com gritos e sem sussurros, o mesmo que o capital. Já para a hipótese de isentar momentaneamente os tributos, a resposta, de todos estes setores, é única: ótimo. E logo, incontinenti, saem à mídia com o discurso de interesse mais imediato ainda: “Isso prova. que é possível ao governo viver com menos imposto”.

Estas considerações servem para anotar que há uma luta destas classes contra a presença do Estado na economia, contra qualquer estratégia que envolva uma renovação da geopolítica do Brasil, sobretudo com aumento de impostos, Ocultam-se também uma luta contra a burocracia desenvolvimentista e um confronto contra, no caso do governo Lula, os recursos que este governo propicia à população deserdada, desde a “Bolsa Família” até o “Luz Para Todos”. Desta forma, só vale a isenção. E dada a indispensável e inevitável presença do Estado, a posição da linha neoliberal continua a se concentrar na batalha pelo seguinte ponto: o Estado deve atuar, em primeiro lugar, em favor dos capitais e, em segundo lugar, dos consumidores. A necessidade de um retorno mais amplo do setor estatal, seja em função de uma geopolítica com intensa força brasileira, seja de uma mudança desenvolvimentista na economia nacional, tem um apoio vacilante, sem uma decisão mais clara de muitos grupos sociais e políticos. As frações líderes da sociedade continuam se mantendo na posição irracional de sustentar, custe o que custar, um modelo de acumulação financeira. Principalmente, porque os bancos brasileiros não foram afetados decisivamente na atual crise financeira mundial.
Desta forma, naufragaram até o momento as possibilidades do Estado optar por uma postura desenvolvimentista completa e integral. O que conseguimos, numa saída inteligente, mas não vitoriosa totalmente, foi a isenção de impostos para setores selecionados. Isso permitiu deter a queda destas áreas, bem como segurar o emprego. Havia uma expectativa profunda que a manutenção da demanda de consumo levasse o setor privado ao investimento. E havia também a expectativa de que nesse processo os bancos privados pusessem à disposição da sociedade uma maior concessão de crédito. Ledo e vivo engano. O governo vai ter que usar o crédito público para manter ou tentar manter a demanda nos setores habitacionais e automobilístico. E a conseqüência mais óbvia; sem um projeto de desenvolvimento liderado pelo Estado, o investimento entra também em queda. Portanto o único setor da demanda que resistiu até agora foi o do consumo. Mas, a pergunta escaldante é: até quando?

Estratégia brasileira: recuperação e horizontes

A estratégia do governo brasileiro está bem clara, mas revela-se limitada. Seu objetivo é tentar forçar via o Estado e via a iniciativa privada, a retomada do investimento. Há uma nítida clareza nos economistas desenvolvimentistas do governo que a saída definitiva é só esta. Mas, a indagação se avoluma e é robusta e tremendamente desafiante: como? Pois, se a inflação está vedada - ao menos no atual quadro - e a dimensão proposta para um investimento estatal é insuficiente, o Brasil se afigura como um país cercado de incertezas, dependente da especulação no sentido mais imediato, da recuperação chinesa num tempo um pouco mais largo e da recuperação americana no longo prazo. Muitas iniciativas de investimento do governo com o capital privado têm encontrado reservas e combates dentro do próprio capital privado. Porque razão? Mesmo que o governo tenha um projeto de desenvolvimento para o Brasil, é natural esta resistência. Tudo porque há uma preferência e uma seleção de setores empresariais, o que influi na competição capitalista, que é tudo que esta visão neoliberal detesta, mas que os capitais evetualmente selecionados aceitam. Ora, isso é desesperadamente forte para outros setores. E como os excluídos só enxergam a curta visão, o combate fica como o mar, todo revolto.

Então, muitas vezes, e tem acontecido no PAC, algumas opções de investimento viram batalhas jurídicas entre os competidores ou mesmo de alguns capitais contra o governo. Desta forma, o Brasil, na questão do investimento, está fazendo algo, mas o seu espectro é bastante restrito. Em primeiro lugar, o país está tentando organizar uma frente de expansão, mas como o Estado não tem a autonomia que deveria ter num projeto de desenvolvimentista, a recuperação está sem um horizonte definido. Em segundo lugar, por causa do fraco investimento internacional em função da crise da globalização, o que mostra a falência da estratégia do governo FHC, quando decidiu que o investimento no Brasil seria puxado pelo capital estrangeiro. (Problema que o governo Lula não conseguiu abortar na devida dimensão.) E, em terceiro lugar, porque a incerteza da economia mundial e brasileira afeta o setor privado nas suas decisões de investir, já que não pode sair de peito aberto numa situação crítica como a que estamos vivendo.

Claro, a postura do Estado de tentar minimizar a crise através de isenções fiscais e do estabelecimento de um plano de Habitação Popular, por exemplo, é absolutamente correta Mas, isto é pouco e é incapaz de conduzir o país a uma sólida recuperação econômica e a uma pretensão de alcançar um novo patamar na ordem da política e da economia no mundo internacional. A sociedade brasileira precisa encarar este fato não como uma fatalidade, mas ao menos como um forte desafio. Ela precisa pensar num projeto de futuro sem ficar considerando apenas a salvação do presente.

Só a energia não nos diz o futuro

O Brasil se encontra face à conjuntura internacional numa aventura complexa. De um lado, graças a política externa, conseguimos ser um país respeitado e chamado a desempenhar um papel na divisão internacional do trabalho, ou seja na globalização. O Brasil terá que assumir uma posição relativamente importante, porque é preciso ver que a crise atual não é uma crise apenas de caráter econômico. É também uma crise energética, uma crise ecológica e uma crise ambiental. Nesses aspectos o país tem intensas e fortes possibilidades de encontrar uma boa posição. No caso da energia, temos um elenco de alternativas viáveis. Petróleo, pré-sal e biocombustíveis. Além de sermos um território beneficiado com sol e ventos, apto, portanto, ao desenvolvimento da energia solar e da energia eólica. Então, estratégica e geopoliticamente o Brasil se evidencia com uma potencialidade, no momento, quase inédita. Somos, em verdade, neste particular uma presença inarredável. Não tanto porque esses recursos podem ser usados exclusivamente por nós, mas porque podem ser fonte de alocação de capital nacional e internacional. Isto quer dizer, que somos parceiros do desenvolvimento global. Por isso nos vêem com olhares cobiçosos. E de outro lado, no campo da agricultura, da agricultura (e da indústria) de alimentos, temos sempre a possibilidade de aparecer como grandes produtores, sobretudo se o liberalismo fosse levado ao extremo, e os governos dos países desenvolvidos, americanos e europeus, não impusessem restrições ao comércio dos produtos de origem agrícola como fazem permanente. Por isso, o Brasil continua um país potencialmente distinto e, paradoxalmente, novamente um país do futuro, como nos anos 50 do século XX. Só que nos outros campos industriais, nem o Estado nem os capitais privados nativos têm munição para mudar o nível atual da concorrência, como também as corporações internacionais não estão interessadas em dinamizarem países como o Brasil. Os seus interesses são corporativos e não nacionais – e isso vale para todas as nações. Olhado por esse prisma, a crise econômica no Brasil foi contida parcialmente na primeira hora. Só que a partir deste segundo semestre, ela trará um conjunto de desafios centrado na retomada do investimento estatal e do investimento privado, para garantir a recuperação e a expansão da produção e do emprego. Pois são estes os pilares de uma sustentação nacional, que vão levar certamente ao aproveitamento adequado, e em prol da sociedade brasileira no longo prazo, da oportunidade das trajetórias energéticas que vão surgir neste século XXI. E tudo vai passar pelo projeto possível do Estado brasileiro. Por isso, o Brasil vive tensamente as atuais incertezas, que passam tanto pela economia como pela política. E não é por essa razão que as eleições de 2010 já estão ocupando o cenário dos dias de hoje?

