quarta-feira, fevereiro 25, 2009

A QUEDA DA EUROPA

Por Enéas de Souza


O ritmo da crise da Europa segue o caminho americano, mas com peculiaridades próprias. Temos uma ladeira a baixo e uma preocupação e um temor generalizado. Os bancos, de forma variada, estão sofrendo grandes perdas, a Suíça está sob ameaça de um ataque contra a sua política de segredos bancários. O presidente do Banco Central Europeu está preocupado com a descida do crédito. E há um determinado consenso dos líderes dos governos de que o sistema tem que encontrar regulação e supervisão adequadas. E atacam as agências de notação e querem controlar os hedge funds. Pensam, com urgência, num novo capital para o FMI (500 bilhõesde dólares) e com novas funções, não só de ajuda (?), mas também atuando num papel preventivo da crise. (A Sérvia, a Ucrânia, Hungria, por exemplo, estão em situação desesperadora)

No caso da regulação temos o mesmo fenômeno dos Estados Unidos: todo mundo concorda com a regulação e a supervisão, contudo até agora nada. Porque ? Porque a um grupo social não se destrói o seu poder assim no mais. A desregulamentação era a marca dos tempos gloriosos das finanças. Voltar atrás leva tempo. Tem que ter projeto e idéia. Mesmo porque a liderança americana ainda não decidiu nada, e a Europa segue, a sua maneira, aos Estados Unidos.

É preciso frisar que a posição de Gordon Brown, apesar da Inglaterra estar numa situação crítica, bancos em boa parte nacionalizados, uma crise muito forte no setor imobiliário, etc. etc., tem uma visão de líder mais ampla que os demais, já que pretende que a solução do capitalismo tenha que ser global, coisa que vem defendendo já a mais tempo. Sirva de exemplo a proposta de uma nova moeda internacional. Mas, quando a unidade do capital se desmancha, um pergunta assume o primeiro plano: é possível ter uma nova ação conjunta sem que os participantes dos conflitos encontrem uma nova maioria e um novo acordo e um novo poder para que haja um encaminhamento diferente?

A coisa preocupante é o que os pedidos para a indústria caíram desde novembro 5,2%, o que indica que a superacumulação produtiva mostra os seus efeitos e explica também o crescimento do desemprego e a crescente insatisfação social. Um caso absolutamente interessante é que na França a divergência que vai crescer num novo patamar: Sarkozy propugna pela refundação do capitalismo e Besancenot funda o NPA (Novo Parido Anti-Capitalista) já com 9.000 associados, o que marca um passo a frente nas posturas do PS e da esquerda francesa. Um modelo que quer virar a página da proposta soviética de 1917, um modelo aberto ao movimento operário na sua diversidade, como escreve um dos seus apoiadores. A pergunta européia é a seguinte: esta proposta partidária vai se ampliar pela França e pela Europa?

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