sexta-feira, fevereiro 06, 2009

A SOLUÇÃO POLÍTICA DA ECONOMIA E A PERGUNTA FATAL por Enéas de Souza



A economia, quando entra em crise, só se soluciona através da política. Pois, é o que está no momento ocorrendo em toda parte. O caso dos americanos é o mais importante, porque muito do futuro do mundo será decidido lá. A questão política, então, se divide em dois aspectos, a política oriunda dos grupos sociais e a política dos partidos políticos. É obvio que existe relações entre ambas. No momento, o que está ocorrendo é o desabamento do domínio político e econômico das finanças. O desastre amplo deste setor, desde os imensos problemas dos bancos tradicionais até o desaparecimento dos bancos de investimento, passando pelo prolongado "credit crunch" do sistema bancário, ainda não atingiu toda a área financeira. Porque as forças que levam a decomposição não completaram o seu trabalho. No mínimo podemos prever a possibilidade de eventos negativos nos private equitys, nos hedges funds e nos fundos de pensões. Apesar disso, a antiga dominante financeira não está derrotada. O que ela está tentando fazer é encontrar o caminho da sua sobrevivência. Mas, o seu poder que era absoluto, em função do seu falso êxito, descortina agora rachaduras, limitações e está entrando em decadência. Ora, a questão agora se transformou e pode ser formulada desta maneira: como as finanças conseguirão ainda deter o mando, mesmo na vasta confusão que estão metidos? Alcançar este objetivo significa poder conseguir uma regulação frouxa, recursos para resolver os seus balanços, dinheiro para se capitalizarem, força para comandarem as instituições nacionais (tipo FED, Secretaria do Tesouro) e instituições supra-nacionais (FMI, Banco Mundial) em função dos seus desígnios, com o mínimo de contestação possível.

Olhem bem o quadro: as finanças perderam; mas ainda estão querendo construir um futuro que balance, como no passado, plenamente a seu favor. E isso, apesar de terem errado a mão e colocado muitos grandes e pequenos investidores face a vastas perdas do seu portfolio. Existem, todavia, alguns pontos que precisam ser esclarecidos e impedem o imediato retorno senão da hegemonia financeira, ao menos de sua liderança. Qual é o sistema financeiro que vai surgir? Teremos que solução para os ativos tóxicos? Haverá possibilidade de evitar a nacionalização dos bancos? Como os bancos serão capitalizados: dinheiro público, investidores privados ou uma combinação destes dois fatores? O governo terá capacidade financeira para atender as necessidades do sistema? Qual a capacidade do governo para negociar com o Congresso e obter recursos para atender as exigências continuas dos setores financeiro, produtivo e dos trabalhadores, durante o desenrolar da crise?
Desta forma, quando a política das finanças, por divisão interna deste setor, não tem poder para definir um rumo de política econômica, essa impotência significa que não só a luta política social está aberta, mas como esta luta ecoa, grita e se embaralha no Congresso. E aí a confusão e a negociação entre toda a sociedade passam a ser intensas. O que a gente não sabe é se a força das finanças será suficiente para conseguir uma importante socialização das suas perdas e manter a acumulação de capital prioritariamente na esfera financeira ou se algumas entidades vão se salvar, mas terão que aceitar uma nova combinação social com a esfera produtiva, tendo esta uma posição bem mais relevante do que atualmente. O que a gente não sabe também é qual é a capacidade do Estado de gerir toda a dimensão da crise e propiciar as classes médias e trabalhadoras mais benefícios socias. Estas perguntas e obsservações nos levam a pergunta fatal: quanto tempo vai levar para que as tendências descendentes da economia americana encontrarão as múltiplas forças que a farão reverter para um novo ciclo de crescimento?

Um comentário:

André Scherer e Enéas de Souza disse...

Acho que a coisa vai bem por aí Enéas... Apenas colocaria isso tudo em outro patamar: a continuidade da força pollítica da finança de forma relativamente intocada levaria a economia norte-americana a uma crise longa. Na medida em que perderam o essencial, seu poder de criar riqueza fictícia de modo ilimitado, acho que será impossível manterem intocado o poder político. Pode demorar um pouco mais, pode não ser no próxiumopacote, mas os resultados econômicos desastrosos somados à perda de credibilidade dos gestores dos bancos comerciais e do shadow banking system (vide o exemplo Madoff) levarão a ema reação política inevitáve a médio prazo. Bom, ´´e isso que começa a ser decidido na próxima semana e que terá sequencia por todo 2009-10.