quinta-feira, maio 28, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL

28 de maio de 2009
Coluna das quintas
por Enéas de Souza

DOS BLOQUEIOS À MUDANÇA


A informação também é uma arma

Trata-se, no momento, de apurar os verdadeiros contornos da crise. A primeira constatação que percebemos é que um sistema, que sempre pregou a informação e a transparência, a eficiência e a probidade, tem um sistema de informação absolutamente competente, altamente profissional, mas definitivamente – perdoem a palavra – cretino. Ou seja, o sistema é totalmente mentiroso, falsificador, mas muito bem feito e opera extremamente bem no objetivo principal: manter a dominância das finanças e sustentar a idéia de que a crise, se não passou, ela esta em vias de passar. Isto desde 2007. E continua assim. Há um amor cínico pela mentira, por tentar produzir fantasias. E porque se faz isso? Um ponto é obvio faz parte da estratégia das finanças. Mas, eles só mantém estas proposições porque a sociedade aceita. E porque ela aceita? Porque, a ideologia atual perdeu um dos seus braços, a proposta neo-liberal. Isto está morto, desmoralizado, etc. Mas, o que continua vigorando, com muita força, com extrema sedução, é a ideologia do individualismo.

O individualismo é a moeda de ouro do capitalismo

Os indivíduos sabem que a sociedade está em crise, que as finanças se batem entre si, mas não vem alternativas. Não acreditam na esquerda. Não pensam quem revoltas, revoluções, etc. possam ser a solução. Mas, sabem, que numa sociedade capitalista, por menos mobilidade que tenham, ela existe, e portanto, cada indivíduo, você, por exemplo, pode pensar que escapa da debacle geral, pelo seu talento, pelas suas relações, pela sua história, etc. Ou seja, há no coração desta crise, no meio do desabamento da direita e da esquerda, da crise das finanças e do desemprego, a ideologia do individualismo, que é capaz de aceitar e não reagir a estas derrapadas desastrosas e fulminantes deste capitalismo endoidecido.

A especulação é um ponto de fuga no sistema

Digo bem: capitalismo endoidecido. Porque temos um capitalismo cuja sustentação é o movimento desregulamentado da valorização de títulos, que funciona por especulação e portanto, o próprio mercado não tem capacidade de controlar. O mercado financeiro é organizado em torno de dois pontos de fuga, que é o aumento infinito e a redução a zero. Ou seja, o seu sistema de preços é explosivo em qualquer sentido. E é exatamente, por essa razão que o sistema financeiro é suscetível a bolhas. Porque a regulação especulativa é dada pela bolha, que infla e desinfla de acordo com os movimentos em massa dos participantes, sempre suscetíveis a boatos, a idéias, a astúcias, a vigarices, a imaginações, a invenções políticas, econômicas, etc. que conduzem o mercado para um ou para outro lado.

A força dominante no Estado

O momento atual revela que o capitalismo financeiro funciona livremente pelo lado especulativo, mas que tem sempre um companheiro, um personal training que é o Estado. O Estado fica ali, deixando tudo acontecer em nome da confiança do mercado, ou sustentando-a sob a idéia pouco discutida de risco sistêmico. E o Estado é na verdade uma instituição socialmente construída, mas que tem sempre uma força dominante que o impele a definir posições quando formula políticas econômicas. Nessa direção, o que temo hoje é um Estado voltado para a salvação da sociedade da crise financeira. Ora, esta salvação não é a salvação da sociedade. Podem até serem ações para evitar o caos. Mas, o objetivo primeiro – e praticamente único – é salvar o capital. Na verdade, é salvar as finanças, e não deixar que o conflito decisivo capital-trabalho inaugure-se com extenuada corrosão. Por isso, a salvação da esfera produtiva entra com forte e demorada lentidão.