quinta-feira, agosto 20, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Dinheiro dos fundos de pensão investido em private-equitys evaporou

Três dos maiores fundos de pensão dos EUA têm hoje menos da metade dos mais de US$ 50 bilhões investidos em fundos de private-equity entre 200 e 2002. Essa é outra bomba de efeito retardado, talvez a principal ameaça social que pesa sobre a população norte-americana: a confiança que tiveram de que fundos com administração especulativa poderiam garantir aposentadorias individuais cada vez maiores aos futuros pensionistas.

Essa é mais uma conta que, algum dia, irá parar no Estado e representará o fim das ilusões quanto ao mercado de capitais.

Link relacionado:
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
Coluna das quintas
20 de agosto de 2009

A ENTRESSAFRA
(Ou: Obama está à altura do cargo?)
Por Enéas de Souza

Hoje gostaria de apresentar um matiz da atual crise financeira mundial. É uma análise dos acontecimentos econômicos recentes. Ou melhor, na verdade, a análise de uma paralisia social normal das sociedades, o período de férias, o verão americano. No caso, provavelmente, um longo verão, onde emerge, como um tumor quase indomável do neoliberalismo, a resistência à solução de questões sociais. O presidente Obama ainda não conseguiu aprovar a health reform, encontrando oposições vigorosas e diferenciadas entre os republicanos e os democratas. Esta proposição está inserida no bojo dos problemas e dos dilemas do destino da crise financeira americana e mundial. Estamos numa hora de transição, ao mesmo tempo, que já decorreram alguns atos da experiência Obama. Tento aqui esboçar um desenho desta situação.

O sentimento progressivo

Estamos chegando, nestes dias, à constatação evidente de um desgaste do presidente dos Estados Unidos. As finanças, embora estejam sofrendo a ameaça de uma crise interminável e apareçam mal vistas pela população, continuam enfrentando, com mentiras, notícias e bônus espetaculares aos seus dirigentes, os solavancos que sofreram desde 2007. No primeiro momento foram salvas pela administração do Estado, tanto de Bush como de Obama. E a expectativa era de um enquadramento deste setor econômico à política nacional. Porém hoje, pelo contrário, há um sentimento progressivo da população de que elas contiveram a sua queda e continuam mandando no país. Evitaram, bem no começo da crise, os primeiros e fortes movimentos em favor da nacionalização dos bancos. E foram além. Arrumaram um bloqueio para este processo e marcaram pontos, constituindo na entrada do presidente democrata um terceto de administradores públicos: Geithner, Bernanke e Summers. Administradores, que se não são dóceis aos objetivos da área financeira, são integrantes do governo que não vão contra o destacado setor. Estes três, cabe reconhecer, agiram com paciência, apararam os golpes e estão dando pano e tempo para a reformulação de métodos, produtos e práticas do campo financeiro. Com isso, Obama está visivelmente em desvantagem. E os americanos em geral, sentindo o odor de ludibrio, vêem a situação com estupefata inquietude. Constataram que, depois das finanças terem causado um forte prejuízo a vários segmentos da economia, inclusive a elas próprias, o efeito do desastre financeiro e do conseqüente fracasso produtivo se desdobrou num extenso e rompante desemprego. E pior: os homens e as mulheres, os jovens e os velhos, se vêem, nos dias de hoje, sem perspectiva quase nenhuma de retorno ao mercado de trabalho.

(Perguntam, então, os analistas da economia e da política: “É justo o desgaste de Obama?”)

Para quê bem estar?

De outra parte, a ideologia neoliberal foi rasgada, mas ela está sendo cozida com linhas conservadoras. Busca-se colocar um basta a qualquer proposta onde o Estado entre para propiciar à população uma melhor assistência e um melhor bem estar. Vejam-se as tremendas dificuldades atuais de Obama nas questões vinculadas à saúde, à health reform. A melhor estratégia para o neoliberalismo é um ataque a projetos desta ordem, como petardos contra ao que os conservadores chamam ridiculamente de “socialismo”. Como sempre o apelo é à força do individualismo e à aversão dos americanos a qualquer intervenção do Estado. Naturalmente, as ajudas de liquidez, os aportes de capital aos bancos, a promoção de fusões e aquisições de instituições financeiras por outras entidades do ramo, são processos normais em benefício da sociedade... E, de tempos em tempos, o velho realejo da “crise já passou”, do anúncio de uma reanimação da Bolsa, de notícias pouco claras de que os capitais estão ganhando muito dinheiro no estrangeiro, etc., etc. A mídia fica majestosa de tanta euforia. Até já falaram que a China vai reanimar a economia produtiva americana. Enfim, a melodia não para de tocar. Só que, volta e meia, aparecem informações verídicas mostrando como o mundo continua mais para a cor negra do que para a cor de rosa. Este ano já quebraram 77 bancos entre pequenos e médios - um dos últimos foi o Colonial BancGroup Inc.. E, numa nota postada por André Scherer, revelando aqui no Econobrasil que os Fundos de Pensões estão fugindo das bolsas, acabamos por saber da escandalosa novidade de que os Fundos não estão mais indo na onda dos especuladores. Com isso, retornam ao ambiente dos negócios, momentos bastante sombrios. Daí a secreta convicção dos conservadores: como é que se pode preocupar com o bem estar?

