O impressionante na crise financeira é como ela segue os rumos lógicos previamente estabelecidos depois que sua dinâmica se delineou claramente. A crise imobiliária de 2006-2007 se transmutou em agosto daquele ano em crise financeira. Nada mais lógico e evidente. Aqueles que acreditaram no "está contido aos financiadores do subprime" pagaram o histórico mico de demonstrarem em público toda sua ignorância sobre a natureza sistêmica subjacente ao funcionamento do sistema financeiro globalizado (pior que dentre estes estava Ben Bernanke... mas ele logo se deu conta do equívoco, a bem da verdade...).
Um ano depois, a crise financeira se metamorfoseou em crise econômica, com quedas records no pós-guerra na produção industrial e no comércio internacional mundiais. Óbvio, mais uma vez. Para evitar um encadeamento destruidor ainda mais nefasto entre finança e economia, o bombeiro Estado entrou em campo com toda a água disponível. Fez efeito parcialmente, o incêndio parou de se alastrar e alguns pontos chamuscados foram recuperados. Mas, obviamente o fogo permaneceu aceso. Como a capacidade dos Estados para ir além e possibilitar novas bases para o crescimento estava solapada pela dimensão dos gastos realizados para evitar uma queda na depressão generalizada, era evidente que se veriam confrontados com demandas crescentes e receitas diminuídas pela queda na atividade econômica. Sua situação fiscal se deterioraria inexoravelmente, e, mais cedo ou mais tarde, isso levaria a uma ameaça de crise fiscal generalizada.
Aqui estamos. Tudo como previsto, tudo evidente, tudo óbvio. Iremos para o caminho da crise fiscal e depois da crise monetária terminal? O filme é tão claro que sigo me recusando a acreditar que seja trilhado. Como bem coloca o Enéas, a solução é política. Mas, aqui entro eu, o problema também o é. Ou seja, desde o início nada de efetivo, de estruturalmente importante, foi ainda realizado. A situação se encaminha para um longo e lento desenrolar sem que se vislumbre nada capaz de alterar o rumo ao desastre que o óbvio nos aponta.
No início do ano se proclamava em altos brados: a crise acabou! Se disse isso em novembro de 2007, em março de 2008, e em grande parte de 2009. Mas a danada é insistente e como um monstro de filme "B" reaparece, mutante e fortalecida. E, tal qual no terror de quinta categoria, é tudo óbvio, é tudo evidente. Vejam as notícias mais populares das eeção de economia do Telegraph de hoje: a criação de crédito nos EUA bate records negativos, com o multiplicador monetário atingindo apenas 0,81; a União Europeia "pune" a Grécia restringindo sua soberania, impedindo-a de votar medidas que também a concernem e que entrarão em pauta no próximo mês, na maior humilhação já imposta a um estado-membro; Soros investe em ouro, ativo por ele mesmo chamado anteriormente de "a última bolha".
Podem dormir tranquilos, com notícias com esse conteúdo a crise, finalmente, acabou!
Links relacionados:
http://www.telegraph.co.uk/finance/financetopics/financialcrisis/7252288/Greece-loses-EU-voting-power-in-blow-to-sovereignty.html
http://www.telegraph.co.uk/finance/economics/7259323/US-bank-lending-falls-at-fastest-rate-in-history.html
http://www.telegraph.co.uk/finance/personalfinance/investing/gold/7259161/George-Soros-buys-gold-despite-dubbing-it-ultimate-bubble.html
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