quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Pressões sobre o sistema financeiro dos EUA (versão 2) e um novo degrau na escada?

Bah, problemas no meu trato "administrativo-tecnológico" com o blog me levaram a perder dois posts do início de fevereiro. Mas, ao menos de um deles eu consegui recuperar a parte que trata da origem dos problemas que devem afetar o sistema financeiro dos EUA ao longo de 2009. É interessante como a análise feita se mostra mais acurada a cada dia, na medida em que novas notícias nos chegam a esses respeito.

Estava escrito:

"A economia mundial está numa queda ainda mais acentuada do que se poderia esperar. O desemprego nos EUA avança mais rápido, as quedas no consumo e na produção são impressionantes, as importações vêm caindo fortemente. Os reflexos disso para o setor financeiro serão novas perdas no setor de hipotecas comerciais (quebra de bancos regionais menores em grande quantidade, pois esses estão mais expostos ao financiamento dos novos shoppings centers agora vazios), inadimplência nos cartões de crédito (perdas para os securitizadores de dívidas que em geral são os bancos de investimentos e hedge funds), perdas para os securitizadores de dívidas de empresas em geral (grandes empresas seguradoras, um exemplo é o prejuízo dessa semana da gigante Swiss Re), menor arrecadação de impostos e quebra de municipalidades (prejuízos para os bancos e seguradoras a partir do aumento na inadimplência), etc...

Os hedge funds são outro problema ainda sem solução pois a fuga dos aplicadores deve levar a uma massiva venda de ativos financeiros com efeitos depressivos sobre os preços ainda em 2009. E o preço dos imóveis não pára de cair, o que faz com que os títulos hipotecários AAA valham cada vez menos.

Enfim, o setor financeiro ainda é uma bomba relógio, não apenas nos EUA, mas também na Europa (a exposição dos bancos europeus na Europa da Leste, a situação da economia espanhola, irlandesa e inglesa e a exposição de bancos e seguradoras europeus às perdas nos EUA colocam pressão por lá também)."

Em resumo, o setor financeiro norte-americano está exposto ao risco decorrente do aumento na indimplência dos financiamentos imobiliários residencial e comercial, cartõs de crédito, créditos estudantis e outros. A desalavancagem forçada por que passam os hedge funds coloca em xeque o mercado de capitais e os fundos de pensão, os quais também atingem as finanças de Estados e de municípios nos EUA, o que por, sua vez, acaba acrretando mais prejuízos aos bancos. Estima-se em 12% a queda de arrecadação de Estados e municípios nos EUA devido à queda no consumo e à resução no preço dos imóveis.

É interessante como no início de fevereiro também já estava clara a situação deteriorada dos bancos europeus, em particular devido ao seu comprometimento com financiamentos na Europa Oriental. Um exemplo: cerca de 60% das hipotecas originadas na Polônia - o país que representa a maior exposição aos bancos europeus - são denominadas em Francos Suíços! Com a desvalorização da moeda polonesa (o zloti), alguém acredita que os compradores poderão honrar esses compromissos nos termos acordados anteriormente? E alguém acredita que a pressão sobre os bancos europeus não represnta maior pressão ainda sobre o sistema financeiro norte-americano e mundial?

É interessante constatarmos que, nessa semana (mais precisamente após ao lançamento da propota Geithner), a crise retomou o ritmo frenético de successão de acontecimentos (nova fraude multi-bilionária com Stanford, Alan Greenspan defendendo a nacionalização dos bancos nos EUA, PIB da Alemanha caindo a uma taxa anaulizada que se aproxima dos 10%; descrença nos planos de salvamento propostos por Obama; reconhecimento público quanto à situação precária dos bancos europeus, possibilidade de contágio no Leste Europeu; novo pedido de resgate das montadoras nos EUA, novo plano de salvamento do setor imobiliário nos EUA, etc...) que tem caracterizado suas fases agudas desde agosto de 2007. Parece que estamos descendo mais um degrau na escada da crise.

2 comentários:

O OBSERVADOR disse...

Por recomendação de Paulo Timm, entrei no blog da economia.
Amigos, em parte, estou me lixando pela crise financeira. É preciso lembrar que dinheiro não se perde. Deve ter um poço onde ele cai. Essa dinheirama está em algum lugar, em algum bolso. Preocupa-me muito a crise de vergonha que assola o país. A crise do pensar. Somos empurrados aos centros comerciais e agências de automóveis.
Serei leitor atento.

André Scherer e Enéas de Souza disse...

Obrigado pela leitura Observador. Uma das características dessa crise é que o "dinheiro" sumiu, desapareceu, não está no bolso de ninguém (o que não quer dizer que não existam ganhadores líquidos com a crise)... O modo como isso acontece pode ser visto em http://econobrasil.blogspot.com/2007/08/o-medo-da-cascata-de-desalavancagem.html . Até.