O apoio da fantasia

Mas, a música “country” dos conservadores continua a aflorar nos ouvidos dos americanos. E dada a oscilação continuada da economia financeira, dada a lentidão de qualquer recuperação da economia produtiva, dado o crescente endividamento do Estado e suas dificuldades fiscais, dada a ausência de progresso nas questões sociais, o desgaste está pegando o pé de Obama. Este verão americano está quente de insatisfações. E a diminuição das atividades por causa das férias dá uma sensação de paralisia e de desgaste do governo e do presidente da América do Norte. No entanto, algumas notícias e boatos especulativos aparecem: além daquelas 77 instituições bancárias, fala-se em novas quebras de pequenos bancos. E a entidade que segura os depósitos nos Estados Unidos, o FDIC, está ficando sem dinheiro. Analistas apontam que os ativos tóxicos continuam brilhando no escuro. E mais ainda, o susbstancial: nada foi decidido em termos da arquitetura, da regulação, da alavancagem, da securitização do sistema financeiro. O Finantial Regulatory Reform vai entrar em votação no retorno das férias. Tudo isso segue diminuindo o apoio a Obama. Trata-se de um jogo muito forte, onde as finanças, mesmo não se recuperando, nem vendo claramente uma fenda nas nuvens do céu, têm forças suficientes para - mesmo com a continuação do “credit crunch”, da falta de crédito, da escassez frontal de capital e de uma possível ameaça ao dólar – continuarem a exercer um cerco ao presidente. E, sempre, sempre com o apoio decidido, laborioso, grotesco, invasivo, fantasioso, da mídia mais obstinada e subsidiária das finanças.

A véspera da semeadura

Seguramente, estamos na entressafra, o jogo está aparentemente suspenso, estamos num intervalo - e as finanças não estão perdendo, nem Obama está ganhando. E este empate, na verdade, está mais para as primeiras do que para o segundo. O retorno da contenda vai nos conduzir ao segundo tempo do ano inaugural da atual presidência. Há um teatro em andamento: a peça é fingir que vamos regular para não regular nada. O que se quer mesmo é fortalecer a proteção das finanças. Pois, se financistas do tipo dos do Goldman Sachs não querem nenhuma fiscalização, nenhum avanço no sistema, já que eles serão um dos vencedores do tradicional processo de concentração e centralização do capital, existem outros que pensam aproveitar a oportunidade para beneficiar o setor como um todo. Já falei sobre isso. Num olhar um pouco mais demorado sobre o Finantial Regulatory Reform, a gente pode verificar um cuidado para preservar e defender o setor. Uma atenção para alcançar e produzir uma solução, a mais imediata possível, quando ocorrer um risco sistêmico em qualquer parte da economia. Uma busca de uma coordenação e uma informação maior entre agências reguladoras parciais do sistema, etc. Ou seja, as finanças se preparam para fazer do limão da regulação o refresco de um maior autocontrole das próprias finanças. E tudo, aqui a perfídia da reforma, com ajuda do próprio governo e do próprio Estado. Este é o verdadeiro projeto.

A interrogação mais íntima e mais pública

Ou seja, não se trata de um adeus às armas por parte da população, mas se trata de verificar que este contra-ataque das finanças poderá encontrar sucesso tanto para a retomada da economia financeira, quanto para a desqualificação dos opositores desta esfera. Pois, é mais que óbvio, as coisas estão sendo pensadas por agora, há todo um período de férias para refletir, para encontrar alianças, para buscar uma pausa que permita novas idéias e promissoras propostas. É o período da entressafra, a véspera da semeadura. O primeiro ano de um governo é sempre complexo. Há a busca do estabelecimento de um padrão de atuação. Em vista do executado no primeiro semestre, a pergunta que atravessará todo o segundo período de 2009 é sobre a capacidade de Obama de enfrentar os grandes desafios da sociedade americana. Continua o mesmo problema da época de sua posse: não basta ser Clinton, nem Kennedy; ele terá que ser a soma de Roosevelt e Lincoln. Portanto, a interrogação mais íntima e mais pública na América do Norte se modificou um pouco, está agora mais inquietante: podem os Estados Unidos ter a esperança de que Obama vai chegar lá?

segunda-feira, agosto 17, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Ilusão perto do fim?

Os principais fundos de pensão do mundo reduziram sua exposição no mercado acionário mesmo durante o excepcional rally a partir de março.

Gato escaldado tem medo de água fria... a confiança não retornará tão facilmente aos chamados 'mercados'...

Link relacionado:

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Bancos suecos sofrem com créditos aos países bálticos

Pois é... aos poucos, os temas tratados no início do ano nesse blog começam a voltar à cena... Desa vez, são os problemas dos bancos de grandes países europeus (no caso, os bancos suecos, mas poderiam ser os alemães ou os austríacos...)em sua exposição aos países da Europa "emergente". Mais uma bomba de efeito retardado que agora parece prestes a ser detonada.

Links relacionados:


sábado, agosto 15, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Maior falência bancária do ano nos EUA

Colonial BancGroup, o segundo maior banco do Alabama, foi repassado ontem ao banco BB&T, em um negócio patrocinado pelo FDIC, fundo que administra o seguro bancário nos EUA. Não obstante os problemas que a falência em si coloca, uma questão ganha relevãncia nesse momento: dado aporte substancial de recursos que o FDIC terá que colocar no negócio, quanto do fundo de US$ 13 bilhões remanescentes na instituição ainda estarão disponíveis para fazer frente às novas perdas que se seguirão, como apontado na postagem anterior neste blog?

Vem aí nova rodada de discussões sobre maior disponibilidade de recursos "do contribuinte" ao setor bancário norte-americano. Ainda mais que o mandato para estender empréstimos ao setor via o programa mais operante até o momento, o TARP, está se esgotando em outubro... Mas a onda de inadimplência (e o reconhecimento dos prejuízos) está, no máximo, na metade do caminho.

Subjacente: quanto tempo para uma crise monetária mundial de amplitude e gravidade ainda desconhecidas? Quem compra o discurso de que "a crise acabou" terá muito a se surpreender, ao que tudo indica.

Link relacionado:

sexta-feira, agosto 14, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: A realidade está se impondo

O Enéas tem colocado com rara perspicácia os dilemas que a atual situação impõe ao capitalismo e a própria humanidade. A "crise da civilização" é tão ampla que ninguém se impressiona com especulações como " a atual gripe pode ser fruto de uma jogada de um laboratório para aumentar as vendas de um anti-viral", por exemplo. Ou que a Goldman Sachs tenha comprado seguro contra papéis que repassava aos clientes como sem risco, em outro exemplo.