As contradições que seguram o barco

E o que vemos hoje. Em primeiro lugar, uma contradição no grupo dirigente do capitalismo. As finanças não se entendem. E não se entendem porque as necessidades de rendabilidade e de competição dos grupos são divergentes, todos querem sair melhjor que os demais, e se possíveis que eles desapareçam. Veja-se como resultado desta prática, a decisão desastrada de Paulson em quebrar o Lehman Brothers. Mas, a crise nas finanças, politicamente, não os faz inimigos definitivamente mortais. Há um momento anterior, aquele onde os personagens sabem que estão mal, mas sabem também que devem se unir, para enfrentar a derrocada e os demais adversários.

Nesse sentido, as finanças, mesmo em franjas, se unem, continuam mandando no Estado e bloqueiam maiores reivindicações do capital produtivo, e as escandalosas taxas de desempregos, por exmplo da economia americana, são deixadas de lado na discussão. Vejam Keynes escreveu: “Teoria geral do emprego, do juro e da moeda”. Ou seja, o emprego era um dos temas centrais da sua preocupação como economista. Hoje, um economista financeiro está preocupado com a renda e os juros. O emprego é um problema que lhe interessa pouco. Porque para ele o emprego virá como conseqüência fatal das aplicações financeiras. O que é uma parvoíce. GFazer uma aplicação numa ação de uma empresa, não quer dizer que esta aplicação vai incrementar o aumento de emprego. O emprego não é o ponto de interesse do capital financeiro. É, apenas em parte, do capital produtivo, porque a tecnologia já mostrou que o trabalho tem uma importância muito limitada para o capital. Assim, o trabalho – e conseqüentemente, as questões de emprego, estão subjugadas a duas dominâncias do capital: a hegemonia das aplicações financeiras sobre as inversões produtivas, e a constante renovação tecnológica. São dois obstáculos fundamentais ao movimento dos trabalhadores. E o Estado tem cumprido bem o seu papel: manter as finanaçs funcionando e financiando as pesquisas tecnológicas sem alterar as relações sociais de produção.

De outro lado os trabalhadores, não conseguem mais se agregar em torno das idéias de revolução, sobretudo aquelas revoluções do estilo soviético, chinês, cubano. Elas são referências, mas não podem ser imitadas. Assim, como o capitalismo financeiro não pode mais imitar este capitalismo neoliberal que desabou, os socialistas não podem imitar as revoluções anteriores. Ou, seja é preciso encontrar novas saídas para a crise, seja quem lute pelo capital, seja quem lute pela metamorfoses social. Só que apesar de tudo, está mais fácil para o capital do que para os seus adversários. Vejam-se as duas dominações econômicas brutais: as finanças e a tecnologia.

quarta-feira, maio 27, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Treasuries caem, rendimento chega a 3,7%

Se essa tendência persistir, o que passou ano passado vai realmente parecer uma "marolinha". Apesar da "calmaria" recente nos mercados, uma crise monetária agora traria consequências inimagináveis para a economia e a geopolítica mundiais. A tempestade parece estar se armando apesar do compromisso do FED em comprar os títulos do tesouro dos EUA de maturidade superior aos 10 anos.

Bernanke vai dormir muito mal essa noite...



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terça-feira, maio 26, 2009

domingo, maio 24, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Alerta da S&P em relação ao Reino Unido pode marcar início da nova etapa da crise

Segundo Simon Johnson, ex-FMI, a decisão de anunciar a deterioração potencial da progressão da nota do Reino Unido de "estável" para "negativo" pode marcar o início a nova fase da crise financeira mundial. Nela, as dívidas dos países, que assumiram a maior parte das perdas dos sistemas financeiros privados, jogarão o papel principal. A crise já foi imobiliária, depois financeira, após econômica. Passaria, em uma evolução nada surpreendentel, a ser monetária.

O cenário pode se configurar de forma trágica ao longo dos próximos anos, marcando a necessidade de refazer o Sistema Financeiro Mundial a partir de uma crise do Sistema Monetário. Notem que não é algo para ser resolvido nos próximos dias e que independe da alta ou não das bolsas de valores (aliás, alguém ainda acredita que as bolsas "avançam" o comportamento da economia em seis meses? Bom, aqueles que acreditam vão tomar a lição correta onde dói mais...). No mesmo registro, mais um relatório do GEAB/LEAP aponta para a possibilidade de desintegração do atual sistema monetário. Com sempre, aprevisão ali é radical: a roda começaria sua movimentação em junho de 2009.

