quarta-feira, julho 07, 2010

CRISE FINANCEIRA MUNDIAL
08 de julho de 2010
COLUNA DAS QUINTAS


O BRASIL
PARTE
PARA
O FUTURO(*)
Por Enéas de Souza



Pela primeira vez, depois da crise da dívida externa de 82, o Brasil vai ter condições de movimentar sua economia em função de uma estratégia de longo prazo. O que significa que está emergindo uma vontade social de desenvolvimento, que pode se materializar num pacto entre o Estado, o capital bancário, o capital industrial e os assalariados, sobretudo os de baixa renda. O que não exclui um enlace com novos capitais internacionais. Partindo de uma boa posição geopolítica conquistada, o país pode pretender ocupar uma adequada inserção na nova divisão internacional do trabalho, que resultará das atuais crises financeira e produtiva. Será uma oportunidade de integrar a dinâmica futura da economia do planeta, que emergirá sob a liderança das novas tecnologias de comunicação e informação (NTCI). Aqui teremos um grande salto: estas tecnologias entrarão na fase de maturidade, que puxarão, dada a reorganização da arquitetura das finanças, um processo que envolve a reformulação da infra-estrutura energética, a expansão de um setor de produtos alimentares para baixar o custo de reprodução da mão de obra da economia como um todo e uma nova oferta da produção de matérias primas.
O Brasil tem tudo para ocupar um lugar expressivo neste novo paradigma do capitalismo, seja na produção de alimentos (via agrobusiness), seja na produção de matérias primas (via a Vale do Rio Doce, por exemplo) e seja no campo energético, por intermédio da infatigável Petrobrás. Ao mesmo tempo, o Brasil precisa contar com empresas de presença mundial, pois o espaço de acumulação global é tecido por corporações multinacionais do tipo da Vale e da Petrobrás. Com isso, conseguirá armar dois vetores em seu benefício: de um lado, possuir alguns centros de decisões planetários relevantes no plano dos capitais (com o objetivo de incrementar produção, pesquisa e inovação) e, de outro lado, constituir a partir destas empresas, núcleos ou pólos nacionais de acumulação nas cadeias produtivas das quais participam. Por exemplo, ao estilo da dita Petrobrás, encadear indústrias de fornecedores, como a de navios e bem de capital para o setor, desenvolvendo uma expansão do investimento e ampliando o mercado interno.
É por isso, que além destas ações estratégicas de inserção do Brasil num novo padrão de desenvolvimento da economia capitalista, há que completar com uma reorganização do sistema de apoio geral da produção econômica. Há toda uma reformulação da infra-estrutura da realidade brasileira. Basta olhar para a logística da produção: estradas, portos, aeroportos, silos, etc. Basta olhar para as questões do saneamento básico, da construção de uma malha urbana adequada, etc. Isto significa dizer que estamos diante de uma trajetória muito ampla de desafios e de perspectivas. A ação combinada do Estado e do setor privado pode proporcionar o verdadeiro caminho para uma transformação profunda do Brasil de hoje, que é um Brasil a requerer um projeto do estilo juscelinista, para superar definitivamente 32 anos de crescimento medíocre (1982-2004).
Esta estratégia global se baseia num processo de concentração e centralização de capital e se desdobra, macroeconomicamente, no plano do balanço de pagamentos, já que através tanto de exportações como de lucros auferidos no exterior, podem ser um fator de melhoria no balanço de transações correntes, contrabalançando as substanciais importações. Desta forma, a estratégia combina a articulação do Estado com o setor privado, sob o comando daquele e que poderá ter uma ampliação social importante: políticas governamentais que atendam ao emprego, à proteção social e à melhoria dos serviços públicos, em favor do grupo de baixa renda, dependendo das relações de forças entre os setores apoiadores.
Dois problemas merecem consideração do país. Como enfrentar a nossa ausência no setor NTCI? E como responder a exigência de uma indústria militar capaz de amparar a realidade do Brasil como potência intermediária na política mundial? Assim, olhando as oportunidades e os problemas, afirmamos que o Brasil está no limiar de um novo padrão de sociedade. Basta que faça as alianças políticas internas e externas competentes e que conceba, para tal, uma clara estratégia de desenvolvimento.


Publicado pela Carta de Conjuntura da FEE

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