Ou que os balanços dos bancos sejam puras peças de ficção, em outro. Se for lucrativa, a mentira está justificada, essa é a tautologia contemporânea... Mas, aos poucos, ao menos no caso do sistema bancário norte-americano, a realidade começa a se impor. A notícia que a Bloomberg divulga hoje somente pode impactar os mais incautos, que imaginavam que a situação financeira daquelas instituições se resolveria com aportes de liquidez e algum (pouco) capital, desprezando o que significa uma crise de insolvência como se apresenta nas proporções estadunidenses. A matéria aponta que dos cerca de 7.000 bancos norte-americanos, ao menos 150 estão tecnicamente insolventes (com créditos incobráveis superiores a 5% dos ativos), ao mesmo tempo em que 1.000 apresentam situação problemática. essa é a ponta do iceberg. Evidentemente, tratam-se de instituições de porte regional ou comunitário em sua imensa maioria, atingidas nesse momento, pelos vetores destrutivos da inadimplência no setor dos imóveis comerciais e pelas dificuldades de pagamento dos consumidores e das empresas. Esses bancos, com sua capilaridade, irrigam os negócios locais por todos os Estados Unidos, o que pode ajudar a antever as consequências da bancarrota dessas instituições. Tudo como previsto ainda em fevereiro neste blog, embora o reconhecimento dessa situação tenha sido abafado pela onda orquestrada de "boas notícias" lançada pelos setor financeiro (e seu braço midiático) a partir de março..

Link relacionado:

quinta-feira, agosto 13, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
Coluna das quintas
13 de agosto de 2009

O OVO DA SERPENTE
Por Enéas de Souza


Quando se comenta a crise atual, a gente vai colecionando diversas questões que, como frutas, algumas indigestas, colorem o balaio dos acontecimentos. Fazem parte destas florestas de indagações que povoam a superfície ou a profundidade do nosso tempo histórico. De uma forma ou de outra, são balizas que norteiam o transcurso e os territórios de nossas vidas. Colocamos para os leitores, hoje, quatro delas; perguntas que são também versões das inquietações mais fundamentais, o que quer dizer que se situam entre as mais densas do presente. Abrem todo um horizonte e um espaço, alargando a travessia da barca dos humanos como se fosse um despertador de consciência, de temas, de propostas, de soluções, de adversidades, de conflitos, de futuros. Comecemos.

É a atual crise uma crise de civilização?

Talvez seja a pergunta mais contundente que veio do mar das dificuldades e chegou, com força, até à praia das considerações. Porque uma crise de civilização embute uma crise de desconfiança dos padrões no qual vivemos. Vejam o tema da pergunta: crise de civilização. E não choque de civilização. Pequena diferença de acento, que desqualifica a belicosidade de alguns americanos e a fúria dominadora de uma certa elite dirigente que, nos tempos de Bush e Dick Cheney, quis – e talvez ainda hoje queira – transformar a sua ambição, o seu estilo de vida e mesmo o seu fracasso na guerra do Iraque, numa atividade predatória, em nome da segurança americana, contra os homens e contra o Oriente, em particular.

O que revela esse projeto decadente? Um fracasso de toda a consolidação de uma cultura, que está constantemente colocando a guerra pela guerra como um ponto chave de sua existência; que propõe a abundância material de coisas inúteis como o padrão máximo de civilização; que atenta contra a solidariedade como forma prioritária de relacionamento humano; que propõe o niilismo e o cinismo como os valores concretos de uma forma de viver; que pensa que o estado atual do mundo é o ponto culminante da forma de relacionamento entre os homens e que desqualifica outras civilizações como atrasadas por não seguirem o modelo da competição mesmo que desleal; que faz do domínio material uma indispensável rejeição da espiritualidade viva; que faz da religiosidade burocrática um instrumento para a dominação interna e externa das sociedades; que faz da riqueza de poucos um elemento fundamental de criação da pobreza de muitos, como se a disparidade econômica extrema dos homens fosse natural; que faz da violência o modo de ser vigente para impor o seu triunfo; que faz da guerra uma forma perpétua e básica de comércio; que faz da acumulação desesperada de valores banais uma forma de exemplaridade cultural; que tenta fazer de tudo um espetáculo para a acumulação do capital, desde a saúde até a própria cultura; que emprega o gasto desbragado de energia como se fosse um modelo de qualidade de vida e de exuberância material; que trabalha pela exaltação do objeto vulgar como o objeto nobre de sua cultura; etc.

Repito: talvez a questão em pauta sobre a crise de civilização seja a mais distante das pessoas. Mas, certamente, é aquela que se estabeleceu no mais profundo da sociedade. É aquela que, como um tumulto escondido, se põe a provocar a emergência de um vulcão. A cada momento, a cada compasso da crise, o ritmo da civilização mostra a sua face escoriada. E se olharmos com firmeza e sem remorsos vemos que ela é a nossa fisionomia mais viva e a interrogação mais oculta e a que mais sangra na carne de nossos dias. É como um punhal invisível que fere a alma dos habitantes do planeta, mas que muitos nem sabem que é aí que está a sua dor.

Para onde vai o capitalismo?

Esta pergunta traz outro itinerário. A moçada que defende com unhas e dentes os seus ganhos sabe que as coisas agora ficaram mais apertadas para que todos ganhem. O que significa que vai haver uma nova concentração e centralização de capital. Quem está na ponta, tipo Goldman Sachs, festeja e promove o seu entusiasmo. Só que, quebrada a jura antiga, há que ter uma nova estrela que não seja de amargura, uma estrela norte, advinhando uma nova constelação. A questão então se divide entre a hegemonia financeira e a hegemonia produtiva. De um lado, as finanças não construirão a mesma configuração da atualidade, tem que inventar novas artimanhas e novas astúcias que chamem a população para o sucesso dos seus ativos como se este triunfo fosse seu próprio. Mas, “O galo já não canta mais no Cantagalo” diz o samba de Paulo César Pinheiro. E, de outro lado, esta estrutura da produção está a exigir reformulações tecnológicas profundas para que a eficiência marginal do capital volte a subir. Assim, entre San Juan e Mendoza, entre o capital e o capital, o limite instaurou um desafio para o capitalismo, há que renovar a forma de produção, o plantel de produtos e as esferas de produtivas. Os sertões do capital vão passar metamorfoses inéditas. Quais são elas? Estará a guerra funcionando como uma mola destruidora entre elas?

José Luís Fiori usa a metáfora dos cosmos para tratar de uma nova expansão do capitalismo, pois o capital seria este cosmos em dilatação, em aumento de volume, de robustez, de engordamento, se organizando, e recompondo os espaços, a hierarquia e os conflitos dos diversos países. E nesse caminho resultante de uma pressão competitiva, o cosmo vai se arrastando para um novo ponto de sua trajetória. E no fim, Fiori acredita que os americanos continuarão com o seu passo de comando. Todavia, há toda uma metamorfose a ser ativada que tem um acompanhante privilegiado: a expansão da estrutura material leva junto uma outra estrutura de cultura. Trata-se de um movimento dialético que acaba por compor uma nova máscara de formas de novas relações sociais. Como se dará a articulação da situação atual com a volúpia da disputa dos países e a expansão do espaço sideral do capital? E o tema imprescindível: qual será a face humana e desumana desta nova aventura?

