quinta-feira, janeiro 28, 2010



CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
28 de janeiro de 2010
Coluna das quintas

QUÁ, QUÁ, RÁ, QUÁ, QUÁ
Por Enéas de Souza

Olha lá, Davos! Estão discutindo a tentativa de regulação da economia financeira. Só este fato, já é algo picante, sobretudo quando este Fórum for olhado pelo ângulo de anos atrás, quando a arrogância dele era extrema. Mas, isso não é o melhor. O mais hilário são certos economistas, que ainda tem cara de pau de vir na televisão, e dizer que Davos não tem mais sentido. E a razão é única: Davos está atacando os princípios do capitalismo. E fundamentalmente, porque a solução agora proposta vai na direção anti-capitalista. Disse um, numa TV brasileira por assinatura, que as causas do diagnóstico estavam erradas. O problema não tinha sido o capital financeiro, mas os governos.Claro, os governos. Olha a velha cantoria: gastam muito, não controlam suas contas, não fazem o dever de casa.. Os governos é que foram os verdadeiros culpados. E, sobretudo agora, quando estão aumentando a sua gigantesca dívida.

A cara de pau chegou ao inimaginável, porque nem o mendigo da esquina desconhece que o endividamento, mais recente dos Estados, foi para salvar os bancos. Realmente aquele personagem do Jô Soares de anos atrás, serve bem para este cidadão falante, quando dizia: “Fica vermelha cara sem vergonha”. Mas, o mais terrível está na figura: não era um banqueiro, não era um capitalista, não era um político, quem dava a entrevista. Era um colega economista. Ora, que cara maneiro. Será que o verso de Ataulfo Alves está certo: “quanto mais conheço os homens, cada vez mais gosto do meu cão”? E o que é estarrecedor: este argumento, que foi lançado logo no início da crise, pelos banqueiro, não pegou nem mesmo entre os próprios banqueiros. Como é que tempos depois, um futuro prêmio Nobel, sim só pode ser, – e prêmio Nobel brasileiro – vem apregoar esta deliciosa parábola: a causa da crise foram os governos. A minha decepção foi imensa e abismal, não pelas suas declarações ditas a sério, mas porque não ouvi sonoras e gostosas gargalhadas no estúdio. Podia ser de todo o estúdio, não ficava mal; podia ser toda emissora de televisão, sairia consagrada; podiam ser de todos seus tele-espectadores, o que evidenciaria a seriedade da audição. O riso podia explodir com toda a gratuidade porque a piada é ótima. Mas, as risadas não apareceram. Terá tido algum coitado que tenha acreditado? Não, não acredito. E por isso me arrisco: tenho um conselho, se é que posso dar, aos banqueiros descuidados que gostam de contratar esses ideólogos de cintura grossa. Olha, querido banqueiro, pega mal, essa gente é mercadoria deteriorada, beberam. E se foram contratados, rápido, cancela a conta. E se ele insistir, diz que não está!

POPULISTA!

Continuamos em Davos. O Presidente de uma agência de auditoria famosa « Pricewaterhouse », o inimitável Denis Hallis, disse que o debate sobre as reformas econômicas é um “debate populista”. Pode ter um bom ar, soa bem. “Mas, será que ele é eficaz?. O populismo domina o debate » Estou chorando com a infelicidade e a preocupação cívica do referido presidente. Novamente o refrão. Quando se toma posição que afeta o setor privilegiado, o setor dos bancos, os assessores saem que nem uma matilha de lobos e acusam a, b, c, ou qualquer autoridade de “populista”. E queriam que Obama fosse o que? Elistista? Por mais que financiem a campanha, quem vota sãos os populares.

Quando o governo saiu em defesa dos banqueiros, ninguém gritou: populista. Todos os financistas falaram em risco sistêmico. Como aqui na época do FHC, por ocasião do PROER. O delicioso nesses tempos atuais tem esta face: os banqueiros que exploraram os investidores, que exploraram os aplicadores, que exploraram os portadores de ações, que exploraram o governo, que exploraram os contribuintes, não acharam nada. Jogaram como a Goldman Sachs apostando contra os seus próprios clientes; mas isso não é vigarice, faz parte do jogo econômico E agora, no Congresso americano ao deporem sobre o imposto proposto por Obama, sobre os bancos para compensar perdas do governo e dos contribuintes, por estes banqueiros terem usado o dinheiro público, eles disseram descaradamente que quem ia pagar, de qualquer jeito mesmo, eram os contribuintes. Por isso, não querem pagar. E, atenção,este imposto era para ser pago em 10 anos, hein? Agora, quando Obama insiste, assoprado por Volker - o conservador que sabe dos revolveres - em separar os bancos comerciais dos bancos de investimento, a fúria dos bancos redobra. Populista! Socialista! Que seja! Porque o banco de investimento é o dínamo da especulação e o dinamite da economia. Eles foram dizimados logo no início da crise. A sua volta é a volta de uma morte anunciada. Mesmo assim as finanças insistem. Porque? Como me disse uma vez um capitalista: “vamos tirar desta laranja todo o suco possível, enquanto der”. E o caso é o seguinte: se os banqueiros não forem parados, adeus a presidência do Obama. A revolta do povo americano que sopra forte estará cada vez mais em alto mar. Obama está jogando a sua vida política.

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