No mundo real, a inclinação da curva de rendimentos deu sinais preocupantes na semana passada e é para lá que devemos olhar para acompanhar mais de perto a situação.

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sexta-feira, maio 22, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Treasuries caem com fuga de títulos do tesouro dos EUA

Hummmm... parece que a Quantitative Easing de Bernanke não está funcionando muito apropriadamente... A curva de rendimentos está inclinando perigosamente, com os juros para os títulos de 10 anos ultarpassando àqueles pagos para os títulos com prazo de 2 anos. O mercado está testando a disposição do governo em aumentar seu endividamento.  

Ao mesmo tempo, os estados norte-americanos caminham a passos largos para a insolvência.  A Califórnia está cortando o orçamento dos programas de emprego e dos serviços de saúde e educação para os mais pobres, dada a dificuldade apresentada pelo elevação de seus déficits. Vem muito mais nessa área ainda em 2009, sendo esta uma das fontes potenciais de prejuízos para o sistema financeiro. Aliás, trata-se de uma boa demonstração do modus operandi do Estado neoliberal: subsídios e resgates para os mais ricos e  cortes no orçamentodos serviços para o mais pobres, exatamente conforme a cartilha.

Se os juros de longo prazo, que são determinados pelo mercado, dispararem nos EUA, a depressão será uma certeza e não mais uma possibilidade. Fato para ser acompanhando atentamente.

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CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: dólar em queda, ouro em alta




Ao mesmo tempo em que o dólar vem perdendo força, o ouro tem subido com alguma volúpia no mercado internacional. As notícias de que a S&P poderá retirar a nota AAA do rating soberano do Reino Unido realimentou os temores de que o mesmo possa vir a ocorrer com a dívida norte-americana (ver link com a opinião do insider Bill Gross). Isso tem alimentado uma fuga do dólar, anto por aversão ao risco (nesse caso o ouro sobe), quanto por motivos especulativos (nesse caso o real brasileiro valoriza, por exemplo).

Embora a hipótese de um default clássico seja um despropósito para o caso norte-americano (basta imprimir dólares se necessário), o valor futuro da moeda norte-americana pode ser  questionado com propriedade.  

A evolução natural da crise, em caso de sua continuidade,  é para uma crise do sistema monetário internacional. Essa não parece iminente nesse momento, mas os desequilíbrios têm se acumulado perigosamente ao longo dos dois últimos anos (ou seriam dos últimos 30 anos?). Chegaremos lá?

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quarta-feira, maio 20, 2009

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: A difícil regulação dos derivativos

Embora já tenha se mostrado sensível ao tema, a atual administração norte-americana não parece dispor de força política para enfrentear o lobby da indústria financeira no que tange à necessária regulamentação do mercado de derivativos mundial. 

E um dos problemas mais importantes é exatamente o fato de que o mercado de derivativos é global. Ou seja, as decisõe dos EUA repercutem com igual - ou maior - intensidade na Europa e na Ásia. Londres, por exemplo, que se especializou em ser o centro desnvolvido financeiro mais desregulamentado, têm verdadeiro terror quando se fala em regulamentar hedge funds ou derivativos de balcão. e seu lobby é ativíssimo em Washington... 

Ou seja, a luta entre o status quo que degenerou na maior crise desde os anos 1930 e os adeptos das mudanças nas bases institucionais necessárias a uma nova etapa do capitalismo ainda vai longe...

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CRISE FINANCEIRA MUNDIAL: Produto japonês cai 15,2% no primeiro trimestre

O PIB japonês continua em queda livre, tendo atingido a impressionante marca de 15,2% no primeiro trimestre de 2009 frente ao produzido no primeiro trimestre de 2008. Em relação ao quarto trimestre de 2008, a queda no primeiro trimestre do atual ano chegou a 4%.

Em outro registro, também a Rússia ainda não apresenta os sinais de recuperação que animam os mercados ao redor do mundo. A produção industrial caiu 16,9% em abril na comparação com o mesmo mês de 2008 e a expectativa para o PIB  desse ano é de cerca de -10%... 