Temos uma crise do pensar, da decisão e da resolução dos problemas atuais?

Há um punhal que rasga a carne da atualidade: a indigência do pensamento, a perdição do decidir e a incapacidade de propor uma solução global. O que encontramos no momento é que está faltando teoria, seja para compreender o real, seja para propor a sua alteração. Mandando em tudo, as finanças e o capital transformaram o pensar em cálculo. Ninguém se guardou para repensar o mundo. E ter alguma idéia sobre a metamorfose dele bem como do desenho de uma forma de futuro novo. Pensar, claro, dói – sempre cito Pessoa – porque o que as finanças sempre quiseram é a transformação de tudo em ativo financeiro. O cálculo pode trazer até o cosmo com um ativo financeiro, mas o pensar jamais, porque o pensar é por em questão a forma como se vive. E é isto que recusam as finanças, no seu desespero à borda do túmulo desta atual forma de capitalismo. Onde está filosofia, onde está a teoria econômica, onde está a visão sociológica, onde estão as proposições antropológicas, onde está uma concepção de direito e de justiça, que poderiam transformar a sociedade? Ou seja, de uma forma ou de outra, esta questão retorna ao tema da crise da civilização, só que do ponto de vista que combina a reflexão com uma nova ação e uma outra forma de relações sociais.

Agora, vejamos, a crise do pensar se canaliza para a crise da política econômica, uma vez que não querendo ceder nada, o capital acaba por não ter proposta para sociedade. Pois, o capital só pode triunfar se tiver um projeto de organização e de hierarquia para esta. E no fundo, não tem. Ele está como o náufrago querendo apenas salvar o seu corpo e a sua dinâmica expansiva. E para tal se agarra a aquilo que passa, se prende ao que lhe pode aumentar imediatamente o volume de seus recursos. Na verdade, é cada capital individual querendo salvar o seu. A classe não tem proposta. E ao agarrar-se como o perdido no mar, em verdade, leva a todos para o seu desastre, inclusive aqueles que poderiam lhe apoiar. O náufrago financeiro está conduzindo para o abismo o capital produtivo e para o desemprego os assalariados dispersos e fracionados. Assim, não tendo pensamentos, não tendo política econômica que abarque a sociedade, o seu poder de resolução é precário e sem sutileza. O capitalismo financeiro está sem inspiração, está dividido, está sem capacidade de pensar, não tem uma política econômica para a sociedade e deixa escapar possibilidade de resoluções.

(Assim, a crise neste momento está num estado de suspensão, e as finanças apenas estão deixando o barco navegar. E por outro lado, os assalariados, ou a população, o pólo adversário das finanças, eles próprios, não têm nenhuma proposta para contra-ataque. Nesse sentido, o que vemos é que, pelo impasse, pelo estado de intervalo de jogo, de pausa dos confrontos, isto tudo serve ao capital. A incerteza ainda é capitalista. Um exemplo: o fato da nacionalização dos bancos não ter sido posta em prática mostrou que, ao bloqueá-las, o capital não avançou, mas não perdeu terreno. É como no tênis, o set point ainda está do lado do capital. Mas esse fundo do oceano insiste! Virá algum maremoto? Ou tudo é uma ilusão e um excesso de questionamento?).

Está em causa a transformação do Estado?

Passamos para um problema que é o nó da questão: o desacordo entre o estado caótico e complexo da economia financeira e produtiva do momento; e o futuro do capitalismo e o porvir da civilização. Pois é aqui, nesse cruzamento, que se exalta cada vez mais a força da luta de classes e dos grupos sociais. As finanças na sua tentativa de mostrar o seu espetacular triunfo, após a derrota da União Soviética, expunham uma idéia que muitos acreditaram. Tantos disseram que a luta de classes tinha terminado. Essa era também a idéia de Fukuyama. Na verdade, o tema era outro. A vitória do capital era de tal porte que ele fragmentou, fracionou e estilhaçou o movimento dos assalariados, dando a impositiva impressão que o mundo das oposições tinha terminado. Houve apenas um adormecer das forças subordinadas. O triunfo tinha chegado ao extremo. Nunca, em política, os conflitos terminam, nem a derrota é definitiva, a estrutura do mundo continua permanentemente de oposição. Pois, o que parece é que, lentamente como um sopro das ervas, ouve-se o ronronar dos de baixo. Mas, o mais interessante no momento não é isto. É que o andar de cima, como diz o cronista, está se dividindo. Sim, os caras que estavam no salão de banquetes agora brigam pelos pratos festejados que sobraram e pelas sobremesas incandescentes que restam. E não há como, toda esta confusão, toda esta luta, vai se expressar e está se expressando na arena do Estado.

E quem fala em Estado, nos dias que correm, fala em democracia. E a democracia atual tem um monstruoso problema, que serve obviamente para quem está no comando da sociedade. Vejamos o que acontece. Há como uma festa cívica e republicana nos dias das eleições. Um candidato é eleito pela população, mas fica acorrentado ao poder econômico, incapaz de frasear uma postura de desequilíbrio do capital. Como? Primeiro, porque logo depois da votação, onde a união do candidato com os votantes se faz presente, logo em seguida, há um corte que separa a população e o eleito, pois as decisões políticas, as decisões econômicas, todas as decisões, se dão face à articulação Estado e instituições dominantes. Assim, decisões sobre a produção, relacionam governo e empresa, mas dificilmente governo e assalariados. Este é o primeiro corte na democracia. O segundo, vem de um outro ponto. O presidente é eleito, mas o presidente do Banco Central escolhido pela presidência é sancionado pelo Senado. Passa a ter um mandato independente do Governo. Ora, isso significa que há uma carapaça enorme para protegê-lo; naturalmente, uma proteção invulgar. Esta forma instaura no poder da democracia uma fenda, uma ruptura profunda, porque dá ao Banco Central uma distância e uma autonomia diante do Executivo. Isto significa a infiltração das finanças no coração do Governo. Um poder dentro do poder. E sem que haja sequer algum tipo de controle democrático ou popular. E, no limite, nem o comando do Presidente da República.

Que mudanças podem ocorrer no Estado?

