quinta-feira, fevereiro 05, 2009

UMA ESTRATÉGIA PARA O BRASL DIANTE DA CRISE por Enéas de Souza



A queda da produção da indústria, revelada ontem, deu, no país, mais um choque de realidade da crise. Um choque progressivo de que a crise está aí, está nas fábricas, está nos shoppings, está nos restaurantes, está nas lojas, ela está nos espiando com seu rosto soturno e triste. Estes dados da indústria nos mostram uma forte desaleração deste setor e lembram que já existe um crescente desemprego. Mas, é tempo de férias. E então existe um certo descompasso entre o ritmo da crise e o ritmo das pessoas. O choque não parece tão poderoso quanto de fato é. Mas, quando março chegar, a crise vai desabar nas questões econômicas e nas conversas de todo o mundo. Enquanto isso, o governo já anuncia medidas via PAC e via BNDES para incrementar tanto o investimento público quanto o investimento privado. E aqui, segundo nossa perspectiva, está o nervo exposto da questão.
O Brasil precisa ter uma estratégia. Ela deve começar por tratar da inserção do país no mundo. A crise é uma "janela de oportunidade" como costumam dizer certos enfadonhos economistas e administradores. Ou seja, dito de outro modo: esta é a hora, este o momento. Temos que ter claro qual será o papel do Brasil na nova divisão internacional do trabalho. Está absolutamente claro que a desordem mundial vai propiciar uma nova ordem. mas quanto tempo vai levar para tal, não é possível prever. Mas que vai ter uma nova ordem, vai. E do ponto de vista econômico, o que o país precisa é uma estratégia adequada, a partir de um verdadeiro conhecimento de sua situação. É preciso adequar nossos meios a esta nova estratégia.
E o que vemos nesse momento, é que é indispensável a presença significativa do Estado no investimento, já que o investimento é o que liga o presente ao futuro, transformando-o. E o investimento público é aquele que não precisa da motivação do lucro, é um investimento auatônomo, está fundado nas necessidades da nação e da sociedade. Ora, para isso, é preciso urgentemente retornar a um projeto nacional baseado na citada estratégia acima assinalada. E com isso, substituir um modelo financeiro de acumulação de capital por um modelo de crescimento produtivo do Brasil inserido na economia mundial.
De que jeito? Reorganizando o Estado para este novo modelo. Em primeiro lugar, dando ao Estado instituições e capacidade para estabelecer este novo projeto. Significa, então, reorganizar a sua estrutura. Em segundo lugar, dando unidade de ação ao próprio Estado, o que significa que todo o governo, inclusive o Banco Central, atuem na direção do desenvolvimento e não para definir políticas favoráveis a rentabilidade das finanças. Em terceiro lugar, começar a trabalhar para a implantação deste modelo, o que deve fazer valer a estratratégia proposta, que visa, é preciso esclarecer, tanto a inserção do Brasil no mundo como a construção de uma sociedade com desenvolvimento social avançado e profundamente atual. Por isso, há um quarto ponto, o Brasil precisa pulsar politicamente. E a política se faz com uma vasta discussão nacional e com organização das múltiplas frações da sociedade. É preciso de não ter medo de discutir e debater. E o Estado deve integrar no seu interior esta dinâmica brasileira. Por isso, está na hora de buscar este novo modelo de desenvolvimento, sabendo-se que a arma do tiro inicial está ai e está dada: o investimento público.

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