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quinta-feira, maio 14, 2009

A retomada chinesa e os preços das commodities

Em realidade, o único país que tem apresentado alguns sinais convincentes de recuperação da economia é a China. Entretanto, essa recuperação terá dificuldades em se sustentar. Ela é resultado quase exclusivo dos estímulos fiscais e monetários do governos chinês, mas, segundo Buitter entre outros, não afeta a questão básica: quais mudanças podem, de forma continuada, voltar à dinâmica e à estrutura da economia chinesa para seu mercado interno? Isso leva tempo, e ainda não está mesmo em execução. Visto de fora, dá a impressão que, para a as autoridades chinesas, a crise dos países desenvolvidos e dos EUA em particular, é uma crise de resolução relativamente rápida. 

Ou seja, a economia está estimulada pelo governo, mas isso resulta em uma superprodução de bens que não tem demanda, nem na China nem em outros países.  Exemplo é a intervenção de hoje ho mercado de aço, com o governos cortando o crédito às empresas que têm elevado sua produção muito acima da capacidade de demanda. O sinal de alerta nesse mesmo setor veio com a elevação da importação de minério de ferro, considerada excessiva pelas autoridades locais.  Se estima que a demanda por aço deva cair 5% em 2009. 

Ou seja, aqueles que esperam uma retomada permanente nos preços das commodities com base em um progressivo aumento da demanda chinesa, provavelmente estão errados. A crise é longa e o país que pode dar - quando ocorrer - elementos concretos de uma recuperação econômica ainda são so EUA.


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quarta-feira, maio 13, 2009

Gráficos da Crise: a "recuperação" das bolsas americanas (S&P 500)

É a recessão, estúpido!

A economia real mostra as garras nos EUA... Se esperava aumento co consumo em abril, o resultado foram decepcionante 0,4% de queda frente ao mês anterior (10,1% de queda frente ao mesmo mês do ano anterior).  Mas, o desemprego segue aumentando, já atinge 8,9% em abril...

Em abril, 342.038 imóveis foram retomados pelos bancos , um record que aponta para maior pressão sobre o preço dos imóveis, ainda que as vendas aumentem graças à necessidade do setor financeiro de transformar esse imenso estoque em cash.  Os preços em queda vêm aumentando os prejuízos de inanciadoras como a Freddie Mac, que apontou para um novo prejuízo de mais de US$ 9 bilhões no primeiro trimestre de 2009...

Todo esse apanhado de dados é para mostrar que os problemas no setor financeiro quebraram o eixo da dinâmica de crescimento anterior... e que a recessão vai realimentar os probelmas financeiros de maneira bem pior do que os números do stress test apontaram. Dado que o Estado já mostrou que irá defender o status quo do sistema financeiro a qualquer preço, pode-se esperar uma lenta e longa agonia da economia dos EUA e, por consequência, da economia mundial. 


 

sábado, maio 09, 2009

O que valem os stress tests?

Roubini aponta razões para que o stress test realizado em 19 bancos nos EUA mostre suas fragilidades logo logo... a abordagem do problema pelo governo dos EUA tem tudo para criar os famosos bancos zoombies que fragilizaram a economia japonesa nos últimos, 15 anos.
Vale a pena dar uma olhada nas razões apontadas por Roubini para uma descrença na retomada do sistema financeiro dos EUA.
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Banco da Inglatera assustado com possibilidade de terceira onda da crise financeira

Se escuta que a crise acabou... será? O Banco da Inglaterra aposta que não. Na última quinta-eira, mais L$ 50 bilhões foram injetadas no sistema financeiro inglês e Banco da Inglaterra teme que isso não seja suficiente.
Como o Enéas já colocou, iremos de bailout em bailout, até uma crise do sistema monetário internacional?
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quinta-feira, maio 07, 2009

Coluna das quintas
7 de maio de 2009

DIZEM QUE A CRISE TERMINOU
Por Enéas de Souza

(Entro em férias e deixo 3 questões.)