O neoliberalismo nos trouxe uma forma de organização do Estado perversa. Primeiro de tudo, o Estado foi financeiro, pois passou a ser regulado pela política financeira e pela política monetária. A moeda, de um modo geral, é construída pela taxa de juros, definida pelo Banco Central e pelos títulos do tesouro, lançados no caso americano pela Secretaria do Tesouro e no caso brasileiro pelo Ministério da Fazenda (Brasil) Ora, com isso, toda a parte econômica do Executivo é um prolongamento do setor financeiro, uma vez que o Banco Central puxa a Fazenda. Ocorre assim um reforço no esquema de poder das Finanças, que provoca um racha potencial e profundo no Governo, porque, além de tudo, a execução do orçamento, bem como a política fiscal, fica definida pelo Tesouro/Fazenda. Sintam assim a efetiva irradiação deste domínio político, econômico e social.

Agora, passamos para um segundo ponto. A proposta do neoliberalismo é que o Estado deve a ser encolhido, e foi concebido o “Estado Mínimo”, essa arrogância do triunfo das Finanças. Porque? Porque essa construção abriu um buraco no espaço estatal e no espaço público e no espaço social. Procurou-se anular qualquer veleidade da democracia em atuar na saúde, na previdência, na educação, na cultura, nas artes, na segurança, etc. E até mesmo na gestão das cidades, subordinadas que estão à insólita especulação imobiliária. Construiu-se, isso sim, a passagem de um serviço público para serviços privados. Os direitos foram transformados num processo de compra e venda. E então, o Estado financeiro foi alimentado pela transformação do financiamento do setor público num processo de capitalização dos serviços. Houve um passo em favor de uma aplicação extensiva do capital. Na realidade, tivemos a supressão do setor público e a financeirização dessas atividades. O que não serve a democracia.

A dor de cotovelo da economia

Qualquer coisa a mudar no Estado passa por alterar as configurações do Estado financeiro, a divisão interna do Executivo e a democracia neoliberal, onde há um fosso entre a população e os eleitos. Obama, por exemplo, está pagando por essa condição. O problema, de fato, é a rearticulação da sociedade em toda a extensão dos conflitos sociais. E, diga-se de frente, que o processo de transformação é longo. Primeiro, porque o que aconteceu até agora foi apenas um abalo paradoxal. Abalo que foi leve porque a promessa de transformação se mostrou muito sutil, já que só foi sacudido o domínio ideológico do neoliberalismo. E abalo que foi forte, porque a retirada da credibilidade deste neoliberalismo foi como tirar a roupa do rei, ele ficou nu. Há, como a passagem da semente a árvore, um longo processo para chegar a novos equilíbrios políticos e econômicos.

Na verdade, estamos na mais completa incerteza, que talvez se prolongue. Nem terminou a crise, nem a crise avança. Na verdade, na verdade, o que temos nesse instante é uma encruzilhada, entre um seguimento longo e vasto de uma estagnação - à la Japão, como trabalha meu colega André Scherer - e uma extensão abissal da crise. Estou também de acordo com a primeira hipótese. Mas, a mim, como a Sócrates, me fala um demônio interior. Lendo as múltiplas lógicas econômicas envolvidas na atual crise, percebo a formação de um vento cuja força pode dar origem a uma nova e tardia síncope. Um repique da crise para complicar o jogo. Naturalmente, oscilo entre os dois pontos. Por um instante, acho que o que vai acontecer é uma longa e obstinada viagem na imobilidade. Mas, olhando o encurtamento do espaço financeiro; a digestão lenta e atrapalhada da atual estrutura produtiva; o atrofiamento do comércio internacional e a incapacidade do Estado de suportar um apoio econômico expressivo sem afetar o dólar, não posso deixar de pensar que pode dar o segundo termo da disjuntiva. Tudo isso me leva a conjetura de que logo ali, no pátio do quintal da estagnação, existe a virtualidade de um buraco capaz de sugar a economia americana e mundial. Porque não acredito – não existem razões de lógica econômica, nem de indícios empíricos – que a crise já tenha passado. Esta é uma postura inexata da mídia salvacionista, que amplifica geralmente um resultado muito parcial como se fosse a revelação da totalidade. Ela não enxerga a dor de cotovelo da economia.

(Espero que toda essa avaliação seja conseqüência de uma noite mal dormida e do demônio socrático que me chegou sob a forma de pesadelo. Se o rumo for o aprofundamento da crise, estaremos numa enrascada. O ovo da serpente se romperá diante de nós!)

quinta-feira, agosto 06, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Japanese Style

Cada vez mais parecido... Esse blog sempre privilegiou uma hipótese, que segue sendo apenas isso, uma hipótese, mas que ganha cada vez mais força quanto aos resultados à longo prazo da CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: a Europa e os EUA se aproximarão, aos poucos, mas inexoravelmente, de um resultado muito similar ao ocorrido no Japão quando do estouro de sua própria bolha imobiliária, ainda no início dos anos 1990.

E que resultado é esse? Uma longa estagnação, com bancos zumbis incapazes de retomarem qualquer resquício de sua função econômica, enquanto o Estado luta desesperadamente para reativar a economia com injeções massivas de liquidez e pacotes fiscais sem reultado efetivo a não ser um profundo endividamento público. Aos poucos, esse quadro se transformará em crise política (provavelmente mais visível na Europa) e social (com possibilidades de ser mais grave nos EUA). Uma crise do sistema monetário internacional pode precipitar as coisas e, ao mesmo tempo em que aprofundará o quadro depressivo, encurtará a agonia no tempo, pois tornará inveitável a implementação de soluções.

A atual euforia dos mercados financeiros mascara a realidade, mas não cega os mais avisados. Grandes bancos norte-americanos se valem do dinheiro a custo zero injetado pelo FED em troca de títulos podres para especularem mundo à fora, com práticas cada vez mais discutíveis e arriscadas. Ao mesmo tempo, a restrição ao créditopara as empresas de menor porte continua e as ameaças de parte do Estado aos bancos para que "emprestem" proliferam. O Banco da Inglaterra acaba de injetar mais US$ 84 bilhões na economia nessa semana. Tudo isso segue o figurino já visto como desdobramento da crise japonesa. Mas os EUA não são o Japão e a dinâmica de crescimento é, por lá, um imperativo político e social. Os vencedores são sempre poucos, mas eles têm que existir em quantidade suficiente para justificarem o sistema. Sem crescimento, diminui ainda mais a possibilidade, já escassa na última década, de ascensão social. Ao mesmo tempo, o endividamento do Estado tende a colocá-lo como vilão aos olhos do público, em um filme já visto no Brasil na segunda metade da década de 1980... Na Europa, os apelos da burguesia apavorada em busca de uma solução, ainda que autoritária, tornam-se, pouco a pouco, audíveis com maior nitidez e volume. E os trabalhadores não têm proposta, nem participam do debate. Até quando?

