sábado, março 21, 2009

Sábado, 21 de março de 2009.

"A RONDA DA NOITE"
Por Enéas de Souza

O que se passa com a economia-líder?

1) Obama foi eleito, mas não conseguiu reunir em torno de si uma maioria que defina uma política global americana, seja para o mundo, seja para o país.
2) A sociedade está dividida. Qual a melhor solução para o país, desde a organização do sistema financeiro até a forma de articulação entre a economia produtiva e a economia financeira?
3) As finanças não têm solução para a sociedade e a sociedade não tem força para impor uma solução para as finanças. O Estado (FED e Tesouro) percebe que não consegue controlar o setor financeiro. Então, as finanças ainda continuam mandando, mas não têm solução para a reorganização da sociedade.
4) Os americanos só têm proposta para a economia produtiva. Pôr o Estado na rua, inventar projetos de obras públicas e tentar incentivar as empresas e proporcionar empregos. Todo poder à reanimação da demanda. Nos Estados Unidos e em todo o mundo.
5) Os americanos não têm nenhuma proposta para a economia financeira nem para os Estados Unidos e muito menos para o mundo.
6) O desemprego cresce assustadoramente; a taxa já passou dos 8%.
7) O conflito com os executivos continua a mostrar que a governança corporativa é uma forma empresarial que não deu certo.
8) Como constituir uma política econômica unitária, que tenha um projeto para as finanças, para a indústria e recoloque a economia americana na liderança da ordem geoeconômica mundial?
9) E o dólar não está vendo suas forças se deteriorarem? O ouro não é um sintoma de que poderão ocorrer vários ataques à moeda americana, desde uma futura inflação descontrolada até um déficit fiscal exagerado?

O Brasil está pensando rápido e respondendo atrasado?

1) Há uma idéia e uma estratégia básica de que a economia tem que se centrar no Estado, fazer obras públicas e modificar a relação dentro do Estado entre forças que defendem um projeto produtivo liderado pelo próprio Estado e as finanças nacionais e internacionais. O ponto é o projeto, e a linha é o Banco Central. Como fazer um banco central a favor de uma figura da esfera produtiva e apoiando o desenvolvimento da economia brasileira?
2) A ação do Estado está pensada. Mas, entre o pensar e o agir, não há falta de iniciativa, de planos, de projetos?
3) O Brasil está à espera das ações americanas e das iniciativas de Obama para que ele possa então desenvolver a sua estratégia. O Brasil não deveria ter uma estratégia ativa (projetos nacionais comandados pelo Estado) e um projeto defensivo, enquanto os Estados Unidos resolvem a sua situação de casa, o controle das finanças?
4) Qual será a reação dos bancos nacionais diante de uma reorganização do sistema financeiro nacional em torno de um sistema público de financiamento das atividades produtivas de curto e longo prazo?
5) Qual será a relação entre a política e a economia a partir da consolidação da crise?

Meditação sobre o contemporâneo

Giorgio Agamben parece estar meditando sobre o que escrevemos no texto acima quando diz: “(...) o contemporâneo é aquele que percebe a obscuridade de seu tempo como uma questão que o olha e que não cessa de interpelá-lo, qualquer coisa que, mais que toda a luz, é direta e singularmente, dirigida para ele. Contemporâneo é aquele que recebe em pleno rosto o feixe de trevas que provém de seu tempo”. (Qu´est-ce que le contemporain? Paris, Rivages Poches/Petite Biliothèque, 2008, pág.22)

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