Será que a crise terminou?

Vários jornais tentam passar a idéia de que a crise deu a sua volta na praça, recolheu os seus trapos e se mandou para casa. Indicações: a bolsa voltou com toda força; os bancos deram resultados lucrativos; o presidente do FED consegue ver sinais de recuperação; a libor baixou; as questões do hedge não avançaram, etc. etc..Mas, há indicações no sentido contrário: os bancos precisam cada vez mais de capital e capital; a contabilidade não chegou a ser aberta, tornou-se mais flexível para esconder os verdadeiros resultados do setor bancário; o setor imobiliário continua crítico e com um horizonte de recuperação indeterminado; os Credits Default Swaps (CDS) não estouraram ainda, continuam um mistério; e a bolsa, apesar de eventuais bons movimentos, não é o centro da questão financeira, etc. etc. Das duas uma: ou o capitalismo financeiro conseguiu alguma fórmula que escapa aos observadores atentos ou estamos diante de um grande movimento de simulação. Se for este o caso, a indagação se precisa: será que a mídia, como ponta de lança das finanças, não está fazendo um belo trabalho ao produzir uma cortina de fumaça para ocultar e prolongar um tempo para que o setor financeiro tente encontrar alguma solução? Será viável esta estratégia? Qual o resultado desta postergação?

O conflito da governança corporativa vai terminar?

A forma da empresa capitalista, financeira ou produtiva, de um capitalismo avançado como o americano, traz no seu bojo, uma disparidade frontal. De um lado temos os proprietários das ações, os “shareholders”, cujo interesse está expresso no princípio de valorização máxima das ações. (O “Return on equity – ROE). Eles estão fora da empresa, mas a controlam acionariamente. De outro lado temos, os dirigentes, os banqueiros, que são empregados de luxo, que ganham salários avultados, que tem ações da companhia e que auferem bônus, mesmo quando a empresa entra em bancarrota. Portanto, logo se vê, ambos podem ter alguns objetivos que coincidem, mas também podem ter outros alvos distintos. Assim, quando a economia entra em crise, quando as empresas vão mal e quando a bolsa de valores sofrem adversidades, dá para perceber que os acionistas e os dirigentes ficam em lado opostos. E a coisa se complica mais ainda, quando Obama condiciona o auxílio à salvação dos bancos a limitação dos bônus para os executivos. Ou mesmo, quando o Congresso busca taxar em 90% os bônus dos executivos da AIG, uma empresa de seguros que deu um prejuízo de 240 bilhões de dólares aos contribuintes, e que os dirigentes queriam sair com os seus volumosos prêmios. Obama e o Congresso podem ser uma pedra em qualquer acordo dos acionistas e dos banqueiros. As divergências se exacerbam e a contradição aumenta o seu movimento.

Como disse um empresário: esta forma de fazer negócio - leia-se esta forma de organizar a empresa contemporânea – precisa ser mudada. Então as perguntas se exibem notórias: pode esta crise se resolver sem que uma nova forma empresarial se estabeleça? Esta fórmula está à vista? Pode-se manter, por um retrocesso histórico, a governança corporativa, após uma nova salvação dos grandes bancos pelo Estado? Pode ser a governança corporativa conservada, se o caminho for a nacionalização?

Quantas salvações dos bancos serão necessárias?