Link relacionado:
CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
Colunas das quintas
6 de agosto de 2009

NO RASTRO DA
INSATISFAÇÃO

Por Enéas de Souza

O legado das finanças e do neoliberalismo

O inverno do neoliberalismo está em plena estação. As rosas desapareceram e os galhos, ainda presentes, transformaram o capitalismo financeiro num sistema tenso, convulso, que trabalha com ardis e luminosidades falsas. Terminaram as arrogâncias do sistema, declarando Madoffs vencedores e sustentando corporações, tipo o Citigroup, como perfeições divinas do capitalismo. Deixaram de lado a proposta do Estado Mínimo e a fala agressiva de que o Estado deveria ficar fora da economia. Nem muito sorrateiramente, conseguiram com que o Governo colocasse ao redor de 1,4 trilhões de dólares à sua disposição para salvarem o perfeito mundo das finanças. Mas, muito pouco para o setor produtivo e migalhas para os assalariados. E tudo em nome do risco sistêmico. Se eles quebrassem, o mundo entraria no caos. E ficou para outra oportunidade aquela história de que era o capital quem fornecia emprego para população. Na crise, houve uma evidência contrária, pois a febre do fracasso financeiro provocou uma taxa de quase 10% de desemprego na economia americana, e deixou um povo de mais de 15 milhões desordenados na chama da falta de dinheiro e de trabalho. Saímos do finance led growth para o finance led unemployment. Quando o socialismo real caiu em 89/90, a exaltação do triunfo do capitalismo e da economia americana chegou ao exagero de Fukuyama, o inolvidável intelectual do Departamento do Estado dizendo que a História acabou. Era a pretensão da eternidade no glorioso instante do capital. Mas, a economia é dinâmica e o ciclo do capital que se iniciou nos anos 70 chegou ao fim em 2007. O mundo é um devir constante, as águas de Heráclito, deslumbradas na Grécia, estão presentes igualmente neste mundo dourado das finanças. Como diz o samba: “rolou, rolou a vida”.

Os ratos da economia

Impossível de não ver que se abre um novo período histórico. Não necessariamente o fim do liberalismo, mas certamente deste neo, sim, este neoliberalismo chegou ao fim. Porque, não há como voltar atrás, não se pode descer o mesmo rio duas vezes. Mas, os olhos das trevas deste neoliberalismo cospem fogo e chispas, e trabalham incessantemente para dourar um novo itinerário do capital. Mas, estou apostando, que este neoliberalismo não tem como voltar. Porque, entre os próprios integrantes deste grupo social, entre os próprios financistas, há divergências. E a tal de desregulação e de alavancagem e a multiplicação dos produtos dificilmente podem funcionar como funcionavam nos tempos de outrora. Mesmo quando Goldman Sachs, JP Morgan usam o dinheiro público para burlar a nação, sob a complacência do FED e do Tesouro, lucrando como ninguém e distribuindo os polpudos bônus. Não há como continuar assim. Porque se essa trajetória continuar, a colisão vai se dar na âncora americana, o dólar vai explodir. Os chineses estão avisando. E mais, não apenas os financistas divergem, também os capitais produtivos estão em desespero, e perceberam, já há muito tempo, que os seus resultados empresariais vinham muito mais das rendas do que dos lucros. E mais, como o capital americano dito produtivo, extremamente finaceirizado, foi abdicando os seus mercados para capitais de outros países – capital chinês, indiano, japonês, alemão e, até mesmo, brasileiro – ele será obrigado a tentar produzir acordos e revoluções para retomar a posição. A luta entre os capitais vai se exacerbar, haverá um encrespamento geral, uma discórdia insidiosa. Ou seja, quando o navio naufraga os ratos tentam escapar. O que não quer dizer que não poderá haver na economia falsas recuperações e passageiras retomadas. Os ratos voltarão novamente a propagar a excelência das finanças.

A abolição dos losers

Um ambiente histórico novo se abre. O primeiro tempo é um conflito interno entre os grupos vencedores. Já não triunfam da mesma maneira. Naturalmente, que haverá luta, haverá divergências, mas haverá alianças. Combates aqui, acordos ali. O desastre das finanças profanou o pacto capitalista. E assim, a economia que a todos reuniu, fendeu também a massa sólida da ideologia, a idéia da riqueza infinita e fácil, os grupos vencedores e imbatíveis. No seu movimento, camuflou a guerra, os predadores, o mal das empresas criminosas de segurança no exterior, e desamarrou a corrupção da política, da mídia e do establishment. Fabricou este capital devorador, a capitalização de tudo, desde a saúde, a previdência, a aposentadoria, até a arte, a assistência social, a cultura. Como semente do ludibrio da sociedade transformou o pensar em cálculo, distribuiu o questionamento do sentido da vida em divertimento e em espetáculo fútil. E acabou por penetrar no íntimo dos assalariados voltando-os para a busca do efeito riqueza, do sonho coletivo de casas na cidade, na montanha, na praia; tentando alucinar e entupir as cidades com uma multidão de carros cada vez maiores e mais potentes. Pois, esse mundo veio abaixo. E de repente, partes da população – em vertigem de queda para o novo efeito, o efeito pobreza – começaram a sentir que os antigos ideólogos do neoliberalismo e do homem vencedor, deixaram a quase todos os trabalhadores como losers. E isto é o fim para os americanos. Mas, a questão que habita esse momento, tanto os corações como as mentes, é a seguinte: os losers se deixarão enganar novamente pelo falso brilhante do neoliberalismo? Com isso queremos dizer que está em profunda ruptura aquele bloco histórico que sustentou o neoliberalismo guerreiro, liderado por Cheney e cumprido por Bush, e que se definiu economicamente como a glória do sistema financeiro e politicamente como o legado da democracia pela guerra e a combinação da economia e da política com a busca do livre mercado e a restauração da exploração do petróleo no Iraque.

