quarta-feira, fevereiro 11, 2009

DUAS PINCELADAS RÁPIDAS

O RITMO DA CRISE por Enéas de Souza

Uma coisa são as declarações das autoridades, cujo fim é tentar ordenar, com o maior grau de tranqüilidade, as respostas dos Estados à crise econômica. E outra é o ritmo da economia, o seu destino, a sua tendência, que é o resultado das múltiplas forças inscritas nas múltiplas áreas da atividade financeira, produtiva, política e social. E nesse sentido, diante das decisões dos diversos governos, prioritariamente dos Estados Unidos, o que se pode perceber é um ritmo progressivamente descendente, rumando da recessão, mais ainda não chegando, à depressão. Mas, indo para lá. Crédito apertado, ativos sem valores nos balanços dos bancos, falta de uma definição da arquitetura financeira, etc. Ou seja, a crise financeira está longe de ser equacionada, quanto mais resolvida. De outro lado, a crise produtiva está enrolada nos aspectos financeiros e com absoluta falta de crédito, sob qualquer ângulo que se olhe., do financiamento à produção ao bem final a ser vendido. A demanda está despencando vertiginosamente: não há consumo, não há investimento. Só o investimento público pode vir a dar uma sustentação neste pássaro que cai. Mesmo assim, o ritmo da queda é maior do que a melodia do crescimento. A questão é como cada um, cada país, vai se safar desta estrutura profunda global, mundializada, que vai se modificando sem que tenhamos total consciência dela. Embora os Estados Unidos sejam os atores principais, todos são atores, todos os demais têm que desempenhar o seu papel. Só que quem define a economia no interior das nações são os grupos sociais, que lutam desesperadamente para desbaratar as outras classes, com diferentes equações de força. Mas, o mais incrível, difícil de crer, mas é verdade, veja-se pelos Estados Unidos, os que afundaram o Titanic continuam no comando dos barcos salva-vidas.


A VOZ DO TESOURO por Enéas de Souza

Lendo as declarações do secretário do Tesouro americano percebemos que sua fala, após a de Obama, segue o caminho generoso da recuperação do emprego, das empresas e do crédito. E salienta, com fervor, que dentro do crédito, a retomada da securitização é a peça chave. Qual, de fato, a proposta, não sabemos. Mas, promete transparência e compromisso de prestar contas. Como idéias básicas, elas podem ser boas. Pois, o que está em jogo na economia americana são duas coisas: a retomada da esfera produtiva e a re-formatação do sistema financeiro. Por enquanto, tudo são boas intenções, e todos são absolutamente escrupulosos com o dinheiro do contribuinte. Nada mais elogiável. O problema é que já foram comprometidos pelo Estado americano 9,7 trilhões (leia-se o texto de André Scherer de 2ª feira), dos quais 350 bilhões do primeiro “baillout”, e o mundo parece que não saiu do pesadelo, a crise continua descendo a ladeira com cabelos ao vento. Na verdade, Stiglitz e Roubini botaram o Picasso na sala. O verdadeiro problema está nesta frase de Stiglitz, que poderia ser de Roubini, “Nacionalização é a única resposta. Estes bancos estão efetivamente em bancarrota” Quanto mais prossegue a crise, menos o sistema financeiro sabe o que fazer, E menos, os seus representantes no governo, tem uma orientação clara. O que esconde esta idéia quase absurda de uma parceria do setor público e do setor privado para solucionar a questão bancária? A nacionalização que seria uma saída, ela vai ser obviamente anulada, postergada, desbaratada, bloqueada. E veja o leitor, nacionalização não quer dizer estatização.Quer dizer, apenas, que vai se procurar gente mais competente e com visão social para dirigirem os bancos, em nome da sociedade e do Estado. Quando eles estiverem saneados, a nacionalização supõe a devolução dos bancos ao setor privado. Não, aos mesmos que quebraram o sistema, mas para outros mais íntegros economicamente . Contudo, se esta decisão de nacionalizar demorar, a crise pode ter chegado a um nível ainda mais catastrófico. Mas, não nos preocupemos Thymoty Geithner é do ramo. Quem sabe esteja fazendo uma manobra de dissimulação, para aprovar o pacote? E, lá no fundo, Thymoty Geithner saiba verdadeiramente o que está fazendo. Todavia temos uma fulgurante certeza: como homem do ramo, a nacionalização não será o seu caminho.

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