O leitor percebe que se falta capital em grande escala para os bancos é possível que novos “bailouts” sejam necessários e que novas salvações possam ser buscadas. Mas, o leitor percebe também que se torna eminente uma escassez de tolerância política não só do Obama e do Congresso, como da população em geral, sobretudo quando emerge uma taxa de desemprego crescente. A luta social e econômica pode trazer alguns revezes aos bancos e pode retornar, com força, a questão da nacionalização. Contudo, mesmo que isso não aconteça, de qualquer forma, o tempo que serve para os bancos encontrarem uma solução, funciona também no sentido adverso, já que significará que a crise não foi parada e que os bancos não têm a bala que pensam ter. Ou seja, lembramos, sempre e mais uma vez, que esta crise tem uma estrutura de escada. Num determinado momento, há um temor imenso, ocorrem pensamentos e declarações sombrias, porque ela está descendo de um patamar para outro. Mas, quando alcança o novo patamar, os problemas parecem se deter e as coisas parecem se endireitar. E então, como um jogador de pôquer e um ilusionista, as finanças fazem algumas manobras - seja por meio dos seus representantes no corpo do Estado, seja através do desenvolvimento de negócios ardilosos, seja por meio de movimentos especulativos ascendentes nas bolsas - para que tudo se mostre como tudo está bem. E a mídia, esta publicitária do sucesso, começa a colocar nas pessoas o pão da esperança, a vigorosa idéia de que a crise já passou. Mas, a crise é como a Pandora, que tem um saco de ativos podres, bancarrotas, retração econômica, desemprego, etc. E tem, igualmente, o maior dos males - como diz Machado de Assis em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” – que é a esperança. Deste modo, amigo leitor, esteja Machado certo ou não, e seja o mundo regido por Pandora ou não, uma questão se faz indispensável: as atuais esperanças de que a crise já passou, não podem ser uma desesperada cartada da mídia e das finanças na busca de um consenso enganador e de uma queda maior na tendência declinante da economia?

Voltamos à velha disjuntiva: ou as finanças descobriram a fórmula milagrosa da regeneração ou a trajetória para a depressão fez mais uma parada. E ela, a questão candente da crise, terminará por se colocar no colo de Obama. Terá ele a capacidade de concertar, para usar o título de um belo livro de Chico Buarque, “o leite derramado”?

(Volto a escrever na última semana de maio.)

quarta-feira, maio 06, 2009

BofA, Citi, Wells fargo e GMAC necessitam aumentar seu apital: resultados preliminares dos stress tests

BofA tem a situação mais problemática: necessita mais US$ 34 bilhões, segundo o teste.


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Crise em etapas

Vamos deixar um pouco de lado a crise financeira. Ela existe e está longe de ser resolvida, principalmente no sistema financeiro dos EUA.  Pensemos em termos da economia real. Essa é uma crise engraçada. Trata-se da luta entre um sistema de financiamento da produção e do consumo em mutação, em crise e, de outro lado, as ações governamentais não apenas no campo financeiro, mas também no campo fiscal, que visam possibilitar uma retomada da produção. Os resultados são imprevisíveis no curto prazo.

A China aparece como grande termômetro da crise da economia real. Não é ,o epicentro, mas o que acontece por lá dá uma dimensão quanto a intensidade das quedas na produção industrial e no comércio internacional, vetore de disseminação global da tendência depressiva. Nos últimos dias, se estabeleceu uma esperança de retomada mais forte da produção e do consumo na região asiática, a partir da melhoria da performance da economia chinesa.  A notícia de que a geração de energia na China caiu novamente em abril vem como uma pá de cal nessa esperança de retomada acelerada. E assim segue o baile. Parece que a produção e o comércio terão algum longo período de estagnação pela frente, sempre sujeitos às notícias explosivas do campo financeiro. 

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terça-feira, maio 05, 2009

Protecionismo financeiro

Obama está certo em sua tentativa de tapar os furos pelo qual as multinacionais norte-americanas evadem centenas de bilhões de dólares. Países como a Suíça, a Irlanda e a Inglaterra, tem muito a perder com a iniciativa de Obama. Multinacionais e opaíses beneficiados estão horrorizados com a iniciativa do presidente Obama.

Em um mundo dominado pela finança, a guerra protecionista toma novass formas: o protecionismo agora é financeiro! Obama (e os EUA) saem na frente na tentativa de retomar, ao menos parcialmente, o poder do Estado. Pena que o dinheiro já tenha sido transferido ao falido sistema financeiro dos EUA... mas, a reação dos atingidos vai ser interessante. Guerra financeira à vista.

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sábado, maio 02, 2009

Como os resultados dos grandes bancos melhoraram em 2009

Banks beat “well managed” low-ball expectations. In the last quarter of 2008, publicly traded banks lost $52 billion. Despite a return to profitability for some institutions, in the first quarter of 2009, banks are still expected to lose around $34 billion. For example, UBS and Morgan Stanley recorded losses.