As cigarras e os direitos

Está aberto ou não está aberto um novo período histórico? Claro que está. Só que a abertura não indica para onde ele vai. Existe uma luta imensa por um novo mundo. Na contraluz, no entanto, o grupo dominante, por mais dividido que esteja, quer retomar a ribalta do sucesso e o palco dos vencedores. E para tal, nunca é demais frisar, que as cigarras da mídia continuam trabalhando para a restauração do mundo antigo. E mesmo que ele não chegue, a melodia será sempre na mesma direção: a alvorada do novo mundo como continuação do domínio das finanças. Só tem um reparo. Estamos em plena luta de grupos sociais, mas um dos aspectos desta disputa tem a figura de um vasto travamento cíclico de toda economia. Ou seja, os capitais precisam negociar uma nova sociedade capitalista. E para tal, então aí os outros países, para não dizer como Obama, que o mundo vai se reorganizar num diálogo Estados Unidos e China. Mas, só para termos um vislumbre e sem blasfemar, podemos dizer que a renovação não será apenas política, mas profundamente econômica. Na política, o conflito das classes vai ter que achar uma alavanca que será o resultado de uma vitória, de uma combinação, que poderá negociar os problemas da economia. Mas, aqui, emerge a competição inevitável dos capitais produtivos, onde a tecnologia dará o ponto de definição de uma nova organização econômica. Então, estamos em plena luta social, apesar das libélulas dulcíferas da mídia subordinada, que estão do lado das forças econômicas saqueadoras contra as forças sociais, proclamarem comicamente que o pior já passou. Mas, nada está decidido. O período histórico se abriu e ainda é cedo para ver qual é o rumo que os confrontos sociais de todas as dimensões vai tomar. Marilena Chauí tem razão, é preciso retomar e reaver a questão do que ela chama do núcleo da democracia, os direitos econômicos e os direitos sociais. E eu acrescentaria, para destacar, aquilo que o século vinte furtou, pela direita e pela esquerda, os direitos culturais. Nada contra o direito à diversão, contra o espetáculo, mas tudo a favor do direito da arte, por exemplo. Porque se ficarmos na falsa idéia da arte popular ou do entretenimento, das absurdas configurações do realismo socialista, da arte nazista ou do “no business like show business”, a face humana da vida passará pelo canto da catástrofe, sem que possamos definir e questionar o sentido da nossa vida.

A festa da maldade

Abriu um novo período histórico. Ficaremos olhando a face negra da ruína humana? Ou esperaremos a festa intensa da maldade como nos mostraram os filmes americanos “De onde os fracos não têm vez” dos Irmãos Cohen, “O Sangue Negro” de Paul Thomas Anderson, “Antes que o diabo saiba que você está morto” de Sidney Lumet, ou “Os infiltrados” de Martin Scorcese (fantástico filme onde Jack Nicholson diz, de forma contundente e soberba: “Esta é uma nação de ratos”).

Contra a catedral da micro-economia

Vejam o que está acontecendo. As estruturas econômicas e as estruturas políticas e as estruturas sociais e as estruturas ideológicas estão desabando. Mas, os antigos construtores lutam desesperadamente para manter a felicidade da transformação de todos os ativos em ativos financeiros. Dominam o Estado, mesmo em contradições diversas. Só que os que lutam por uma sociedade diferente, precisam fazer dois movimentos complexos: um é organizar uma unidade ultrapassando o fracionamento de suas atividades e de suas resistências; e outro, tentar equilibrar no campo do Estado as forças financeiras que penetraram até o coração das decisões principais. O primeiro movimento visa a convergência, os acordos, as alianças, os pactos com todas as forças que bloquearão as ardilosas astúcias das finanças. E o segundo movimento, proporcionará a disputa da direção da política econômica no sentido de defini-la mais ampla do que apenas uma política financeira, monetária, cambial e fiscal. O que quer dizer o poder de amparar as forças sociais com uma política industrial, uma política agrícola, uma política tecnológica, uma política ambiental, uma política energética, uma política de trabalho, uma política de salários, uma política de previdência, uma política de saúde, uma política de segurança, uma política urbana, uma política de transporte, uma política de educação, uma política cultural. Ou seja, romper com esta idéia absurda e insólita de que são os capitais, na suas decisões microeconômicas, que definem a macroeconômica e a macro-sociedade. Tem que se resgatar uma política pública. E só o Estado pode hoje recolher o vento renovador de um novo período histórico.

Quando o presidente do Banco Central manda mais que o presidente da República

Não se pode pensar que as finanças ficaram como aquelas folhas amareladas em tempos de queda. Ao contrário, elas pensam em plantar novas roseiras para colher os juros fabulosos de novas rosas. E tem o vírus do dinheiro, dinheiro inclusive fornecido pelo Estado que eles ainda dominam. Mas, o capital vai seguir outro rumo, que não será este liberalismo doente e demente. Talvez retorne o liberalismo político, que tenta equilibrar o liberalismo econômico, que é o roteiro de Obama. Mas, isso é não levar em conta que outras forças sociais possam querer outro trajeto, outra vertente. Só que estas forças não têm nada, foram derrotadas ao longo do século XIX e do Século XX. E, portanto, precisam inventar uma nova ficção política e outras práticas de transformação e de metamorfose. Rimbaud falava que era preciso inventar o amor. Para essas forças sociais, o desafio é inventar uma nova sociedade, com uma nova conquista de direitos econômicos, de direitos políticos, de direitos sociais, de direitos tecnológicos, de direitos culturais, enfim, de construir uma nova democracia. Claro, a política é o terreno dos conflitos e do poder. E em verdade, o que estamos vendo é o desmanchamento de uma configuração de poder antigo. É preciso combater por uma outra forma. Qual será ela? A abertura de um novo período é isto, um rearranjo das relações políticas e sociais da sociedade, que se descortina na cruz e na fantasia, na quimera e no realismo dos confrontos. O que significa a construção de uma nova economia, das relações entre a produção, as finanças e os assalariados, bem como uma figuração diferente da organização da democracia e do Estado. O que não quer dizer que as forças que jogam na escuridão – darkness, dizem os ingleses – não tentarão retomar a ditadura que vingou na hegemonia das finanças, quando o presidente do Banco Central mandava mais do que o presidente da República, que, no caso dos Estados Unidos, só decidiu pela desastrosa guerra ao terrorismo, para mostrar que mandava e para fornecer a outras forças distintas possibilidades de riqueza.

OJO!

Abriu-se um novo período histórico. Mas, as forças democráticas têm que elaborar estratégias renovadas, mas sempre com a precaução que uma palavra em castelhano avisa: Ojo! Porque a violência, a guerra, por detrás das palavras macias da propaganda e da mídia, pode sempre, a pretexto de alguma noção aprisionada da democracia, como liberdade, jogar a sociedade numa ladeira abaixo. E a precaução das forças democráticas terá que resgatar a socialização da tecnologia em seu benefício, para começar, uma outra relação entre o capital e a população. E esse caminho turbinado, não deixará de ter rasgões como adversidades, e não será nem leve nem ligeiro, porque esta crise vai ser longa. Um ciclo terminou. Uma nova economia, uma nova sociedade, uma nova democracia e um novo Estado estão para ser concebidos e construídos. Pois o mundo não está deixando os homens conformados, há um rastro de insatisfação e não existem utopias que embriagam. Há todo um novo período histórico a ser modelado e a ser musicado. O tempo se abriu. Não sabemos se a vitória será do Sol ou da Escuridão. E isto não tem nada a ver com a vitória do Bem ou do Mal.