The quality of earnings was questionable. Core businesses declined by 20-30%. Trading revenues, especially fixed income, rose sharply at most big banks reflecting high volumes of bond issuance, especially investment grade corporate issues and government guaranteed bank debt.

Corporate issuance was the result of the continued tightening in credit availability as banks reduced balance sheet. The issuance of government guaranteed bank debt provided underwriters with a “double subsidy” – the government guaranteed the debt but then allowed the banks to earn generous fees from underwriting government guaranteed debt.

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http://www.wilmott.com/blogs/satyajitdas/index.cfm/2009/5/1/Banking-Fortunes--From-Catastrophic-to-Just-Awful


Gráficos da Crise: encomendas à indústria (EUA)

Cazaquistão cai na armadilha de Wall Street

Em mais um capítulo romanesco da crise que desvela muito sobre o funcionamento do mercado financeiro, o affair do banco Cazaq (?) BTA com o Morgan Stanley e outro banco traz á luz o papel dos Credit Default Swaps (CDS) na pró-ciclicidade da crise.
Resumindo enormemente a história, vários débitos do BTA com a Morgan Stanley haviam sido refinanciados ao longo de 2008 dentro da ideia de que o credor teria mais a perder com a bancarrota do devedor. Isso deixou os cazqs tranquilos. Para sua surpresa, nesse semana o Morgan Stanley exigiu o pagamento das dívidas. Obviamente, o BTA não teve como honrar a dívida. Em princípio, os cazqs não entenderam o que havia levado o Morgan Stanley a exigir um pagamento que sabiam não seria efetivado.
A resposta está nos CDS que o Morgan Stançey havia comprado e que garantiam o banco norte-americano quanto á prossibilidade de default da dívida do BTA. Quem vendeu a proteção ao Morgan Stanley ficou com o mico. O BTA está em grande dificuldades. O Morgan Stanley levou seu dinheiro. a história mostra como o mercado de CDS permite "planejar" a falência de um devedor pela asficia de crédito, sendo essa falência do interesse do credor.
Histórias semelhantes estão acontecendo com empresas do setor "produtivo" ao redor do planeta. Obviamente, a consequência será uma implosão do mercado de CDS (mais de US$ 12 trilhões) e uma explosão na quantidade de falências corporativas, na medida em que os defaults "planejados" e orquestrados pelos credores se multipliquem. Mesmo gigantes como a GE estão na mira...
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Confusão em torno do stress test bancário

Quando do lançamento do Plano Geithner, ainda em fevereiro, antecipamos que a aplicação de stress tests "transparentes" em todo seu processo seria inviável dada a natueza da formação de preços nos mercados de capitais. Agora, o governo dos EUA se defronta exatamente com o problema: embora o processo não tenha tido a transparência anunciada, os mais diversos boatos surgem quanto aos resultados do teste aplicado nos 19 maiores bancos do país. Começou-se falando na necessidade de capitalizar um banco, depois seis e, nessa manhã, surge a notícia de que 14 bancos necessitariam novos aportes de capital.
Ao mesmo tempo, a divulgação dos resultados do teste foi adiada do dia 4 de maio para o dia 7, após o encerramento da atividade do mercado. Muitas reuniões entre os bancos e as autoridades estão ocorrendo na tentativa de minimizar os efeitos negativos do anúncio. A natureza colusiva dessa relação continua, o que tira a credibilidade do processo. Vamos estar acompanhando com atenção o desenrolar do processo.
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TALF estendido ao setor imobiliário comercial

O FED decidiu estender seu programa de refinanciamento de títulos securitizados TALF ao setor imobiliário comercial. A medida visa limitar o impacto do aumento de defaults que atinge os imóveis comerciais nos EUA sobre o balanço dos bancos, ao permitir o aumento dos prazos de financiamento dos títulos imobiliários securitizados (CMBS). trata-se de um reconhecimento tardio quanto á gravidade da situação no setor, aquele que mais ameaça o balanço dos bancos nesse ano.
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